sexta-feira, 30 de novembro de 2012

e as guaritas?



Guaritas são equipamentos urbanos que tentam ser invisíveis, mas a gente tromba nelas a toda hora. São espaços misteriosos da cidade, que vão proliferando calados, em silêncio.
Bom. Eu e o Roberto estávamos indo pra padaria no fim da tarde do domingo. Tem uma ruinha entre a casa dele e a padaria mais perto. Uma ruinha estreita, cheia de casinhas, daquelas ruas-minis, que tem calçada de 90 cm de cada lado, espaço pra um carro estacionado apertadinho de cada lado em frente as casas e o lugar pra passar os carros no meio, mas tem que tomar cuidado, porque se alguém estacionar errado, tem muita van que não passa. A tava gente mais uma vez a pé nessa ruinha que a gente sempre passa, quando, mais uma vez, desviamos da calçada e fomos pra rua por causa da... guarita.
É. Tem uma guarita bem no meio da calçada dessa ruica. "Meio" é modo de dizer. Ela é do tamanho da calçada e impede totalmente a passagem. Como a calçada, como disse, tem uns 90 cm, e a guarita uns 88 cm, não tem jeito, nessa hora  a gente tem que andar na rua. Olhamos se não vinha carro, continuamos.
- Putis, Franka. Não é louco você ter que andar na rua porque tem quase uma... "casa" na calçada? - perguntou o Roberto - Já pensou que alguém praticamente mora ali?
Olhei a guarita toda cheia de adesivos, posters, fechamentos, vasos do lado de fora, banquinhos, toldinho, pergolado, garrafa de café, rádio. Uma mini casa, claro. E com muita, digamos, "cortina". Não dava pra ver o que tinha dentro.
- E o mais estranho - completei - é que é impossível saber se tem mesmo alguém ali. Deve ter guarda ali,  o que você acha?
A guarita era tão cheia de tralha que não se via nada lá dentro.
- Caramba - ele concluiu - mas guardinha não é pra todo mundo ver?
Óbvio. Mas essa, como muitas e muitas guaritas, tem essa peculiaridade. São tapadas com adesivos e imagens, provavelmente para o guarda ter alguma "privacidade". Mas gente, pensa: você paga um guarda pra ele se esconder ou para mostrar que está ali, te protegendo? Essas guaritas mascaradas são a coisa mais nonsense do mundo, ninguém pensa nisso? Paga-se um guarda pra ele se esconder? E quem permite construir em cima da calçada? Na calçada inteira?
Bom, essa guarita. Eu tirei  foto pra denunciar, meu celular está com a lente meio zoada, mas dá pra ver o absurdo. Alguém precisa regulamentar as guaritas de São Paulo, não faz sentido andar no meio da rua por causa delas. Ou sei lá, talvez melhor fazer uma campanha no face, pedindo denúncias de fotos e mandar pro nosso vereador. Vereador serve pra isso, não é?


terça-feira, 27 de novembro de 2012

o lula e eu

Hoje fui fazer um exame cardíaco. Nunca tinha feito, foi a primeira vez, e em como toda primeira vez, a gente descobre coisas. O lance da esteira e dos fios monitorando você é uma coisa muito legal. Exame online, achei jimais. E fui bem nesse exame. Nota 8,8, quase dez. Pra uma não-atleta, achei bem razoável.
Depois o médico me mandou ir pra sala dele, para a avaliação e explicação.
- Você tem uma anomalia no ventrículo esquerdo, bem rara - ele explicou - nada sério, mas raro.
- O que é? - assustei.
Ele fez um desenho super mal feito. 
- O ventrículo geralmente é assim, o seu é assim, mais fino aqui - e ele mostrou no desenho - e quando  ele se contrai, ao invés de ficar assim, em "v", ele fica com essa bolsinha aqui em cima, em "o". 
Olhei o papel, assustada com a tosquice do desenho da minha tal "anomalia" ventricular.
- Doutor, mas... Isso é sério?
- Não é sério, é raro. Bem raro.
- ...Raro como, doutor?
Ele foi bem claro.
- As únicas pessoas que sei que tem isso são você e o presidente Lula.
- Eu e ..o. Lula?
- É.
- Eu, Lula... - lembrei - Nossa, doutor, eu e o Lula nascemos no mesmo dia.
- Sério? - ele se espantou.
- Devem ser os astros - conclui - afinal, astros mexem com o coração.
Quem diria, pensei na hora. Eu e Lula temos ventrículos raros e nascemos no mesmo dia. Olha, gente, procurei um monte na internet. Nada a ver, acho que foi piada do médico e eu cai. Não existe nada sobre o ventrículo esquerdo do Lula na internet. Ai como sou boba. 


