segunda-feira, 14 de setembro de 2015

calma, franka, calma...

Já viu gente mudar de opinião? Eu mudo sempre e confesso.
Tudo começou quando mudaram a velocidade das marginais. Na primeira vez que sai de carro, para não ficar irritada, nervosa e ansiosa, evitei a Marginal Pinheiros e peguei a Faria Lima, e com ela, lá veio o maior trânsito, o que me deixou muito, mas muito mais irritada, nervosa e ansiosa.
De que adianta negar a realidade, pensei, pegando a fatídica via expressa marginal lesma no segundo dia. No começo, como todos, entrei na marginalzinha e estressei. Xinguei o tadinho do prefeito-que-eu-gosto, confesso, com aquela vontade de viciada de apertar o pé até o talo. Falei um monte sozinha na irritante marcha vagarosa, colocando o pé no breque de dez em dez segundos.
“Pô, isso é insanooo!”, “é muuuito devagar!”, “que saaaco, parece que tou de ré!”.
Semana seguinte, estressei igual nas ruas aqui perto, que viraram todas vias de cinquenta por hora e com lugares a quarenta.
Aaaaaaa!
Sessenta. Cinquenta. Quarenta. Dai o que virou um stress foi adivinhar a velocidade.
Mas adianta xingar? Adianta espernear? Não, resolvi, adotando o quarenta como velocidade padrão e que-se-dane. No primeiro dia, fiz de birra.
- Ah, é pra ser lenta? É? Então vou ser len-ta mês-mo - eu me disse sozinha no carro – vou a qua-ren-ta seus i-di-o-tas – resmunguei, bufando de desespero. Afinal, pensa gente, tirei carta aos 18 e ando na velocidade que quero nessas vias há 34 anos.
Mas adianta xingar? Adianta espernear?
- Não, vou a quarenta em tudo então - pensei, resignada na segunda semana - então vou colocar uma música. Bem lenta. Abrir o vidro. Cantar, sei lá. Respirar fundo. Relaxar. Fú, um, fú, dois, fú, um, fú, dois. Quarenta, quarenta, quarenta não dá nem pra ultrapassar, que desgraça – suspirei eu no carro.
Na terceira semana que me toquei sobre o lance da ultrapassagem. Ultrapassar era necessário quando se podia correr mais que os lentos, mas agora não faz mais sentido algum. Antigamente lá estava você na rua, e na tua frente aparecia um guincho. Você nem pensava, já pegava a esquerda de qualquer modo para não ficar atrás daquela mega tartaruga. Antes eu não aguentava um minuto atrás do guincho ou de caminhão cheio de tijolo, mas agora que eles tão na velocidade máxima que eu posso andar, que adianta reclamar deles?
Outra coisa que me irritava também mudou. Gente, eu tenho um carro popular, que é 1.0, e que às vezes não anda muito rápido, digamos. E se para mim os guinchos e caminhões eram irritantes, EU era muito irritante para carros com um super motor, que sempre colavam em mim, buzinando e dando faróis. Será que eles não sentiam agora o mesmo que eu diante do guincho?
Minha alegria master veio quando me vi na marginalzinha emparelhada com dois carros, um de cada lado, eu no meio com meu carro popular 1.0 que não anda quase nada. Do meu lado esquerdo, na mesma velocidade que eu, um puuuutis Land Rover. Do lado direito, na mesma velocidade que eu, um... caminhão de lixo. Ou seja, isso que é igualdade. Que legal, pensei, ouvindo a musica lenta e respirando fundo. Achei aquela parelha de carros um empate técnico, motoristas e carros sem diferença de classes, ops, digo, de velocímetros.
Que adianta hoje em São Paulo você ter um carro com um motor 2.0? Nada, somos todos iguais diante da velocidade permitida. Igualdade já. Nós três, eu, a mulher da Land Rover e o caminhão de lixo na mesma velocidade dizia tudo.
Hoje fui no meu psiquiatra que cuida do meu stress, e comentei com ele que a melhor coisa da redução da velocidade da cidade, melhor do que a falta de transito e a redução dos acidentes é essa. As pessoas são obrigadas a desestressar, gente. É ótimo não ter que ultrapassar, não ter que ser “o mais rápido”, é ótimo andarmos devagar. Não aguenta? Pega um metrô. Vai a pé. O prefeito tá ensinando a gente a não ser mais apressadinhos, isso é o mais importante pra nossa saúde.
Portanto, mudei de opinião. Se tem uma coisa que tou adorando é esse limite de velocidade de São Paulo que o Haddad fez. Adorando, não, mais que isso. Amando. Isso ai Haddad. Vamos acalmar o povo de São Paulo.

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