terça-feira, 27 de junho de 2006

de lá de bangu



Horrível, mas vamos lá.
Ele me ligou no celular ontem umas seis e meia da tarde, numa hora que eu estava sozinha em casa. Falava alto e rápido de um lugar muito barulhento. Se disse Tenente da Polícia Militar, "Tenente Freitaxxx", com um sotaque carioca, explicou que tinha acontecido um acidente na Marginal Pinheiros e que sei lá porque meu telefone estava no meio desse tal acidente, com uma das vítimas. Já tinha lido sobre esse golpe no jornal na semana passada, eles assustam, querem saber o nome dos seus familiares para depois extorquir grana sua dizendo que sequestraram a pessoa. Mas mesmo sabendo de tudo dá um certo medo, pois uma das coisas que gente criminosa faz muito bem é mentir e encenar, e o cara do outro lado da linha que falava comigo estava realmente acreditando naquele acidente com "diversas vítimas fatais". Gelei com a idéia. Como fiquei confusa, tentei primeiro entender como ele achou meu telefone com uma das vítimas, se foi num papel, num celular. Coisa mal contada. Ele desconversou, muito nervoso, e disse que foi o "Sargento" que mandou ele ligar. "Mas quem é que está acidentado, moço?", eu perguntei "Ora, senhora, é um monte de gente, crianças e adultos e velhos, eu quero saber se tem algum parente da senhora no meio das vítimas". "Não estou entendendo nada", eu disse, "o que te faz crer que tem um parente meu ai?". Olha, gente, eu adoro literatura e histórias, e tramas mal contadas me irritam muito, principalmente essas sem começo nem meio nem fim. Foi quando ele se denunciou e perguntou se eu tinha marido ou filhos, e eu falei que sim. O tal fulano, com a maior voz de carioca, então lascou "E que carro tem o seu filho, minha senhora?". "E que carros que tem ai, meu senhor?" perguntei, meio gaga mas firme. "Um montão", ele respondeu, "Mais de cinco, deixa eu ver, um Pegeout, uma Ecosport, um Vectra, um Corolla, um Palio (ou seja, tudo quanto é marca) e tem um preto que nem marca mais tem, e temos aqui um monte de vítimas, minha senhora vamos logo, como se chama seu filho, diga logo, como se chama o seu marido!". Mesmo sabendo, fiquei aflita. Lembrei rapidamente: o João está viajando fora do Brasil e a salvo, minha filha estava na Cultura Inglesa e a salvo. Restava saber onde estavam o Zé e o Chico. De um outro telefone da casa liguei para o Chico, que estava no cinema, ele atendeu e me xingou, ufa, tudo bem. E enquanto embromava o 'Tenente Freitaxxx' dizendo "ai meu Deus o senhor espera que tou nervosa" e ele dizia "calma, senhora, calma", liguei para o Zé, que atendeu todo animadinho. Cochichei. "Ei, tudo bem aí?". Quando ele falou "tudo", tive muita, mas muita raiva daquele cretino daquele homem na outra orelha querendo saber o nome do meu marido e do meu filho, insistindo e berrando. Desliguei. O homem tentou ligar mais um monte de vezes, acabei desligando o celular, mas fiquei nervosa e tremendo da cabeça aos pés. É truque, eles ligam da cadeira, explicou a polícia para o Zé. A minha empregada Maria tem dois filhos bombeiros, e me disse hoje que um bombeiro nunca-jamais liga para para um parente de vitíma, se ninguém aparece quando o hospital chama os bombeiros devem ir pessoalmente até a casa da vítima.
Olha que perigo que virou ter um telefone.
Mesmo assim tive tremedeira. Afinal, não é sempre que a gente fala com um bandido de verdade.
E antes que eu me esqueça, vamos lá hoje Brasil []!

Nenhum comentário: