quinta-feira, 31 de março de 2005

franka no brejo


ora, sapos...


Nem dormi hoje pensando nos sapos. Aliás, estou aqui fugida, pois saí de uma reunião que deveria ir até o final da tarde para vir aqui falar sobre... sapos.
Juro (mas vocês não precisam isso contar para ninguém, ok?)
É que eu descobri, nessa experiência de dormir ao lado do brejo, que a natureza é completamente histérica. E nós, os civilizados, os intelectuais e os artistas, somos uns burros que acreditam na “paz” da natureza.
Pensa bem. Achamos que descansar é ir pro meio do mato ou para uma praia deserta onde podemos ficar em silêncio, meditando. Que paz que nada! Não há paz alguma na natureza. Natural é a bagunça, a berraria, a histeria. Natural é berrar até ficar rouco, chorar até cair de sono, gargalhar até ficar sem fôlego e sem ar. Somos um bando de humanos querendo o tempo todo controlar o nosso comportamento, conter os nossos impulsos. Precisamos de remédios, de terapias e de férias o tempo todo, pois achamos que precisamos de “descanso” e silêncio. Achamos errado berrar como os sapos na chuva. Achamos que berrar é descontrolar-se, e descontrolar-se é estressar-se, e estressar-se é deprimir-se, e deprimir-se é doença.
Será?
Sabe o que eu acho, gente? Aqueles sapos todos, os trinta mil sapos daquele brejo, não estavam nem um pouco deprimidos. Eles berravam de alegria, gente. Tinha chovido muito, o dia amanhecia cheio de vigor, e eles não cabiam em si de felicidade.
Que pena que eu tenho da gente, que não podemos berrar desse modo.
Era isso. Melhor eu voltar para a reunião.

quarta-feira, 30 de março de 2005

franka & waldemar


franka e o sr. waldemar, agora em tempos de alegria

Pronto. Mais uma vez eu fui e voltei da Bahia. Se cansa viajar tanto? Cansa, mas dá idéias, boas histórias e é bem divertido, apesar do cansaço.
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Para ilustrar esse post, conforme foi prometido no mês passado, ai esta a minha foto com o sr. Waldemar, o fiscal da TAM de Ilhéus e o homem que xinguei até não mais poder no dia do já famoso “ataque de franka no balcão da TAM”. Aquele post que escrevi no mês passado, lembram-se?
Como comentei com vocês em algum momento, nada como um bom ataque para a gente ficar toda famosa num lugar. Digamos que a nossa imagem fica "ligeiramente" desgastada e difamada (bem, ser lembrada como "a maluca" nunca é bom), mas o sucesso perdura por muitos meses. Taí a prova. Até hoje esse homem cuida de mim (como se eu uma bomba prestes a explodir, hahaha) desde a hora que eu entro no aeroporto até a hora que eu piso no avião...
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E essa obra que não acaba nunca?
Se paulista que constrói em São Paulo fica estressado, paulista que constrói na Bahia fica muito mais estressado ainda... Aliás, paulista fica estressado quase o dia inteiro, até nas férias. A equipe de engenheiros, decoradores, técnicos, eletricistas, marmoristas e pintores sempre sai daqui sorrindo e volta um caco, desanimada, briguenta. É que todo mundo chega lá e vê que as coisas andaram num passo de lesma. Por falar nisso, acho que vocês deveriam dar um pulo no Blog da Zana. A Zana mora em Montreal e está mostrando no blog dela o passo a passo da construção de uma casa em frente da dela. É fantástico. Em menos de quinze dias a casa (que parece de papelão) está quase pronta.
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Ainda sobre a Bahia: e não é que o Jean ganhou mesmo? Viva! Organizamos ontem na pousada uma sessão de tv sob uma cobertura de palha no jardim para ver "a grande final do Big Brother". Como era o unico programa e todo mundo estava exausto, o comparecimento foi total. E eu, depois de tomar uma cerveja, defendi brilhantemente a importância antropológica do programa para as pessoas que coordenam equipes.
Acho que convenci até os mais intelectuais, ali, sob a piaçava e a chuva.
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Acordei de um modo inédito. Trocamos todos de pousada para uma bem mais “charmosa” doq que a antiga. Essa era simpática, cheia de jardins, plantas, redes e almofadões no jardim. Tudo estava perfeito, até de manhã. Dei um pulo da cama. Que barulho era aquele? Quando abri a janela, descobri que meu quarto dava para um verdadeiro e legítimo “brejo” gigantesco, onde mais de sete mil sapos desesperados berravam, sei lá porquê. Que loucura! Alguém já viu algo parecido? Não vi nenhum deles, mas o barulho era tanto que era quase impossível ouvir os outros na hora do café.
Coach!
Sapos!

segunda-feira, 28 de março de 2005

back to BAHIA


Meninos e meninas, fiquem por aqui com os furinhos da camisa (adoro furinhos, leiam no post abaixo), com os meus botões e com os desenhos do meu pai que eu vou voltar pra Bahia e já volto.
Ah, me esqueci de contar uma coisa engraçada. Tocou o telefone agora a pouco.
- Mãe?
- Oi filha. Escuta, estou ligando para você chamar o Eduardo, o técnico do computador, para ele vir aqui em casa. O meu computador está com sérios problemas.
- Que tipo de "sérios problemas", mãe? Vírus?
- Não sei. É um problema sério de mulher pelada. A gente liga e só aparece mulher pelada, o tempo todo, em todos os lugares. Você chama o Eduardo e pede para ele por favor vir tirar essas mulheres daqui?

aqui com meus botões



Na semana passada o Marcelo Coelho, colunista da Folha de São Paulo (eu adoro ele), falou sobre os botões dos equipamentos da nossa vida moderna. Há algum tempo que eu também reparo nisso: antigamente nos girávamos tudo quanto é botão e manivelas para ligar, desligar, mexer ou mudar os equipamentos. Agora não, agora apenas apertamos botões. Até para abrir o vidro do carro ou a persiana do quarto apertamos levemente um botãozinho. Somos a geração do “simples toque”.
É muito chique dar apenas um simples toque.
Buzzz.
Ei, será que isso vai mudar alguma coisa substancial na evolução humana? Outro dia li que a geração dos filhos da gente tem uma agilidade no dedão muito maior que a nossa, por causa do joystick do vídeo game. Que foi comprovado que a musculatura do dedão das crianças é bem mais desenvolvida que a dos adultos. E a notícia concluía notando que as crianças e adolescentes teclam os telefones celulares com o dedão, ao contrário dos adultos, que usam o indicador.
Será que no futuro seremos uma espécie humana com super dedos?
Viche...
Fala, Marcelo:

“... Durante muitos anos, tive preguiça de pegar filmes na locadora, mas, desde que ganhei um DVD, há alguns meses, viciei-me de novo naqueles passeios sem fim entre as prateleiras, na busca de novidades ou velharias. O velho videocassete me dava preguiça; rebobinar uma fita tornou-se operação tão arcaica quanto girar uma manivela para ligar o motor do carro ou falar com a telefonista, coisa comum nas décadas de 20 e 30.
Não que eu seja desse tempo, que bem mereceria o nome de tempo das manivelas: gramofones e câmeras de cinema mudo também funcionavam assim. Pertenço, entretanto, à era pré-digital, período em que, com manivelas ou não, o movimento circular era predominante nos aparelhos tecnológicos: o telefone tinha de ser "discado" e, para escolher o canal da TV, era preciso girar um grande botão, semelhante a uma roleta de rifa com pouquíssimos números, em vez de simplesmente apertar a tecla do controle remoto.
Para aumentar o volume do toca-CDs, mudar a estação do rádio, baixar o vidro do carro, tudo agora depende apenas de deixar o dedo pressionando a tecla durante o tempo necessário, sem nenhum esforço físico. Uma espera no tempo, em vez de um movimento no espaço, é tudo o que se exige do usuário; e, se qualquer vestígio de fadiga muscular se elimina com esse progresso tecnológico, os sentimentos da impaciência e da pressa naturalmente se acentuam no mundo digital. É claro, pois não somos nós quem está realizando o serviço...”
Marcelo Coelho,Folha de São Paulo

domingo, 27 de março de 2005

domingo de pascoa



Estou hoje na maior fe-li-ci-da-de do mundo. Meu pai, antes de se formar médico, fazia ilustrações aqui e ali. Era esse o hobbie dele, desenhar e pintar.
Ele morreu há trinta anos atrás, quando eu era menina, e eu nunca tive muitos registros das coisas da juventude dele. Hoje achei as revistas e os jornais que ele ilustrou na casa da minha mãe, dentro de um baú velho. Fiquei toda emocionada. São desenhos pequeninos, mas engraçados.
Esse é da revista "o Turf Ilustrado" de 1950.
Boa páscoa para vocês.
A minha foi ótima.

sábado, 26 de março de 2005

PSS - um post super sério



Sabe aquelas propagandas de venda de apartamento que estão em todo jornal?
Essa era mais uma delas.
Acho que quem sustenta os jornais são a especulação imobiliária e os shoppings. Nunca vi duas coisas fazerem anúncios tão gigantescos. Aliás, quanto a isso tenho a declarar que acho um absurdo a venda da página principal e das primeiras páginas dos cadernos dos jornais para anúncios. Um dia vou escrever pro ombusman reclamando. Deveria existir uma lei proibindo, pois tem dias que a foto da propaganda que está na primeira página é tão grande que só cabe o título da matéria, esprimidinho, resignado...
Dá a maior dó do jornalismo.
Mas voltemos ao jornal de hoje. Essa propaganda específica era dessas de página inteira. Bem, analisei a planta de cabo a rabo e cheguei a algumas conclusões, que colocarei aqui. Esse é o motivo desse PSS (post super sério): uma análise de um lançamento de um apartamento coletado aleatoriamente num jornal paulista.
Temos que entender em que mundo vivemos para não ficarmos para trás, gente.

Bem, o tal prédio não tinha ares neoclássicos e nem nome de palácio francês, o que me deu um tremendo alívio (tenho calafrios inexplicáveis a cada vez que me deparo com um nome francês de algum prédio). Tratava-se de um apartamento de três quatros, dois por andar. O arquiteto eu não direi para não fazer propaganda, mas era um desses arquitetos “da moda” e o anúncio tinha até um “selinho” do cara, como a existência dele conferisse ao empreendimento uma “grife arquitetônica”. Olha. Irritante essa coisa de arquiteto moderninho ser “grife”. Outra coisa que devia ser proibida, não acham?
O apartamento tinha cinco banheiros, um para cada quarto, um lavabo para as visitas e um banheirinho para a empregada. Cinco banheiros é, eu acho, o padrão de número de banheiros para uma família nos dias de hoje. Eu mesma sou uma mulher de cinco banheiros e me orgulho muito disso. Gente, não é fácil ter cinco banheiros, é preciso batalhar muuuito para conquistá-los, e para mantê-los então, nem se fala. Haja quantidade de papel higiênico, sabonete, shampoo e sachêzinho cheiroso.
Em destaque, lá estava uma enorme churrasqueira no terraço do tal apartamento. Hoje em dia virou a maior moda comer churrasco no terraço dos apartamentos. Tudo quanto é apartamento agora tem uma churrasqueira no terraço. Acho ótima essa nova idéia, com isso todos apartamentos acabam tendo uma área externa, que me parece menos claustrofóbico. Só tenho curiosidade de saber o que acontece se todos resolvem fazer churrasco ao mesmo tempo. Hihihi. Deve ficar a maior caatinga no bairro todo.
Outra coisa que eu notei com uma certa tristeza foi que o quarto de empregada puft, se foi. Foi eliminado do programa do viver moderno. Sumiu! Como o banheiro da empregada ainda existe, suponho que "eles" (o arquiteto de grife e o incorporador, são eles que mandam na nossa vida) decidiram que hoje em dia as pessoas dos apartamentos de cinco banheiros terão empregadas, mas que elas serão diaristas. Incrível como decidem a nossa vida hoje em dia, né? É bom porque a gente não precisa nem pensar. Eles detestam pessoas que pensam muito.
Depois achei um ambiente novo, que eu nunca tinha visto. Eles chamaram de "Home Office", e é apenas um cantinho ligado à sala e fechado com uma porta, onde existe um computador. Mas... olhando bem, acho que reconheço esse cantinho! É o falecido quarto da empregada!
Háhá! Sabia que ele estava em algum lugar!
Logo embaixo da planta, estavam essas quatro imagens que ilustram o post. São as áreas comuns do edifício. Um deles é o tão famoso “fitness” com piscina coberta. "Fitness" é a sala de ginástica, que antes só existia nas academias e de um dia para outro surgiu feito uma asombração dentro dos prédios. Mas eu acho que eu sei de onde veio isso. Pensa comigo: antigamente os prédios tinham playground para as crianças. Hoje em dia essas mesmas crianças dos playgrounds cresceram, casaram e compram apartamentos com um outro tipo de playground, que é o fitness! Não é? Engraçado!
Depois achei mais dois locais estranhos e... bem modernos. Um deles se chamava “Espaço Gourmet”, o outro “LAN House”. Juro que não sei bem o que é aquilo, mas pelas fotos me pareceram simplesmente o bom e antigo salão de festas e a velha e boa sala de jogos com uma roupagem mais moderninha. Ou estou enganada?
Caramba. Como para morar hoje em dia precisamos de coisas estranhas.
Só para finalizar, eu morei em prédios por mais de trinta anos. Um dia, quando era menina, estava dormindo na minha cama e percebi tudo. Comecei a pensar que sobre mim dormia uma pessoa, e sobre ela dormia mais uma, e que eu mesma estava acima de diversas, e todas nós estávamos sobre uma garagem cheia de carros. Desde esse dia, morar em prédios passou a ser isso para mim – um monte de pessoas que dormem empilhadas sobre os carros.
Claro que uma coisa esquisita como essa, trinta anos depois, só podia gerar ambientes estranhos mesmo...

sexta-feira, 25 de março de 2005

o bacalhau e a vida



Hoje é dia de comer bacalhau, não é?
O problema foi que ontem eu me esqueci que hoje era feriado. Achei que a Maria ia estar aqui para cozinhar o nosso bacalhau, fazer o almoço, providenciar tudo, limpar a cozinha, afinal, sem ela eu não sou nada; e convidei um monte de gente, toda animada.
- Até sábado, lú - ela me disse.
Eu dei um pulo da cadeira e corri atrás dela.
- Sábado, Maria? Como assim? Não!
- Amanhã é feriado – ela declarou, impassível - e eu não posso vir, pois vou fazer uma almoção lá em casa.
- E... e... esse bacalhau? - eu disse, apavorada, apontando o pote sobre a pia.
- Já combinei tudo com o Zé. Ele sabe como fazer – ela me disse, sem se importar com mais nada, virando as costas – Tchau!
E assim ela se foi, sem dó nem pena de mim. A Maria trabalha comigo há onze anos e me conhece há quase trinta, pois trabalhava com a minha mãe. Não tenho muita "moral" com ela. Ela decide minha vida muito mais do que eu a dela. E o tal “combinar com o Zé” significava apenas que ela tinha contado para o Zé que o bacalhau estava de molho desde ontem de manhã. Mais nada.
- Zé, você já acordou?
- Acordou?- ele me disse às sete horas da manhã – mas eu nem dormi!
- Nossa, porquê? Insônia?
- Não. Passei a noite toda pensando se faremos o bacalhau à Gomes de Sá ou na panela, tipo uma bacalhoada.
- E você já decidiu?
- Não. Que você acha?
Foi a hora que eu acordei. Sete e cinco: Gomes de Sá ou na panela, como se fosse uma bacalhoada?
Mas depois da decisão de ontem, onde falei aqui do poder de quem cozinha, a coisa tinha um outro sentido. Sim, pensei, "é hora de tomar uma atitude. É hora nessa vida de começar a cozer a minha própria comida".
Cozinhar é sempre muito bom. Aquela coisa que eu disse no post de ontem, sobre o poder de quem cozinha, estava na minha cabeça até hoje. Quem faz, produz, cria, gera e ainda por cima pode presentear. Isso, queria ou não, é como reinar. E hoje eu e o Zé (bem, mais ele que eu...) reinamos. Estávamos sem a Maria, era feriado e tudo o mais, a cozinha ficou a maior zona, mas conseguimos: fizemos um ótimo bacalhau para dez pessoas e organizamos um grande e divertido banquete.
Fico pensando se esses almoços e jantares não são os melhores que existem. A improvisação, assim como o acaso, sem premeditação, nos faz relaxar. É como se a gente pudesse viver um pouco sem protocolo nessa vida tão besta que a gente leva. É como se não precisássemos ser politicamente corretos, não precisássemos ser formais, chatos, educadinhos. Foi um delicioso almoço, esse de hoje, onde o Zé se esqueceu (embora ele, teimoso, afirme que não) de colocar sal no arroz; onde sem querer eu comprei um vinho ótimo e dei um fora contando que estava em promoção por dezenove e noventa no Pão de Açúcar; onde brindamos depois da sobremesa rindo com um licor de Assissi que minha mãe trouxe do navio: onde meu cunhado me disse que tem raiva de homem que fala que tem "enxaqueca" ("não acha que enxaqueca é coisa de mulher, lúcia?"). onde todos bebemos e comemos muito. E onde uma hora eu e o Zé percebemos que os quase dois quilos de bacalhau se foram.
Agora que todos foram está a maior bagunça aqui, mas eu estou mais animada do que nunca. E poderosa.
Ah, e para quem quiser saber: fizemos uma bacalhoada.
E claro, na panela. Em homenagem ao post anterior. Uma bacalhoada de mulher casada. Nas panelas!

quinta-feira, 24 de março de 2005

franka e os dinossauros III


Esse post é para a Sheila, que adora cozinhar.

