quinta-feira, 24 de setembro de 2015

à cavalo

E lá estava eu de novo andando no parque, queimando meus miolos ao sol escaldante. Como não acordo cedo, tenho que conformar com esse “pequeno” probleminhas, o calor. Num ligo. Dizem que dormir deixa a gente... bonito. Hahaha, olha a desculpa.
A questão é que com aquele solão não dá muito pra olhar muito pra frente, portanto ando olhando pro chão. Foi quando eu vi as pegadas. Sério, pegadas animais. Pegadas de cavalo, ou melhor, de ferraduras. Num primeiro momento, aquilo me pareceu normal. Ora, então aqui passou um cavalo. Legal. Mas daí a coisa me intrigou. Ué. Nunca vi cavalo no parque. De onde veio esse cavalo? Veio de carro ou veio a pé, ou melhor, a pata? Que eu saiba, não tem nenhum estábulo por lá. Será que o cavalo e o cavaleiro vieram de longe, cavalgando? Me pareceu óbvio que o cavalo deveria ser da polícia montada. Mas porque a polícia montada iria a um parque tão pacífico? Se bem que policiar um parque - que tem muitos quilômetros - a cavalo me pareceu uma ideia excelente. A solução mais ecológica possível para um policiamento.
Mas porque achar que o cavalo deveria ser, necessariamente, da polícia? Se uma pessoa comum quiser ter um cavalo em casa, e passear a cavalo no parque, será que pode? Eu, por exemplo. Será que posso ter um cavalo em casa, ir com ele ao parque, passear, deixar meu cavalo pastar na grama? Ou até usar o cavalo pra me locomover? Perguntei pro Google, ele disse que se os vizinhos não reclamarem e se eu tratar bem o bicho, pode.
Nossa, gente. O pensamento cavalar foi crescendo na minha cabeça quente. Será que, então, a gente pode andar a cavalo nas pistinhas de bicicleta? E porque até agora os cavalos não foram sequer cogitados como uma opção de transporte para essa cidade? Não deveríamos incentivar a construção de pistas de... cavalo?

Hadadêêê...

De uma hora pra outra, enquanto meus miolos fritavam, comecei a achar que a melhor solução pra a cidade, pra melhorar a poluição, pra evitar o aquecimento global, para evitar o trânsito, os atropelamentos, tudo, gente, é realmente, irmos aqui e ali a cavalo. Nas garagens dos prédios e casas, faríamos estábulos, quentinhos no frio, frescos no calor. Isso pra não falar dos estábulos públicos. Nos parques, em vez de grama, capim. E ainda por cima, muito esterco para as plantas, o que estimularia - e muito - a criação de hortas orgânicas nos parques, canteiros, jardins - que - e muito - ajudaria todo mundo a economizar em supermercado e quitanda. Na volta, já pensava nas carroças táxis ubers, em aplicativos cavalares e....
Bom. Olha. Meus miolos já esfriaram, mas continuo achando uma excelente ideia. Fala a verdade. Pirei?