"Mais um ano se passou, e nem sequer ouvi falar seu nome, o lula e eu..."

domingo, 25 de novembro de 2012

a insustentável soleira do ser


Este é um post baixo. Bem baixo, lá no chão, nas emendas dos pisos. Sobre a soleira. Acordei pensando nelas. Soleira é (s.f.) a parte inferior do vão da porta, ao nível do piso, constituída por pedra, mármore ou peça de madeira quadrilonga. Em tudo que é construção a gente tem sempre um monte de soleira. Isso acontece porque os arquitetos geralmente especificam um piso para cada lugar da casa. No quarto especifica parquet de madeira, no banheiro, vidrotil, no lavabo, mármore, e na sala, digamos, madeira de demolição. E em tudo quanto é porta ou passagem, precisa emendar os dois pisos e lá vem elas: as soleiras. Sei o quanto é difícil para mim, que sou arquiteta, admitir algumas coisas, mas com a tecnologia é possível usar o mesmo piso na casa toda, e essa ideia é obviamente mais sustentável. 
Gente, para que mudar de piso a cada ambiente da casa? Porque o piso do quarto não pode ser o mesmo do banheiro, e, sei lá, se for frio para um quarto, coloca um tapete e pronto. Tapete não é justamente pra isso? Pra esquentar o pé? O dono da casa tem que gostar de colocar um monte de piso? Não pode ser um só? Tem mil pisos que podem ser usados nas áreas molhadas e nas secas. Com isso a construção fica mais fácil, a limpeza diária idem, o entulho da reforma será menor, teremos menos fornecedores com isso e menos carros na rua, menos poluição. Arquitetura e sustentabilidade não deviam andar juntas? Não deveria ser esse o aconselhamento de um arquiteto ao cliente ao fazer e especificar um projeto? Post baixo com meus colegas, mas ando implicada com soleiras: são nada sustentáveis. 

sábado, 24 de novembro de 2012

quanto vale o frankamente, hahaha

Ontem eu entrei no blog num computador que não era meu, pelo Google. Tinha um monte de links pra o "frankamente...". Num deles, descobri coisas interessantíssimas sobre... o meu blog. O link é esse, para mais informações. Hahaha, que engraçado, ele vale. Segundo o site, meu blog vale R$ 218, 84 reais, não entro no ranking mundial e dizem que aqui há páginas sobre enganosas bolhas, tuiter e xixi e escravização por mamões, o que é verdade.  Hahaha. Melhor aguardar para vender ações.


Frankamente.blogspot.com
O site Frankamente está em no ranking do Brasil. 'frankamente..'
795.336Posição no ranking do Brasil
--Classificação Mundial
Páginas visitadas mensalmente< 300
Páginas vistas mensais< 300
Valor por visitanteR$0,19
Valor estimadoR$218,84 *
Links externos118
Número de páginas194
Palavras Chave
Indisponível
Classificação no País
Indisponível
*Dados estimados, leia o aviso de isenção.
Última Atualização: 22/10/2012

www.Frankamente.blogspot.com

Navegando pela página, pudemos ver que há páginas relacionadas a Doces Enganosas Bolhas, Escravizada Pelo Mamão, O Tuiter E O Xixi, e Bonjour.
ConteúdoAlgumas das 645 páginas do site incluem "frankamente," "frankamente o vestido de chita da cinderela," "frankamente mas o que é bip?," e "frankamente a galinha da ângela."
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sexta-feira, 23 de novembro de 2012

as dudices do dudi


Gente, hoje descobri outra utilidade do Facebook. Fui na exposição do Dudi, meu amigo blogueiro. Uma vez blogueiro, sempre blogueiro, apesar dele ter abandonado esse treco há 3 anos. Muito legal os quadros dele, tem que ver, ele mistura tudo, aquarela com foto com tinta com impressão com resina e tal. Eu adorei os quadros meio estilo Tom e Jerry, com os cantos da casa com os buraquinhos no rodapé. Queria um dia ter um deles em casa.
Bom, tava lá, há tempos que não ia numa vernissage, quando, depois de encontrar o Dudi e dar parabéns, comecei a encontrar amigos. Gente, um monte. De longa data, e nada a ver uns com os outros. Não eram uma "turma", pois volta e meia tinha que apresentar fulano pra sicrano, mas o incrível é que todos eram meus amigos do face. Tenho 720 amigos, bom, se ninguém me deletar mais de hoje em diante, e apareceram uns vinte deles na exposição do Dudi. E gente, nossa, como eu tive assunto com esses vinte por causa do face. "Nossa, como foi a viagem para a Itália?". "Sério que você tem dois faces?". "Tava legal o feriado na praia?". "Sumiu, não colocou mais nada?". "Vi seu Iutube, adorei". "É, eu também odeio o face". "Teus desenhos tão lindos". 
Ou seja, haja assunto. Dar uma olhadinha básica diária no face dá o maior assunto em vernissage. Uma delícia. Mas quando começaram a chegar os 3.147 amigos do Dudi do Face, bom, isso se ninguém deletar ele de hoje em diante, me deu claustrofobia e sai. Facebook é legal. Dá o maior assunto. Mas a gente tem amigo demais, melhor sair correr pra nossa casinha. O Dudi tem razão nas suas Dudices. Olha como o Jerry vai feliz pra toca. 