Ai vai mais um anúncio, esse de 1963, da Revista Cláudia.
Póde uma coisa dessa, gente? Que mundo era esse, que colocava numa revista uma noivinha toda feliz da vida no colo do marido porque ganhou um "conjunto nupcial" de presente de casamento?
Mas as coisas eram assim, e eram simplesmente assim. Uma vez achei uma carta da minha mãe para a minha avó, logo depois que ela se casou. Na carta ela colou uma figura de um liquidificador, e explicava "mãe, isso é o máximo, você precisa ter um desses na sua casa!". Ou seja, ela estava tão feliz da vida que tinha e podia usar um liquidificador que até recortou e colou uma figura na carta!
Acho muito bacana perceber que as mulheres daquela época gostavam de cozinhar e gostavam de ser donas de casa. Ao contrário do que se fala hoje em dia, acho que existe um grande poder em saber cozinhar e, principalmente, em alimentar uma família.
Pensem sobre isso um pouco. Na mágica de alimentar os outros na sua própria casa. Com suas próprias mãos.
Putz. Me convenci. Acho que vou sair para comprar um conjunto de panelas.

quarta-feira, 23 de março de 2005

o moço canino das casas bahia


au-au!

Para a gente, que mora no Brasil e vê TV todo dia, é uma coisa corriqueira sentar no sofá e dar de cara com aquele rapaz que faz a propaganda das casas Bahia.
- Quer pagar quanto? Corta preço!– ele repete sem parar pulando ao redor dos móveis, camas e eletrodomésticos lá das Casas Bahia – Quer pagar quanto? Liquidação corta preço! Quer pagar quanto? Corta preço!
O anúncio é rapidíssimo, os preços são colocados na tela ao mesmo tempo que o moço fala, e, quando você vê, puft, já acabou. Mas não se preocupe, depois quinze minutos lá está ele de novo. Chega, roda, pula, rodopia, fala sem parar e pergunta de novo com uma voz esganiçada:
- Quer pagar quanto? Corta preço! Quer pagar quanto?
É uma coisa irritante. O rapaz, chamado Juliano na vida real, fala rápido demais, corre rápido demais, mostra coisas demais, é agitado demais e grita fino demais. Azucrina a paz de qualquer família. Acho que é para dar a impressão de que, se a gente não correr como ele, os produtos da Casas Bahia vão acabar e a gente vai perder todas as ofertas. É truque de marketing dos mais bobos, na minha opinião, mas funciona mesmo. Eu mesma, por exemplo, que geralmente não gosto de fazer prestação e nem de comprar eletromésticos sempre fico tentada a comprar uma geladeira que o Juliano me mostra toda hora. Tão vendo? Aquilo hipnotiza.
Acho que as casas Bahia nunca mais serão esquecidas por causa da chatura do anúncio. E duvido que ele consiga um outro trabalho na TV na vida. Talvez as Casas Bahia tenha que aposentá-lo quando acabar a campanha, coitado. Fim de carreira pra ele, desgaste total da imagem.
Há meses que eu tento entender o quê, além do estilo da propaganda, mais me incomoda nesses anúncios das Casas Bahia. Cada vez que eu vejo a cara do Juliano eu penso uma coisa, encasquetada em frente à TV.
- Será que é porque ele fala muito rápido? – eu comentei com minha família.
- Não, não é isso. Acho que é porque ele é aflito e tenso e isso me deixa ligeiramente estressada - resolvi, outro dia.
- Já sei, é porque ele faz papel de idiota. Gente se fazendo de idiota me irrita - eu disse para os meninos semana passada.
- Será que é porque esse rapaz é meio efeminado? Enrustido? - perguntei para o Zé antes de ontem.
Mas ontem tive um clic.
E descobri o problema.
O problema da propaganda das Casas Bahia é que o apresentador não tem um comportamento humano, e sim um comportamento canino. Isso mesmo, senhores marqueteiros e publicitários. Canino, de cão, cachorro, au-au! A encenação daquele rapaz na propaganda é típicamente canina, pulando de móvel em móvel, arfando, cheirando a máquina de lavar, brincalhão, feliz da vida, ganhando seus trocados.
Um cachorrinho! Um au –au!
Parece que alguém jogou um osso para ele, ele sai para pegar, cheira uma cama, entra num armário, late, encontra a cachorrinha, pula no fogão, late de novo, pula na cama, acha o osso, traz abanando o rabo, aliás, só falta mesmo o rabo. E dá vontade de afagar o Juliano no final do anúncio, "isso, isso, bom menino, bom menino...".
Caramba, será que era isso mesmo que os publicitários queriam? Um cão propaganda?
Não entendo nada de propaganda além do básico. Mas agora me sinto na obrigação de falar com algum publicitário, para que os responsáveis sejam avisados do problema. E preciso urgente avisar o Juliano, gente. Que horror uma pessoa humana como ele ter uma imagem de cachorro.
E agora chega de filosofia que eu vou trabalhar bastante e depois ver minha tv.
- Quer pagar quanto? Au- Au!

terça-feira, 22 de março de 2005

cuidado, perigo!


eu ia falar de outra coisa, mas...

Eu ia falar de outra coisa completamente diferente hoje, mas logo que acordei dei de cara com essa "maravilha" no Estadão de hoje e fiquei completamente embasbacada.
- lúcia, olha para isso... - me mostrou o Zé - Olha o empreendimento que vão construir na marginal Pinheiros, ali, depois do Morumbi...
Fiquei boquiaberta. Que diabos é isso?
Olha, deveria existir uma lei aqui em São Paulo onde a gente, os moradores da cidade, tivéssemos que opinar e decidíssemos se certos empreendimentos podem ou não ser construídos. Afinal, a gente vai ter que conviver com aquilo direto.
Imagina se, na nossa casa, alguém enfia um mega armário neoclássico no meio da sala, que, além de te atrapalhar, é feio-que-dói. Um pode argumentar "mas tem espaço para guardar coisas dentro dele", um outro pode dizer "ah, caber cabe, dá para conviver", mas é absolutamente incômodo, pelo menos para mim, ser pega de surpresa com um monstro desses no meio do meu caminho.
O projeto é do Júlio Neves. Em baixo, um mega-shopping, em cima, uma mega-academia, mais em cima, um mega-hotel e um monte de apartamentos de altíssimo padrão que custam mais de um milhão e meio de reais cada um. Os da cobertura? Mais de dez milhões.
Que diabos é isso?
Que arquiteto é esse que resolve construir uma cidade inteira dentro de um único edifício? Só falta colocar um colégio Porto Seguro, um hospital Albert Einstein, um laboratório Fleury (sim, essas coisas hoje em dia também precisam ter "griffe", gente), fechar tudo com um enorme muro, colocar uma mega-cobertura de policarbonato, condicionar o ar lá dentro e pronto!
Ninguém mais entra, ninguém mais sai!
Resolve tudo por ali mesmo, aliás, dane-se a cidade, dane-se o resto de São Paulo, dane-se o bairro e tudo mais.
Eu não quero chegar a conclusão nenhuma, mas acho que essa coisa não vai dar certo. Colocar um monte de apartamentos de milionários em cima de um um shopping enorme não funciona, gente! Quem tem muito dinheiro gosta e precisa de isolamento, e isso inclui isolamento físico. Condomínios fechados, edifícios exclusivos, Quintas das Baronesas, refúgios silenciosos sei-lá-onde. Para quem tem grana, hoje a palavra é exclusividade. Cada vez mais o homem de sucesso quer ser único, específico.
Mas olha para isso!
Eu nunca vi um projeto empilhar tanto rico-milionário como esse.
Além do que, é um conflito social muito grande. Colocar esses apartamentos de alto padrão sobre um local cheio de lojas e comércio, sobre um local público como um shopping, num bairro cheio de favelas? Vichi. Parece um prato cheio para aumentar a violência, não parece? Será que vão deixar a população do bairro usar esse shopping? Fica a pergunta.
Bem, taí para quem não mora em SP: e esse é o armário que vão colocar aqui, no meio da minha sala.

segunda-feira, 21 de março de 2005

mais uma desse meu menino



Saí, voltei, e olha como estava a tela do meu micro quando eu sentei para acabar o trabalho.
- Joããão! Você que mexeu aqui de novo?
Ele veio rindo e pulando.
- Ué, você não gostou? Não tá torcendo para ele?

franka e os dinossauros II


em 1946!

Vou começar a semana com essa maravilhosa foto-montagem que ganhei de presente do meu filho João: "minha mãe em 1946".
Saibam que na foto de 2003, essa foto mais cinza, eu, lúcia, estava falando no celular.
- Que ano que é essa propaganda, mãe? - perguntou o João.
Eu olhei na revista.
- 1946, filho.
- Não tinha celular nessa época, certo?
E assim ele passou um tempão eliminando o aparelho da minha mão.
E... uau! Eu nunca tive unhas e seios como esses!