terça-feira, 22 de setembro de 2015

desaprender

Gente do céu, eu morro de medo de desaprender algumas coisas nesse mundo de hoje. Por exemplo:
Desaprender a escrever à mão, sem digitar, assim, com lápis ou caneta. Não parei total de escrever em cadernos, mas confesso que está cada vez mais difícil, sabe quando a mão cansa? É, e antes não cansava.
Desaprender a fazer bolo sem batedeira. Quando eu era menina, ia para a casa dos meus avós no interior nas férias. Minha avó fazia bolo de lanche, e como ela nunca teve batedeira, me ensinou a bater a massa e as claras na mão. Demora, dói o braço, a gente fica exausta e suando, e a cada vez que eu, de preguiça, pego a batedeira me dá esse medo de desaprender o bolo.
Desaprender ir a pé para os lugares perto, porque óbvio que carregar um carro de quase uma tonelada para o supermercado que é aqui do lado é muita burrice.
Desaprender a comer direito, sem nutricionista, pensando direito e sempre me alimentando de fruta, verdura, carne, arroz, feijão e massa.
Desaprender os caminhos para os bairros de São Paulo. Gente, anos atrás eu tinha tudo memorizado, e por causa dos GPSs e Wazes eu tou esquecendo. Eu falava para eu mesma: “Vila Mariana”, e pimba, lá eu ia pra Vila Mariana sem pestanejar nem pensar. Agora não consigo nem ir na Lapa, que é aqui do lado, sem ajuda da droga do telefoninho.
Desaprender a fazer ginástica sem aparelho e nem personal, como eu sempre fazia, cem abdominais, cem agachamentos, cem polichinelos.
Desaprender a dar festa em casa e ficar só fazendo aniversário em barzinho.
Desaprender a escrever no Blog e colocar todas as ideias aqui nesse facebook que faz desaparecer todos meus textos.
Desaprender a ler um livro ao invés de abrir o facebook, não achar nada e insistir em ficar abrindo de novo e de novo, como a gente faz com a geladeira vazia quando chega em casa e tá com fome.
Desaprender a tirar férias e ficar bundando ou brincando em casa, sem precisar necessariamente de viajar e ter um monte de programas mega cansativos.
Desaprender a espremer laranja e limão ao invés de abrir suco Natural One laranja/limão "de verdade" (o caralho).
Desaprender a fazer um omelete ou um macarrão na manteiga ao invés de comer um pacote de Rufles.
Desaprender a ficar pacientemente numa fila de banco lotado esperando a sua senha apitar depois de todos os idosos passarem na sua frente, quando seu bankline pifa.
De um certo modo, é tudo culpa de uma preguiça que o mundo moderno ensinou a gente a sentir. Com tanta tecnologia, com tanta máquina para fazer pela gente, a gente acaba adotando o ócio e fica sem força e sem disposição para enfrentar as coisas mais simples. A gente tá desaprendendo o básico. Assim, no gerúndio mesmo. E rumando inconscientemente para um tipo de burrice.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

dez feijoadas

- Pensei em fazer uma feijoada sábado pra uns amigos e pros nossos filhos. Você sabe fazer feijoada, Lúcia? – ele me perguntou.
- Legal, eu te ajudo. Mas nunca fiz.
- Nem eu. Vamos pesquisar umas receitas?
Adorei a aventura. Animada, até comentei com ele que hoje em dia basta dar um clique no computador que a comida já está quase pronta. O problema que tivemos foi o excesso. Não de feijoada, mas de receitas. Se antes a gente tinha aquele caderninho de receitas, copiado da mãe, da avó e da bisavó, hoje, com o maldito clique vem uma montanha delas. Além disso, tem sempre aquela receita do livro da Dona Benta e a do livro da cozinheira-chique-cheia-de-dicas.
- Meu Deus... – comentei - Qual será a melhor? – comentei, olhando aquele monte de papel impresso.
- Sei lá. E se a gente assistisse uns Youtubes?
Dai que piorou. Muito. Caraca, apareceram tantas que praticamente chovia feijão em cima da gente.
Fora os vídeos dos desconhecidos, tinha a da Rita Lobo, tinha a do Olivier Anquier, que não era dele, e sim da dona Inácia, uma grande feijoadeira do Rio, tinha a feijoada inventada do Claude no Revanche. Ou seja, em menos de uma tarde reunimos mais de dez receitas.
- E agora? Qual a melhor, cacilda?
Uns dessalgavam as carnes antes. Outros metiam tudo na panela. Tinha gente que fazia um monte de ferventações. Tem os da panela de pressão, os contra a pressão no feijão. Tem os que cozinham partes da feijoada junto com o feijão. Tem os que deixam o feijão de molho. Tem os que temperam com bacon. Tem os que usam a água da fervura para cozinhar o feijão. Outros defendem a orelha como ingrediente básico. Tem os que colocam só carnes chiques. Que bagunça. Tava dando mais trabalho transformar aquelas dez receitas em uma só do que cozinhar a própria.
Foi quando, na hora H, acabamos ligando para a empregada no dia da folga, que passou por telefone a receita dela. Ufa. E ficou maravilhosa a feijoada.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

