Ontem, na hora sair, acabei escolhendo a mesma roupa de sempre. Escolhi, pesquisei, avaliei uma, outra, até que novas, até que bacanas, mas que não uso nunca. É que, repara, a gente sempre tem umas roupas que tem um defeitinho que incomoda, a gente implica, não usa e demora pra jogar fora, porque sempre acha que pode dar um jeito. Por exemplo, eu tenho um tênis que é muito confortável. Mas quando coloco e ando, ele faz um barulhinho. É um mini barulhinho, uma coisa mínima, mas o barulhinho tá lá. Nhic. Nhic. Nos dois pés. Nhic. Na rua a gente não percebe, mas em casa sim. Nhic. Sempre que coloco aquele tênis, desisto no quinto degrau da escada, nhic, nhic, nhic, nhic, nhic, não, não vai dar, não vou aguentar ouvir esse gemido o dia todo. Outro exemplo: tenho uma calça ótima, jins, nova, sem furo em tudo quanto é lugar, que me cabe perfeitamente. Sempre me lembro dela, visto, mas uns cinco minutos depois lembro que ela não é legal comigo. A costura da cintura pinica. Não, não vai dar, avalio, dali a duas horas sei que estarei toda ralada. E por ai vão meus “quase” amores pelas roupas que eu abandono, incapaz de ter por elas uma paixão total. Tem sutiã rosa que levanta quando eu coloco os braços pra cima. A camiseta que aperta minha barriga. A calcinha que entra no bumbum. A saia que gira na cintura ao longo do dia. O cinto com os furos errados. O sapato de salto que me faz torcer o pé. A malha de lã que coça no pescoço. Roupa fica pertinho demais, é convivência íntima. É como conviver com gente. Por mais tolerância que a gente tenha, as vezes não dá liga. Gente que pinica, que geme demais, que me faz sentir gorda, que me dá incômodo, que me faz cair, que me confunde, por mais que tente, não consigo conviver. Pessoas, assim como roupas, tem que ser confortáveis.
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