domingo, 20 de março de 2005

uma mulher sem lombada



Há algum tempo encasquetei que, se eu quero ser uma escritora de verdade, preciso urgente ter um lombada.
Sim, gente, uma lombada. Aquela lateral dos livros que a gente coloca na frente da estante para saber que livro é aquele. Aquela parte do livro que fica sempre visível. A "cara" do livro.
Ter uma lombada é imprescindível para quem quer ser escritor. Uma escritora sem lombada é um nada, um zero.
E céus. Eu NÃO tenho lombada!
Gente, pensa. Além de termos a memória dos livros que lemos, temos a memória das lombadas dos livros que lemos. Se eu fechar os olhos agora e pensar "Machado de Assis", eu me lembro da lombada do Machado. Clarice Lispector: pimba, lombada azul. Mário Prata: lombada braquinha. Amoz Oz: lombada preta. P. Juan Gutierrez: lombada preta mais gorda que a do Amoz Oz. Paul Auster? Roxa. E por ai vai. Aquela infinidade de cores e letras, cada uma única, particular, perfeita. Algumas lombadas eu conheço de cor. Outras, volta e meia eu estranho: quando vou ver é um livro novo que alguém aqui em casa comprou.
E, muitas vezes, do livro a gente se esquece, mas da lombada não.
Nunca.
A lombada de um livro é das coisas que mais me marca. É a lembrança da época que eu vivi quando li o livro, a recordação do mundo e da casa que eu morei quando comprei ou ganhei.
Ano passado eu consegui a minha primeira lombada. Escrevi uma história maluca usando como personagens os meus colegas de faculdade, fizemos um reencontro de 20 anos de formados. U m amigo nosso, dono de uma editora, publicou a novela para dar de brinde na festa. Não foi um livro comercializado, mas foi minha primeira lombada. Pequena, com tiragem pequena, mas a primeira.
Nunca me esquecerei dela.
Já resto dos meus livros, as novelas, as peças, as crônicas, os contos e os romances estão todos aqui.
Espiralados, coitados.
Uma lombada espiralada não é nada numa estante. Aliás, ela é pior que nada: engancha nos outros livros, risca as capas e nem pára em pé sozinha. É um esqueleto meio torto, sem personalidade, sem cor.
Mas sou insistente. Vou conseguir dar vida e lombada a todos meus escritos e serei lembrada pela minha lombada. Imagine que máximo: alguém fala meu nome e as pessoas ao lado balançam a cabeça, sorrindo.
- Sim, a lúcia carvalho, aquela antiga blogueira do "frankamente"...
E todas estarão se lembrando da minha... lombada.

sábado, 19 de março de 2005

uma nova secção - "franka e os dinossauros I"



Estou inaugurando uma nova secção no blog, baseada na minha coleção de revistas antigas. Serão curiosidades, propagandas, fotos e reportagens de uma época que nem eu era nascida.
Essa é uma propaganda de geladeira de uma revista Cláudia de 1961. Nessa época, notei, as mulheres "abraçavam" os eletrodomésticos em todos os anúncios. E, pior: se vestiam, se maquiavam e arrumavam o cabelo para tirar fotos ao lado deles.
- Querida, você está maravilhosa hoje! Onde você vai? - pergunta o marido.
- Ficar em casa mesmo, querido. Mas me arrumei porque vou passar aspirador de pó na sala!
Escolhi essa como a primeira foto porque o tema da semana aqui do frankamente (adoro ME linkar, hahaha) é comida. E vejam: retirando-se as frutas (todas desembaladas, um absurdo), todas as outras comidas da geladeira são proibidas pela chata da TEA, aquela coisa que eu inventei uns posts atrás.
E reparem em mais uma coisinha. Não existe nenhum tuppeware na geladeira!

sexta-feira, 18 de março de 2005

um corpo que cai


calma, gente

Isso não é o que vocês estão pensando. O frankamente não publica notícias policiais.
Calma.
Isso é o que acontece com qualquer obra ao meio dia e UM minuto.
Para quem não sabe, todo mundo pára de trabalhar nas obras exatamente ao meio dia. Assim, ao meio dia e UM minuto, toda a mão de obra que um minuto antes estava em plena ação, cai no chão onde estiver e... dorme.
Profundamente...
Acho que é canseira pura. Imagine, os rapazes trabalham para burro, trabalho duro, físico, braçal. Quando toca aquela sirene eles só querem uma coisa: descansar.
Uns caem no chão mesmo, outros sobre as caixas de material, outros em cima de pedras, outros apoiados em pregos, eu juro. Tenho a impressão que eles competem quem consegue dormir pior.
Conheci um pedreiro uma vez, que era zombado pelos outros, pois não dormia sem "travesseiro": ele usava a sua própria bota. "Que frescura!", diziam os amigos.
Um arquiteto amigo meu me disse que sempre que chega numa obra nesse horário se sente em pleno Vietnam, rodeado de corpos. "Parece que estou no set de filmagem do filme Platoon, lúcia!". É verdade. Em alguns lugares, temos até que "pular" diversos corpos para poder circular.
E essa semana eu consegui documentar. Tirei essa foto essa semana, lá no Rio. Olha a tranquilidade do fulano, despencado no chão. Comentei com os engenheiros dessa obra sobre o Vietnam.
- Não, não! - eles me disseram, rindo - Aqui a gente chama de "hora do tsunami". Repara! - e ele mostrou todo o páteo coberto de corpos.
Viche...

quinta-feira, 17 de março de 2005

cuidado: "petit gateau"!


(nota: este alimento é proibido pela TEA)


A AUTORA RETIROU ESSE POST DAQUI PORQUE ADMITE QUE FOI PRECONCEITUOSA NO ASSUNTO E NO TEXTO.
PORÉM LEMBRA QUE NUNCA-JAMAIS TEVE ESSA INTENÇÃO.

DESCULPAS A TODOS.

(PS. : é tudo culpa dessa maldita mania de fazer gracinha com tudo...)

quarta-feira, 16 de março de 2005

linhas e linhas


a obra, a vista da piscina e a linha do mar de são conrado

Tou meio cansada, mas acabei de chegar, descarregar as fotos e achei essa pérola de imagem. O mar não ficou paralelo com a foto e nem com a piscina, mas o lugar é lindo, a cor do vidrotil da piscina é luminosa e o mar, mesmo pálido, estava calmo. Taí a imagem pra vocês, antes de eu entrar no (perigoso) assunto do "petit gateau".
Falaverdade. Eu até que dou para ser fotógrafa também, não acham?

terça-feira, 15 de março de 2005

o catupiry e os quadris


...ai meus quadris!


Ainda assombrada pela TEA*, resolvi fazer uma lista das comidas aceitas pela TEA e das comidas proibidas pela TEA, para entender melhor o futuro alimentício do nosso mundo. As listas, que ainda não estão prontas, serão publicadas em breve aqui no FRANKAMENTE. Lembro que aceito sugestões para os cardápios.
Mas aviso desde já que o mundo gustativo não está totalmente perdido. Dentro da lista dos alimentos permitidos pela TEA,está o Catupiry. E Catupiry, ah, Catupiry é uma delícia, né gente...
O único problema do Catupity é que ele é um tipo de alimento que, ao ser ingerido, desce diretamente para... os quadris. Pouca gente sabe, mas a tão falada celulite é feita de... catupiry.
Não estou maluca, não. É verdade, é a mais pura verdade!
Gente, pensa.
Pensa na textura do catupiry. Pensa na densidade do catupiry. Pensa no volume do catupiry. E agora responde: para onde ele vai depois que ele é ingerido?
Hein?
  • * observação 1: para quem não sabe, TEA é a Teoria sobre a Evolução da Alimentação uma teoria que eu mesma estou bolando que diz que, dentro em breve, as melhores comidas do mundo (entre elas a minha predileta, o pastel de queijo), serão proibidas pois ficará mais do que provado que elas fazem muito mal para a saúde. É uma teoria catastrófica, pois além dos pastéis, todas as comidas que fazem mal a saúde e que não são naturais serão banidas da alimentação humana.
  • Observação 2: acho que eu devia urgentemente patentear a TEA, pois uma idéia tão genial logo logo será plagiada por algum antropólogo desempregado de plantão louco por um tema para pesquisa.
  • Observação 3: aqui ainda vai uma curiosidade sobre o requeijão, o primo mais novo do Catupiry. Um amigo meu da FAU, o Dalton, mandou outro dia o seguinte email sobre o requeijão: “... olha só o que fizeram com o requeijão, ops, especialidade láctea. Comovo-me só de pensar. Agora é tudo gordura vegetal, só essência acrescida de 0,1% de creme de leite (eles colocam esse 0,1% só pra poder constar como ingrediente no rótulo). Felizmente ainda existem os VERDADEIROS requeijões, que são da marca Nilza e Criolo. Outro dia quase tive um derrame ao descobrir que o Itambé também ainda o é. Uma salvadora terceira opção. Outro dia fui ao Pão-de-Açúcar e no caixa entregaram-me um papel para eu preencher se havia encontrado tudo que necessitava. É claro que, maravilhado, escrevi que estava indo embora sem comprar requeijão. Muito solícita, a moça do caixa indicou-me o corredor onde eles colocam as especialidades químicas que reproduzem os antigos derivados do leite, aquelas massas que parecem queijo, etc. Imediatamente começou uma discussão, no bom sentido, culminada pela presença do responsável pelas compras, que, junto com muitos outros em volta, atraídos pelos comentários, tomaram conhecimento detalhado das diferenças entre requeijão e especialidade láctea, e seus ingredientes, consistência e sabor. Fiz notar que não existe mais a palavra requeijão no rótulo. O problema é que ainda existem marcas que não removeram o nome requeijão, mas ele não me enganou não, conheço muito bem o assunto. Dias depois levei um copo de cada uma das três marcas acima pra ele conferir a diferença. Novamente foi um rebuliço no caixa como você pode bem imaginar... muito comentários com os empacotadores e clientes ao lado. Você sabe como é nessas horas...”
  • Observação 4: se eu sumir, gente, alguém vá atrás dos executivos da Coca-Cola, que eles devem estar me seguindo e com certeza a culpa será deles. Lembro que a Coca-Cola será das primeiras coisas a ser eliminadas.
  • Observação 5: bem, só para falar que vou para o Rio amanhã, mas na volta, aguardem: falarei sobre o tão famoso... “petit gateau”.

