segunda-feira, 31 de agosto de 2015

a mulher do waze

Gente do céu, viajar virou um inferno. Antes a gente começava a aproveitar a viagem na hora que saia de casa. Depois de checar mentalmente se não tinha esquecido o carregador de celular, o maiô, a roupa de cama, tudo era só alegria. Agora, sei lá o que houve que não dá mais pra relaxar um minuto até você chegar no seu destino. O drama começa na marginal.
- Então, eu queria comentar que...
- Pera, Lúcia. Me ajuda aqui. Em que marginal a gente tá? Na pista dos 50, dos 60 ou dos 70 por hora?
- Sei lá, num dá pra ver. Vai a cinquenta pra garantir.
- Cinquenta é insano. Olha. Parece que a gente tá de ré.
- Cuidado, olha a placa dessa alça. Aqui é 40.
- Quarenta? Fodeu.
- Quer que eu coloque o Waze? – sugiro.
- Será que precisa?
- Talvez – respondo - É sempre é melhor colocar, porque o Waze avisa o radar, e vai que a gente erra a saída, sabe como é, a marginal é uma zona.
- Então é melhor diminuir a música, Lúcia. Senão a gente não ouve a mulher do Waze.
- Tem razão – resolvo, resignada – Vamos então colocar esse maldito ser, essa criatura wazeana aqui nesse carro. Mas ela tem que ficar falando a viagem toda? Eu queria ouvir música.
- Podemos conversar. Se ela falar a gente espera um pouco.
- Ótimo, eu tenho uma coisa super engraçada pra contar de ontem que...
- Peraí, desculpa te interromper, Lúcia. Eu vi uma placa de 90. Aqui não era 110?
“Radar reportado a frente” – fala a chata do Wase.
- Ai meu Deus, será que esse radar é de 90 ou de 110? Sei lá, reduz, reduz! – imploro, aflita.
- Pronto, Lúcia, tudo certo.
- A chata podia ajudar nesse lance da velocidade também, né? Bom, então – continuo, animada - Como eu estava dizendo...
“Em doze minutos pegue o acesso à direita e mantenha-se a esquerda”.
- Pera. Que foi que ela disse?
- Eu disse que...
- Não você, Lúcia, tou falando dela, a mulher do Waze.
- Não prestei atenção. Não dá pra ela repetir?
- Não.
- Então é melhor a gente não conversar tanto – concluo - Senão a gente erra a saída. Ai, cuidado, aqui é noventa!
- Mas eu preciso ultrapassar esse filho da puta desse caminhão!
“Radar reportado a frente. Cuidado veículo parado no acostamento”.
- Chega. Vamos desistir de falar também? – bufo, irritada com a chata do Waze – Parece que ela não quer que a gente converse também, fica interrompendo, um saco.
- Nossa. Que inferno esse Waze.
Ou seja, se “ela” fosse humana e honesta, diria: “Oi meu nome é ‘Mulher do waze’. Em duzentos metros você chegará ao seu destino. Consegui estragar toda a sua viagem, mas ao menos você não levou multa e nem errou o caminho”. E daria uma risada de bruxa má no final.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

parabéns frankinha!!!



Tem umas coincidências muito loucas na vida. Sério. Acabou de acontecer uma agorinha e tive até um arrepio.
Tava aqui escrevendo como é morar em cima de mim mesma, lembrando da época que era menina e morava num prédio na Haddock Lobo. Nessa época, eu deitava na cama e pensava quantas pessoas estavam dormindo em cima de mim. Quantas pessoas estavam dormindo em baixo de mim. Quando eu almoçava, pensava quantas pessoas almoçavam em cima de mim. Em baixo de mim. Quando tomava banho, pensava em quantos chuveiros tinha em cima de mim. Em baixo de mim. Por ai. Eu me lembro que quando entendi aquela verticalidade repetida, eu, menina de tudo, fiquei assustadíssima. Já agora eu moro em cima de mim mesma, num sobrado, e me imagino em duplicidade, eu dormindo em cima de eu mesma escrevendo, eu no quarto do João em cima de mim mesma vendo TV, era algo assim que eu escrevia.
Foi quando tive um clic. Clic. “Ora bolas, mas já escrevi sobre isso no blog”, lembrei. “Crônica repetida e requentada não pode, Dona Lúcia”, eu me disse, me dando uma bronca.
Resolvi vir aqui pro “frankamente...” e checar se já tinha a crônica, para não fazer repeteco. Lá fui eu procurar, e realmente já falei disso (http://frankamente.blogspot.com.br/…/…/dentro-dos-canos.html).
Mas sem querer descobri que hoje, justamente hoje, dia 27 de agosto, é o aniversário do meu bom e velho blog. Parabéns querido “frankamente...”! Eba, você tem 11 anos de vida, está com saúde e vivo! Muitas felicidades querido blog, pra você e pra frankinha, um beijo grande da Lúcia Carvalho do Facebook.
E olha eu em duplicidade falando de mim mesma como se eu fosse duas. Hahaha.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

