quinta-feira, 29 de junho de 2006

caju no panda


Caju amigo convidado pelo a. no pandoro ontem. Tava super legal. Fotos do F. Stickel. Desta vez, tarjas brancas.

quarta-feira, 28 de junho de 2006

muros nada neoclássicos




Minha rua tem só casas e 5 quarteirões. Dessas, somente quatro ainda não tem muro. Nos últimos seis meses, foram construídos seis muros na minha rua. Estão em obras atualmente dois.
É o medo de assalto. Tá tendo muito assalto por aqui.
Claro que isso muda o espaço do bairro. Primeiro que você não participa da vida do vizinho, não vê se ele está vendo TV, se está na sala, se tem festa, se chegou, se o carro está na garagem. Depois porque os espaços da rua e das praças ficam isolados e silenciosos. Estranha essa coisa do muro.
Por causa disso, esses dias o Zé encasqueteou de fazer uma campanha anti-muro.
- Campanha anti-muro, Zé?
- É. Não é legal? “Tire seu muro”.
- Zé, as pessoas colocam muros porque tem medo de ficar sem muro. As pessoas não acham “legal” ficar sem muro. Dãrrr.
- Medo? Então a campanha pode ser mais agressiva: “não seja um covardão, tire seu muro”. Vamos tirar o nosso e colocar uma placa na porta da nossa casa. “Tiramos o muro e não temos medo de vocês”.
- Vamos ser assaltados no dia seguinte! Além disso, corremos o risco de ser pixados: “ô seus trouxas!”.
- Não teremos muro para pixar, hahaha.
Duvido que eu tenha coragem. No final das contas, mesmo sabendo disso tudo e concordando com ele, eu sou mãe e tenho medo. Nessas horas não adianta nem tentar colocar a razão na frente da emoção. É uma droga, mas desde que fomos assaltados aqui que temos muros e alarmes e botões de pânico e cerca elétrica, além de um esquema super confuso de chaves e grades pantográficas. Eu não acreditava em nada disso até que me vi de madrugada com uma faca no pescoço e aquilo foi traumatizante demais para ficar teorizando sobre liberdade e cidadania. Volta e meia tenho vontade de ser mais livre, queria arrancar toda essa porcariada da minha casa, mas fazer o quê.
Não tiro não.
Penso que todo esse medo que assola os bairros de São Paulo não vem a tôa. Vou fazer aqui uma associação meio boba, mas acredito em associações bobas. Pensemos. O medo vem por causa da criminalidade. A criminalidade vem por causa da riqueza ou ao menos pelo que os bandidos acham que é riqueza. Ora, de uns tempos para cá o meu bairro passou a ser assolado – como eu disse há dois dias atrás – por prédios, casas, vilas e condomínios horizontais neoclássicos. Nas propagandas e na estética, aquilo é coisa de milionário. Bilionário. Trilionários.
Claro que não é nada disso. Os apartamentos são metidos a chiques, mas são petiticos e mal feitos. É tudo fake, mas assim como a propaganda engana quem compra, engana também aos bandidos. Assim, acho que de uns tempos para cá, na cabeça de um bandido, quem mora aqui é arquiputzmilhardário. O meu bairro virou, na cabeça deles, um bairro de gente muuuito rica - e não importa se tua casa nem é neoclássica, afinal, se você mora ao lado você também deve ser. Resumindo, o assalto da minha casa foi culpa do neoclássico, que trouxe pra o bairro um pseudo-clima “chique”.
Tá, posso até tirar o muro. Mas vou fantasiar a minha casa e fazer uma fachada de uma botequinho beeem vagaba. Só assim.

terça-feira, 27 de junho de 2006

de lá de bangu



Horrível, mas vamos lá.
Ele me ligou no celular ontem umas seis e meia da tarde, numa hora que eu estava sozinha em casa. Falava alto e rápido de um lugar muito barulhento. Se disse Tenente da Polícia Militar, "Tenente Freitaxxx", com um sotaque carioca, explicou que tinha acontecido um acidente na Marginal Pinheiros e que sei lá porque meu telefone estava no meio desse tal acidente, com uma das vítimas. Já tinha lido sobre esse golpe no jornal na semana passada, eles assustam, querem saber o nome dos seus familiares para depois extorquir grana sua dizendo que sequestraram a pessoa. Mas mesmo sabendo de tudo dá um certo medo, pois uma das coisas que gente criminosa faz muito bem é mentir e encenar, e o cara do outro lado da linha que falava comigo estava realmente acreditando naquele acidente com "diversas vítimas fatais". Gelei com a idéia. Como fiquei confusa, tentei primeiro entender como ele achou meu telefone com uma das vítimas, se foi num papel, num celular. Coisa mal contada. Ele desconversou, muito nervoso, e disse que foi o "Sargento" que mandou ele ligar. "Mas quem é que está acidentado, moço?", eu perguntei "Ora, senhora, é um monte de gente, crianças e adultos e velhos, eu quero saber se tem algum parente da senhora no meio das vítimas". "Não estou entendendo nada", eu disse, "o que te faz crer que tem um parente meu ai?". Olha, gente, eu adoro literatura e histórias, e tramas mal contadas me irritam muito, principalmente essas sem começo nem meio nem fim. Foi quando ele se denunciou e perguntou se eu tinha marido ou filhos, e eu falei que sim. O tal fulano, com a maior voz de carioca, então lascou "E que carro tem o seu filho, minha senhora?". "E que carros que tem ai, meu senhor?" perguntei, meio gaga mas firme. "Um montão", ele respondeu, "Mais de cinco, deixa eu ver, um Pegeout, uma Ecosport, um Vectra, um Corolla, um Palio (ou seja, tudo quanto é marca) e tem um preto que nem marca mais tem, e temos aqui um monte de vítimas, minha senhora vamos logo, como se chama seu filho, diga logo, como se chama o seu marido!". Mesmo sabendo, fiquei aflita. Lembrei rapidamente: o João está viajando fora do Brasil e a salvo, minha filha estava na Cultura Inglesa e a salvo. Restava saber onde estavam o Zé e o Chico. De um outro telefone da casa liguei para o Chico, que estava no cinema, ele atendeu e me xingou, ufa, tudo bem. E enquanto embromava o 'Tenente Freitaxxx' dizendo "ai meu Deus o senhor espera que tou nervosa" e ele dizia "calma, senhora, calma", liguei para o Zé, que atendeu todo animadinho. Cochichei. "Ei, tudo bem aí?". Quando ele falou "tudo", tive muita, mas muita raiva daquele cretino daquele homem na outra orelha querendo saber o nome do meu marido e do meu filho, insistindo e berrando. Desliguei. O homem tentou ligar mais um monte de vezes, acabei desligando o celular, mas fiquei nervosa e tremendo da cabeça aos pés. É truque, eles ligam da cadeira, explicou a polícia para o Zé. A minha empregada Maria tem dois filhos bombeiros, e me disse hoje que um bombeiro nunca-jamais liga para para um parente de vitíma, se ninguém aparece quando o hospital chama os bombeiros devem ir pessoalmente até a casa da vítima.
Olha que perigo que virou ter um telefone.
Mesmo assim tive tremedeira. Afinal, não é sempre que a gente fala com um bandido de verdade.
E antes que eu me esqueça, vamos lá hoje Brasil []!