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

franka, a sem graça


Tem coisas na vida que são muito engraçadas. Mas tem coisas que não tem graça nenhuma. Uma vez uma amiga minha comentou que eu achava graça em coisas completamente sem graça, tanto na vida como nas crônicas. Achei bacana o comentário, mas tem épocas que isso não é fácil. Às vezes, impossível. 
Por isso fiquei tanto tempo sem escrever no blog. Tentei diversas vezes, mas aconteceu tanto problema na minha vida que não conseguia achar graça em nada, e blog de crônica sem graça é pra lá de chato. Um uó. Não dava pra escrever e perder leitor. Falaverdade.
Nessa época,  fiquei pensando em como reagir, na literatura, à essa tentação de só pensar em coisas sem graça.  Afinal, eu gosto, adoro de paixão escrever. Comentei isso com um amigo que escreve, e ele me sugeriu escrever as coisas sem graça, as coisas ruins, as piores ainda, os piores pensamentos, tudo. Segundo ele, pelo menos o que entendi do que ele explicou, a literatura aparece diante de várias forças extremas, seja da alegria, seja do prazer, seja da tristeza ou a até da desgraceira. Eu seria boa nisso, ele me convenceu. Resolvi então seguir os conselhos dele, e parar de fingir que eu era só alegre. Comecei a escrever tudo que eu tinha de péssimo, descrever as coisas que eu realmente não acho a menor graça, digamos. Fiquei quase um mês nisso, nessa tentativa de um romance com toda a força de uma história que não tinha re-al-men-te graça nenhuma. Não consegui continuar. Era muito chato. Eu tava chata. Tem gente que é dada a dramalhão e exagero e faz isso bem, eu posso até um dia conseguir, mas tão perto e tão real para mim foi impossível. Óbvio que ninguém ia ler aquilo. 
Acredito que a gente só escreve romance sobre alguma coisa ruim depois que a coisa ruim vira história, não enquanto a coisa ainda nem resolveu. Depois que desisti do romance verdade nua e crua, e tentei mais uma vez voltar ao blog e não consegui, resolvi escrever então um romance normal, básico, sem ter que cutucar as feridas. A trama apareceu na minha frente, era boa, o começo ficou bacana, tinha futuro e além de tudo, alguma graça. Alguminha, apesar do meu estado baixo astral da época. Me animei, fui até o fim. Uma história pra lá de maluca, divertida e estranha, mas fechadinha. Consegui acabar, imprimi, levei na minha mãe. Ela prometeu ler naquele dia mesmo. Me ligou no dia seguinte. Primeiro falou, animada. "Filha, li, gostei muito, prende mesmo, ótima história, boa trama,  super bem escrita, olha que eu leio romance pra burro, mas filha...", e ela parou, fez uma pausa, mudou o tom para um um pouco mais "bravo" e concluiu, "... mas pelo amor de Deus, filha, essa personagem principal, essa moça, mas que personagem boooooooba, filha (juro, ela falou o "boba" com esses sete "ós")... nossa, essa moça ai, a protagonista, ela é muito tonta, muito bocó, só entra em fria, não toma atitude, Deus me livre, filha, que é isso? Eu nunca ensinei minhas filhas a serem assim".
E ponto final.
Primeiro que me assustei dela concluir que a protagonista era eu. Quando a gente escreve com alma e empolgação, não percebe no que se espelha. Óbvio que era eu, céus. Mas. Mas então eu era a personagem loser do meu próprio livro? Piorou. E não adiantava mais reescrever esse romance, pois a trama só tinha sentido porque a moça era loser. Então, estou aqui com o romance de uma loser engavetado, fazer o que?
Começar outro. Dai que tudo ficou mais sem graça. Porque me pareceu que eu tinha que escrever sobre alguém poderoso, forte, como minha mãe ensinou. Travei de novo. Chega de romance no momento, pensei. 
Achei outro dia um caderno de 2004, quando comecei o "frankamente...". Um caderno cheinho de frases, de idéias, de coisas com graça, e olha, era milhares. Mais de cinco idéias por dia para escrever ao menos uma crônica legal. Gostei de como eu era naquela época. Eu não era nada loser. 
Recolher idéias é um modo de começar. Para mim é como fazer aquele esforço para recomeçar a fazer um esporte, ou parar de fumar, emagrecer ou resolver mudar de cidade. Peguei um caderninho semana passada, coloquei na bolsa e tou aqui, novamente no "frankamente...", fazendo um puuuuuuta (com sete "us") esforço para treinar de novo esse esporte. E quem sabe um dia, ganhar uma medalha de "campeã mundial das pessoas que acham graça nas coisas que não tem graça nenhuma".
Esse post é para explicar essas coisas sem graça que eu disse, para dizer que totentano, toino, e, ah, de dizer que essa Franka, minha amiga imaginária, daqui pra diante não mente mais. 

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

assoa, mas não olha


Na peça de teatro que escrevi, e que vai estrear no ano que vem se tudo der certo, tem uma personagem inspirada numa crônica aqui do "frankamente...", chamada "a mulher que estala a calcinha". É sobre uma mania que algumas mulheres, gordinhas ou não, fazem, de desgrudar a calcinha, ou o sutiã do corpo quando tá muito calor, ou quando tá apertando. 
Nesse fim de semana eu comentei sobre a personagem e sobre a crônica com uns amigos. Um deles disse que também acha horrível mulher que estala calcinha, disse que também tinha aflição, como o cara da crônica.
- Mas é um tipo de barulho corporal permitido - eu defendi - quer dizer, uma mulher pode fazer isso em público que não é nada tããão condenável assim.
- Condenável como? - alguém replicou.
- Ora, como arrotar em público, por exemplo. Ou outras coisas que sem se fala (ou escreve). 
Como ficou uma discussão na sala, elaborei uma pequena lista de barulhos corporais que, na minha opinião, são permitidos e outra lista dos não permitidos, que colocarei aqui. São eles:
Barulhos corporais permitidos: estalar calcinha, espirrar, engasgar, soluçar, fungar, estalar os ossos.
Barulhos corporais não permitidos: (aquele que não se fala ou escreve, óbvio), arrotar, tossir com muito catarro, cuspir catarro, tossir de forma borbulhante, cuspir.
Porém surgiu uma controvérsia sobre o ato de assoar o nariz. É permitido ou não? Na minha opinião, eu dividi esse ato em dois: assoar o nariz sem olhar o que saiu dentro do lenço, pode. Assoar o nariz e olhar o que saiu no lenço de papel, não permitido nunca. 
Hahaha. E me deixem estalar a calcinha em paz.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