o caixa preta

Como sou festeira, outro dia notei que existe outro tipo de convidado. Além do famoso “sai lavando”, existe o “caixa preta”. O “caixa preta” é aquele cara que não bebe nada por algum motivo, mas adora festa e fica até o finzinho de todas. O convidado “caixa preta” acompanha o declínio moral e social de todos os convidados que se empanturram de beber, e se lembra de tu-do que aconteceu, ao contrário de todos os outros convidados, dono da casa incluso. Tem até, eu acho, um certo prazer mórbido (ou divertido) de recordar detalhes, e acompanham passo a passo a desgraça e o caos que o álcool causa nos amigos. Tudo que passa a linha da decência e dignidade fica registrado na mente do “caixa preta”, esse o grande "porre" dele. A desgraça alheia. Hahaha. É terrível encontrar um “caixa preta” no dia seguinte.
- Gostou da festa de ontem? – você pergunta, com aquela dor de cabeça.
- Loucura – e ele começa a contar coisas que você nem imagina – Viu que aquele seu amigo, aquele alto, cantou a mulher do seu primo? Adorei o show de dança que sua amiga loira deu, aquelas reboladas. Ah, e o seu amigo de camisa vermelha, vi que ele beijou três convidadas. Três, olha que sem vergonha. Quem quebrou aquele vaso foi o saxofonista, ele tentou disfarçar. Eu tive que tirar a sua amiga morena da cozinha, pois ela estava dando em cima do cunhado da sua irmã, a mulher dele tava puta.
- Hã? Nossa, não lembro de nada disso – você comenta – nem lembro como fui pra casa. Acho que fui de taxi.
- Não, não foi. Eu que te levei.
- Hããã?
Já esse outro lado de um "caixa preta" é sua salvação. Outro dia, eu e que uma amiga estávamos fazendo a lista dos convidados de uma festa aqui em casa. Acabamos, ela pegou a lista e olhou.
- Olha que bom, Lúcia. Tem um “sai lavando” na festa! Pode ficar tranquila no dia seguinte.
- Ufa! E tem “caixa preta”? – perguntei.
- Tem dois! – e ela emendou – Oba, tenho como voltar pra casa. Com essa coisa de lei seca, sempre é bom convidar um monte de “caixa preta”.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

passárgada

Fim de tarde, liga a minha irmã. Vocês tem irmã? Eu tenho uma, única, e não sei o que eu seria sem ela, sem as longas conversas dela por telefone quase todo dia. Eu não riria tanto, eu não teria tanto assunto, eu não seria tão resolvida.
- Ângela, tou mals. Escrevi ontem um inocente post no face sobre a lei que mudou a velocidade dos carros na cidade. Uma coisa que a gente conversou outro dia, que as pessoas tão mais calmas.
- Sim, tem até aquela amiga minha que disse que tá adorando voltar do sítio pra São Paulo, pois a marginal tá lenta quando ela chega, que o trânsito feroz não estraga o clima do campo que vem com ela.
- Pois é, mas teve um monte de gente que me criticou, pois acham que eu defender a mudança da velocidade é defender o PT. Meu post não era nada de política, era sobre desestressar, poxa.
- Eu vi, Lú. Nossa, você apoiou a atitude do prefeito e imediatamente virou maconheira, louca e cheiradora de lixo. A gente não pode abrir a boca no facebook e falar um “a” do PT que você vira o PT inteiro, você passa a ser a maior corrupta e todos passam a te odiar.
Tenho um amigo, que não preciso falar o nome dele aqui, que sempre comenta que eu, Lúcia, também conhecida como Franka, vivo na “Frankolândia”. Que eu só falo de assuntos que não causam polêmica al-gu-ma. Eu sei, eu escrevo umas coisas bobas de shampoos, de gente que sai lavando louça, de roupa, de celular bebezinho. Mas querido amigo, olha o que acontece quando eu apenas cito algo que um político fez. O simples fato de eu apoiar uma atitude do Haddad me transformou em maconheira, louca que preciso mudar de psiquiatra e cheiradora de lixo. Logo eu, uma senhora, uma mãe de família, sem muita grana, dona de um carro popular, honesta, limpinha. Hahaha. Gente. O que o fato de eu apoiar a velocidade lenta dos carros tem a ver com maconha? Com psiquiatra? Com o PT, afinal? Quer saber? Hoje em dia, em tempos de facebook, em tempos de comunicação rápida e acesso fácil às informações de todo mundo, é melhor não se meter em certos assuntos.
Vou é voltar pra Passárgada, digo, Frankolândia, hermana. Lá sou mais feliz. E gente, de boa, todo mundo perdoado, sem stress, calma, vamos todos a quarenta por hora, fazer o que.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