segunda-feira, 26 de junho de 2006

bolhas neoclássicas



Atrás da minha casa existe uma avenida. Como ela ficou muito movimentada, as casas antigas começaram a ser demolidas dando lugar a uns predinhos residenciais. Por ser um corredor de uso especial, o que a legislação permite são prédios de três andares. Logo, logo terei um deles como vizinho de fundos.
Um deles, que está em obras do outro lado da avenida, tem um projeto que lembra uma vila neoclássica. São Paulo hoje é uma cidade neoclássica, já repararam?
Quando a obra começou, fui olhar as perspectivas. Como o terreno é enorme, o empreendimento parecia ter espaços super generosos. Porém ontem, passeando com o Zé, passamos em frente e, além de olharmos atentamente a obra, vimos a maquete.
Gente, dá licença. É tudo mentira. A perspectiva, a maquete, a obra, tudo. O lugar é mínimo, os apartamentos, uns ovinhos. Detesto gente que mente nos desenhos, nas plantas. Além de tudo, a distância dos prédios até a avenida é mínima, a distâncias entre os prédios é mínima, a escala de tudo é mínima. Um absurdo a enganação. Mas o que mais me deixou surpresa foi uma constatação que cheguei depois de uma conversa com o Zé na frente da maquete do predinho. As salas dos apartamentos são coladas na avenida, o que não combina com um apartamento todo chique, alto padrão e ainda por cima, neoclássico.
- A avenida, Lu? Mas isso não é mais problema – falou o Zé.
- Isso o quê?
- Morar numa avenida. Essa questão, a do barulho, acabou.
- Acabou?
- Óbvio. As pessoas não abrem mais as janelas dos apartamentos. Vidros duplos, caixilhos acústicos e ar condicionado. Acabou essa coisa de tomar um ar, de ficar na varanda olhando o movimento.
Ele tem toda razão. Atualmente nos empreendimentos de alto padrão não temos mais o fora. Tudo é condicionado, as janelas são estanques. Os moradores não sentem o cheiro, o barulho e o clima da cidade. Estão dentro de bolhas de morar. Vêem, mas não são vistos. Assistem o lugar que moram como quem olha uma televisão da janela, assepticamente. Assim, o que vale é o endereço, mas não propriamente o local. Coisa mais esquisita, se a gente pensar bem. O pior é imaginar o cidadão saindo dali com seu carro condicionado e fechado e indo para um shopping também condicionado e fechado.
Acho que isso também explica alguns prédios de alto padrão em Cidade Jardim, perto de avenidas e da Marginal Pinheiros. Sem cheiro e sem barulho é possível morar próximo de uma avenida cheia de túneis, barulhenta e movimentada, mas num endereço chique. São bolhas neoclássicas.
É uma estranha maneira de morar, essa, de viver trancado e condicionado e dentro da cidade. É um estranho modo de ver a cidade. O esquisito é que vende. Mais esquisito é que ninguém percebe.

sábado, 24 de junho de 2006

uma experiência única



Acabamos de voltar de um jantar num restaurante japonês. Fomos eu, o Zé, um dos meus filhos e um amigo. Quando sentamos à mesa, o garçon avisou que tínhamos duas opções : ou rodízio ou “à la carte”.
Olhei para o Zé e respondi.
- Rodízio, né, Zé?
- Óbvio - ele respondeu, rindo.
Podem achar brega, mas sou da época do sensacional Grupo Sérgio, o primeiro rodízio de pizzas de São Paulo. A idéia de comer até não agüentar mais e não pagar mais por isso era o máximo, e a propaganda pegou tanto em mim que até hoje eu adoro tudo que é rodízio.
Como eu gosto muito de comida japonesa, apesar da feíúra que é a idéia de comer muito (ser um homem draga, como diz meu filho), salivei com a idéia do rodízio. Eu poderia comer, além dos peixes, tempurás, shimejis, yaquisoba. O garçon avisou que a única coisa regulada era o sashimi, que vinha numa única porção por pessoa. O resto era tudo liberado, poderíamos pedir quanto quiséssemos. Os pratos deveriam ser pedidos para ele, já os sushis viriam à mesa sem pedir, trazidos pelos garçons de uniforme preto, ele explicou, apontando.
Entendemos. Perfeito. Vi que a coisa funcionava bem, numa grande fartura.
Começamos a comer, estava ótimo. Foi quando começaram a aparecer uns sushis esquisitos. Não vinham os tradicionais, de peixinho com arroz. Eram uns sushis mordernosos, coloridos, tipo uns califórnias incrementados, verdes, amarelos, pretos, xadreses, com uns rococós em cima. Coisa mais estranha a massaroca cultural que virou a culinária japonesa em grande escala, gente. Sushi de salmão frito com queijo e maionese. Sushi de atum com pimenta. Sushi de salmão empanado com cebolas. Estranho. Cadê os sushis de... sushi?
Não tinham mesmo, e tivemos que nos contentar com as esquisitices. E o ápice do sushi-bizarro, que valeu até a foto acima, foi esse:
- Sushi hot goiaba – disse a garçonete.
Sim, pasmem. Sushi de salmão frito com queijo minas e recheio de goiabada mole.
O Zé olhou a mulher com a maior cara de pau, fez um sinal afirmativo e aceitou.
- Super bom – declarou, rindo.
Disse que foi uma experiência única. Provavelmente como ir ao Grupo Sérgio nos anos setenta.

sexta-feira, 23 de junho de 2006

que justiça seja feita




Estávamos eu e o João, meu filho menor, assistindo TV, quando começou uma reportagem sobre uma passeata num bairro de São Paulo. Não me lembro se o protesto era contra a violência, ou para aumentar os salários ou por alguma questão política. Só sei que no meio da multidão via-se um faixa onde se lia: "que justiça seja feita".
- Mãe.
- Oi João.
- Tá vendo a faixa ali?
- Tou.
- Olha que velha. Suja, usada.
- A faixa? É mesmo, tá capengona.
- É um tipo de faixa que se usa muito, mãe, deve ser por causa disso. Serve para muita coisa uma faixa dessa, não acha?
- Hã?
- Verdade, pensa bem, mãe. "Que justiça seja feita" serve para todos os tipos de passeata. Passeata é sempre a favor da justiça. Por isso que a faixa tá velha. Deve ter anos e anos. Uma faixa-avó.
Eu ri muito depois que ele fez esse comentário, mas justiça seja feita, ele tem razão. Fiquei imaginando os organizadores da passeata, um pouco antes da concentração:
- Tudo pronto?
- Tudo.
- Pegou a faixa da justiça?
- Peguei. Está meio puída, mas ainda dá para o gasto. Vambóra.
Engraçado.
E hoje tem crônica na paradoXo: Mulheres e mictórios

quinta-feira, 22 de junho de 2006

shiu, mas não conta pra ninguém



Outro dia me disseram que o problema dos Ronaldos na Copa é que eles são tão marcados e tão visados que não conseguem nem ver a bola.
Depois desse comentário reparei nos dois no último jogo. Uau. É totalmente verdade. Os dois estão sempre cercados de gente (aquilo deve ser desesperador), e nem entram no jogo - assistem por cima dos ombros dos outros.
Nossa. Nunca tinha reparado.
Então tive uma idéia. Gente, porque não disfarçamos os dois Ronaldos, com perucas e bigodes? Acho que não é proibido, pois pelo que se vê por ai, não tem problema com a Fifa se você pintar o cabelo, fazer um rabo ou colocar um bigodão. Aliás, o certo seria, na minha humilde e estrambótica opinião, usarmos o mesmo disfarce em todos os jogadores do Brasil. Imaginem todos de bigode e peruca, idênticos. Ia ser a maior zona, ainda mais se em cada jogo a cor do cabelo e formato do bigode mudassem. Ninguém ia saber quem é quem, e os dois estariam super liberados para jogar de verdade.
Bom, essa idéia, para ter sentido, poderia também se estender para o corpo, com a colocação de barriguinhas falsas em todos e disfarçar de vez o Ronaldo Nove. Era só a gente combinar e não contar pra ninguém.
Quer saber? Esse Parreira não tem nenhuma criatividade.
Hehehe.