segunda-feira, 14 de março de 2005

TEA - o fim dos pastéis de queijo


Os deliciosos pastéis de queijo e carne

Eu estava pensando numa coisa. Mas meu pensamento começou a tomar um vulto, mas um vulto tão grandioso que me impressionou. Agora estou em estado de choque por causa disso.
Eu pensava uma coisa sobre os pastéis.
Eu amo pastel. Sempre foi a minha comida preferida, predileta e mais desejada. Adoro os daqui de casa, adoro os da feira, adoro os de aperitivo dos bares.
Mas me dei conta que os pastéis são uma comida em extinção.
Explico melhor.
Há uns quarenta anos, ninguém condenava os fumantes. Era super bacana fumar – só não fumavam os que não gostavam mesmo. Hoje fumar é das coisas mais horríveis e condenavéis da face da terra. Vai entender. Além disso, pense: há vinte anos, ninguém condenava quem tomava sol. Não era proibido tomar sol, sol não dava câncer de pele e nem manchas. Veja hoje: tomar sol, proibidérrimo.
A questão é que, se prestarmos atenção, vivemos hoje a semente da apologia da boa alimentação. Até então comíamos o que vinha a mesa, sem pestanejar muito. Claro que ninguém exagerava nas comidas pesadas ou erradas porque dava dor de barriga e azia, mas sempre foi permitido comer feijoada, carne de porco, balas, frituras, coxinhas de galinha, doces e pizzas, moderadamente. Mas do jeito que as coisas vão, com toda a certeza daqui a vinte anos um monte de comidas que a gente come hoje em dia serão totalmente condenadas. São comidas que vão entrar em extinção.
Nunca mais.
E nessa leva, acho que meus pastéis vão sumir do mapa. Acho não. Tenho certeza. Ô tristeza.
Estou imaginando meus bisnetos.
- Sabe o que a bisa lúcia comia quando era mocinha? - cochichará um bisneto.
- Shiu, fala baixo. O quê?
- Pastel! Pastel cheio de gordura!
- Pastel? Jura? – vai falar o outro bisneto – Que louca, onde ela arrumava? Era viciada?
- Era. Louca, né? Como pode! E a mãe dela deixava, até fazia!
Acho até que, daqui a alguns anos, as comidas que não alimentam, além de serem condenadas, serão também proibidas. Só de pensar assim, por cima, já vejo o fim da Coca Cola, o fim das coxinhas, o fim das balas de goma, o fim do Milk Shake de Ovomaltine do Bob´s, o fim da feijoada, o fim do sorvete chica bom. E, se eu continuar pensando, vou acabar listando mais de trezentas páginas de comidas sensacionais que em breve serão extintas. As nossas saborosíssimas comidas pré-históricas.
Bem. Provavelmente teremos um mercado negro, paralelo, que comercializará esses itens. O preço deles vai lá para o alto, os governos gastarão uma fortuna com campanhas anti - cheetos e anti - fritas. Uma bala frutela? Só no contrabando, por um preço exorbitante.
E o que poderemos comer? Nossa, isso vai longe, longe. Vou parar esse post por aqui para jantar meu frango com catupiry antes que ele desapareça do mapa, e depois volto ao assunto.
Esse é apenas o começo da minha teoria da evolução da alimentação, ou TEA.
TEA?
Ichi. Na verdade, acho que se isso for verdade, só vai sobrar mesmo chazinho pra gente tomar...

domingo, 13 de março de 2005

o cinto do engenheiro


e, para encerrar esse assunto...

Bem, para provar a minha teoria que diz que engenheiro de SP vai para a praia a trabalho de cinto, ai vai uma foto. Foi tirada discretamente e em segredo por mim, e preferi omitir a identidade do engenheiro para evitar represálias.
Mas garanto: é um engenheiro, é paulista, está num barco indo para a ilha e notem: ESTÁ DE CINTO!
Isso dá uma enorme teoria, não acham? O cinto. Ninguém usa cinto para segurar as calças. Duvideodó. Usar cinto é um estranho hábito da sociedade, pior que usar gravata. Usar cinto é como se amarrar a você mesmo, para não se perder.
Ah, eu fiz um novo selo, que coloquei ali ao lado: "SIM - eu comento os comentários". Achei melhor anunciar para os visitantes que nesse blog aqui ninguém comenta e fica no limbo, sem resposta, sem um "olá" da dona do BLOG.
Aqui todo mundo tem resposta e, se Deus quiser, eu nunca vou ser considerada uma blogueira metida, arrogante e antipática.
Olha lá meu selo novo, amarelinho. Quem quiser pode pegar e usar no seu blog, pois é grátis, absolutamente grátis.

sábado, 12 de março de 2005

fala a verdade...


... não é o próprio Mogli? (foto by celso fontes)

Tudo bem que ele fez aquele comentário infeliz quando eu cheguei em Angra, agora já passou a raiva. É que ele pegou no meu atual ponto fraco. Eu já tinha percebido que isso tinha acontecido comigo, esse negócio de engordar um pouco, há mais ou menos um ano e seis meses. É por causa da falta do cigarro, além, claro, do excesso de comida.
Fui devidamente avisada sobre isso pelas calças jeans. As calças jeans são as maiores aliadas das mulheres nessa coisa do engorda-emagrece. São elas que, por não esticarem, avisam quando você está acima do peso.
Uma vez escrevi uma crônica sobre isso. Foi logo que parei de fumar, quando tudo começou... Chama-se Jeans Lycra. O meu amigo Mário Prata gostou e colocou no livro dele, aquele do SPA, "Diário de um magro II". Já publiquei a crônica aqui no frankamente, em dezembro do ano passado. Podem conferir, que é engraçado.
Mas vamos nos concentrar no nosso Bacana.
E ai? Acham o quê? Parece muito, não?

sexta-feira, 11 de março de 2005

na ilha bacaninha


... e o mar estava especialmente verdinho.

Notem que ali na praia, embaixo da árvore, tem um bolo de gente. É a minha turma de roupa e cinto se escondendo do sol escaldante de Angra. São os engenheiros, projetistas, arquitetos, consultores e coordenadores.
.
Óbvio que eles foram de cinto, os engenheiros. Além de cinto, mala. Sabe aquelas malas que tem o laptop? Essas mesmas. Tirei uma foto para mostrar. Será o próximo post. Aguardem.
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Como era muita gente para ir para lá, organizei uma van para a viagem. Fomos em dez pessoas mais o motorista. Dois engenheiros da construtora preferiram ir no carro deles, disseram que era para chegar mais rápido, mas acho que foi mentira. Acho que eles acharam que era meio brega ir de van, que, queira ou não, lembra uma kombi de lotação. Ou acharam que parecia uma excursão, uma coisa meio popular, sei lá, e não aderiram à minha idéia. Ficou bastante feia atitude deles diante do nosso grupo, todo mundo torceu o nariz. Alguém comentou que se o nosso grupo fosse um grupo de BigBrother, os engenheiros "out off van" seriam os primeiros a ser eliminados.
PS 1: Esse negócio de BigBrother, que todo mundo fala tão mal, ao menos mostra como certas atitudes são antipáticas.
PS 2: Já eu adorei ir de van, tenho um lado meio caipira mesmo, que fazer?
.
Paramos num posto na beira da estrada para um lanche. Enquanto eu, distraída, comia um lanche, dois projetistas foram disfarçadamente até uma cabine onde tinha uma moça (com um microfone) que anuncia as saídas. Dali a pouco, ouvi uma voz ressoando pelo posto todo:
- Atenção passageiros da Lucy´s Tour com destino a Angra dos Reis queiram tomar seus lugares na van. Atenção passageiros da Lucy´s Tour com destino a Angra dos Reis queiram tomar seus lugares na van.
Acesso de riso geral.
Cada uma.
.
Claro que o Marinheiro Bacana estava lá, com sua cara de Mogli.
- Oi Bacana! - falei quando chegamos na marina. Ele estava no barco e eu lá em cima, no pier.
Me deu vontade de rir. Ele é muuuuito parecido mesmo com o Mogli.
- Oi Dona lúcia! - ele me respondeu, sorridente.
- Tudo bom?
- Tudo, e a senhora? - e ele me olhou de cima a baixo - Nossa, mas a senhora engordou um pouco, não foi?
Pra falar a verdade, esse Bacana não é nada bacana.
Droga.

ploft! 16 presentes!