calma, franka, calma...

Já viu gente mudar de opinião? Eu mudo sempre e confesso.
Tudo começou quando mudaram a velocidade das marginais. Na primeira vez que sai de carro, para não ficar irritada, nervosa e ansiosa, evitei a Marginal Pinheiros e peguei a Faria Lima, e com ela, lá veio o maior trânsito, o que me deixou muito, mas muito mais irritada, nervosa e ansiosa.
De que adianta negar a realidade, pensei, pegando a fatídica via expressa marginal lesma no segundo dia. No começo, como todos, entrei na marginalzinha e estressei. Xinguei o tadinho do prefeito-que-eu-gosto, confesso, com aquela vontade de viciada de apertar o pé até o talo. Falei um monte sozinha na irritante marcha vagarosa, colocando o pé no breque de dez em dez segundos.
“Pô, isso é insanooo!”, “é muuuito devagar!”, “que saaaco, parece que tou de ré!”.
Semana seguinte, estressei igual nas ruas aqui perto, que viraram todas vias de cinquenta por hora e com lugares a quarenta.
Aaaaaaa!
Sessenta. Cinquenta. Quarenta. Dai o que virou um stress foi adivinhar a velocidade.
Mas adianta xingar? Adianta espernear? Não, resolvi, adotando o quarenta como velocidade padrão e que-se-dane. No primeiro dia, fiz de birra.
- Ah, é pra ser lenta? É? Então vou ser len-ta mês-mo - eu me disse sozinha no carro – vou a qua-ren-ta seus i-di-o-tas – resmunguei, bufando de desespero. Afinal, pensa gente, tirei carta aos 18 e ando na velocidade que quero nessas vias há 34 anos.
Mas adianta xingar? Adianta espernear?
- Não, vou a quarenta em tudo então - pensei, resignada na segunda semana - então vou colocar uma música. Bem lenta. Abrir o vidro. Cantar, sei lá. Respirar fundo. Relaxar. Fú, um, fú, dois, fú, um, fú, dois. Quarenta, quarenta, quarenta não dá nem pra ultrapassar, que desgraça – suspirei eu no carro.
Na terceira semana que me toquei sobre o lance da ultrapassagem. Ultrapassar era necessário quando se podia correr mais que os lentos, mas agora não faz mais sentido algum. Antigamente lá estava você na rua, e na tua frente aparecia um guincho. Você nem pensava, já pegava a esquerda de qualquer modo para não ficar atrás daquela mega tartaruga. Antes eu não aguentava um minuto atrás do guincho ou de caminhão cheio de tijolo, mas agora que eles tão na velocidade máxima que eu posso andar, que adianta reclamar deles?
Outra coisa que me irritava também mudou. Gente, eu tenho um carro popular, que é 1.0, e que às vezes não anda muito rápido, digamos. E se para mim os guinchos e caminhões eram irritantes, EU era muito irritante para carros com um super motor, que sempre colavam em mim, buzinando e dando faróis. Será que eles não sentiam agora o mesmo que eu diante do guincho?
Minha alegria master veio quando me vi na marginalzinha emparelhada com dois carros, um de cada lado, eu no meio com meu carro popular 1.0 que não anda quase nada. Do meu lado esquerdo, na mesma velocidade que eu, um puuuutis Land Rover. Do lado direito, na mesma velocidade que eu, um... caminhão de lixo. Ou seja, isso que é igualdade. Que legal, pensei, ouvindo a musica lenta e respirando fundo. Achei aquela parelha de carros um empate técnico, motoristas e carros sem diferença de classes, ops, digo, de velocímetros.
Que adianta hoje em São Paulo você ter um carro com um motor 2.0? Nada, somos todos iguais diante da velocidade permitida. Igualdade já. Nós três, eu, a mulher da Land Rover e o caminhão de lixo na mesma velocidade dizia tudo.
Hoje fui no meu psiquiatra que cuida do meu stress, e comentei com ele que a melhor coisa da redução da velocidade da cidade, melhor do que a falta de transito e a redução dos acidentes é essa. As pessoas são obrigadas a desestressar, gente. É ótimo não ter que ultrapassar, não ter que ser “o mais rápido”, é ótimo andarmos devagar. Não aguenta? Pega um metrô. Vai a pé. O prefeito tá ensinando a gente a não ser mais apressadinhos, isso é o mais importante pra nossa saúde.
Portanto, mudei de opinião. Se tem uma coisa que tou adorando é esse limite de velocidade de São Paulo que o Haddad fez. Adorando, não, mais que isso. Amando. Isso ai Haddad. Vamos acalmar o povo de São Paulo.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