quarta-feira, 21 de junho de 2006

não é implicância




Foi numa loja ontem. Encontrei uma amiga que não via há uns seis meses, mais ou menos.
- Alôôô, Lúúúúúcia...! - ela me disse, animada, abrindo os braços - Nosssa quantooooo teeeeempooooo...!
Olha.
Eu exagerei nas vogais e nas reticências para ser fiel ao nosso encontro. A minha amiga falou exatamente assim, compriiiiiiiiido. Para ela falar a palavra "tempo", demorou cerca de dez segundos.
Fala se não tem gente que é exatamente assim.
Bom, logo em seguida eu a abraçei, reação natural quando se está diante de uma pessoa de... braços abertos.
- Que leeegal te veeeeeeeeer, puuuxaaa... quaaaaantoooo teeeeeempoooooo...! - ela repetiu, agora bem pertinho do meu ouvido.
Bom.
Hahaha.
Sabe aquele tipo de pessoa que abraça e não desabraça? Sabe gente que abraça e balança para os lados, bem devagarinho? Sabe gente que fica abraçada e falando coisas para você, no meio do seu cabelo? É exatamente assim essa amiga. Tive vontade de rir, pois aquilo de estar abraçada a ela e me balançando de um lado para outro a troco de nada me pareceu a coisa mais esquisita do universo.
Prá lá e pra cá na porta de uma loja do Shopping... prá lá e prá cááá...
Não é implicância não.
Era só pra contar.

terça-feira, 20 de junho de 2006

as fitinhas



A burrada aconteceu na sala da casa da minha mãe, no domingo de páscoa. Estava com a minha irmã e uma prima na sala, depois do almoço, tomando café e bicando os ovos de páscoa dos filhos. A sala estava a maior bagunça. Espalhado pelo lugar estava aquele monte de papel de ovo e fitas. Papel de ovo quando sai do ovo triplica de tamanho.
Foi quando eu peguei um monte de fitinhas e fiquei brincando com elas, meio sem perceber. Amarrei uma no braço, umas no tornozelo, outras na mesa, na bolsa, no dedo.
Não sei porque eu fiz tamanha idiotice. Fita de ovo de páscoa não é igual a fitinha do bonfim, que dissolve em três meses. E a questão é que, depois que eu amarrei aqueles negócios em mim, eu passei a associar as fitas à um tipo qualquer de sorte. Para que que eu fui pensar isso, gente. Ô arrependimento. E desde esse dia que eu acho que se eu tirar alguma delas alguma coisa que eu quero que dê certo vai dar errado. Das coisas mais bobas até as mais importantes.
Se eu tirar a fitinha não chego na reunião a tempo. Se eu tirar a do pé não emagreço. Se eu deixar a fitinha no lugar arrumarei uma editora e ficarei famosérrima. Se eu tirar o meu carro não conserta. Se eu deixar eu chego no horário no dentista. Se eu tirar o projeto não vai dar certo. Se eu tirar o almoço que vou fazer aqui em casa dá errado. Se eu deixar a festa que eu vou vai ser um sucesso. Se eu tirar não viajo pra Portugal nunca.
Gente, que desgraça. Eu não sei mais o que faço. Desde então todo meu futuro está ligado a essas horríveis fitinhas de ovo de páscoa. E elas aqui, grudadas em mim, firmes, fortes. Indestrutíveis!
Domingo eu decidi. Chega. Coisa mais idiota uma pessoa da minha idade com esse monte de fita estragada e desfienta na perna e no braço, onde que já se viu. Bobagem máxima, tire isso já dai, pensei, corajosa.
Tirei tudo, desamarrando uma por uma.
Foi um alívio imenso.
Bem. No intervalo do jogo, comentei por alto essa minha libertação para alguns amigos que estavam aqui assistindo o jogo. Foi quando todo mundo me olhou, pasmo.
- O quê? Você tirou antes do jogo do Brasil? Óbvio que o jogo está zero a zero por sua causa! - todo mundo disse em uníssono.
Fazer o quê, né? Coloquei tudo de novo.
E vejam, dois a zero!
Oquei, gente, podem ficar tranquilos que não vou ser eu a culpada de nenhuma derrota, peloamordeDeus.
Mas depois da copa eu tiro!

segunda-feira, 19 de junho de 2006

a mosca do avião



Fui num almoço nesse feriado e acabei conversando um tempão com um ex-professor. Ele tinha acabado de voltar de uma viagem para o exterior, e trocávamos figurinhas sobre as suas impressões sobre os países que visitou. Foi quando no meio da conversa ele começou a me contar uma história fantástica, que não me saiu da cabeça até agora.
É a história da mosca do avião.
Eu tenho um impressão engraçada sobre algumas histórias que ouço. É que as vezes eu percebo o quanto algumas coisas que me contam são sensacionais mas não sei exatamente a dimensão daquilo para a minha existência. Essa história é uma dessas coisas. É uma história que transcende a história dela mesma, que vai além do momento que ela foi contada e da hora que a gente está na vida. A história da mosca do avião vai me perseguir por anos e anos, sei disso.
Foi o seguinte. O professor me contou da sua viagem, dos países que foi e do premio que recebeu, mas depois começou a me contar sobre a viagem de volta dele da Europa para a o Brasil.
- Ouça só, Lúcia. Preste atenção.
Disse que a viagem começou, ele comeu um lanchinho, leu uma revista, essas coisas. Estava a toa, descansando quando olhou para o teto e viu uma mosca.
Uma mosca dentro do avião.
Zuim, zuim.
Sim, isso acontece nas melhores famílias. Se uma vez num vôo da Bahia para cá eu fui totalmente picada por pernilongos, porque é que uma mosca não pode entrar num avião que vem da Europa? Ele conta que achou engraçado aquilo, e que ficou reparando na mosca.
Ela ia de cá para lá. Pousava na cadeira de um, sumia, ia para a cabeça de outro passageiro, pousava numa sacola, numa janelinha, no teto.
- Na maior – explicou o professor – Era impressionante.
- Como assim? - perguntei.
Ele explicou.
- Era engraçado, pois aquela mosca estava ‘se achando’, Lúcia. Ela ia de cá pra lá, decidida demais. Posava nos lugares, levantava vôo, pousava de novo, esfregava as patinhas, voava de novo.
Eu não estava entendendo coisa alguma. E daí?
- Ora, o problema é que ela não sabia de nada. Estava empolgada demais com aquela sua vida de mosca - Ele começou a gargalhar de rir - Mosca mais trouxa. Hahaha.
Hã? Porque a mosca era trouxa?
Diante da minha cara de interrogação, ele explicou.
- Lúcia, perceba. Ela não tinha idéia de que estava vindo para o Brasil. Estava toda empolgada com a sua vidinha besta de mosca, pousando, voando, comendo e, de um certo modo até trabalhando. E jamais imaginaria que estava indo para outro mundo, outro universo, outra galáxia. Aliás – ele completou – o mais surpreendente é que para uma mosca provavelmente não existe avião, nem país e nem planeta. Ou seja, a ignorância dela é tanta que a idéia dela estar indo para outro lugar nem pode ser compreendida.
Ele me olhou seríssimo.
- Você compreende a dimensão da coisa? Percebe que isso pode acontecer a qualquer um de nós? E percebe até que isso pode estar acontecendo exatamente agora, comigo e com você, por exemplo? Podemos estar aqui nesse almoço, conversando, falando e comendo, feito a mosca do avião. Nos ‘achando’. Mas podemos estar em qualquer tipo de avião que nem sabemos que existe indo para outro lugar.
Foi ai, nesse momento que eu percebi aquilo que falei ali em cima, que essa história não ia me sair da cabeça. Pois concordo com ele. É possível se perceber mosca, vez ou outra, é possível até perceber a existência de alguns aviões ou até apenas a sensação do vôo – como disse o Pecus num post auto biográfico e reflexivo que ele fez na semana passada “eu devo estar indo para algum lugar”, ele concluiu – mas são muitos os vôos que a gente está dentro e nem sabe que está voando.
Fiquei com a impressão que talvez fossemos todos um pouco trouxas, feito a mosca.
E confesso que fiquei confusa pra burro.
Franka, uma mosca de avião?

domingo, 18 de junho de 2006

iabadabadú!


Simples assim.
Nunca ninguém ouviu falar dele, a troco de nada ele é escalado para jogar no segundo tempo, ele entra em campo, dois minutos depois se vê na frente do gol com a bola, chuta e pimba.
Celebridade nacional.
Quer saber? São essas inevitabilidades do destino que me intrigam e me deixam encantada a cada vez que acontecem na minha frente. Para mim a idéia desse acaso delicioso vale tanto quanto a vitória do Brasil. Qualquer um de nós pode ter, a qualquer instante, uma bola e um gol no segundo minuto. O máximo isso.
Ora, Fréd!

sábado, 17 de junho de 2006

é só insegurança




Pode parecer complicado, mas para mim é facílimo de entender o problema do Ronaldo Fenômeno.
Ora.
Ele engordou e está inseguro.
Para a gente, que é mulher, isso sempre acontece. Se você está magra, normal, tudo corre bem, as coisas andam normalmente, tua vida é tranquila. Mas quando você engorda bate a maior insegurança. Você nunca se acha bem vestida, a sua performance nas festas e encontros sociais é um desastre e conquistar alguém parece impossível. E se para a gente, que não é vista por bilhões de pessoas ao vivo, engordar é tão complicado, imagine para um cara como ele.
Podem falar o que for.
Pra mim é só isso.
Insegurança pura.

sexta-feira, 16 de junho de 2006

a literatura e o corpão

( desenho luisa cortesão)


Hoje de manhã eu fui andar no parque Vila Lobos. Radinho de pilha do ouvido (o meu iPod é pesado demais, infelizmente, e me atrapalha) e tenis velho, direto pela trilha que eu sempre faço. Essa coisa da repetição é super confortante principalmente quando você está com muito sono.
Mas eu queria falar de uma coisa que aconteceu enquanto andava. Eu estava toda empolgada com meus pensamentos, teorias, roteiros, personagens e textos, quando passam por mim três mulheres.
Correndo.
Um, dois, um dois, um, dois.
As três bem da minha idade.
Malhadas, correndo, animadérrimas.
As três com o maior corpão.
Ai.
Eu encolhi no mesmo instante. Não estava correndo, não sou malhada e nem tenho aqueles corpões, apesar de ser uma pessoa animada - o que não me confortou em nada naquele momento.
Foi quando me veio uma frase na cabeça.
- Ah, ora. Não dá pra fazer literatura todo dia e ter um corpão. São duas coisas completamente incompatíveis.
Mas será que eu estou certa? Será que são mesmo? Será que não é possível desenvolver as duas coisas ao mesmo tempo, o corpo e a mente? Aparentemente, pelas regras do nosso mundo eu faço muito pouco pelo meu corpo, mas na minha escala de valores e distribuição de tempo diária, a idéia de ter um "corpão" está lá no fim da minha listinha. Na verdade, a idéia de "saúde" para mim está mais ligada à uma alimentação normal e (hahaha) muitas horas de sono do que na tal "malhação". Gente que dorme bem, muito bem, tem cara descansada e é mais saudável, diz minha mente para meu corpo.
Bom. Um pouco verdade é, e eu adoro dormir.
Passei o resto do passeio tentando me lembrar de alguma escritora ou de algum escritor que tivesse um "corpão". Como não me lembrei de nenhum, resolvi esquecer as três mulheres e dormir muito bem. E vou deixar a idéia de ter um corpão para o dia que parar de mexer com as letras.

quarta-feira, 14 de junho de 2006

eu gosto é do Cafu



Desde a copa passada que eu gosto é do Cafu.
Por que?
Porque ele é mais velho, porque é capitão, porque corre pra burro, porque é animado e, atualmente, talvez até porque é um pouquinho criminoso e pode ser até ser preso. Mas o "porquê" maior é outro.
Disse que não ia assistir ao jogo ontem, mas assisti. Aliás, foi pior. Na hora do almoço começei a me achar ridícula e fora do clima. Assim, saí de uma reunião, fui num camelô naquele inferno chamado "Teodoro Sampaio", comprei um monte de camisas do Brasil e bandeiras e resolvi torcer. Das camisetas falsificadas que comprei, de um monte de jogadores, tive que ficar com a do Ronaldo Fenômeno, pois ninguém aqui em casa quis.
Quem diria.
- Eu, hein. E ainda é camiseta de gordo – falou uma amiga da minha filha.
Bem, camiseta de camelô nunca é de gordo, eles usam o mínimo de tecido, todas são super apertadinhas. Dane-se, vesti eu, assisti ao jogo e vi meu Cafu com uma camisa nove.
O motivo de eu gostar dele vem de quatro anos atrás, quando ele fez uma coisa sensacional quando ganhamos a copa passada. Na época eu até escrevi um texto a respeito e mandei para todas as minhas amigas mulheres. O e-mail eu perdi, mas achei um rascunho, que coloco aqui.
E viva o Cafu.

“Falamos muito de copa do mundo e do penta nesses últimos dias. Mas acho que nós, mulheres deste Brasil, temos que prestar atenção em outra coisa: na Regina.
Da Regina do Cafu.
Porque gente, reparem só: naquela hora mais importante de todas, naquela que o capitão do time levantou a taça, que todos os brasileiros e todas as pessoas do mundo estavam nos olhando, bem nessa hora o nosso Cafu gritou:
- Eu te aaamo, Regiiinaaa!
Eu fiquei estatelada.
Hã? Regina? Re-gi-na? Eu quase cai para trás. Caramba, Regina? Quem seria essa Regina, que apareceu bem naquele momento estapafúrdio?
“É a mulher dele”, falou o Zé, meu marido. “Regina é o nome da mulher dele”.
Mulher dele?
Nossa.
Me respondam se isso não é uma imensa e esplêndida ode ao amor. Naquele momento, na hora mais importante e mais emocionante para o Brasil todo, o Cafu vem, aproveita a deixa e se declara para... a Regina? Já pensou o que significa isso? É ou não é a maior declaração que uma mulher pode receber de um homem? Existe amor mesmo, eu pensei naquele momento. E que mulher nesse mundo não queria ser essa Regina, essa amada e adorada e gritada Regina? E será que não ganhamos a copa por causa dela? Da Regina? Quer dizer, importa o futebol, claro, importa ganhar, claro, importa a nossa paixão pela copa, claro, mas no fim, na hora agá, importa que ele ama de paixão a Regina!
Eu não conseguia nem falar, de tão maluco que achei aquilo.
Que Cinderela que nada, isso já foi, é coisa do passado. Tenho certeza que depois de hoje, o sonho de toda mulher deste Brasil é ser uma... Regina.
E, cara Regina, todas nós, as brasileiras, também te amamos.
Um beijo grande,
lúcia (que também quer ser regina)”

Mandei esse e-mail para as minhas amigas. E logo em seguida começou a avalanche. Uma avalanche enorme de emails de Reginas e de mulheres querendo ser Reginas.
Era Beatriz Regina, Silvia Regina, Luciana Regina, Tais Regina, Denise Regina, Fátima Regina, Maria Regina, todas nos queredom ser reginas.
Foi super engraçado.
E uma delas me mandou o seguinte e-mail:
"Eu vi a Regina, e sabe o que? Bicho, ela não é a Gisele Bünchen, nem a Marilyn Monroe, nem a Malu Mader, nem a Xuxa, nem a Bruna Lombardi. Nem deu pra ver se é magra ou média. É apenas uma mulher, nem bonita ela é. É comum, loira pintada, de cabelo liso, cara norma, nariz normal, não pousou na Playboy, não é intelectual, nem professora doutora, é apenas uma mulher cujo marido a ama. E acho que deve amar pra cacete. Senão não se comprometia... tanto!
ass. Uma Mulher Não Regina”
Tá vendo?
E viva o Cafu.

