Minha irmã tem um filho pequeno. Eu estava na casa dela, visitando. O meu sobrinho zanzava daqui para ali. Sabe como é casa com criança pequena: um campo minado de brinquedos espalhados pela sala.
Minha irmã falava comigo, agachava, levantava e catava coisas. Foi quando ela pegou um balde de lego, daqueles grandes. Olhou lá dentro e deu um berro:
- Ah, não!
- O que foi? Uma barata?
- Olha só aqui dentro!
Ela me mostrou o interior do balde. Olhei. Estava, claro, cheio de lego. Mas, no meio das peças coloridas existiam alguns animais de plástico, uns carrinhos e uns brinquedinhos de kinder- ovo, feito salada mista, misturados com o lego. Ela olhava aquilo, furiosa.
- Que ódio!
- Ódio do lego?
- Não. De gente que mistura as coisas. Essa empregada guarda tudo quanto é brinquedo em qualquer pote que ela vê pela frente. Eu falo para ela, tem um pote para cada coisa nessa casa. Mas ela nunca arruma certo!
E ela despejou o pote no chão e foi selecionando as peças para cá e para lá, balançando a cabeça e reorganizando, irritada.
Olha, parece um fato mínimo, não é? Ma só parece. Por detrás de um pote de brinquedos existe um enorme universo e uma mãe organizadíssima. E podemos, a partir desta pequena observação da minha irmã, ir muito mais longe e estudar como funcionam as mães.
Não sei se dá para compreender. Trabalhar a gente trabalha, mesmo com filho pequeno, mas é sempre tudo um pouco esculhambado, pois a tua capacidade de concentração é mínima. A nossa casa, que antes era arrumadinha, tem cheiro de leite e vômito, manchas no carpete, mão na parede, brinquedo em tudo quanto é canto. Empregada e babá conversando o dia inteiro, você tendo que tomar um monte de providência, sempre atrás da sua própria existência. Tudo fica mais ou menos para você: você é mais ou menos boa dona de casa. Mais ou menos boa mãe. Mais ou menos boa profissional. Mais ou menos boa patroa. Mais ou menos tudo. E, pensa. Nada depende só de você. Nessa época da tua vida você não tem como colocar nada em ordem.
Não? Tem sim.
Eles.
Os brinquedos.
Háhá. É a nossa vingança contra a bagunça.
Hoje em dia toda criança tem muito brinquedo. E um monte de brinquedos são “educativos”, ou seja, peças de montar, milhões delas. Depois de um tempo você não tem mais onde guardar. Assim, você descobre um lugar onde vendem uns potes bárbaros, coloridos e grandes. Olha, nessa época a vida da gente é tão bagunçada, que pensar que ao menos os brinquedos do teu filho estarão selecionados e catalogados dá um alívio tremendo.
O problema é que aquilo vira uma obsessão. Você tem vontade de colocar em ordem a tua vida e transfere todas suas ansiedades para as peças coloridas. Eu, na minha época de poteira, me sentava toda noite diante daquele mar de brinquedos.
Minha irmã falava comigo, agachava, levantava e catava coisas. Foi quando ela pegou um balde de lego, daqueles grandes. Olhou lá dentro e deu um berro:
- Ah, não!
- O que foi? Uma barata?
- Olha só aqui dentro!
Ela me mostrou o interior do balde. Olhei. Estava, claro, cheio de lego. Mas, no meio das peças coloridas existiam alguns animais de plástico, uns carrinhos e uns brinquedinhos de kinder- ovo, feito salada mista, misturados com o lego. Ela olhava aquilo, furiosa.
- Que ódio!
- Ódio do lego?
- Não. De gente que mistura as coisas. Essa empregada guarda tudo quanto é brinquedo em qualquer pote que ela vê pela frente. Eu falo para ela, tem um pote para cada coisa nessa casa. Mas ela nunca arruma certo!
E ela despejou o pote no chão e foi selecionando as peças para cá e para lá, balançando a cabeça e reorganizando, irritada.
Olha, parece um fato mínimo, não é? Ma só parece. Por detrás de um pote de brinquedos existe um enorme universo e uma mãe organizadíssima. E podemos, a partir desta pequena observação da minha irmã, ir muito mais longe e estudar como funcionam as mães.