fim de festa

Gente, perceberam uma coisa? Quietinhos, quietinhos, sem nenhum alarde, to-dos os salões de festas dos prédios de São Paulo viraram salões de fitness. Raríssimo achar hoje um que não tenha mudado de gênero, grau e uso. Se fizessem uma lei acho que não conseguiriam tantas adesões.

Quem diria que a melhor coisa para você antigamente era ter um grande salão para dar festas, que esse era seu sonho de consumo. Mas era. Ter um grande salão, com um espaço que você não tinha na sua casa – essa obviamente a razão do salão – onde você podia convidar um batalhão de amigos, além da capacidade do seu apartamento, não pagar por isso e não usar banheiro e nem cozinha da sua casa. Um lugar de festa é um lugar de alegria, não é esse o significado de festa? Então era importante você ter um lugar comunitário de alegria, de festejos, de comemoração. Mas pouco a pouco os salões entraram em total decadência, assim, do nada, e foram ocupados por essas atividades silenciosas, com essa gente com seus fones de ouvido malhando, suando, correndo no lugar, um lugar esquisito, cheio de máquina e espelho.


Bom, academia é legal mas está longe de ser o lugar mais alegre que você vai, já festa, balada e farra ainda são – de longe - muito melhores que ginástica. Fiquei cheia de perguntas zumbindo na cabeça. Quando foi que o bem estar e a saúde superaram a alegria? Onde então as pessoas enfiam a alegria hoje? Onde dão festas? Não existe mais festinha de prédio? Será tudo culpa do PSIU? 