terça-feira, 13 de junho de 2006

prioridades





Muito homem vai falar que não é assim, mas falo por mim, pois no meu caso é. Eu tenho, aqui nessa casa, que pensar em mais assuntos que o Zé. Não sei, exatamente, se são mais assuntos, mas são asssuntos mais disparatados que os dele. Enquanto os dele são trabalho, reuniões, algumas contas a pagar e consertos de carro; os meus são trabalho, comida, filho, funções leva e traz, empregados e contas domésticas.
Parece que é parecido, mas não é nem um pouco. Ele não precisa parar de trabalhar as quatro e quinze e pensar se fará filé de frango ou bolo de carne moída no jantar. Ele não é interrompido porque acabou o sabão em pó e nem precisa atender um celular numa reunião para apartar uma briga horrososa entre dois moleques se estapeando.
Não é reclamação não.
É apenas uma observação que faço a anos que diferencia um pouco o trabalho da mulher do trabalho do homem. Somos obrigadas as mudar de assunto muitas vezes ao longo do dia. É como viajar de São Paulo para a África e depois para Índia depois para a Inglaterra, enquanto seu marido faz um civilizado tour pelas Ilhas Gregas.
Mulher tem mais jet-leg, obviamente. A cabeça, vez ou outra, falha. A gente acaba pifando.
Assim eu, por um instinto de sobrevivência, adotei um sistema inconsciente de prioridades. Quando os meus filhos eram bebês, esse sistema era: 1) filhos alimentados; 3) trabalho bem executado; 3) casa provida; 4) filhos limpos; 5) eu feliz. A casa arrumada nunca esteve nesse esquema, nem nessa época e nem hoje. Fazer o quê.
Já o ‘trabalho executado’, por uma questão financeira particular minha, tem que ficar sempre no segundo posto, embora eu, confesso, muitas vezes finja para mim mesma que "trabalho muito" quando na verdade é apenas uma certa simulação.
Depois de um tempo, mudei o esquema. Os ‘filhos alimentados’ nunca saíram da posição de topo, obviamente porque "mãe é mãe", mas o ‘eu feliz’ subiu de posto. Primeiro foi para o lugar dos ‘filhos limpos’ – foi natural, uma vez que eles cresceram e cuidam dessa parte eles mesmos - e atualmente já substitui a ‘casa provida’, o que tem deixado os filhos, a Maria e o Zé um pouco decepcionados com a minha atuação nesse campo de ação. Já tentei explicar para eles que a ascensão do ‘eu feliz’ é essencial na felicidade da casa, que isso é outro tipo de alimento do lar, que evita muitas crises de TPM e a 'casa provida' pode ser resolvida de outras maneiras, mas mudanças sempre são mau vistas.
Agora, há dois anos, resolvi incluir o blog e os escritos diários nessa lista. Digamos que é um tipo de item 3) b) do ‘eu feliz’. E como blog vicia, e como escrever é bom e melhora o ‘eu feliz’, tenho me embaralhado toda nas outras funções.
Tudo para justificar que nessa esquisita escala de prioridades que estabelecemos na vida, algumas coisas são completamente esquecidas. Eu às vezes me culpo por isso, mas tendo que priorizar filhos, trabalho, blog, felicidade, compra de coisas para a casa e filhos e funções de leva e traz, é impossível lembrar de coisas com prioridades 75) ou 180) como de reuniões de escola, de festas de filhos, de aniversários de amigos, de pagamentos de viagens de escola e principalmente da devolução de filmes na blockbuster.
E quando os itens se embolam, nada mais a fazer a não ser correr atrás de um ou de outro, como hoje.
Fazer o quê...
Estou pensando seriamente em trabalhar no horário do jogo. Afinal, futebol não está entre os meus dez mais.

segunda-feira, 12 de junho de 2006

ronronando na padaria





Fui ontem, domingo, tomar café da manhã com o meu filho João numa padaria perto do Itaim. Era muito cedo e não havia mais ninguém no lugar além de nós dois, da moça do caixa e de dois atendentes atrás do balcão.
- Um café puro, um suco de laranja e dois queijo quentes – pedi para um deles.
Sentamos numa mesinha de plástico ali do lado enquanto um dos atendentes foi providenciar o nosso pedido.
Ficamos em silêncio, eu e o João, esperando, pois estávamos morrendo de sono. Os dois caras do lado de lá do balcão, um mais velho e um mais novo, estavam animados, trabalhando e conversando.
Foi quando eu percebi. Conversa? O que eles diziam um ao outro não era propriamente uma "conversa". Não tinha lógica nem assunto aquilo. Era um tipo de código de companheirismo que denotava uma certa condescendência de um com o outro. Um tipo de companheirismo feliz, digamos. Não sei se me faço entender corretamente. Os dois, ali naquele silêncio matinal da padaria, faziam uma série de sons, quase não-humanos, apenas para demonstrar felicidade e camaradagem.
Digamos que eles... ronronavam.
Imediatamente peguei meu caderninho da bolsa para anotar o que eles diziam. É uma mania essa minha de anotar. Não ando sem meu caderninho.
- Amaro, Amaro... - falou um deles, balançando a cabeça e se referindo ao outro, que eu supus que chamasse, óbviamente, 'Amaro'.
- Fala, seu Pereira... – respondeu o mais novo para o mais velho, que supus que se chamasse, óbviamente também, ‘seu Pereira’.
- Amaro, Amaro.
- Seu Pereira, seu Pereira.
- Amaro, Amaro, ô menino.
- Issoaí, seu Pereira. Issoaí.
- Amaro, Amaro. Menino, menino.
- Seu Pereira, seu Pereira.
- Menino, menino, ô nenê.
- Nenê não, seu Pereira, nenê não hein.
- Nenê desse tamanho é fria, ô Amaro. Nenê desse tamanho é fria.
- Ô seu Pereira, nenê não, seu Pereira.
- Amaro, Amaro.
- Seu Pereira, seu Pereira.
E assim a coisa continuava.
Engraçado. Eu e metade do Brasil estamos cansados de ouvir esse tipo de conversa. Eu mesma sou a rainha de fazer isso sem perceber aqui em casa, com a Maria, minha empregada, na cozinha. Faço isso também em obras, com peões, eletricistas, empreiteiros, marceneiros, gesseiros e até com engenheiros, para estabelecer vínculos com algumas pessoas com quem é dificílimo estabelecer conversas. Também fazem isso comigo, e noto agora que adoro essas falas. Nunca tinha percebido que isso existia até hoje de manhã, olha que coisa. Era um ato totalmente inconsciente para mim, como é para o Amaro e para o seu Pereira.
E concluo. Sim, nós humanos, também ronronamos. Às vezes falar não resolve, é preciso emitir ruídos de camaradagem.
Não é genial descobrir isso?
- Amaro, Amaro...
- Fala, seu Pereira, falaí, seu Pereira...

sábado, 10 de junho de 2006

os sanduiches de pernil



Passei o dia hoje na festa junina na escola dos meus filhos. Todo ano eles fazem uma enorme festa onde todo o dinheiro arrecadado vai para uma instituição de caridade. Todos os brindes e produtos são doados e quem trabalha na festa são os pais dos alunos – tanto nas barraquinhas quanto na organização.
Vou nessa festa há onze anos. Durante oito anos tivemos, eu e o Zé, uma barraquinha de sorvete nossa, que organizávamos, montávamos e vendíamos. A nossa barraca dava um bom lucro para a festa, apesar do trabalho que nos dava. Em alguns anos choveu muito e em outros estava o maior frio do universo, e vender sorvete, no frio e na chuva e ao livre era terrível. O pior era que, nem chuva, no frio e ao ar livre as pessoas deixavam de tomar sorvete.
Um dia, desistimos. Eu e o Zé achamos que a nossa cota de ajuda estava encerrada e que, depois de oito anos de dedicação total, deveríamos descansar e, afinal, a aproveitar a festa junina.
- Imagine, Lu, poderemos comer! Nunca comemos nada nessas festas juninas – ele me disse, animado.
- Uau. Poderemos passear na festa – falei – nunca tivemos tempo de passear!
- Poderemos sentar nas mesinhas e tomar quentão – animou-se o Zé – Nós nunca tomamos um quentão numa festa junina! Vai ser genial!
Bom, chegou o primeiro ano sem barraquinha e sem trabalho. Acordamos tarde, descansados, dispostos a aproveitar. Chegamos na festa na hora do almoço – “horário de gente grande” – disse o Zé, e começamos a rodar. Olha. Foi super estranho. Depois de uns quarenta minutos, já estávamos na maior sem-graceza. Já tínhamos comido, passeado, jogado uma cartela de bingo e tomado o tal quentão na mesinha.
- E agora? Fazemos o que?
- Sei lá, Zé.
A questão é que não tinha graça nenhuma não trabalhar. Era estranho não fazer nada. Não sei, parecíamos muito a tôa, muito desocupados. Tivemos até uma certa vergonha de estarmos tão descansados no meio de amigos tão cansados. Foi uma das festas mais esquisitas que eu já fui e nunca me senti tão ridiculamente descansada. E quando, no ano passado, uma amiga me convidou para ajudá-la numa barraquinha, topei na hora.
- Olha lúcia, mas é para vender sanduíche de pernil. É preciso trabalhar pra burro, cansa demais, pois é das barracas mais cheias da festa. Quer assim mesmo?
Óbvio, respondi. Lá fui eu. Passei a festa inteira mexendo uma panela imensa de pernil, ajudando a montar os sanduíches. Canseira total. Dores musculares, roupa suja. Maravilha.
E esse ano, quando ela me ligou de novo e me convocou, lá fui eu. Hoje passei o dia na beira de uma panela de pernil de porco, sentindo um cheiro delicioso que está até agora impregnado em mim (assim que postar isso aqui vou tomar banho, juro, pois tenho uma festa daqui a pouco) e super feliz.
Fiquei pensando muito sobre essa coisa de se cansar, de se exaurir e reclamar. É mais ou menos como eu me sinto aqui. De vez quem quando eu também me canso de escrever todos os dias, de postar, de vir aqui, e alimentar esse blog. Algumas coisas cansam sim, mas cansar-se não é ruim. Sério. E aqui também eu não sei se quero estar do lado de lá.
Muito mais legal estar do lado de cá dessa minha barraquinha e vender esses meus posts de sanduíches de porco.