volta, xingu


Ando triste, triste mesmo com o desaparecimento do nosso gato. O sumiço causou um tipo de investigação entre nós, membros da família dona do gato, e a conclusão que chegamos, apesar de absurda, é a única viável.
O Xingu apareceu do nada há uns cinco meses. Miava feito um coitado no portão e foi acolhido pelo João e namorada, re-acolhido pela Luciana, e re-re-acolhido pelo Chico e pela Isadora. Me pediram para ficarmos com ele. Acolhi também. Nunca tivemos gatos aqui em casa, aquele era um filhotinho lindo, peludo, simpático. Acho que gatos são animais que usam sua sensualidade e fazem cara de fofinhos e coitadinhos para conseguir um lar, e sério, o Xingu foi mestre nisso. Depois de um veterinário básico, remédio de vermes e pulgas e umas vacinas, chegou aqui e ficou livre pela casa e pelo quintal. Resolvemos que ele, primeiro por ser um gato, e depois por ser um gato de rua, deveria ficar livre para ir e vir para qualquer lugar. Mas a gente mora em SP, numa casa, e todo mundo aqui no bairro tem cerca elétrica e alarme infra vermelho. Começamos a ter problemas com um vizinho. O cara viajava nos fins de semana, o gato pulava o muro - pois gatos pulam muros - e era aquela buzinação de alarme todo fim de semana. O vizinho veio reclamar, tivemos que colocar um alambrado no muro para o Xingu não apitar o treco a toda toda. O gato foi crescendo, cada vez mais lindo. Era também bem sem vergonha para carinhos, bastava alguém chegar em casa que ele dava um miadinho meigo e se colocava de barriga para cima, abrindo as patas, fofo, lindo, quase que dizendo "me ame, olha como sou lindinho". E funcionava. Não tinha quem não fizesse carinho. 
Tudo aconteceu na sexta feira passada. Ai que tristeza. Tivemos um problema de infiltração e chamei o seu Otávio, um pedreiro faz tudo. O Xingu ficou meio ressabiado com a presença estranha, e foi se esconder nos cantinhos. Em seguida chegou o homem da dedetização, todo paramentado feito um astronauta, pois a casa estava cheia de baratas, e pedi a Maria para colocar o gato em local seguro. Foi quando ela começou a procurar o gato. Eu sai pra trabalhar. Ela contou que ninguém achava o gato. O homem da dedetização disse que ele deveria estar escondido, mas não aparecia. Resultado. O gato até hoje não apareceu.
Bom. Nossas investigações e alguns fatos nos fizeram imaginar o que houve. O absurdo que provavelmente houve. Pensamos primeiro que ele podia ter sido "dedetizado", mas achamos nenhum gato vivo ou morto. Foi quando ligamos uns fatos. Em primeiro lugar, a empregada do vizinho disse que viu o gato encolhidinho no jardim da frente quando varria a calçada. O carro dos meus filhos, um Uno, estava estacionado em frente de casa. Ele provavelmente entrou por baixo do carro, e se enfiou entre o chassis do carro e o para choques da frente, ou da roda, que são de plástico, e ficou encolhidinho ali. Olhamos, tem espaço. Devia estar quentinho, sei lá. Minha filha e saiu com o carro atrasada para ir na faculdade. Quando estava na Vila Madalena, desacelerou para subir uma ladeira, e ouviu um barulho estranho no motor. Blum bloc trum tum. Acho que o carro tinha quebrado, mas acelerou e não era nada. Quando estava na subida, viu um gato correndo pela rua, igual ao Xingu. Mas nunca imaginou que fosse o Xingu, afinal saiu atrasada e não sabia que ele estava escondido ali. Gato é gato e tem um monte igual, afinal ele não era azul ou verde, era de cor de gato comum quando foge. Mas acho que era ele mesmo, tadinho. E ela estava longe de casa, quer dizer, ele deve ter viajado muito, sei lá se não estava todo machucado ou queimado. Ela só lembrou disso a noite, quando voltou pra casa. 
Nos dois dias seguintes, voltamos ao local, eu e Luciana. Berramos feito loucas na rua. Fomos nas pracinhas próximas, as duas chamando e miando, e nada. Passamos em frente de umas 50 casas, Xinguuuuuu, miaaaaauuu. Nada. Era muita possibilidade, como procurar uma agulha no palheiro, como diz o ditado lugar comum. Voltamos sem ele. 
Tá super triste aqui, ainda mais com esse alambrado sem sentido. A comida dele ficou uns dias lá, até que depois do ataque dos passarinhos, retiramos. Espero que ele, lindo e fofo como era, tenha conseguido conquistar outra família com sua capacidade de ser fofo e lindo. Estamos superando essa. Gato é gato, a gente se fala. É bicho, é do mundo, se vira, não teria sentido prender o coitado numa casa-prisão, a gente se fala. Mas só de pensar na possibilidade dele estar sozinho, morrendo de fome e frio, feito o patinho feio, é de doer. Ainda achamos que ele vai aparecer. Volta, Xingu. Pô.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

