A leitoinha está me assustando. Não tenho mais coragem de abrir o freezer.
- Coube – falou o Zé, apertando a leitoa no vão entre as gavetas e as bandejas de gelo – Mas ela está com a cara bem na porta, olhando para quem abre. Olhaí.
É assustador. Ter um animal no freezer é um fato ligeiramente macabro para uma pessoa civilizada e urbana como eu, que passa o dia olhando para uma tela de computador e que não mata nem uma galinha.
Hoje, na hora do café da manhã, tive arrepios. Lembrei daquele animal congelado e dormindo para sempre a menos de um metro de mim, com cabeça, orelha, rabo, pernas e focinho. Ah, e patas. A leitoinha veio até com patas.
Tive pesadelos essa noite. E se a polícia aparecer? É permitido ter um porquinho morto na geladeira?
- É leitão ou leitoa, lúcia? – perguntou a Silvia, minha amiga.
- Como assim?
- Ora, faz a maior diferença, se a gente pensar bem. É uma questão interessante. Se for leitão tudo bem, mas e se for uma mulher? Já imaginou uma mulher na sua geladeira? Uma fêmea, como você?
- Ai. Como a gente descobre?
- Abre as pernas e olha – ela sugeriu.
Liguei para a M.
- M., me diz uma coisa. É homem ou mulher?
- Quem?
- A leitoinha.
- Hum. Não sei – ela começou a rir - Aposto que isso é coisa da Silvia.
- É mesmo, mas agora encasquetei. Escuta, você acha que o animal veio com partes íntimas?
- Nossa, que pergunta, Lúcia.
- Como eu posso saber se é homem ou mulher? A Silvia mandou eu abrir as pernas do bicho.
- Hahaha, tipo um exame ginecológico? Não, não. Acho que eles tiram toda a genitália. Para não ter sexo.
Pior ainda, pensei. Um animal sem sexo, abatido e congelado. Nove quilos. Tadinho. Isso é coisa que se faça? Eu não devia ter aceito.
- Já sei. Se não tiver sexo, a gente olha para a cara e descobre – eu sugeri.
- Olha a cara?
- Fêmea tem cara de fêmea. Macho tem cara de macho. É só ter um pouco de sensibilidade que dá para saber.
A M. deu risada.
- É. E dependendo do que for, Lúcia, você coloca uma coisa diferente na boca.
- Na boca? A Silvia falou para eu colocar uma maçã.
- Vamos fazer assim. Se for mulher, você coloca a maçã. Se for homem, coloca outra coisa.
- Que coisa?
- Hum, deixa ver... Já sei. Um cravo.
- Hã? Um cravo?
- É. Um cravo vermelho! Que tal?
- Tipo... um dançarino de tango, M.?
- Sim. Tipo um dançarino de tango!
- Isso é sério, M.?
- Hahaha! Claro! – ela me respondeu, gargalhando de rir.
Céus. Alguém sabe como eu descubro se minha leitoinha é homem ou mulher sem ter que fazer o exame ginecológico?
- Coube – falou o Zé, apertando a leitoa no vão entre as gavetas e as bandejas de gelo – Mas ela está com a cara bem na porta, olhando para quem abre. Olhaí.
É assustador. Ter um animal no freezer é um fato ligeiramente macabro para uma pessoa civilizada e urbana como eu, que passa o dia olhando para uma tela de computador e que não mata nem uma galinha.
Hoje, na hora do café da manhã, tive arrepios. Lembrei daquele animal congelado e dormindo para sempre a menos de um metro de mim, com cabeça, orelha, rabo, pernas e focinho. Ah, e patas. A leitoinha veio até com patas.
Tive pesadelos essa noite. E se a polícia aparecer? É permitido ter um porquinho morto na geladeira?
- É leitão ou leitoa, lúcia? – perguntou a Silvia, minha amiga.
- Como assim?
- Ora, faz a maior diferença, se a gente pensar bem. É uma questão interessante. Se for leitão tudo bem, mas e se for uma mulher? Já imaginou uma mulher na sua geladeira? Uma fêmea, como você?
- Ai. Como a gente descobre?
- Abre as pernas e olha – ela sugeriu.
Liguei para a M.
- M., me diz uma coisa. É homem ou mulher?
- Quem?
- A leitoinha.
- Hum. Não sei – ela começou a rir - Aposto que isso é coisa da Silvia.
- É mesmo, mas agora encasquetei. Escuta, você acha que o animal veio com partes íntimas?
- Nossa, que pergunta, Lúcia.
- Como eu posso saber se é homem ou mulher? A Silvia mandou eu abrir as pernas do bicho.
- Hahaha, tipo um exame ginecológico? Não, não. Acho que eles tiram toda a genitália. Para não ter sexo.
Pior ainda, pensei. Um animal sem sexo, abatido e congelado. Nove quilos. Tadinho. Isso é coisa que se faça? Eu não devia ter aceito.
- Já sei. Se não tiver sexo, a gente olha para a cara e descobre – eu sugeri.
- Olha a cara?
- Fêmea tem cara de fêmea. Macho tem cara de macho. É só ter um pouco de sensibilidade que dá para saber.
A M. deu risada.
- É. E dependendo do que for, Lúcia, você coloca uma coisa diferente na boca.
- Na boca? A Silvia falou para eu colocar uma maçã.
- Vamos fazer assim. Se for mulher, você coloca a maçã. Se for homem, coloca outra coisa.
- Que coisa?
- Hum, deixa ver... Já sei. Um cravo.
- Hã? Um cravo?
- É. Um cravo vermelho! Que tal?
- Tipo... um dançarino de tango, M.?
- Sim. Tipo um dançarino de tango!
- Isso é sério, M.?
- Hahaha! Claro! – ela me respondeu, gargalhando de rir.
Céus. Alguém sabe como eu descubro se minha leitoinha é homem ou mulher sem ter que fazer o exame ginecológico?