pobres formiguinhas, pobre frankinha

Gosto de andar na grama. Dizem que o certo é isso, que andar ou correr na grama é melhor do que no asfalto para amortecer a pisada. Então, nas minhas caminhadas diárias, ando sempre pelas gramas do parque, pensando na vida e distraída pra burro. Acho até que a trilha da grama quem fez fui eu. Mas hoje eu notei que nessas horas eu faço uma coisa horrível, assustadora, assombrosa, e nem percebo. Uma coisa mínima, que quando analisei a fundo, fiquei apavorada comigo mesma.
Gente, eu destruo sem dó todas as trilhas de formigas que cruzam meu caminho. E pior, faço completamente por querer e de propósito. Sou literalmente uma serial killer de formigas, porque a coisa é recorrente. Lá estão elas, todas organizadamente em fila na graminha sulcada, na maior labuta, sem a menor noção do perigo que correm. E eu, giganta, monstra, todo dia, absorta nos meus bons pensamentos, vou lá e choft. Choft mesmo. Piso em cima, e pra destruir até chuto a fila para estragar de vez a carreira delas. E não é só com uma trilha, são to-das. E pior ainda, quando erro a pisada e não consigo aniquilar pelo menos umas dez criaturas, eu volto para finalizar a matança e fazer as coitadas perderem o rumo. E confesso: ah, como é gostoso. Que prazer que sinto.
É bem estranho notar em mim esse meu comportamento tão animal. Bom, eu mato lesma, abelha e vespa, afinal eles entram na minha casa, e pra isso acho que tenho um motivo lógico. Mas as formigas do parque eu mato sem razão nenhuma, provavelmente só para mostrar à elas minha superioridade de humana na grama. Se é que elas entendem o que é um ser superior, não tenho ideia do tamanho do cérebro de uma formiga. Mas talvez eu faça bem à elas. Talvez elas aprendam que existem terríveis predadores na terra e fiquem mais atentas. Talvez a próxima geração das formigas do parque aprenda a não fazer mais trilhas na pistinha. Ou talvez eu aprenda algo com isso. Afinal, eu, como elas, estou numa pistinha de grama, andando em fila com outros e...
Nossa, as coisas que eu escrevo.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

zigzag

Cruzei de novo com o carteiro da minha rua, que é meu amigo, o Roldão. E só hoje me toquei que o cara anda todo dia, o tempo todo, em zigzag. Entrega uma carta no lado ímpar, atravessa a rua, entrega a do lado par, atravessa de novo, vai pro lado ímpar, rua, par, rua, ímpar, rua, par, rua, ímpar. Bem, ele poderia separar todas as cartas do lado ímpar da rua, entregar, e depois voltar para o lado par e entregar em ordem decrescente. Mas talvez não seja ele que coloque as cartas da ordem, e a coisa de entregar na volta bagunce a pilha toda. Fiquei me perguntando se ziguezaguear é uma norma trabalhista obrigatória ou se andar em zigzag é uma escolha pessoal de cada carteiro. Ou se é mais fácil nas ruas sem muito trânsito. Só sei que deve ser uma loucura andar o dia todo em zigzag, rodando no mesmo lugar. Talvez Roldão nem seja o nome dele de verdade, pensando bem, deve ser um apelido para os carteiros que rodam em espiral para entregar cartas. E imagina a alegria que ele deve sentir na hora que acaba o trabalho e ele pode andar em linha reta. 

