sexta-feira, 30 de novembro de 2007

franka e as miniluzinhas


Ó eu na revista Morar, da Revista da Folha, da Folha de São Paulo de hoje, implicando com as luzinhas de natal. Basta clicar na imagem para ler. E - super bacana - de novo estou fazendo dobradinha com o Jayme do Dito Assim, que escreveu sobre um passeio à pé pelo Minhocão, na página 106.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

caminho


Sete horas da noite, do Alto de Pinheiros até Vila Nova Conceição, com um pitistopi rápido para deixar meu sobrinho no Butantã. A marginal paradona.
- Mãe, posso tirar do rádio e ouvir um disco meu?
- Pode, João. De quem é?
- Tupac. O 2pac.
- Sei. Aquele que morreu.
Trânsito parado. O rapper cantando.
- Mãe, sabia que dizem que o Tupac não morreu não?
- Como assim?
- Olha essa música, bom, não é música, é uma fala dele. Ele fala coisas esquisitas. E foi um pouco antes de morrer.
- Ou de 'não morrer'.
- Parecia que ele sabia que ia morrer. Ou que ia fingir que ia morrer. Dizem que ele preparou tudo pra morte dele. E deu até dicas.
Impressionante o trânsito de São Paulo e a paciência que temos com ele.
- Entendeu essa letra, mãe? Ouviu?
- Não.
- Ele canta pra mãe dele. É demais. Você tem que aprender inglês, mãe. Nossa. Já pensou se ele tá vivo?
Não havia outro caminho a não ser a marginal.
- Dizem que cremaram ele direto, rapidinho. Sem autópsia. Mas tiraram fotos antes, e contam que as tatuagens não eram as certas, não eram as que ele tinha. Estranho. Mas como cremaram o cara, agora não dá pra saber.
- Sei.
Muito caminhão, caminhão atrapalha muito.
- Ele era aficcionado pelo número sete. Diziam que ele ia aparecer de novo do dia sete de sete de dois mil e sete. Eu fiquei esperando o dia todo. Ali, procurando na internet.
- E nada dele.
- Nada. Tudo tinha sete nas coisas dele. Sete, sete, sete.
- Igual ao Elvis. Dizem que o Elvis não morreu também, filho.
- Sério? Ele foi cremado também?
- Sei lá, João.
Pára, anda, pára, anda, pára, anda.
- Olha, filho. Estão subindo ali naquele prédio uma placa enorme de concreto pertinho do vidro.
- Uau. Posso tirar uma foto com tua máquina, mãe?
- Pode.
- Vou tirar uma artística. Sou bom nisso.
Acabou o disco um, ele colocou o disco dois. Chegamos no túnel um da Juscelino.
- Estamos chegando?
- Médio, filho. Tá perto.
- Essa música é demais, mãe, vou aumentar pra você. Essa um é rap-de-mãe. Ouve.
- Ele canta em cima de uma música antiga, né?
- Você conhece? É da sua época?
- É.
Chegamos no médico. Uma hora e vinte no carro, dois discos do Tupac. Impressionante essa nossa São Paulo.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

lobotomia telefônica



Estava falando com um pintor no telefone. Lá fora começou a maior chuva.
- Péra que eu vou fechar a janela - eu disse.
Voltei e continuei a falar.
- Então, como eu dizia, o seu orçamento inicial era de.
Cabrummm.
Gente, que horror. Assim, sem mais nem menos, estourou um raio em cima da minha cabeça, veio um pá na minha orelha e eu berrei, louca, histérica.
- Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!
Joguei o telefone longe, histérica, e corri pra cozinha tremendo toda. Dei de cara com a Maria. Ela me olhou assustada.
- Lucia, o que foi?
- Água, água... levei um choque ai... socorro...
Ela me deu água com açúcar, eu toda arrepiada. Absurdo. Passou um tempo, parei de tremer, melhorei. Voltei a trabalhar. Esqueci completamente do telefone. Sei lá como o telefone foi parar no gancho de novo, não me lembro.
No dia seguinte o pintor, de quem também me esqueci completamente, me liga.
- Alô? Lúcia?
- Oi... Vicente...?
- Lúcia, o que houve ontem? Fiquei preocupado, você berrou feito louca, depois caiu a linha...
Nossa, esqueci do cara, da conversa, do assunto...
Sério, esse negócio de choque é perigoso demais, gente. Dá umas putis amnésias. Vi outro dia um episódio do House onde eles apagaram a memória de um cara para ele poder viver. Aconteceu isso comigo, meu Deus. O choque apagou um pedaço da minha cachola. Fez a maior maravalha dentro do meu cérebro.
Eu, hein. Será que apagou mais alguma coisa? Não lembro.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