o futuro das reformas na cozinha


Às vezes, na minha profissão, que é basicamente ir em obra, eu fico pensando o que vai durar e o que vai cair em desuso rapidinho. É fácil,  basta confrontar as "modas" de construção com as teorias modernas de higiene, ecologia, reciclagem, essas coisas. Por exemplo, há alguns anos o carpete foi condenado. As pessoas antigamente achavam mega chique acarpetar a casa toda, mas se você fizer isso hoje será considerado o maior porco do universo. Dizem que o que tem de bactéria, fungo e ácaro num carpete torna sua colocação mega condenável. Tapete pode, afinal lava-se, mas carpete não pode mais.
Bom, mas hoje em dia todo mundo quer ter "cozinha planejada". Aquelas cozinhas onde se aproveita cada cantinho com armários lindos, com mil tipos de acabamentos, cada um para uma estocagem ou uso, onde, de tanto armário, você nem vê os cantos da cozinha. Fica maravilhoso, mas o trabalho que aquilo dá para construir é descomunal. Não é só deixar um ponto de água, um de gás e algumas tomadas na cozinha. Para os tais armários encaixarem ali, é preciso mil projetos, cálculos, medições, vistorias. Bases para tudo. Arremates no forro, que geralmente é de gesso com luminárias embutidas também para não entrar gordura. Dai vem a montagem, onde a marcenaria fecha tudo que é parede, como se elas precisassem ser escondidas. E assim todos os cantinhos, todos os nichos, os buraquinhos onde pode entrar gordura são fechados e vedados. O problema é que ficam fechados para sempre, sem acesso, sem ter como limpar aquilo jamais. Gente do céu. Eu acho, sinceramente, a maior porcaria do mundo. É como criar um monte de ninho de baratas, sujeira e insetos. São locais onde, se tem um vazamento de água, você só vai descobrir depois que sentir o cheiro de mofo podre da madeira. E se você quiser mudar alguma coisa, tem que jogar tudo no lixo, pois esses armários são planejados para aquilo e não são reutilizáveis. E mais, pra que embutir a geladeira? O fogão? O forno? 
Obvio que no futuro uma cozinha limpa e bem arrumada, justamente por causa da gordura, do pó e dos insetos, deve ter somente móveis soltos. Para arrastar, limpar e deixar ventilar. Um armário para comidas, uma geladeira, um armário para louças e panelas, um fogão, um local para os eletrodomésticos. Sem cantinhos fechados, sem ninho de barata, sem gordura velha acumulada. Não entendo como a construção civil, às vezes, pode ir tanto para a contramão da civilização. E ninguém perceber. 