nhic, nhic, nhic

Ontem, na hora sair, acabei escolhendo a mesma roupa de sempre. Escolhi, pesquisei, avaliei uma, outra, até que novas, até que bacanas, mas que não uso nunca. É que, repara, a gente sempre tem umas roupas que tem um defeitinho que incomoda, a gente implica, não usa e demora pra jogar fora, porque sempre acha que pode dar um jeito. Por exemplo, eu tenho um tênis que é muito confortável. Mas quando coloco e ando, ele faz um barulhinho. É um mini barulhinho, uma coisa mínima, mas o barulhinho tá lá. Nhic. Nhic. Nos dois pés. Nhic. Na rua a gente não percebe, mas em casa sim. Nhic. Sempre que coloco aquele tênis, desisto no quinto degrau da escada, nhic, nhic, nhic, nhic, nhic, não, não vai dar, não vou aguentar ouvir esse gemido o dia todo. Outro exemplo: tenho uma calça ótima, jins, nova, sem furo em tudo quanto é lugar, que me cabe perfeitamente. Sempre me lembro dela, visto, mas uns cinco minutos depois lembro que ela não é legal comigo. A costura da cintura pinica. Não, não vai dar, avalio, dali a duas horas sei que estarei toda ralada. E por ai vão meus “quase” amores pelas roupas que eu abandono, incapaz de ter por elas uma paixão total. Tem sutiã rosa que levanta quando eu coloco os braços pra cima. A camiseta que aperta minha barriga. A calcinha que entra no bumbum. A saia que gira na cintura ao longo do dia. O cinto com os furos errados. O sapato de salto que me faz torcer o pé. A malha de lã que coça no pescoço. Roupa fica pertinho demais, é convivência íntima. É como conviver com gente. Por mais tolerância que a gente tenha, as vezes não dá liga. Gente que pinica, que geme demais, que me faz sentir gorda, que me dá incômodo, que me faz cair, que me confunde, por mais que tente, não consigo conviver. Pessoas, assim como roupas, tem que ser confortáveis.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

as dez palavras mundiais

- Eu falo muito mal inglês, francês, espanhol, mas isso não é problema pra mim – disse minha irmã – Aliás, eu consigo me virar em qualquer país porque tenho um... truque.
- Truque? Como assim, Ângela?
- Não é bem um truque, é um tipo de kit de sobrevivência. Um vocabulário de sobrevivência.
Ela explicou, muito séria.
- Você não precisa, a princípio, falar a língua. Mas tem que saber ao menos dez palavras, pra, digamos, não “morrer” no país. Sabendo essas dez, pode ir para a Inglaterra, pra Alemanha, para França, até mesmo para a China. Aprendendo as “dez palavras”.
- E quais são?
- Vê se eu não tenho razão – ela disse, contando com os dedos - As três primeiras e mais importantes são “quero”, “comer” e “beber”. Isso a gente precisa saber sempre, senão morre de fome e sede. Depois vem o famoso “quanto custa” e o “onde é”, senão babau você comer, beber ou achar de novo seu hotel, pensa, pode morrer congelado na rua. A sexta palavra é “me ajuda”, caso as anteriores não funcionem, afinal você pode falar tudo errado e ter algum problema. Em seguida, claro, “sim” e “não”, essas são essenciais, “sim” para o caso de você ser convidada para uma puta festa com tudo de graça, e “nããão” para o caso de um cara péssimo te convidar para dormir com ele. E as duas últimas são, claro, “por favor” e “obrigada”, porque se a gente não é educado não consegue nada em país nenhum. Sério. Já fiz o teste em muitos lugares e sempre deu certo.
Nossa, concordei na hora com ela e repasso aqui o kit de palavras da sobrevivência em viagens pelo mundo da minha irmã: "quero comer beber quanto custa onde é me ajuda sim não por favor obrigada". Ou, Wǒ xiǎng Chī Hē Yào huā duōshǎo qián Zài nǎlǐ Jiù jiù wǒ Shi de Bù Qǐng Xièxiè, pra quando eu for pra China. Hahaha, brigada Hermana.

o errador automático

Decidi. Eu vou tentar, mexer e fuçar até conseguir tirar essa droga de “corretor automático” do meu celular. Gente, aquilo não é um corretor. Aquilo é um errador. Alguém me explica porque os celulares, com essa tecnologia tão avançada, vem com um lance que faz você escrever errado? A porcaria do corretor me atrapalha, me envergonha e me faz gastar horas para escrever um reles "chego em dez minutos".
Eu acho que escrevo super direitinho e não preciso que ninguém me corrija. Olha só, por exemplo. Um dia me ensinaram, e nunca mais usei “há” e “atrás” na mesma frase, sei que devo escrever “há muitos anos” ou “muitos anos atrás”. Erro sim, volta e meia, os malditos “porque por que porquê por quê”, pois já me explicaram tanto que confundi, deve ser coisa da minha dilexia. Não costumo erras grafia de palavras, e, na dúvida, troco por outra.
Mas quando vou escrever um reles dum torpedo, ou um whatsapp, ou qualquer mensaginha no telefone, eu viro praticamente uma analfabeta. Não é somente o lance das palavras erradas, como já falei aqui. O que me irrita é que o errador me faz escrever a gramática toda errada. Os plurais errados. As conjugações erradas dos verbos. O gênero errado. Tudo fica mal escrito, pareço uma criancinha de pré primário, um estrangeiro que não sabe português ou um torpedo de índio.
Lá vou eu. Alguém sabe como eu tiro isso?

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

nana nenê

Hoje que me toquei que a gente trata os celulares da gente feito uns bebês. Pensa se não é idêntico. Todo dia a gente dá comidinha na bateria deles e depois os colocamos pra dormir no carregadores quentinhos, sempre do nosso lado. A gente anda grudado neles o dia todo, leva pra todo lugar que vai, porque se eles chorarem a gente precisa estar por perto. A gente passeia com os celulares com o maior cuidado, pra eles não riscarem e não baterem em nada. Quando, sem querer, eles caem no chão a gente se apavora, e, se eles se machucam ou ficam doentes, a gente corre e leva no médico. Compramos roupinhas coloridas e acessórios. Enchemos os nossos bebês de brinquedinhos pra nos divertir com eles, toda hora brincamos um pouco até que eles se cansem. As vezes somos pais desleixados, esquecemos nossos nenês em casa sozinhos, nos sentimos super mal. Quantas vezes a gente não volta pra busca-los, e que alívio que dá tê-los novamente ao lado. Compramos cadeirinhas para andar com eles no carro. De quando em quando, ligamos a tela só para ver se ele ainda respira, ou se precisa de alguma coisa. Sussuramos nossos segredos para ele, colocamos dentro deles os melhor de nós. Ensinamos eles a falar, a cantar, a sorrir. E como é triste quando eles são sequestrados ou, pior, se eles morrem. Tou olhando pro meu aqui do lado. Cadê o androidezinho bunitinho da mamãe? Cadê? 

outros muros

Já que estou ainda no meio da pintura do muro lateral daqui de casa, como contei uns dias atrás, tenho reparado muito neles. Hoje, mais uma vez, fui andar no parque. E percebi como estou rodeada deles, os muros, em todos os sentidos. Primeiro que para chegar no parque ando 3 quarteirões cheios de muros verdadeiros e altíssimos, com cercas elétricas, portões com alta velocidade de fechamento – que parecem guilhotinas - e câmeras que acendem uns puta holofotes quando você passa. E, por causa deles, fica impossível saber o que acontece dentro de qualquer uma das casas. Nem se existe gente mesmo lá dentro, o que me intriga.
É que sou uma pessoa que adora fazer amigos, e nesse bairro é quase impossível. Ando pela rua sempre pensando, “será que dentro dessa casa não tem um vizinho legal?”, ou “bem que eu podia conhecer as pessoas atrás desse muro e chamá-las pra jantar”, ou “bem que alguém dai de dentro podia ir no parque comigo”, mas não sei nem como é a cara do meu vizinho de frente. Consigo, no máximo, ficar amiga das moças que varrem a rua, dos guardinhas, do cara que conserta a calçada, do segurança da escola.
Dai no parque, a mesma coisa. Sempre chego e me animo “oba, é hoje que vou fazer amigos”, mas nunca dá muito certo. O povo do parque também se isola, a metade fechado em si com seus iphones de ouvido, a outra metade com seu personal, o resto falando no telefone, ou seja, entre todos e eu sempre tem um tipo de “muro”. Acho uma loucura isso. Passo mais de uma hora na rua e no parque, e não converso com viva alma, quase todo dia.
Ô mundo murado esquisito para uma pessoa tagarela como eu.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

