Final de semana passada fui tele transportada para uma “estação de águas”, o tipo de lugar que não vou há anos e que me lembra minhas avós. E já que estava em algum lugar do passado, resolvi tomar um daqueles banhos fedidos. Aliás, quero deixar claro que desde menina não acho que aquilo devia ser chamado de “banho”, imagina, uma coisa com aquele cheiro mais suja do que lava. Banho deixa a gente cheirosinho, não catinguento. Mas como “em Roma faça como os romanos”, porque não?, pensei.
Entrei numa sala de espera com um monte de velhinhas, esperando minha vez. Como vi que ia demorar um pouco, peguei uma revista. Chamava revista “Arraso”. Era uma publicação da região, a revista feminina “Arraso”. Rindo sozinha do nome, resolvi: “vou ler essa revista e arrasar aqui na estação de águas. Vou ar-ra-sar. Arrasa, Lúcia, arrasa”.
Bom, gente, vou contar como se arrasa numa estação de águas. Dizia a revista “Arraso” que o grande lance hoje é você ter uma “sala de banhos” na sua casa. Prestatenção. Não é mais só um bom e espaçoso banheiro que você precisa, aliás, pelo que entendi da matéria, o banheiro em si fica dentro da sala de banho, e não chama mais banheiro, e sim a “área de higiene”. É como ter uma terma romana particular em casa. O texto explicava que as "salas de banho" são um espaço de relaxamento, descanso e descontração, provavelmente a "única" coisa que vai realmente te desestressar das loucuras e da tensão do mundo moderno.
A quantidade de brinquedinhos que eles sugeriam colocar ali eram inacreditáveis. Uma mini piscina. Jardim vertical (quem rega?). Ducha de teto. Efeito cascata (não entendi do que se trata). Ducha de teto, que acho que é tipo uma chuva em cima da piscina. Aquário. Sauna. Parede de cachoeira. Fonte colorida. Cromoterapia de águas, um tipo de iluminação colorida. Área de descanso com música zen. Tenda de massagem (engraçado tenda num lugar fechado). Frigobar com bebidas leves. Espaço multimídia, com tv, wifi e computador. Tudo pra você arrasar dentro da sua sala de banho, mergulhada na sua água limpinha (a matéria não mencionava o uso das águas termais com cheiro fedido, claro).
Caraca, que mundo a gente vive? Não tá secando o Brasil? Não tão secas as torneiras? Que é isso de incentivar as pessoas a usarem mais e mais água para relaxar e arrasar? Arrase, gaste água até a tampa? Hein?
Cada uma. Olha, espero que as pessoas se toquem e não tenham esse sonho de consumo arquitetônico e decorativo. Desculpe revista Arraso, não vou arrasar o país gastando água. E bem, só pra completar, o banho fedido foi uma delícia. E gastou pouquinha água.
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