pequenas observações sobre mulheres

Estávamos no supermercado, eu e elas, e Drake, comprando cervejas para tomar em casa no final de semana. Eu nem levei bolsa, portanto na hora de pagar me fiz de morta. A Drake se adiantou, remexeu na bolsa dela, tirou a carteira, abriu em cima da esteira do super, pegou um cartão e deu pra mulher.
- Débito ou crédito?
Detesto essa pergunta, quantas milhões de vezes a gente tem que responder isso na vida? Mas débitos e créditos não vem ao caso, a observação é outra. A questão é que a Drake abriu a carteira, entregou o cartão respondendo sei-lá-o-quê pra caixa e deixou a carteira dela lá na esteirinha toda abertona.
- Olha a carteira da Drake, Franka - disse a Bê.
- Nossa. Drake, fecha essa carteira, vai.
- Como assim?
Eu e a Bê vimos uma coisa que ela não estava reparando. A Bê falou sério com ela.
- Drake, não pode deixar a carteira assim, aberta, escancarada, em público.
- Não pode? Que teoria é essa?
- Claro que não pode, a Bê tem razão, Drake - eu me adiantei - é meio feio sim.
- Feio? - ela riu.
- Sei lá - disse a Bê - mulheres em geral não deixam as carteiras abertas, soltas assim. Mulheres abrem a carteira um pouquinho, discretamente, pegam o cartão ou o dinheiro e imediatamente fecham. Esquisito deixar assim, aberta. Super indecente. Fechaí, Drake.
A Drake não mexeu na carteira. Franziu a testa e ficou parada, pensando no assunto. Ficamos todas olhando para a carteira enquanto a mulher do caixa manipulava o cartão. Totalmente de pernas abertas em público, com todas as entranhas à mostra: cartões de banco, cartões de visita, caneta, talão, papelzinhos.
- Ah. Exagero. Não é feio deixar assim, gente - ela avaliou - por que seria feio mostrar a parte de dentro da carteira?
- Não sei - eu disse.
- Também não sei bem - disse a Bê - mas a minha eu sempre fecho.
Mas Drake faz só o que quer. Não mexeu nela até a moça devolver o cartão, enquanto eu e a Bê olhavamos tensas e aflitas para aquilo.
- Nossa, como ela é corajosa - conclui, cochichando para a Bê - um dia será que vamos conseguir fazer o mesmo?

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

off na orelha pode?

franka cara de abacate (uma imagem totalmente off-post, hahaha)


Nossa. Tem pernilongo demais. Um inferno. Na verdade, sempre tivemos esse problema aqui em casa nessa época do ano, dizem que por causa do rio Pinheiros. Já escrevi sobre isso milhares de vezes aqui no blog, já contei minhas peripécias na minha eterna luta contra eles, seja com tapas, inseticidas, raquetinhas, tapetes de banheiro, aparelhinhos de tomada e aparelhos de barulho. Nada resolve. No ano passado, resolvi tentar ignorar o fato. Ora, querem me picar? Piquem. Descobri que se conseguirmos não coçar na hora não incomoda, basta ter força de vontade por uns 10 minutos. Mas sinceramente, o que mais incomoda não é a coceira e sim o zunido. O zunido enche o saco, outro dia até tentei, inutilmente, dormir com um tampão de ouvido.
Ontem a noite o Zé apareceu na minha frente com o frasco de Off.
- Lú. Ajuda aqui.
- O que foi?
- Vou tapar o ouvido com o dedo e você encharca a minha orelha de Off. Só não deixa entrar dentro.
- Hã?
- É, vou passar Off só na orelha. Se eu não ouvir, durmo bem, podem me picar a vontade.
- Será que pode, Zé?
- Sei lá. Vou tentar. Se pode passar no pé, porque não pode passar na orelha? Vai, toma. Faça o mesmo você também.
Olha, gente. Se faz bem ou mal pra orelha eu não sei. Muito bem não deve fazer, óbvio, mas dormi totalmente em paz, sem zunidos. E é super econômico.