Não sei se dá para compreender. Trabalhar a gente trabalha, mesmo com filho pequeno, mas é sempre tudo um pouco esculhambado, pois a tua capacidade de concentração é mínima. A nossa casa, que antes era arrumadinha, tem cheiro de leite e vômito, manchas no carpete, mão na parede, brinquedo em tudo quanto é canto. Empregada e babá conversando o dia inteiro, você tendo que tomar um monte de providência, sempre atrás da sua própria existência. Tudo fica mais ou menos para você: você é mais ou menos boa dona de casa. Mais ou menos boa mãe. Mais ou menos boa profissional. Mais ou menos boa patroa. Mais ou menos tudo. E, pensa. Nada depende só de você. Nessa época da tua vida você não tem como colocar nada em ordem.
Não? Tem sim.
Eles.
Os brinquedos.
Háhá. É a nossa vingança contra a bagunça.
Hoje em dia toda criança tem muito brinquedo. E um monte de brinquedos são “educativos”, ou seja, peças de montar, milhões delas. Depois de um tempo você não tem mais onde guardar. Assim, você descobre um lugar onde vendem uns potes bárbaros, coloridos e grandes. Olha, nessa época a vida da gente é tão bagunçada, que pensar que ao menos os brinquedos do teu filho estarão selecionados e catalogados dá um alívio tremendo.
O problema é que aquilo vira uma obsessão. Você tem vontade de colocar em ordem a tua vida e transfere todas suas ansiedades para as peças coloridas. Eu, na minha época de poteira, me sentava toda noite diante daquele mar de brinquedos.
Feliz da vida.
Bom. Lego era lego. Eu usava dois potes, um para cada tamanho. Carrinhos e caminhões eu colocava em mais outro. Bonecas iam para um outro, super heróis em mais um outro. Continuando, os animais de plástico iam para outro departamento. E os insetos? Podem ser considerados animais? E os animais de fazenda? E os da selva? E os dinossauros? Os dinossauros ganhavam um pote só deles, afinal, são animais extintos. Já os bonecos Disney mereciam um pote especial. Não dá para colocar um cara tão importante como o Mickey misturado com outros ratos, que nem nome tem.
No fim da noite, com os joelhos ralados de tanto engatinhar e completamente vesga, sobravam umas coisas que não eram catalogáveis em nenhum dos potes. Então eu montava um pote só com as sobras. Olha, quando eu tapava aquele último e colocava na prateleira, olhava ao redor e suspirava aliviada.
Que organização que estava a minha vida!
Claro que a gente não bate bem. Quem tem filho perde um pouco dos miolos, sem dúvida alguma. Mas às vezes potes bem organizados são a única saída para a satisfação duma mãe. Potes organizados merecem todo o respeito. Aquilo é terapia, é alegria, é a salvação. Nunca, nunca menospreze um pote de brinquedos.
Agora, voltemos para a história da minha irmã, que achou animais e carrinhos dentro do pote de lego: não é o fim da picada?
Saibam de uma coisa: nessa época da tua vida a casa pode cair, o chão pode afundar, mas lego não é carrinho, super herói não é animal selvagem e o que não é nada vai para o lixão. Só isso que importa.
Bom. Lego era lego. Eu usava dois potes, um para cada tamanho. Carrinhos e caminhões eu colocava em mais outro. Bonecas iam para um outro, super heróis em mais um outro. Continuando, os animais de plástico iam para outro departamento. E os insetos? Podem ser considerados animais? E os animais de fazenda? E os da selva? E os dinossauros? Os dinossauros ganhavam um pote só deles, afinal, são animais extintos. Já os bonecos Disney mereciam um pote especial. Não dá para colocar um cara tão importante como o Mickey misturado com outros ratos, que nem nome tem.
No fim da noite, com os joelhos ralados de tanto engatinhar e completamente vesga, sobravam umas coisas que não eram catalogáveis em nenhum dos potes. Então eu montava um pote só com as sobras. Olha, quando eu tapava aquele último e colocava na prateleira, olhava ao redor e suspirava aliviada.
Que organização que estava a minha vida!
Claro que a gente não bate bem. Quem tem filho perde um pouco dos miolos, sem dúvida alguma. Mas às vezes potes bem organizados são a única saída para a satisfação duma mãe. Potes organizados merecem todo o respeito. Aquilo é terapia, é alegria, é a salvação. Nunca, nunca menospreze um pote de brinquedos.
Agora, voltemos para a história da minha irmã, que achou animais e carrinhos dentro do pote de lego: não é o fim da picada?
Saibam de uma coisa: nessa época da tua vida a casa pode cair, o chão pode afundar, mas lego não é carrinho, super herói não é animal selvagem e o que não é nada vai para o lixão. Só isso que importa.
E quem disse mesmo que os dinossauros estão extintos?
Nenhum comentário:
Postar um comentário