terça-feira, 31 de maio de 2016

Deuses, amém

Há uns cinco anos atrás, tinha uma palavra que ninguém falava: aplicativo. Essa palavra, segundo meu velho dicionário Aurélio que era do meu vô e que acabei de consultar, queria dizer “aplicável, ou, que pode ser aplicado”. E aplicativo era quase uma palavra esquecida no nosso português.
Agora olha que louco, a tal palavra "aplicativo" bombou a ponto de ser quase mitológica, na humilde opinião de quem não entende lá muito de mitologia. É que, de certo modo, os aplicativos viraram nossos novos Deuses. A gente acredita neles pra caramba. A gente não faz nada sem consultá-los. Nada.
Sério, gente, pensa. A cada dia surge um novo e mais crível Deus Aplicativo.
O máster bláster Deus de todos é, sem sombra de dúvida, o Deus Google, o rei da sabedoria. Você pode perguntar qualquer coisa para ele, mesmo que seja a menor asneira, que ele sempre, sempre tem resposta. Depois tem o Deus Whatsapp, tão famoso quanto, o famoso Deus da conversa fiada, que não para de falar o dia tooodo, às vezes é até preciso mandar o cara calar um pouco a boca. Perdão, Deus Whatsapp, não é calar, é "si-len-ci-ar a conversa", não quero ofender uma entidade tão em voga.
Dai vai.
Tem o Deus dos caminhos, o Deus Waze, que ajuda qualquer cidadão a se locomover em qualquer lugar do mundo, maravilhoso. Essa maravilhosa entidade, inclusive, se você quiser, conversa calmamente contigo, na maior paciência, dizendo pra onde você deve ir, mesmo se você, distraidamente, cometer erros estúpidos. Se você não tiver um carro, pode apelar para dois Deuses que brigam muito, o Deus 99taxi e o Deus Uber. Embora eles guerreiem muito, dependendo de onde você vá, um tem mais vantagens que o outro.
Tem também o cérebre Deus da amizade (ou das insuportáveis brigas políticas), o Deus Face, tem os Deuses do namoro, o Tinder e o Hapn, que protegem e aliviam os solitários. Tem o Deus das imagens, o lindo Instagram, os Deuses dos jogos, o das músicas, Deus Spotify, e até um do Shopping, pra você adquirir os da sua preferência, que é o Deus Appstore.
Tem os Deuses da beleza, que te ajeitam tuas fotos pessoais pra outros Deuses, tem o Deus Booking, o das viagens, o Deus Decolar, que literalmente decola, e, claro, tem os Deuses dos filtros das fotos das suas viagens, afinal, se exibir hoje em dia é essencial.
Tem os imprescindíveis Deuses do dinheiro, que trabalham com os irritantes códigos-de-barra e número-de-cartão, e diversos Deuses fúteis e inúteis, como o Deus estourador de bolinhas de plástico, Deus Candy Crush, e outros mais idiotas.
A lista é infindável, Deus dos exercícios, o Deus das cartas, Deus dos pontos de calorias, o Deus Gmail, atualmente meio caduco e cheio de vírus, e muitos, mas muitos Deuses das mesmas notícias repetidas.
Não sei bem se todo mundo percebeu, mas temos, de um certo modo, uma nova religião, da qual não desgrudamos: o Aplicativanismo. Quem diria que uma reles palavrinha ia modificar o mundo.
Hahaha. E aqui, claro, viva o Deus Facebook. Amém.