quarta-feira, 9 de março de 2005

o video game



- Quer jogar videogame comigo, mãe?
- Não sei jogar. Você joga e eu assisto, João.
- Prefere jogo de luta ou estratégia?
- Estratégia.
Sentamos lado a lado no sofá.
- João, o que é aquela bolinha vermelha, ali, no cantinho da tela?
Ele estava tranquilíssimo, com as pernas para cima.
- O nível de preocupação.
Percebi que a bolinha estava se tornando cada vez mais luminosa.
- Mas está vermelho... e está cada vez mais vermelho, olha, filho! Ei, que é esse negócio de nível de preocupação, onde está escrito isso?
- Mãe, não sei exatamente como se chama essa bolinha. A gente que colocou esse nome, “bolinha do nível de preocupação” - ele resolveu me explicar melhor - É que o vídeo game mostra o nível de preocupação que a gente deve ter no jogo. Quando está tudo vermelho quer dizer que as coisas estão difíceis, complicadas, quer dizer que eu corro perigo de morrer – e ele apontou a TV - Vê? Eu devo tomar uma atitude. Urgente.
- Tem isso num jogo de vídeo game? Nível de preocupação? Eles colocaram um medidor de tranqüilidade num jogo infantil?
Ele ainda estava sossegado, impassível.
- Tem, claro que tem, mãe... – ele respondeu, balançando a cabeça.
Eu continuei, aflita. Preocupadérrima, óbvio.
- E... você não vai fazer nada, João? Nada? AimeuDeus... – eu olhei e a bolinha estava toda vermelha – Olha João, olha! Cuidado, filho! Aiii!
- Calma, mãe, calma... é só um jogo, mãe...
E ele me olhou, sério
- Credo, mãe. Como você é estressada.


Bom.
Com toda a certeza, essa será uma geração de adultos bem diferente da nossa.

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