Eu cheguei de Angra, e antes de qualquer post ou comentário sobre a viagem, coloco aqui a maravilhosa foto da orquídea maluca que recebi do Wagner do Por um Triz: não é que é verdade que a orquídea dele explodiu 16 flores?

quarta-feira, 9 de março de 2005

uma ilha bacaninha




Olha que lugar mais lindo que eu vou amanhã. É uma ilha em Angra, vamos começar uma obra lá. Vou amanhã de madrugada, volto amanhã de noitão.
Ufa.
Uma praia quase particular. O mar é verdinho. As conchas lindas. A mata, uma maluquice de vigorosa e úmida.
O triste é ir pra um lugar assim sem maiô e a trabalho, com uma grande equipe de engenheiros, arquitetos e projetistas. Todos de calça, sapato, cinto e maletas.
Olha. Engenheiro de São Paulo usa cinto até quando vai trabalhar na praia. Verdade. Não sei porque isso me parece tão absurdo, mas parece. Acho que é das coisas mais inusitadas do mundo para mim: cinto com areia do mar.
O marinheiro que vai nos buscar em Angra se chama Bacana. É um moço idêntico ao Mogli, sabe o Mogli dos desenhos da Disney? Eu vou tentar tirar uma foto dele para provar para vocês. Bem, e talvez pela idade dele, ele seja o próprio Mogli. Vivinho da silva.
Conheço o Bacana há cinco anos, pois já fiz uma outra reforma de outra casa do mesmo dono por lá e ele já era o marinheiro. Na época, soube que ele tinha tido um filho, o Bacaninha.
- Puxa, Bacana, parabéns - eu exclamei, assim que cheguei no barco, dando um abraço nele - Soube que você teve um filho!
Ele sorriu, e, atrapalhado, me explicou.
- Eu não, dona Lúcia. Quem teve foi minha esposa.

o video game



- Quer jogar videogame comigo, mãe?
- Não sei jogar. Você joga e eu assisto, João.
- Prefere jogo de luta ou estratégia?
- Estratégia.
Sentamos lado a lado no sofá.
- João, o que é aquela bolinha vermelha, ali, no cantinho da tela?
Ele estava tranquilíssimo, com as pernas para cima.
- O nível de preocupação.
Percebi que a bolinha estava se tornando cada vez mais luminosa.
- Mas está vermelho... e está cada vez mais vermelho, olha, filho! Ei, que é esse negócio de nível de preocupação, onde está escrito isso?
- Mãe, não sei exatamente como se chama essa bolinha. A gente que colocou esse nome, “bolinha do nível de preocupação” - ele resolveu me explicar melhor - É que o vídeo game mostra o nível de preocupação que a gente deve ter no jogo. Quando está tudo vermelho quer dizer que as coisas estão difíceis, complicadas, quer dizer que eu corro perigo de morrer – e ele apontou a TV - Vê? Eu devo tomar uma atitude. Urgente.
- Tem isso num jogo de vídeo game? Nível de preocupação? Eles colocaram um medidor de tranqüilidade num jogo infantil?
Ele ainda estava sossegado, impassível.
- Tem, claro que tem, mãe... – ele respondeu, balançando a cabeça.
Eu continuei, aflita. Preocupadérrima, óbvio.
- E... você não vai fazer nada, João? Nada? AimeuDeus... – eu olhei e a bolinha estava toda vermelha – Olha João, olha! Cuidado, filho! Aiii!
- Calma, mãe, calma... é só um jogo, mãe...
E ele me olhou, sério
- Credo, mãe. Como você é estressada.


Bom.
Com toda a certeza, essa será uma geração de adultos bem diferente da nossa.

terça-feira, 8 de março de 2005

olha a lindeza


o lilás no muro caiado vermelho

Tudo bem que a árvore caiu e que a forquilha se foi. Mas olha a lindeza da orquídea que nasceu na janela da minha cozinha.
Olha a corrr dessa florrr!
Gente, perdoa. Eu (sério) não deveria ter falado da árvore amputada na porta da minha casa. Há algum tempo que decidi não contar as coisas ruins que me acontecem para ninguém para não espalhar mau agouro.
Tudo porque uma vez entendi que as conversas com amigos são assim: tagarelar é presentear o seu interlocutor. Conversas são presentes. Você dá, ele te dá, você dá mais para ele, ele dá mais ainda pra você, e assim a conversa se forma. Depois de uma boa conversa, a gente sempre se sente mais "cheio" ou, sei lá, mais "gordo" de assuntos, não é?
Bom, quando entendi isso, fiquei maravilhada com a idéia. Eu reclamava demais de tudo e era a maior chata da paróquia. Saí um dia de manhã disposta a falar só coisas legais. Mas na primeira conversa que eu tive com uma amiga, ela só me despejou desgraça. Gente do céu. Foi horrível. Doenças, tristeza, raiva, vingança, fofoca. E ela se foi e eu fiquei ali, com todo aquele presente horrível na mão.
E o que fazer se as coisas ruins acontecem, ese temos vontade de contar? Decidi e combinei comigo mesma que só falarei sobre as coisas ruins só quando eu conseguir transformá-las em coisas engraçadas.
Ou ao menos... tragicômicas.

snif...


uma tristeza enorme

Ontem passou um caminhão enorme aqui na rua e arrancou metade da minha árvore. Era uma árvore forquilha, com dois enormes galhos, um para cada lado. Agora é uma árvore amputada.
Não compreendi bem o que isso significará. Segundo o fengshui, que eu acredito mas não sou fanática, não era bom ter galhos assim na frente de casa porque eles dividem a energia.
Será?

segunda-feira, 7 de março de 2005

as almas penadas da WEB


Hoje saiu uma materiona sobre blogs no caderno Link do Estadão. O Zé até me tirou da cama por causa disso.
- Olha lú... Acorda. Só blogs, tudo sobre blogs. Levanta, vamos, lê.
Viu gente? Tamos todos ficando famosos. Em breve seremos um gênero literário considerado pela mídia. Ah, eu sei, eu tenho fé nisso! Sairemos da obscuridade. Eu sabia. Sabia. E nós, os insistentes blogueiros velhos, teremos selo de qualidade, como aqueles comércios antigos:


... "frankamente"..., “desde junho de 2004 no ar, com divertidíssimas atualizações diárias”...


Sabe. Eu fiquei pensando numa outra coisa. Eu seria uma cronista perfeita para esse caderno Link do Estadão, ou para o caderno de Informática da Folha, vocês não acham? M. Tas que se cuide, que uma hora eles vão me descobrir.


Lá no blog da Sheila apareceu uma moça engraçada demais, chamada Gabriela. Ela disse que é uma leitora de blog anônima e que vai fundar a LBA (uma associação de leitores de blogs anônimos).
Olha que coisa mais interessante. Enquanto os leitores eram apenas leitores de jornal ou revistas, eles eram sempre anônimos. Mas agora que temos essa nova forma de comunicação, os blogs, podemos notar que passou a existir uma grande interação entre o leitor e o escritor.
Uma certa... intimidade.
Isso muda? Sim, muda e muito. Para quem escreve e para quem lê. Como eu sou as duas coisas ao mesmo temo (eu, por exemplo, me filiaria a LBA, pois nas horas vagas sou uma das almas penadas de blogs), sei que, como blogueira é uma delicia achar comentários nos nossos posts. E sei também que é frustrante visitar um blog, comentar e ficar ali, no limbo, sem o dono do blog dar a menor pelota para a nossa visita.
Verdade. Destesto. E a partir de agora me recusarei a indicar blogs de pessoas que não dão a mínima para quem comenta, ô antipatia. Tudo bem, se você tem um blog famoso e comentários demai,s comenta só alguns. Mas comenta. Isso aconteceu comigo no blog do Ricardo Freire (o cronista da Época) e no blog do Carpinejar.
Assim, podem reparar: não vou mais linká-los.
Uma questão de princípios.


Frankamente, um blog com princípios.
(bem, com meios e fins também)
(tou pensando em fazer um selo para a campanha... "blogueiro que é blogueiro comenta" ou "eu comento os comentários")

domingo, 6 de março de 2005

uma abordagem autêntica



O Bernardo, o aparelho e a abordagem autêntica
(pequeno relato de um fato ocorrido)