domingo, 18 de novembro de 2012

não tenho memória de cor



Tudo no mesmo dia. 
Primeiro aconteceu com um banco. Esses de sentar mesmo. Fui a trabalho numa loja ponta de estoque, e achei os bancos que precisava comprar. Mas pra pronta entrega só tinha um, a vendedora disse. Droga, pensei. Pra me acalmar, ela explicou que eu podia comprar aquele, depois ir na outra loja deles, que era ali perto, e encomendar um segundo banco igualzinho. Como não ia comprar sem ter certeza, fui na outra loja. Era um show room, bem mais chique. E era verdade que podia encomendar. Resolvi comprar o banco encomendado ali, e voltar na ponta de estoque pra pegar o outro. A moça chique, da loja chique, pra fazer o pedido, ligou na outra loja e pediu a especificação do estofado do tal banco. Cor “orégano”, ela disse quando desligou o fone e escreveu no papel. Hã? Eu tinha escolhido um banco cinza, que diabos era aquela cor? Desconfiei. Pedi para ver o tal tecido, chamado “orégano”. Era cor de orégano. Eu não tinha escolhido um banco cor de orégano. Pedi a amostra pra levar na outra loja pra comparar, ela disse que não podia emprestar. Comprei assim mesmo, e voltei na pronta entrega, tentando lembrar da estranha cor orégano pra averiguar. Não, não era orégano, o banco que escolhi, era cimento. E cimento e orégano não tem nada a ver, nem na textura, nem na cor. Comprei o banco cimento da pronta entrega, liguei pra outra loja, e mesmo tendo avisado mil vezes as duas vendedoras do erro, tou morrendo de medo de, daqui a 30 dias úteis, chegar um banco orégano na obra.
Depois foi na loja de puxadores. Tinha que achar uma peça que já existia numa obra pra colocar num armário. Esqueci a peça - amostra em casa.  Aquela seria de novo uma compra de “memória”. Droga. Tinha alumínio fosco, anodizado, escurecido, com resina, com verniz, bronze, prata, brilhante natural, e realmente confundi e não dava pra lembrar. Lembrar cor de memória é a coisa mais difícil que existe para a mente humana. Sério. Tive que voltar em casa pra pegar o puxador.
Daí, no fim da tarde, quando tava no shopping comprando um presente pra minha filha, resolvi comprar uma meia calça, pois só tenho uma que ainda não furou. E tava, inclusive, vestindo ela nesse dia. Entrei na loja. “Oi, moça. Eu queria uma meia calça igual a essa”, disse, mostrando minhas pernas pra facilitar. Ela veio perto, pegou a meia com dois dedos, apalpou e declarou. “É de dez fios. Essa aqui”, disse, pegando e mostrando um mostruário de meias finiiinhas de tudo. Claro que não era. Balancei a cabeça. “Nem pensar, essa é muuuito mais fina”, repliquei. A vendedora do lado interviu. “Juliana, com licença”. Pegou na minha perna, quer dizer , na minha meia calça e esfregou os dedos, olhou, analisou. “A dela é fio 20”, concluiu, esticando a meia entre os dedos. A outra olhou para a tal Juliana. “Tenho certeza”. Pegou o mostruário, enfiou na mão, mostrou, olhei minha perna, era super diferente. Veio a gerente Fátima, que assistia o péssimo desempenho visual das duas, pegou na minha perna de novo, puxou a minha meia e declarou. “É fio 40 e sei a cor, espera”. Foi lá dentro, trouxe uma meia fechada no pacotinho. Nem questionei, comprei. A tal Fátima me pareceu uma PHD em memória de cores e texturas.
Mina meia furou nesse mesmo dia, no começo da noite, na hora que esqueci e sentei num banquinho herdado da minha avó que é super fura meia, pois tem um plastiquinho solto que é um uó. Troquei de meia, joguei a furada fora. Gente, mas como tenho péssima memória de cor, impossível saber se comprei uma meia calça igual. Sei, esse é um assunto que ninguém fala, mas um dia alguém vai estudar. A memória da cor.