sexta-feira, 9 de junho de 2006

fala, nelson rodrigues


“Eis a verdade: - a fome varre, a fome raspa qualquer sentimento forte. O ódio exige boa alimentação e repito: - para odiar, o sujeito precisa de um sanduíche, pelo menos de um sanduíche.”
nelson rodrigues

quinta-feira, 8 de junho de 2006

bandeide



Acho muito engraçada essa história do Ronaldo Fenômeno com as bolhas nos pés. Ontem até vi uma foto de uma das bolhas dele, o que tornou a coisa mais absurda ainda.
Outro dia fui para o Rio e, na saída do aeroporto Santos Dumont, dei de cara com essa mulher ai da foto. Gente. Repara. A de saia. Vejam que ela usa um sapato chique, desses de executiva, mas que tem os saltos de... ferro. Sério. Olhai. De ferro! Dois espetos, duas espadas, duas facas. Uma arma em cada pé. Resolvi registrar esse absurdo. A mulher fazia o maior barulho ao andar e eu parecia uma louca com meu telefone atrás dessa assassina.
Mas vejam.
Consegui a foto.
Meta é tudo nessa vida.
O incrível foi reparar que ela não tinha bolha alguma no pé. Andava na maior desenvoltura de mulher de sucesso. Óbvio que qualquer ser humano com um pé razoável não agüentaria andar dez metros em cima daquilo, mas a mulher caminhava toda pirilampa sobre os espetos de churrasco. É, a gente não deve brincar com o destino. O cara anda de tênis o dia todo e pimba, tem bolhas, e uma assassina dessas cruza meia pista de pouso com saltos de ferro absurdos e tem o maior pé de princesinha.
A vida é muito injusta mesmo.
É horrível bolha no pé. Que mulher que já não teve, falaverdade. As piores para mim são aquelas na parte de trás, naquele ossinho que tem acima do calcanhar. Sapato duro sempre me faz bolha ali, principalmente esses sapatos de festa. É horrível quando começa a acontecer. Minha vida por um bandeide, você pensa. No desespero já coloquei até durex. E na falta de outra solução, o negócio é andar na pontinha dos pés, com o calcanhar mais alto que o sapato. Quem é mulher sabe. Nessas horas, sorria e se vire com aquele estranho treco que vira um sapato quando ele machuca seus pés. Andar com ele é como correr uma corrida de obstáculos. Um trem fantasma.
Comigo a pior bolha aconteceu numa das melhores festas da minha vida. Era numa casa bárbara, com pessoas bárbaras, com música bárbara, com clima bárbaro, eu estava com uma roupa bárbara, com cabelo bárbaro e me sentindo bárbara. Tudo bárbaro até que ela veio. A bolha. Tentei de tudo, até colocar um pedacinho de guardanapinho entre o calcanhar e o sapato, mas ele escorregava. E sem bandeide, sem durex e sem vontade de andar e dançar na pontinha do pé, passei a festa sentadinha.
Sério. Espero que o Ronaldo não tenha que passar por isso.
Deve ter muito bandeide por lá.

quarta-feira, 7 de junho de 2006

duas perguntas



São duas coisas que estão todos os dias nos jornais e que me incomodam muito. Duas perguntas.

A primeira é por que os jornais daqui de São Paulo vendem a primeira página da Folha Ilustrada ou do Caderno Dois para propagandas imensas de shopping centers, que ocupam a página toda com fotos de rapazes e moças magros, com olheiras e ares blasé e nós, leitores, temos que ler o assunto dessa primeira página nas margenszinhas. Dos ladinhos.
Além disso, me pergunto quem é aquela gente vestida tão estranhamente e agindo de modo mais estranho. Reparem que eles estão sempre jogados no chão, largados, escondidos nos cantos. Esquisito demais. É como senta num restaurante para almoçar, pedir um filé bem bacana com batatinhas na manteiga e, quando o teu almoço chega, você olha e vê no meio do prato uma propaganda de celular e, ao redor, espremidinho nas bordas, o seu filé e as suas batatinhas na manteiga.
Óbvio que sabemos que a propaganda paga muita coisa, mas não precisa exagerar, gente. A página principal do caderno de Cultura.
Ah, vá.

A segunda é por que uma quantidade absurda de propagandas de lançamentos imobiliários tem fotos de pessoas pulando, correndo e voando, um logotipo do prédio e nenhuma foto ou desenho do lançamento imobiliário. Nenhuma! Em geral são mulheres que pulam, mas já vi propagandas com famílias inteiras pulando. Eu me pergunto se as pessoas que olham aquilo – como eu – entendem o que estão vendo. Se sabem o que está sendo vendido ali. Tenho uma grande desconfiança que esse tipo de propaganda não funciona nada.
Hahaha.
Aliás, queria conhecer alguém que comprou um apartamento porque viu alguém pulando no jornal.
Alguém conhece?