o muro

O muro estava todo descascando, feito cobra descamando. O lugar que a gente mais fica aqui em casa é na copa, e a janela da copa dá justamente para aquele muro, com a caiação velha e despencada. Eu precisava dar um jeito, mas como nunca sobra grana para chamar o pintor, a coisa piorava cada dia mais.
Uma vez alguém comentou comigo que caiar é uma coisa super simples, barata e que rende muito. Aproveitei que meu filho topou ajudar, vi uns tutoriais no Youtube e sai as compras sábado de manhã. Cal, cola, pó xadrex, brochas. Eu e ele, animadíssimos, raspamos a tinta velha, fizemos a meleca – porque a tinta é meio uma gosma, parecida com uma sopa de tomates, digamos – e partimos para a pintura. Naquela super disposição, mandando ver na brocha primeiro na horizontal, depois na vertical. Direita, esquerda, lá em cima, lá em baixo. Avançamos meio muro, paramos para almoçar, eu pronta para reiniciar os trabalhos depois da louça, quando... quando...
Gente, começou a doer tudo. Fazer ginástica todo dia não adianta pra nada, pensei, parecia que tinha passado um caminhão em cima de mim. Ou melhor, parecia que o meu muro tinha caído em cima de mim. Hahaha. O esforço que na minha animação passou batido, aquela coisa de mandar ver o pincelzão pesado de cal de cima pra baixo acabou comigo. Nossa, que dor, que desastre corporal. Com muito esforço, depois do almoço e sem lavar porcaria de louça nenhuma, consegui chegar até a cama, onde despenquei, moída e arrebentada. Socorro, dolorida até hoje. Pior que ainda falta meio muro, sei que preciso acabar, mas talvez, depois do muro, quem despenque de vez sou eu.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

hahaha

 Já percebeu que a gente ri diferente no Whatsapp? – um amigo comentou comigo – Eu e você?
- Como assim – estranhei – A gente ri do quê?
- Não interessa “do que” – ele explicou – Estou falando “de como” a gente ri na hora que escreve. Você sempre ri “hahaha”, e eu sempre rio “rsrsrs”.
- Ah, é verdade... – concordei – Há tempos que eu optei pelo “Hahaha”, e desde então sempre uso o “Hahaha” tanto nas mensagens como nos textos. Foi uma questão de escolha minha, eu acho.
- Hoje em dia existem muitos tipos de risada – ele seguiu no raciocínio – Além dos nossos risos, tem também o “kkkkk”, que é muito usado. Louco né?
Gente, realmente isso é muito doido. Porque se a gente pensar bem, existiu um dia, há pouco tempo atrás, que todos nós, inconscientemente, escolhemos uma “risada escrita”, que usamos até hoje. Quando apenas escrevíamos cartas, não me recordo de usar nenhum termo parecido – você tinha que explicar muito cuidadosamente o tom do texto, a história, o fato, sei lá, para o leitor achar alguma graça. Já hoje basta começar com um “kkkkk” ou “hahaha” que a pessoa já sabe que você tá rindo ao escrever.
Muito difícil para mim, por exemplo, que uso o “hahaha”, usar o “kkkkk”. Quase impossível, pois além do seu sorridente cérebro nem lembrar do “kkkkk”, nem tem essa risada no cérebro do corretor automático do seu telefone. Aliás, eu, que sou da turma do “hahaha”, também costumo usar umas variantes, como “hehehe”, quando quero dar uma de espertinha, ou “hihihi”, quando estou tirando um certo sarro do que eu mesma falo. Já as pessoas que usam o “rsrsrs” também usam o “risos” quando querem, de um certo modo, mostrar que gostam muuuito da piada alheia. E, ainda nessa linha de raciocínio, penso que a turma do “kkkkk” é bem mais limitada na demonstração do tipo de risada, pois só conseguem – e olhe lá, é raríssimo – variar para “kakakakaka”, o que, no final das contas, quer dizer a mesma coisa usando mais letras.
- Mas isso é só aqui no Brasil, eu acho – esse amigo ainda notou.
- Como assim?
- Eu tenho uma amiga espanhola que ri “jajaja”. Como será a risada na comunicação digital no Japão? Na Alemanha? Na França? Meu Deus!...
Hahaha, gente. Sei lá. Será que o google sabe?