domingo, 25 de novembro de 2007

os meus santinhos


Arrumei o escritório essa semana. Ainda não consegui me livrar de muitas das coisas que entulhei aqui ao longo dos anos, principalmente as coisas que entulhei por motivos não profissionais, mas sinto que é hora de parar de olhar para trás. O que não significa, claro, jogar fora. Apenas tirar da frente. E o que olhar agora?, pensei ontem. Olhar? Não ando com vontade de olhar para nada. Vou mudar, resolvi. Agora vou ser olhada. Eles que olhem por mim. Os meus santinhos. Coloquei-os exatamente aqui na frente: a Santa Luzia, o Anjo da Guarda e os três soldadinhos. Já o São Benedito fica na outra mesa, também olhando de longe. Tou bem protegida, eu acho.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

o farol e a lua


Farol fechado e lua aberta. Nem sempre a luz vermelha é pra gente. Penso na necessidade de selecionar o que se quer ver. Os finais de tarde aqui perto de casa tem sido lindos e eu pouco reparo neles. Quando era criança passava horas deitada olhando as nuvens rodando em cima de mim. O céu é como a literatura. Se você pintá-los, ninguém acreditará. A maluquice das imagens é pura realidade. Hoje, confusa, preciso de coisas que existem. Sempre achei que homens e mulheres eram a mesma coisa. Não é bem assim. As ruas e avenidas são as mesmas. Mas existem faróis diferentes para ambos.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

parabéns, papai


Ontem foi aniversário do meu pai. Ele, se estivesse vivo, faria 80 anos, pois nasceu em 1927. Oitenta anos é um número legal, lindo uma pessoa fazer oitenta anos, tudo bem que meu pai está morto, mas achei que deveria fazer uma homenagem e levar umas flores no seu túmulo. Estava em falta com ele, não fui em finados. Convoquei minha mãe.
- Mãe, quer ir?
Fomos na hora do almoço, eu e ela. Compramos um vasinho, ganhamos uma rosa vermelha do vendedor e entramos no cemitério vazio. Depois de uma reforma, transferiram o túmulo do papai para outro lugar, na minha opinião bem melhor localizado do que o anterior, mas eu e minha mãe sempre demoramos horas para encontrar, perdidas no meio de tantas ruas e "casas".
- Ali.
Encontramos. Rezamos, cantei parabéns baixinho, coloquei o vazinho em cima da lápide e sentamos no túmulo da frente, olhando para o já tão conhecido túmulo da família do papai. Afinal ele morreu há 33 anos.
- Filha...
- Oi, mãe.
- Meu Deus, morreu alguém. Olha, tem uma plaquinha a mais.
- Nossa.
- Veja se é sua avó.
- A vovó? - eu me adiantei para ler - não, mãe. É outra mulher. A vovó foi cremada, lembra-se?
Ela se indignou.
- Como assim, outra mulher? E que mulher é essa? Como a família do teu pai coloca outra mulher ao lado do seu pai e nem me avisa?
- Mãe...
- Que mulher é essa? Que esquisito. Não tem nenhum nome da família, olha - e ela abriu a bolsa, irritada.
- Vai fazer o que, mãe?
- Ora. Anotar o nome dessa fulana pra descobrir quem é, ora. Como vou deixar seu pai com uma mulher desconhecida aí dentro assim sem mais nem menos? - e ela me passou a anotar num papel o nome e os dados daquela ex-pessoa enquanto olhava a plaquinha, intrigada.
- Que coisa estranha, estranha... - ela dizia.
- Mãe, ela está morta. A mulher.
- Ué, seu pai também. E daí?
Anotei. Fiz as contas.
- Mãe, ela é mais velha que o papai.
- Sério? Quantos anos?
- Aqui mostra oitenta e quatro anos e...
Ela deu um longo suspiro. Sorriu pra mim.
- Ufa! Oitenta e quatro?
- Ufa?
Ela pegou os óculos na bolsa e examinou, confirmando.
- Ufa mesmo, que alívio, filha... - e explicou, toda orgulhosa - Sabe, seu pai jamais daria bola para ela. Ele gostava de mocinhas mais novas. Assim, como eu.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

o presente do guga


No dia do meu aniversário, ganhei um puta presente do Guga. Um quadro dele.
- Que demais, Guga. Uma pintura sua! - exclamei, feliz.
Mas era aniversário, aquele monte de gente chegando e eu cumprimentando, não tive tempo naquele momento de conversar mais com ele sobre o presente. Na hora dele i embora, ele me chamou num canto.
- Franka.
- Oi Guga.
- Sabe o presente que te dei? Está dentro daquela pintura. Aquilo é uma capa, um papel do presente. O presente está dentro.
- Como assim? Mas a capa é linda. Tem até uma pedrinha coração colada nela. Sério?
- Eu sei. Mas é só uma capa, uma embalagem. A pintura está dentro. Depois você abre.
A questão, gente, é que já se passaram mais de 3 semanas do meu aniversário e eu não abri ainda o presente. Eu olho e olho o "quadro embalagem", o "quadro casulo", e não consigo ir além. Fico nessa: abro ou não abro? A idéia de que ali dentro tem um quadro do Guga que eu não sei qual é super emocionante pra mim. Não se se me faço entender. Não abri, ninguém se conforma com isso, mas tenho a sensação que algumas coisas precisam sim de um tempo para nascerem. Feito uma semente, feito as sementes que a e ele tanto gostam. O quadro ainda é casulo. Uma hora nasce. O que será que vai surgir?

domingo, 18 de novembro de 2007

hortifrutibuster


Sabadão, depois da tradicional feijoada decadente num restaurante aqui perto de casa - a ordem das palavras é essa mesma - passamos em frente à Blockbuster do bairro para pegar um filme. Não, minto, explico melhor. Passamos para comprar a terceira temporada do seriado do House, todo mundo aqui em casa é viciado nesse seriado, e gostamos de ter para rever diversas vezes. Compramos poucos DVDs, preferimos alugar, o House é uma excessão. Foi quando demos de cara com uma nova locadora, toda reformada. Uau.
Encontramos um casal amigo na porta, eles estavam indignados.
- Olhem! Isso aqui virou um supermercado. Tem roupa, comida e até celular!
Era verdade. A locadora se transformou num lugar cheio de gôndolas, cheio de coisas para vender, principalemente comida tréchi total. Sabe aquelas comidas que você não deve comer e nem dar para os seus filhos nunca jamais? Aquelas que obviamente fazem mal à saúde, que aumentam o colesterol, que engordam, trololololó? Elas. E lááá no fundo, lá no fundo mesmo, os filmes. Apertadinhos depois das porcarias.
Super esquisito. Parece que uma loja comprou a locadora, explicou meu amigo. Tá, tá, mas o que tem a ver uma coisa com outra? Façam duas lojas então, ué? Em primeiro lugar, quem compra celular e brinquedo em locadora? Não são compras de impulso, eu creio. Mas estavam lá. Já quanto as comidas, eu fico mais uma vez muito, mas muito intrigada. Gente do céu, porque "ver filmes" tem a ver com "comer bobajada"? A cada dia mais os cinemas vendem coisas barulhentas e inúteis para você enfiar goela abaixo durante os filmes - e atrapalhar os outros - e agora essa moda parece que invade... a sua casa. Será possível que um ser humano não consegue ficar duas horas sem ingerir alguma coisa? E porque ingerir porcarias inúteis durante um filme? Isso é lá, por acaso, um tipo de divertimento associado, comer inutilidades e assistir filmes?
Bom, comer é gostoso, ver filmes também. O que me intriga é que ninguém tenha pensado em fazer algo diferente. Supondo que os dois divertimentos, as duas formas de lazer possam ser associadas, por que não vender, então, comidas saudáveis na Blockbuster? Já que é para vender comida e alugar filmes simultaneamente, juntando duas coisas gostosas, porque não vender verduras, frutas, carnes, cereais? Estamos num bairro de classe média, os moradores são pessoas instruídas, preocupadas com a saúde, que pagam academias e personal-treiners. Juro que não entendo o porquê das porcarias. Seria o máximo alugar um filme bacana e voltar para casa com cenouras, uvas e maçãs. Um hortifrutibuster seria demais.

sábado, 17 de novembro de 2007

quantos anos fez a naninha?


Ontem foi o aniversário da Nana, minha filha do meio. Ela quase nasceu no feriado, no dia 15, e quando eu estava grávida a família torceu muito para isso. Dia 15 de novembro era aniversário do meu avô, que tinha morrido uns anos anos e que, por causa disso, se chamava "Benjamin Constant". Dr. Benjamin, pois era médico. Mas o trabalho de parto demorou e ela acabou nascendo à uma da manhã do dia 16.
Assim, todo ano, obviamente, o aniversário dela "cai" no meio do feriado, e ela nunca pôde dar uma festa no dia certo.
Ontem, depois de um almoço de família, com avós, tios e primos, ela pergunta se pode chamar uns amigos no fim da tarde para um bolo.
- Claro - respondo.
- Mas serão poucos, mãe, cê sabe, é feriado, será uma turma até meio disparatada, pois são as pessoas "que não foram viajar"...
Achei que seriam dois ou três, mas quando vi a casa estava tomada por adolescentes espaçosos e alegres, deitados no chão e nos sofás. Depois de ficar um tempo vendo tevê no quarto, pra não "atrapalhar" a conversa deles, e depois de embromar um pouco na cozinha, fui até a casa da minha mãe pegar o tradicional bolo que ela sempre faz para os netos e propus cantarmos parabéns na copa. Foi quando lembrei das velas.
- Ixi, filha, esqueci de comprar velinhas. Vou ver se tem na gaveta umas já usadas,daquelas de números, senão vou comprar e já volto.
Sair? Não, nunca. Os garotos todos foram contra, claro, queriam cantar e comer logo. Assim, peguei uma infinidade de velas usadas que a Maria guarda na gavetinha, e eu e o João passamos a analisar.
- Ah, droga, mãe, não tem bem a que precisamos. A do último número dos anos dela
Foi quando a Nana teve a idéia.
- Não tem problema nenhum. Vamos fazer então colocar as velas que dêem uma soma. A soma dos meus anos. É uma idéia legal, e a gente faz isso se tornar uma espécie de tradição na nossa família! - e assim ela e os amigos passaram a compor.
- Essa, essa, essa e... essa. Não. Essas quatro aqui. Não, essas cinco aqui, melhor.
Resolveram, sei lá qual exatamente o critério numérico, mas colocamos no bolo e fomos cantar os parabéns. Acendi as velinhas, uma a uma, mas quando larguei o fósforo, uma delas... morreu. As velas de número tem um pavio curtinho, e como já eram usadas estavam mínimas. Depois de dois segundos, um outra se foi.
- Ai, e agora? Rápido mãe, coloca outra, vai!
Nunca tive um problema assim no parabéns. Uma soma? Era preciso pensar depressa e somar rápido, antes que outras se fossem. Ou seja, as duas que tinham que ser substituídas deveriam ter a mesma soma daquelas que morreram. Eu rapidamente pesquei na caixinha e enfiei no bolo, enquanto todos contavam para ver se eu tinha acertado. Bingo. Ufa. Já pensou se erro na soma, o vexame diante daquele monte de adolescentes-que-só-tiram-sarro-de-mãe?
- Parabéns a você, nessa data querida... Naninha, naninha!
Parabéns, filhoca. Ainda bem que você fez os anos certos.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

atenção: franka vai simaquiar

a irmã da franka e a franka numa tarde de carnaval

A primeira e a única vez que fiz uma maquiagem no rosto foi esse dia. Óbviamente sou uma ETéia (como é o feminino de ET?), porque todas as mulheres do mundo se pintam para sair. Algumas só nas festas, outras todos os dias. As mais radicais levam a maquiagem na bolsa e passam o dia retocando. Eu não. Eu sou sempre eu, a mesma.
Mas eu, etéia, sempre achei esquisito fazer isso. Se pintar? E ainda por cima no rosto, onde todo mundo vai olhar? Não é estranho, gente? Se fosse nas mãos, barriga, nuca, vá lá, mas pintar a sua... cara? A sua própria cara? Mudar o jeito que você é? Porque fazer isso?, eu sempre me perguntei. Minha mãe nunca me incentivou, dizendo que eu que devia decidir se queria ou não me pintar, e explicava que ela pouco se maquiava porque tinha olhos verdes e a maquiagem estragava o impacto que eles causavam. E sempre concluia o assunto dizendo que eu devia fazer como ela: pensar com os meus botões, pois essa era uma questão absolutamente pessoal.
Putis, que difícil. Bom, diante disso eu só tinha uma saída, uma vez que resolvi não pedir nada para a minha mãe: teria que ir atrás de alguém que me ensinasse a fazer uma "maquiagem completa" para ver se ela estragaria o impacto dos meus olhos pretos ou não. Pensei em contar o problema para uma amiga e pedir ajuda, mas quando menina eu era absurdamente tímida e nunca tive coragem de confessar essa atitude etéia para nenhuma outra mulher. O tempo passando e eu ali, desmaquiada, achando cada dia mais estranho pintar a cara feito palhaça mas lá no fundo com aquela cruel dúvida: mimaquio ou não mimaquio? Foi quando eu achei essa foto. Eu, maquiada! Olhei bem, eu bailarina-toda-fofa com esses riscos orientais nos olhos, e na hora pensei:
- Que ridícula.
Entendi. Lá estava a prova. Provavelmente foi minha mãe que fez essa maquiagem em mim e na Ângela, e, claro, para compensar a nossa falta de olhos-verdes-impactantes, acho que ela exagerou bem. O resultado, realmente, convenhamos, não é lá essas coisas, reparem bem.
- Que ridícula.
Mas isso foi há muito tempo e hoje resolvi confessar publicamente que sou uma mulher bastante frustrada por ser tão desmaquiada. Na vida a gente não pode ter problemas tão bobos e fáceis de resolver assim, céus, um dia é capaz até de eu precisar de análise por causa dessa bobagem. E assim, também publicamente, resolvi tomar coragem e pedir ajuda: alguém pode me maquiar pra eu ver se fica ridículo mesmo? Juro que posto aqui no blog o "antes" e o "depois". E, idéia (!), fazemos uma votação!
Bom. Quem se habilita a mimaquiar?

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

franka tira a sorte no pão de mel

olha a imagem que saiu para a franka no pão de mel

Minhas amigas Bê e Fran adoram coisas esotéricas, já contei uma vez. Esse lance de horóscopo, ichingui, numerologia, oráculos, ioga, mapastral, eticéteretal. Eu não acredito e nunca acreditei nessas coisas, mas juro que respeito pra burro. Ando até lendo ichingui, depois que ganhei um livro da Bê a respeito, só não sei fazer o tal do hexagrama, pois tem uma lógica confusa demais pra mim. Uma vez a Bê tentou me dar uma aula de mapastral, coitada. Desenhou um círculo, e ia colocando em volta diversos símbolos, aquela coisa de água, terra, fogo e ar, e depois mais uns outros simbolinhos. Até uma hora consegui seguir a linha de raciocínio dela, mas ela começou a explicar muito e me embananei. Depois dela falar um tempão e concluir um monte de coisas, me perguntou:
- Entendeu?
Tive que ser sincera. Eu juro que fiz esforço, pensei em não ser tão “franka”, mas achei melhor revelar a verdade.
- Não, Bê.
- Nadinha? Sério?
Nessa nossa última viagem, os esoterismos das minhas amigas foram longe pra burro. Tudo tinha um monte de significados, e no último almoço não agüentei. Aquela coisa achar significado entrou na minha cabeça e me abduziu completamente. Estávamos sentados todos numa mesa redonda, ao ar livre, sobre um piso de grama com pedras, e as cadeirinhas ficavam todas meio bambas, com os pés ora em cima da pedra, da terra ou do nada.
- A gente devia fazer uma leitura dos pés das cadeiras – sugeri, brincando.
- Pés das cadeiras? – elas estranharam.
- É, olha, parece iching, horóscopo. Temos todos quatro apoios, e cada um de um jeito: tem gente sobre a terra, outros sobre a pedra, outros sobre o ar. Isso deve significar alguma coisa para vocês.
Claro que elas levaram a sério e fizeram o esquema (elas sempre levam tudo a sério). Analisaram, analisaram, até que a Bê desistiu: não era ainda a hora de entender aquilo. O destino, o destino abriria portas um dia. Foi quando chegou o café, e junto com o café tinha um pote de pão de mel. Todo mundo avançou, e eu, empolgada em achar mais significados, vi.
O pão de mel estava meio derretido, e alguém colocou sobre um guardanapinho de papel. Quando pegou pra comer, ficou um desenho estampado no guardanapinho.
- Olhem, uma imagem! A imagem do pão de mel!
Gente, que engraçado. Foi um tal de todo mundo sortear um pão de mel para si, derreter com fogo e decalcar em papel. E os significados que elas achavam, que máximo. Um monte de dragões, peixes, cavalos, pedras, fogo, trovão, caldeirões. Passamos um tempão naquilo, entendendo as nossas vidas no pão de mel.
Nesse final de semana nos encontramos de novo. Lembramos do pão de mel na hora do café, quando a Bê serviu umas bolachas Negresco. Ela abriu uma para comer, sabe quando você descola um lado do outro? Pois bem. Ela deu um berro. Geeeente! E lá ela viu um novo oráculo. O oráculo da bolacha Negresco. E assim tiramos a sorte de novo, desta vez com bolachas. Estamos craquérrimas nessa modalidade inédita. Pensamos em reunir grupos para tanto. Alguém se habilita?

Bom. Tudo bem. A gente já foi considerada louca há muito tempo.