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

arrasa, franka, arrasa, mas não gasta água

Final de semana passada fui tele transportada para uma “estação de águas”, o tipo de lugar que não vou há anos e que me lembra minhas avós. E já que estava em algum lugar do passado, resolvi tomar um daqueles banhos fedidos. Aliás, quero deixar claro que desde menina não acho que aquilo devia ser chamado de “banho”, imagina, uma coisa com aquele cheiro mais suja do que lava. Banho deixa a gente cheirosinho, não catinguento. Mas como “em Roma faça como os romanos”, porque não?, pensei.
Entrei numa sala de espera com um monte de velhinhas, esperando minha vez. Como vi que ia demorar um pouco, peguei uma revista. Chamava revista “Arraso”. Era uma publicação da região, a revista feminina “Arraso”. Rindo sozinha do nome, resolvi: “vou ler essa revista e arrasar aqui na estação de águas. Vou ar-ra-sar. Arrasa, Lúcia, arrasa”.
Bom, gente, vou contar como se arrasa numa estação de águas. Dizia a revista “Arraso” que o grande lance hoje é você ter uma “sala de banhos” na sua casa. Prestatenção. Não é mais só um bom e espaçoso banheiro que você precisa, aliás, pelo que entendi da matéria, o banheiro em si fica dentro da sala de banho, e não chama mais banheiro, e sim a “área de higiene”. É como ter uma terma romana particular em casa. O texto explicava que as "salas de banho" são um espaço de relaxamento, descanso e descontração, provavelmente a "única" coisa que vai realmente te desestressar das loucuras e da tensão do mundo moderno.
A quantidade de brinquedinhos que eles sugeriam colocar ali eram inacreditáveis. Uma mini piscina. Jardim vertical (quem rega?). Ducha de teto. Efeito cascata (não entendi do que se trata). Ducha de teto, que acho que é tipo uma chuva em cima da piscina. Aquário. Sauna. Parede de cachoeira. Fonte colorida. Cromoterapia de águas, um tipo de iluminação colorida. Área de descanso com música zen. Tenda de massagem (engraçado tenda num lugar fechado). Frigobar com bebidas leves. Espaço multimídia, com tv, wifi e computador. Tudo pra você arrasar dentro da sua sala de banho, mergulhada na sua água limpinha (a matéria não mencionava o uso das águas termais com cheiro fedido, claro).
Caraca, que mundo a gente vive? Não tá secando o Brasil? Não tão secas as torneiras? Que é isso de incentivar as pessoas a usarem mais e mais água para relaxar e arrasar? Arrase, gaste água até a tampa? Hein?
Cada uma. Olha, espero que as pessoas se toquem e não tenham esse sonho de consumo arquitetônico e decorativo. Desculpe revista Arraso, não vou arrasar o país gastando água. E bem, só pra completar, o banho fedido foi uma delícia. E gastou pouquinha água.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

pessoa "sai lavando"

Tem um tipo de pessoa que eu acho o máximo. É a pessoa “sai lavando”. Sabe aqueles amigos, amigas ou conhecidos que vão na tua casa, veem a louça na pia e saem lavando? O máximo conhecer uma pessoa “sai lavando”. Neste final de semana eu viajei, e o meu filho recebeu hóspedes. Cheguei aqui e tava tudo limpo, super organizado. Estranhei.
- Nossa. Arrumou tudo?
- É que a minha amiga é daquelas “sai lavando”, mãe. Não pode ver um copo usado que sai lavando.
Uma vez apareceu uma pessoa dessas numa festa da minha irmã. Tava aquela zona infernal na cozinha no fim da noite, aquela pilha de pratos, copos, talheres. Apareceu um cara do nada, namorado de uma amiga dela, que, sem ninguém pedir, enfrentou aquele caos na maior e “saiu lavando” tudo. Em menos de meia hora a cozinha estava tinindo, pois uma das qualidades de um bom “sai lavando” é lavar muito rápido, pois obviamente eles tem a maior prática, técnicas e método.
Isso não é, de modo algum, uma invasão da cozinha alheia, isso é um bem que a pessoa te faz. Um verdadeiro “sai lavando” não “sai guardando” nada, não fuxica em armário e gaveta. Essa maravilhosa pessoa, quando o escorredor fica entupido de pratos e copos limpos, geralmente estende uns panos de prato na mesa e coloca tudo ali, organizadinho, pra o dono da casa guardar. Acho que as pessoas “saem lavando” acreditam – e eu também acredito – que pias com louças sujas devem ser socializadas, ou seja, não são de ninguém, tampouco do dono da casa. E as pilhas de louça suja são como os isqueiros e tuppewares, precisamos aprender que todos eles devem ser socializados.
Eu consigo entender. Se uma pessoa “sai lavando”, se depara com uma “pia entulhada”, não há o que fazer a não ser... lavar. Para eles aquilo não é apenas uma pilha de louça. É uma missão na vida. Os dois se completam. E quando a gente encontra um “sai lavando”, a melhor coisa é cuidar muuuito bem dele, porque são uma delícia.