domingo, 18 de novembro de 2012

não tenho memória de cor



Tudo no mesmo dia. 
Primeiro aconteceu com um banco. Esses de sentar mesmo. Fui a trabalho numa loja ponta de estoque, e achei os bancos que precisava comprar. Mas pra pronta entrega só tinha um, a vendedora disse. Droga, pensei. Pra me acalmar, ela explicou que eu podia comprar aquele, depois ir na outra loja deles, que era ali perto, e encomendar um segundo banco igualzinho. Como não ia comprar sem ter certeza, fui na outra loja. Era um show room, bem mais chique. E era verdade que podia encomendar. Resolvi comprar o banco encomendado ali, e voltar na ponta de estoque pra pegar o outro. A moça chique, da loja chique, pra fazer o pedido, ligou na outra loja e pediu a especificação do estofado do tal banco. Cor “orégano”, ela disse quando desligou o fone e escreveu no papel. Hã? Eu tinha escolhido um banco cinza, que diabos era aquela cor? Desconfiei. Pedi para ver o tal tecido, chamado “orégano”. Era cor de orégano. Eu não tinha escolhido um banco cor de orégano. Pedi a amostra pra levar na outra loja pra comparar, ela disse que não podia emprestar. Comprei assim mesmo, e voltei na pronta entrega, tentando lembrar da estranha cor orégano pra averiguar. Não, não era orégano, o banco que escolhi, era cimento. E cimento e orégano não tem nada a ver, nem na textura, nem na cor. Comprei o banco cimento da pronta entrega, liguei pra outra loja, e mesmo tendo avisado mil vezes as duas vendedoras do erro, tou morrendo de medo de, daqui a 30 dias úteis, chegar um banco orégano na obra.
Depois foi na loja de puxadores. Tinha que achar uma peça que já existia numa obra pra colocar num armário. Esqueci a peça - amostra em casa.  Aquela seria de novo uma compra de “memória”. Droga. Tinha alumínio fosco, anodizado, escurecido, com resina, com verniz, bronze, prata, brilhante natural, e realmente confundi e não dava pra lembrar. Lembrar cor de memória é a coisa mais difícil que existe para a mente humana. Sério. Tive que voltar em casa pra pegar o puxador.
Daí, no fim da tarde, quando tava no shopping comprando um presente pra minha filha, resolvi comprar uma meia calça, pois só tenho uma que ainda não furou. E tava, inclusive, vestindo ela nesse dia. Entrei na loja. “Oi, moça. Eu queria uma meia calça igual a essa”, disse, mostrando minhas pernas pra facilitar. Ela veio perto, pegou a meia com dois dedos, apalpou e declarou. “É de dez fios. Essa aqui”, disse, pegando e mostrando um mostruário de meias finiiinhas de tudo. Claro que não era. Balancei a cabeça. “Nem pensar, essa é muuuito mais fina”, repliquei. A vendedora do lado interviu. “Juliana, com licença”. Pegou na minha perna, quer dizer , na minha meia calça e esfregou os dedos, olhou, analisou. “A dela é fio 20”, concluiu, esticando a meia entre os dedos. A outra olhou para a tal Juliana. “Tenho certeza”. Pegou o mostruário, enfiou na mão, mostrou, olhei minha perna, era super diferente. Veio a gerente Fátima, que assistia o péssimo desempenho visual das duas, pegou na minha perna de novo, puxou a minha meia e declarou. “É fio 40 e sei a cor, espera”. Foi lá dentro, trouxe uma meia fechada no pacotinho. Nem questionei, comprei. A tal Fátima me pareceu uma PHD em memória de cores e texturas.
Mina meia furou nesse mesmo dia, no começo da noite, na hora que esqueci e sentei num banquinho herdado da minha avó que é super fura meia, pois tem um plastiquinho solto que é um uó. Troquei de meia, joguei a furada fora. Gente, mas como tenho péssima memória de cor, impossível saber se comprei uma meia calça igual. Sei, esse é um assunto que ninguém fala, mas um dia alguém vai estudar. A memória da cor.


Um comentário:

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