domingo, 4 de novembro de 2007

violência é o medo dos ideais dos outros, disse Gandhi



Sexta eu fui assistir uma peça. O Francisco, um primo meu, me fez o convite: "Lúcia, é uma peça legal, só passa às sextas, topa ir?". Óbvio que adoro um convite desses. "É a peça do Rafael da Lourdinha", ele explicou. Como se eu soubesse quem é Rafael. Como se eu soubesse quem é Lourdinha. Mas o Francisco, esse meu primo, é de Belo Horizonte. E lá sempre alguém é de alguém e não se fala mais nisso. E o primo Francisco é meio difícil de explicar como é.
Fomos então, numa turma grande, prestigiar a peça do Rafael da Lourdinha do Francisco primo da Franka no Teatro Fábrica, com a intenção de jantarmos todos juntos depois no restaurante Tordesilhas, que é ali ao lado. A peça se chama “Topografia de um desnudo”, e está em cartaz às sextas as nove e meia da noite. O texto é do Jorge Dias, direção do Hugo Villacenzio e o grupo se chama “Conexion Latina de Teatro”.
Na porta, debaixo de uma chuva maravilhosa e esperando mais amigos, o Francisco começa a me explicar a peça. Quem era o grupo, quem era o Rafael, como era a história.
- Não, Francisco, pára – eu pedi – Assim você estraga tuuudo. Não gosto de ser pautada para assistir peças. Se a peça for boa, eu gosto, se não for, não gosto. Ouvir crítica antes não pode - pedi. Só me diz que personagem que é o Rafael dessa Lourdinha.
- É o cabo.
- Tá.
Ele riu e ficou calado. E lá fomos nós para o andar de cima do teatro para ver a peça.
Olha, adorei. Muito bacana mesmo. Sem entrar em muitos detalhes pra não estragar pra quem quiser ver, a peça conta a história de um mendigos que moram num lixão e que são expulsos violentamente de lá pois pretendia-se construir um empreendimento imobiliário no local. A história é real e conta um fato ocorrido nos anos 60 no Rio de Janeiro, quando mendigos foram mortos e jogados num rio, torturados com bastante crueldade. É uma montagem bem estruturada, bacana, com ritmo e tempo certo, com bons atores e boas interpretações. Uma peça sobre a violência, dolorida sem ser piegas, com texto inteligente e boa direção. A única crítica que eu faria seria sobre a idade de alguns atores, incondizentes com a idade do personagem. Imagem é tudo, confunde um pouco. E adorei. Uma peça boa. Sabe peça "boa", que, como diz minha mãe (que vive no teatro com a turma da van), que “te prende”? Pois a peça do Rafael da Lourdinha me “prendeu”. Na saida, aguém disse que o grupo tinha esse nome pois tem atores de diversos países da América Latina, inclusive alguns com sotaque, o que no começo parece estranho mas que no decorrer da montagem passa despercebido. Por falar nisso, o Rafael da Lourdinha tinha sotaque. Não era brasileiro, o Rafael-cabo, estranhei.
Saímos de lá, o Francisco me pede para ficar no saguão com ele.
- Vamos esperar o Rafael da Lourdinha – diz – quero te apresentar para ele.
Aguardamos um tempo até que surge o Rafael. Um homem provavelmente da minha idade, simpaticíssimo, que me comprimenta efusivamente, se espanta de eu ter blog, fica curioso por eu ser arquiteta. Conversamos muito, ele pega meu email, conto que escrevo peças, blá, blá, blá, ele me conta que adora arquitetura, que já construiu diversas casas, blá, blá, blá. Eu ainda não entendendo nada. Quem é Rafael, quem é Lourdinha, porque eu vim ver essa peça. Saímos de lá com chuvisco, depois do Francisco convidar o Rafael para jantar conosco e ele recusar por algum motivo, e, andando em turma até o restaurante, o Francisco nos explica.
Olha que divertido: a Lourdinha é uma amiga dele, de Belo Horizonte. O Rafael é marido dela, tem filhas adolescentes e tal. É um executivo de uma empresa, segundo o Francisco, um grande executivo, já foi até presidente num dos diversos empregos. Um cara importante. Tem família européia, mas nasceu e cresceu na Argentina, por isso o sotaque. Veio morar no Brasil e trabalha aqui há um tempo. Como gosta de teatro, resolveu estudar. Depois de concluídos os cursos, entrou nesse grupo, a Conexion Latina. Trabalha de segunda a sexta como executivo na tal multinacional, e todas as sextas feiras à noite risca qualquer coisa da agenda e corre para encenar o seu "Cabo São Lucas". Porque gosta de teatro. Apenas porque gosta de teatro, como eu. Porque a paixão da gente está além do que a gente faz. Porque estamos numa idade onde não vale a pena a gente esperar que tudo caia diante da gente. É preciso procurar, ir atrás, investir e pular as barreiras. Segundo o Francisco, o Rafael construiu até um pequeno teatro na super linda e projetada casa dele. Mas isso eu soube depois, bem depois, só no restaurante, onde comemos um delicioso bobó de camarão. E penso que ainda bem que eu não soube antes, pois senão eu ia assistir uma peça com o Rafael, o executivo argentino, e não uma peça com o Rafael da Conexion Latina, o que foi muito mais legítimo. Me identifiquei muito com o Rafael, gente. Eu, uma arquiteta que escrevo peças. Ele, um executivo que atua. O teatro está dentro da gente. É uma sina, um destino. Não interessa quem você é.

Tirei uma foto com o Rafael da Lourdinha e com o Francisco no saguão pra vocês verem que eu não minto. Olha que simpatia que é o Rafael.



aí, ó: o rafael da lourdinha, franka e o primo francisco (obrigada, bê)