Tirei o aparelho dos dentes há um ano. Usei durante três, para corrigir um defeito que eu tinha desde menina e que me incomodava muito. O tratamento foi feito em três fases, e em uma delas eu usei um aparelho lá dentro, no céu da boca, que não dava para ver por fora.
Aquele negócio me incomodava muito, pois não dava para falar ou comer direito, e me fazia falar embolado, com um chiado masishhh oushh menosshshs achhhimmm.
Um certo dia, fui com o Zé jantar fora. Fomos no restaurante do Carlos-meu-amigo, e eu me contentei com uma sopinha e uma taça de vinho. Comer em público com aquilo na boca seria desastroso.
O Carlos, quando nos viu ali, veio conversar.
- Sabe quem está aqui, lúcia? O Bernardo Carvalho, o escritor que você gosta tanto. Você quer conhecê-lo?
Fiquei super animada.
- Cshlaro Carrshlosss, clsharo!
- Vai lá conversar com ele, lúcia – o Carlos apontou uma mesa – Olhe ele lá no fundo.
Nessa hora o Zé me olhou feio. Bravo.
- Lúcia, não inventa. Fica calada ai.
- Porque, Zé? É o Bernardo.
O Zé me cochichou baixinho, para o Carlos não ouvir.
- Eu sei, mas uma mulher nunca aborda um homem. Nunca. Ouviu? É muito feio.
- Eu não posso ir falar com ele, então? - falei, decepcionada.
- De jeito nenhum.
Fiquei meio desiludida. Eu precisava contar para o Bernando um monte de coisas que eu achei do livros dele.
- Mas Zé... e se for de outro modo?
- Como assim?
- E se ele vier aqui, falar comigo, Zé?
- Aí tudo bem. Só não pode uma mulher abordar um homem. O contrário, ainda mais eu estando aqui, pode sim.
Tive, então, uma idéia. Pedi ao Carlos para nos avisar quando o Bernardo pedisse a conta. E, quando ele passasse perto da nossa mesa, o Zé ia falar bem alto o nome dele. Quando ele olhasse para nós dois, eu me levantaria e falaria com ele.
- Pode ser assim, Zé?
- Assim pode.
Tudo acertado. Um tempo depois, lá veio o garçon e avisou que o Bernardo estava saindo. Ele passou perto de nós, o Zé chamou o nome dele, ele olhou, a gente se levantou e...
Pimba, lá estava eu, cara a cara com o Bernardo.
Olha. Se o Zé não tivesse falado aquela coisa de abordar, se eu não tivesse feito aquela armação estranha, se tudo corresse normal, acho que eu estaria mais calma, pois o que tem de mais falar com o Bernardo? Mas foi uma confusão enorme e eu acabei me levantando toda atrapalhada da cadeira, meio sem graça e envergonhada.
O Zé me apresentou à ele, dizendo que eu tinha lido um livro dele e gostado. Ele sorriu, sem jeito, e me falou aquele tradicional “ah-oi-como-vai?”.
Era a deixa para a minha fala.
A minha animação era grande e minha agitação maior ainda. Eu resolvi sair falando um monte de coisas, logo de cara e...
- Oooii bernar...
Cussshps.
Cuspi nele.
Gente do céu, eu cuspi em cima do Bernardo Carvalho. Quando eu vi o meu cuspe ali, bem na minha frente, me senti imperdoável. Tudo por causa daquela droga de aparelho.
Olhei aquele cuspe branquinho na blusa preta dele, escorrendo devagarzinho. Como eu não tirava os olhos do ombro dele, ele também olhou. Na hora eu pedi mil desculpas e limpei com a mão. Ele não se mexeu. Afinal, ele não ia colocar a mão no meu cuspe, num cuspe de uma pessoa que ele nem conhecia.
Bom, apesar disso ele foi ótimo, falante, sorridente. Me deu o email para eu escrever tudo que eu quisesse, o que, óbvio, eu fiz na semana seguinte. Eu me respondeu em seguida, agradecendo a opinião e me chamando de “autêntica”.
Autêntica? Me deu vontade de rir. Bela saída para me relembrar sutilmente o ocorrido.
Gente, cuidado comigo: lúcia, aquela que cospe em escritores.

sábado, 5 de março de 2005

apertando o palhaço -II



Devido a pedidos da autora, alterei a embalagem do palhaço.

apertando o palhaço


o palhaço da silvia?

Olha, eu sei que chega de falar de pasta de dente, mas uma coisa nessa história toda me fez rir sozinha na viagem de ontem. Foi a explicação que a Sílvia deu, aqui nos comentários do blog, de como ela interpretava o funcionamento da pasta de dente "Signal". Eu sei que eu não fui muito feliz na minha comparação do tubo de pasta com uma almofada. Mas ela conseguiu (que imaginação!) ligar, de algum modo, na cabeça dela, um homem vestido de palhaço com um tubo de dentifrício.

"lúcia, peloamordedeus!
Esta sua explicação da almofada está complicada demais, já basta o povo ter que imaginar o tubo!
Vou tentar explicar: imagine que o tubo é um palhaço em pé, a pasta branca é o corpo dele, a vermelha é aquele babadão enorme que dá a volta no pescoço todo dele. O pescoço é um tubo por onde sai o branco.
O truque está no chapéu. Nas laterais do chapéu tem uns furinhos pequenos e espassados (exatamente 5) por onde sai o vermelho. Quando se aperta, o branco sai pelo pescoço e pressiona o vermelho para sair pelo chapéu, dando origem às 5 famosas listras!
Ufa! Deu para entender?"
Na hora eu liguei para ela.
- Silvia, mas que horror... Imagine apertar um humano desse modo, que coisa mais mórbida.
- Um palhaço não é necessariamente um humano - ela me explicou - eu estava pensando na roupa dele, e não na parte interna do palhaço.
- Mas nossa experiência não é sobre embalagens, e sim sobre o conteúdo. E o conteúdo de um palhaço é carne, osso, sangue e vísceras.
- É? - ela me perguntou, rindo - Tem certeza?
- Tenho - respondi.
- Já apertou algum?
A nossa conversa acabou ai, pois, claro, tivemos um enorme acesso de riso.

Alguém já apertou algum palhaço?

os restos mortais


mais uma vez na bahia...

Não desapareci ontem por causa dos executivos da pasta de dente não. Sumi porque fui mais uma vez para a Bahia. A história toda se repete: aquele monte de cocadas, aquela quantidade absurda de pedras no avião (ontem estava duro de carregar), aquele calorão e a paisagem maravilhosa.
Numa certa altura do dia, coloquei a mão na bolsa para pegar a máquina e pimba!
Achei parte da "ossada" da pasta de dente!
Céus. Fiquei caladinha. Como explicar aquilo para os outros?
A rotina tem suas vantagens. Eu pelo menos gosto dela, pois dá um certo conforto. "Sim, vim de laá de São Paulo e a banquinha das cocadas está no mesmo lugar".
E acompanhar uma obra, para quem nunca teve a oportunidade de fazê-lo, é uma coisa muito boa. Uma obra, durante seu andamento, é um caos construtivo sem tamanho em todos os sentidos: uma enorme organização que parece desorganizadérrima, um enorme número de pessoas de diversas equipes se amontoando, uma enorme bagunça para quem chega de fora. Mas tudo tende a melhorar a cada dia: aos poucos a construção surge. Essa hora é muito bacana.
Só esse blogger que está estranho. Eu coloco a foto, e, quando vou editar, e ele some com a foto. Hum. Terei que fuxicar um pouco.

as listinhas da pasta - X


e a nossa dissecação acabou em um desenho de fim-de-noite (um desenho BEM dissecado...)

quinta-feira, 3 de março de 2005


Pessoas que leem esse blog, essa é a imagem do post "as listinhas da pasta IX", e, se eu desaparecer desse blog nos próximos dias, investigeum os executivos da pasta de dente da unilever, a fabricante da pasta Signal, que a culpa deve ser deles...

Tudo de novo, tudo de novo! Os executivos da pasta de dente, com toda certeza, estão armando um golpe contra eu e a Bê!

as listinhas da pasta VII (vou colocar de novo, esse negócio das minhas imagens sumirem está parecendo perseguição!)

as listinhas da pasta - IX



Bem, depois desse belo desenho explicativo-decorativo e divertivo, acho que não existe mais enigma algum. Tenho diversas fotos adicionais de outros ângulos da pasta estraçalhada e closes do desenho das entranhas da pastona, que posso enviar por email sem custo algum para quem se interessar.
E agora chega, né?

Meu baixo astral, minha sem gracice e minha tristeza de antes de ontem já passaram e eu já estou exausta de pensar nessa coisa de pasta de dente de listinhas. Ontem eu comentei com a Sílvia que somos, as duas, dois poços de vontade de fazer qualquer coisa engraçada que mude o nosso cotidiano. Basta alguém dar a mão que a gente se joga em cima, gargalhando, na maior felicidade desse mundo.
Ao mesmo tempo, isso só acontece quando temos receptividade, e isso é parte ativa da criação e do grau das invencionices. Um eterno e necessário diálogo, quem vê e quem faz. Por isso que deve ser muito bom ser ator de teatro. Você atua e teu público está ali, na frente, no mesmo instante.
Outra coisa que nos intriga é como qualquer assunto, por mais bobo que seja, pode servir de pretexto para um entendimento ou uma idéia. Não foi nada fácil dissecar a pasta: afinal, ela custou dinheiro, o dinheiro vem do nossos trabalhos e nós duas, como mães, pregamos o "não desperdício".
No meio da performance-experiência, entra o Márcio, o filho da Silvia.
- Nossa. Sempre tive a maior vontade de fazer isso e minha mãe nunca deixou.
Dei a pasta para ele.
- Hoje pode. É pesquisa científica.
- Você usa Signal? - ele me perguntou.
- Uso, e você?
- Colgate. Tripla ação.
- O Dudi gosta de Aquafresh - comentei com a Silvia - viu no blog dele?
- Eu também adoro Aquafresh - falou o Márcio - Mas é muito caro, a minha mãe não compra. Já viu, lúcia? Trem três listas. Três!

Ah, nãooo!

as listinhas da pasta - VIII



(ATENÇÃO - IMAGEM VIOLENTA)
O Frankamente não se responsabiliza pelo que pode acontecer aos leitores curiosos que insistiram em vir até aqui.

as listinhas da pasta - VII


tchammmmmmmmmmmmmmmm... (favor notar a "pose" dos dedos da cirurgiã)


Pois ontem a noite, depois de muitas risadas e questionamentos, eu e a Silvia chegamos dentro da pasta de dente de listinhas. Notamos que não existe nenhuma pasta dentro da outra pasta, ou nenhum tubo dentro do outro tubo. A mágica é a engenhosidade que existe no design do fim do tubo. Na verdade, nada divide a pasta branca da pasta vermelha. Elas convivem juntas, lado a lado e misturadas lá na ponta do tubo. O que acontece é que primeiro é colocada a pasta vermelha (nas laterais da saida) e a pasta branca em todo o tubo. Quando se aperta a pasta de dentes, o vermelho sai por uns furinhos laterais e o branco pelo tubão. Eles se juntam e formam a famosa "pasta com listas".
Vamos ver se eu explico de outro jeito.
Hum, imagine que voce tem uma almofada de plástico. Nessa almofada você faz dois furos, um em cada parte de baixo. Daí voce enche com uma pasta a metade de uma cor e a outra metade de outra cor. Ai você imagina que alguém senta em cima dessa almofada, e que as pastas saem pelos dois buracos, cada uma de uma cor, lado a lado. Se os furos forem próximos, as cores se encostam. É mais ou menos isso, mas como é complicado de explicar contando, a Sílvia desenhou.
Juro, ficou outra obra de arte.

Ah, e o ensinamento que tiramos dessa experiência eu conto daqui a pouco.

as listinhas da pasta VI


... não me corta que me dói...

Mas pasta é pasta e gente é gente. A Sheila me deu uma canja legal lá no COQ-QOC dela. Chamou até a minha história aqui de Mac Guffin (não vou explicar tudo de novo - vale a pena reler o post dela) e citou o suspense do mistério da pasta de listinhas.
E aqui chegou o grande momento. Tudo foi minunciosamente preparado para a dissecação, reparem: tesouras, hachis para investigação interna e vinho para as estripadoras.
Preparem-se. São cenas muito fortes. Dentro de alguns instantes, o grande enigma signal-langis será desvendado.

as listinhas da pasta - V


o desenho de pasta de dente
nome: SUCURI (a que mata por espremedura)
pasta de dente e tinta acrílica sobre tela sem tirar da embalagem de plástico
Autor: 95% sílvia bê e 5% lúcia franka

Vejam no detalhe a caixa da pasta utilizada e o detalhe da tesourona que será usada para a abertura.
Achei interessante que a cara da mulher no desenho (1) não tem dente (2) parece que está chamando as cobras.
Bem, uma vez esvaziada quase que totalmente a pasta de listinha, podemos dar início à dissecação.
... tcham-tcham...

as listinhas da pasta - IV


Bê e a farra da pasta

E como amigo é para essas coisas, nada como transformar uma enorme bobajada numa coisa importantíssima, com direito a brinde com vinho e amendoim.
A tão falada "Farra da pasta de Listinhas" de Bê&Cê, começou com um enorme desenho feito de pasta de dentes -alguém teria uma outra idéia de como esvaziar a o tubo?
Um desenho a quatro mãos, com um rosto, com uma serpente, com muitas curvas.

Hehehe.
Vik Muniz que se cuide, pois as estripadoras estão na área.

quarta-feira, 2 de março de 2005

as listinhas da pasta - III


(pior que esse assunto, só aquele do envelhecimento das bonecas barbies que coloquei alguns meses atrás)

Espero que vocês levem em conta o tempo (inútil) que eu gastei para fazer essa pequena obra de arte do mundo virtual que pode ser vista ai em cima: inclui uma foto da dita cuja, uma escaneação da nota da farmácia, uma colagem e o desenho da serpente "signália", feita por mim mesma.
Sim, sei que não resistirei à tentação, pois eu sempre opto pela coisa mais... boba.
Mas, para a coisa ter um pouco mais de graça, resolvi fazer uma pequena cerimônia para a execução da pasta. Assim, irei ao atelier da Silvia, minha melhor amiga, para abrirmos juntas a pasta. Bê e Cê, as estripadoras. Nessas horas é sempre bom ter companhia. O único problema é que provavelmente tomaremos vinho, o que pode prejudicar um pouco a qualidade da incisão.
Brincadeiras à parte, pensei muito no que me disse a Sheila. Que delícia ter ao lado essa Santa Sheila, com suas muitas idéias deliciosamente impertinentes. Em parte, concordo com tudo que ela me disse. Existem certos mistérios no mundo e na vida que não devemos desvendar nunca. Certos segredos são bonitos justamente por serem segredos, e a arte e a poesia estão na sabedoria de perceber a hora de calar-se diante deles.
Bem. Talvez isso também se chame respeito.
Claro que isso não se aplica a uma pasta de dente de listinhas, óbviamente. Mas se aplica a muitas situações e muitas relações que queremos preservar. Acredito (e muito) que só existe tolerância e convivência quando não desvendamos todos os enigmas alheios. A mágica da vida está exatamente aí: na imaginação, que inventa como a pasta sai em listas. Ou que inventa um amor, um amigo, uma companhia, uma felicidade, uma alegria. Sem maiores explicações, graças a Deus.
Aliás, temos que inventar tudo que nos cerca.
Finalizando, lembrei de uma coisa. Um dia eu li um livro do Bernardo Carvalho e adorei. É dificil adorar os livros do Bernardo, pois são densos e complicados, mas esse deu certo comigo na hora que eu li. Resolvi escrever para ele o que achei, e disse que, um dia, eu gostaria de conhecê-lo pessoalmente. Ele me respondeu uma coisa que tem tudo a ver com isso. É o seguinte:

"...Em primeiro lugar, gostei do que você falou sobre o livro. Em geral não gosto do que as pessoas falam sobre os meus livros (para bem ou para mal - gosto ainda menos quando é para mal, é claro), costumo ficar constrangido, mas as coisas que você disse só poderiam ter sido ditas por você (nunca ninguém me falou assim desse livro) e achei que, além de muito pessoal e autêntica, a sua opinião tinha realmente a ver. Em segundo lugar, acho que as suas chances de quebrar a cara ao querer conhecer o autor pela obra (ou vice-versa) são grandes. E isso é, de fato, um problema. É essa talvez a razão principal do meu horror pelos escritores. Ao contrário de você, detesto encontrar escritores, principalmente os autores dos livros que eu admiro. É quase sempre uma decepção. Não é que o autor não tenha a ver com a obra, mas essa relação não é direta. Em geral, é traumático ler os livros escritos por pessoas de quem você gosta ou conhecer as pessoas que escreveram os livros de que você gosta. É uma decepção de todos os pontos de vista. Pelo menos, é essa a minha experiência. Eu de-tes-to escritores..."

Vê? O Bernardo não foi enfeitiçado pela serpente.
Já eu sim.
Ah, e eu acabei conhecendo o Bernardo. Mas essa é outra história...
Fui!

as listinhas da pasta - II



Você consegue imaginar uma mulher, mãe, dona de casa, senhora, séria, profissional, arquiteta, escritora, futura cronista de algum grande jornal, futura grande dramaturga destruindo furiosamente um tubo de pasta de dente dentro do seu próprio banheiro? E como ela explicaria, diante dos olhares pasmos de toda família, que ela precisava tirar fotos da melequeira?
Bem, ainda não deu para eu dissecar o tubo de Signal.
Eu não podia, ontem a noite, destruir nenhum dos tubos de pasta de dente Signal da minha casa simplesmente porque as pessoas precisavam usar as pastas para escovar os dentes. Resolvi, assim, que faria a minha experiência hoje, sem interferir no cotidiano doméstico e, principalmente, sem ter que explicar essa idiotice para o Zé.
(Porque, gente, fala a verdade: é uma coisa meio idiota essa, não é?)
Assim, ontem a noite eu apenas "olhei" e "apalpei" o tubo mi-nun-ci-o-sa-men-te. Resolvi fazer inicialmente uma análise da pasta existente (em uso) até eu comprar a nova para a dissecação.
Qual não foi minha surpresa hoje pela manhã ao ler os comentários do post: algumas pessoas me incentivaram a continuar, mas outras, como a Sheila, acham que não: que eu nunca deveria "abrir" a pasta, pois daí a coisa perde a graça. Passei a manhã todinha com essa questão na cabeça.
Estou completamente dividida. Devo ou não devo ir adiante? Só sei que, depois de ir até a obra e até o Itaú, passei na farmácia e comprei uma Signal Original novinha.
Custou R$ 1,95.
Olharei para ela com calma mais tarde, para saber o que fazer.

terça-feira, 1 de março de 2005

as listinhas da pasta



Como hoje tou meio baixo astral, cansada e sem graça, resolvi falar de pasta de dente.

Outro dia o Dudi colocou no blog dele uma foto de uma pasta de dente refrescante. Olhando aquilo eu me lembrei da minha pasta preferida: a pasta de listinhas vermelhas.
Signal.
Alguém comentou: como a pasta sai listradinha vermelha e branca do tubo? Lembrei que também já tentei de tudo para descobrir como funcionava e nunca descobri.
- São duas pastas, uma dentro da outra, ou seja, dois tubos, um com saída redonda e outro com uma saída com quatro furos fora do tubo com saída redonda - replicou o Zé.
Me pareceu complicado demais isso. Será?
Hoje, pensando na pasta e na questão, resolvi que não vou esperar mais nenhum dia. Vou abrir uma pasta ao meio, fotografar, entender e desvendar o segredo para todo mundo.
Háhá! Nada como uma missão bem idiota para dar uma animada no ambiente.
PS.: Se alguém souber como funciona, por favor me conte antes de eu causar esse estrago.