terça-feira, 6 de junho de 2006

as pessoas que gritam




Como eu já disse um monte de vezes aqui, os tipos de divisão das pessoas do mundo são inúmeros. O mundo sempre pode se dividir em duas partes. Já falei das pessoas que usam bidê e das que não usam, das que correm e das que andam, das que implicam e das que não implicam, das que dão muitos foras e das que nunca dão.
Ontem, depois de uma experiência nada agradável, dividi o mundo em mais duas partes.
Das pessoas que gritam e das que não gritam.
É que gritaram comigo, foi isso.
Não posso dizer que eu seja uma pessoa que nunca gritou na vida. Já tive fases bem nervosas, principalmente na adolescência, quando eu morava numa casa só com mulheres e onde os hormônios tepeêmicos corriam soltos. Não vou atirar pedra nenhuma. Já fui a maior gritona e também já levei muito grito.
Mas falaverdade. Horrível gritar e ser gritada.
Essa pessoa em questão é famosa pelos gritos. Todo mundo que trabalha com ele já levou um gritão em alguma hora do processo de trabalho. Isso faz, de um modo esquisito, que o cara seja respeitado e que tenha se tornado, ao longo dos anos, um tipo de líder. Por causa do seu temperamento sanguíneo e explosivo, todos em geral são cautelosos. O interessante é que, além dele adquirir uma posição de destaque no grupo, os poucos que o desafiaram acabaram sendo eliminados, e os restantes tem receio de serem também.
Desde que percebi isso – e eu tenho que trabalhar com essa pessoa – que fiquei encasquetada. Noto que cada um reage de modo diferente. As mulheres choram. Quase todas. Até eu, obviamente - um dia ele gritou tão alto comigo por causa de uma porcariazinha que eu chorei feito bebê. Olha que coisa, eu! E a coisa nem era importante. Fiquei super envergonhada, mas foi inevitável. Ontem, ainda bem, não chorei, mas fiquei aterrorizada.
Já os homens reagem de formas diferentes. Já vi alguns chorarem, o que o deixa completamente desarmado, não é comportamento esperado para a guerra que ele gosta de fazer. Outros ficam indignados, outros se desculpam até de coisas que não fizeram, outros ficam aparvalhados e muitos partem para a briga. É isso que o deixa mais satisfeito, a briga, afinal, tenho dúvidas se ele está trabalhando ou apenas jogando o jogo do machão, do mais forte. E se a guerra começa e ele ganha, o outro sai para nunca mais voltar.
Já os mais espertos sabem. Aquilo é um jogo de poder. Esses, os craques, não nem se alteram com os gritos e nem entram na brincadeira: conseguem manter o ritmo da conversa dentro do assunto até o fim. E estão com ele até hoje.
Sem medo.
É complicado pra burro conviver com uma pessoa assim. Óbviamente que a melhor maneira de resolver a gritaiada é ignorar e manter a conversa dentro do assunto conversado, mas o corpo reage de forma inesperada à uma agressão física. E grito é agressão física. Além disso, um comportamento racional demais às vezes parece covardia, e muitos homens têm receio de estarem se diminuindo diante dos demais.
No meio dessa enorme discussão entra uma outra coisa importante, que é a sua posição social dentro do grupo. Se você não é o chefe nem é o líder do processo, a sua tolerância com a humilhação acaba sendo maior. Num dos seus livros, “Trilogia suja de Havana”, o escritor Pedro Juan Gutierrez fala o seguinte: “O pobre, ou o escravo, tanto faz, não podem complicar demais sua moral, nem ser muito exigentes com a sua dignidade, sob pena de morrer de fome. ‘Se você me dá um pouco já está bom e eu amo você’, só isso.As mulheres geralmente compreendem isso desde muito pequenas e aceitam. Mas os homens complicam um pouco mais com a rebeldia, a retidão dos princípios e tudo isso. Afinal, entendemos um pouco mais tarde.”
Dizem os entendidos que todos temos muitas características animais dentro de nós, que ficam enclausuradas e mascaradas pela nossa evolução, pelas nossas conquistas civilizatórias e pela nossa inteligência. Mas que essas características voltam, e volta e meia o nosso comportamento mostra esse lado selvagem. A história primitiva ainda está dentro do mais urbano cidadão, eu acho. Se na natureza muitos animais que urram mais alto são mais poderosos, noto que no meu grupo de trabalho esse homem também se destaca.
Roooooarrrr.
Ai, ai, ai.
Eu, hein...

segunda-feira, 5 de junho de 2006

charutos, busca detalhada

clic*
Sábado, tarde da noite. Estávamos no com um casal amigo nosso aqui em casa, o Zé contando pela milionésima vez sobre a viagem de Cuba, quando lembrei.
- Zé, os charutos!
Além da mala de rum, que aniquilou um grande número de amigos nossos, ele trouxe uma quantidade absurda de charutos. Esquecemos completamente deles.
- Ah, é mesmo. Pega lá, Lu – ele disse animado, olhando para os nossos amigos – Vamos fumar charuto?
A V. , nossa amiga, foi a primeira a confessar.
- Olha, gente, nunca fumei isso.
- Bem, nem eu, obviamente... – confessei.
Foi quando o marido da V., o M., riu.
- Eu também não, se vocês querem saber.
Olhamos os três para o Zé.
- Já ganhei um monte, mas eu nunca...
Foi quando a V. declarou, tirando o cachecol e o casacão.
- Então vamos resolver isso já. Vamos todos fumar charutos pela primeira vez. Hoje ou nunca.
- Tá tirando a roupa porquê? - perguntou o marido dela, estranhando.
- Charuto dá o maior cheiro. Se fosse vocês tirava também.
O Zé tirou o casaco. O marido da V., o M., protestou.
- Que é isso, que frescura. Querem fumar nus? É um tipo de ritual cubano?
Peguei a caixa. Colocamos um charuto enorme no meio da mesa. Nos entreolhamos.
- Vamos todos fumar um só? – perguntou o Zé.
- Se der certo a gente pega mais – falou o M.
- Onde é a parte da frente e onde é a de trás? Tem um lado tapado – falou a V.
O M. explicou.
- Esse lugar tapado é justamente por onde se fuma. Um tio meu fazia assim: ele ficava com o charuto apagado na boca, babando nele um tempão. Quando amolecia bem, ele mordia essa ponta e cuspia bem longe. Pra qualquer lado, sem rumo. Um cuspão.
- Cuspia? Eca. – falou o Zé.
- Faça isso, M., vamos – pedi.
A V. ficou brava.
- Não cuspa no chão da casa dos outros, meu bem.
- Eu deixei, sou a dona da casa – argumentei – Vai, faz.
- É nojento, mas charuto é nojento – o M. explicou – quando eles falam na caixa “hecho a mano”, não é bem “hecho a mano” e sim “hecho a língua e cuspe”, porque os cubanos lambem e colam essas folhas de tabaco com o cuspe da boca deles. Sabiam?
- Pára com isso, M., que assim eu não fumo – declarou o Zé – Colocar baba de cubano na minha boca. Urgh.
- Vamos M., morda e cuspa logo!- ordenei.
M. suspirou, me olhou, mordeu a ponta do charuto e cuspiu bem longe. Todo mundo gritou.
- Argh!
- Agora acenda – falou o Zé.
Estávamos todos ansiosos.
O M. fez um grande esforço, usou um monte de fósforos, ficou quase roxo.
- Pronto - ele disse, me passando rapidinho o charuto aceso.
- Eu? Já? Mas você nem babou.
Tentei. Aspirei de leve. Nada. Médio. Nada. Mais forte. Nada. Aspirei muito forte, com toda a força dos meus pulmões. Consegui fumar um pouquinho. Mas chupei tão forte, mas tão forte, que traguei tudo e tive um acesso de tosse nojento.
- Você tragou! – gritou o Zé, bravo - Não podia tragar, Lu!
- Sem querer! Desculpa!
Lá foi o Zé. Igualzinho eu. Fraquinho, médio, forte, muito forte, vulcânico e arrghh. Nada.
- Não sai nada dessa coisa, pô.
- Conheci um cara que molhava o lado da boca no licor – disse a V. – Quem sabe assim amolece e sai mais fumaça?
- Já sei. Vamos molhar no rum – falou o Zé, indo buscar a garrafa – Rum é melhor que licor nesses assuntos cubanos.
A V. foi a primeira a fumar com o rum na ponta. Fraquinho, médio, forte, muito forte, vulcânico. Ficou roxa, espremida e chupada, baforou exibida.
- Que acham? Consegui ou não?
- Não vi fumaça saindo da sua boca, V. – declarei.
- Vou tentar de novo, você fotografa.
Peguei a máquina.
Clic*.
- Saiu um tiquinho, mas não tenho certeza se foi da sua boca – eu disse.
- É que tá horrível esse charuto com gosto de rum e me deu ânsia – ela disse, dando o charuto ao marido e rindo.
Ele tentou de novo, não conseguiu. De raiva, mordeu um pedaço enorme da parte de trás e cuspiu mais longe ainda. O charuto ficou todo esgarçado.
- M.! – falou minha amiga, brava – Pára com isso, está estragando.
- Tá me dando ódio desse charuto entupido. Coisa mais travada pra fumar!
- Vai ver que a gente tá sem paciência... – eu disse.
Foi quando o Zé percebeu. Suspirou fundo e balançou a cabeça.
- Gente. Vamos assumir. A gente não sabe fumar.
- Como não sabemos? – falou o M. – Acha que tem técnica?
- Claro. Não sabemos fumar charuto, estamos fazendo coisas erradas - ele levantou - Perai que eu já volto.
- Aonde você vai, Zé? – estranhei.
- Ué. No Google. Vou colocar “charutos”. E depois, na busca detalhada, “como fumar”.
O Zé é engraçado.
- Ahahaha. Tente clicar no “estou com sorte” também, Zé – disse o M..
Tivemos um acesso de riso absurdo. Foi quando o Joãozinho entrou na sala.
- Mãe. Pai. Gente. Que foi? Que é isso que vocês estão fumando ai?
- Charuto cubano, filho – eu disse.
Ele olhou para todos nós bem devagar.
- Charuto cubano. Tá. Tá bom. Charuto cubano. Essa é boa...

Obs.1: Para quem quiser saber, tem 66.500 resultados no Google para “charutos - como fumar”. E mais: 98 resultados para assuntos acadêmicos. Uau. É coisa séria.
Obs. 2: Não conseguimos, nem com ajuda do Google. Desistimos em seguida, depois que todo mundo ficou muito enjoado.


domingo, 4 de junho de 2006

mulheres zorro



Foi num sensacional almoço de blogueiras no sábado, organizado pela Márcia. Desta vez, consegui tarjar todo mundo a tempo. O ruim foi que assim, tarjada, não tenho a mínima idéia do que almoçei e nem onde era o tal restaurante.
E aTones, o fotochoppe colorido e bem laranjão é em sua homenagem, já que você tá todo tristonho no seu post de hoje.

sábado, 3 de junho de 2006

estratagemas do amor


Olha. É um livro que li há anos atrás e sempre gostei. Coincidentemente ganhei na época de presente do Edu do Itamambuca, pois conheço o Edu há muito tempo.
Uma amiga aminha achou o filme, comprou e me deu essa semana. O filme não é tão legal como o livro, mas adorei o presente.
Porém nada supera esse poema que é citado no livro. Maravilhoso.

Love's Strategems
Donald Justice


But these maneuverings to avoid
The touching of hands,
These shifts to keep the eyes employed
On objects more or less neutral
(As honor, for time being, commands)
Will hardly prevent their downfall.

Stronger medicines are needed.
Already they find
None of their strategems have succeeded,
Nor would have, no,
Not had their eyes been stricken blind,
Hands cut off at the elbow.


Estratagemas do amor
Donald Justice


Mas essas manobras para evitar
O contato das mãos,
Essas mudanças para manter os olhos ocupados
Em objetos mais ou menos neutros
(Como a honra, por enquanto, ordena)
Não poderão evitar a sua queda.

São necessários remédios mais fortes.
Já descobrem
Que nenhum estratagema teve êxito,
Nem poderia, não,
Nem que seus olhos se cegassem,
As mãos cortadas pelo cotovelo.

sexta-feira, 2 de junho de 2006

modess e bloguess



Tentei (meio em vão) explicar para a minha mãe o que é um blog. Ela não entendeu absolutamente nada. Explicar uma coisa que não existe, que nunca fez parte da vida de uma pessoa é difícil. É fazer nascer uma idéia. Terei que insistir muito.
Imagino como deve ter sido complicado explicar o modess na época que ele foi criado. Olha a quantidade de explicações da propaganda.
Bloguess e modess.
Não precisam lavar, são descartáveis, seguros e confortáveis.
Engraçado.
E hoje tem crônica na paradoXo: açucar ou adoçante?

quinta-feira, 1 de junho de 2006

números, fichas e painéis



Eu sou filha de médico.
Neta de médico.
E tomara que mãe de médico também. Quem sabe?
Isso para dizer que entendo um pouco da coisa. Não de diagnósticos, obviamente, mas do funcionamento da medicina. Tanto meu pai quanto meu avô, que já faleceram, tiveram consultórios e trabalharam em hospitais. Meu avô tinha consultório em casa. Na varanda da casa dele existiam duas portas, uma para a casa outra para o consultório. Já meu pai tinha uma clinica na avenida Angélica. Era ortopedista.
Naquela época tanto para mim, filha e neta, quanto para qualquer paciente, a coisa era super simples. Você não tinha que marcar nada. Você ia ao médico, sentava, esperava um pouco e ele te atendia.
Pronto.
Juro que não entendo porque hoje as coisas não podem ser assim. Quer coisa mais complicada do que ir ao médico?
Minha filha está com febre desde ontem, e eu estou atrás de um médico para cuidar dela. Liguei para a pediatra à noite, mas não tinha ninguém no consultório. "E será que ela teria horário hoje? Tsc. Vou levá-la no pronto socorro de uma vez", pensei. Acordei bem cedinho e lá fomos nós duas.
Sim, deu tudo certo, fomos atendidas, ela já está bem e medicada, antes de qualquer coisa. Mas o que eu percebi e queria falar é a complicação que é atender um paciente hoje em dia. E não tem jeito. Ou você marca uma consulta com uma semana de antecedência – e olha lá – ou entra no esquema das fichas e números e salas de espera do pronto socorro. Gente, que zona.
Chegamos, eu e ela. Uma moça nos atendeu e nos deu um papel com um número. Mandou a gente sentar e esperar o número aparecer num painel eletrônico. Tv ligada, máquina de refrigerante e revistas. O engraçado é que não tinha mais ninguém na sala, o pronto socorro estava vazio naquela quase madrugada, mas a gente tinha que olhar o painel. Óbvio que a gente viu a enfermeira chegar, vimos quando ela entrou na sala, vimos ela apertar o botão do painel. E só ai pudemos entrar. Depois que o painel acendeu. Essa é a regra.
Era a triagem. Depois da triagem ela deu outro papel com outros números nos mandou para a sala de espera ao lado.
- A senhora tem antes que fazer um “cadastrozinho” - ela explicou.
Fazer um “cadastrozinho” é mostrar a carteirinha do plano de saúde e assinar um papel dizendo que, se o plano de saúde não pagar a conta, você vai dar todo o seu dinheiro para o hospital. Todinho, porque falaverdade, hospital é caro demais.
Sentamos. Esperamos. Como estava demorando para chamarem nosso número, como só tinha a gente ali e como todos os guichês estavam vazios, fui reclamar.
- É que quebrou a impressora que faz a pulseirinha, senhora.
- Pulseirinha?
- Aqui o paciente só entra no pronto atendimento de pulserinha... – ela explicou – a senhora senta e espera que já vamos consertar a máquina, o seu número vai acender no painel eletrônico. Quando acender a senhora vem aqui.
Tv ligada, máquina de refrigerante e revistas. Chegou um moço para consertar a tal impressora de pulseirinhas, demorou mais um pouquinho. A moça me olhou de longe, e, ao invés de me chamar, apertou o botão. Plim. Meu número apareceu em vermelho. Sorri e fui até ela.
Ficha e cadastro e assinatura.
- Agora a senhora vai para a sala do lado, coloca essa pulseirinha com esse número na sua filha e espera. Eles vão chamar ou pelo número da pulseirinha ou pelo nome.
- Desta vez não vai ter painel eletrônico não?
- Não senhora. Agora é nome ou número.
Sentamos de novo. Mais tv ligada, máquina de refrigerante e revistas. Esperamos até que uma mulher chamou o nome da Nani. Olhou a pulserinha.
- Ah. Você é a médica? - perguntei, aliviada.
- Não. Sou a pessoa que encaminha os pacientes até a sala da médica.
E era longe mesmo. Olha. O negócio é tão complicado que tive a impressão que teríamos que tomar uma van.
Enfim, lá no fundo de um dos corredores apareceu uma médica que atendeu e medicou minha filha. Nessa brincadeira, de uma hora e meia, foram três salas de espera, dois tíquetes de números fora os do estacionamento, uma pulseirinha, diversas fichas, um monte de enfermeiras e atendentes. Quando saímos pelos mesmos corredores, vimos a Ana Maria Braga na Alemanha com o papagaio dela em todas as inúmeras tvs.
Vixe. Coisa mais complicada que é ir ao médico. Meu pai e meu avô cairiam pra trás.