terça-feira, 17 de maio de 2005

as pernas vibratórias



Vou falar de um assunto bem delicado. E olha, gente, tomei o maior cuidado com essa crônica para não entrar em muitos pormenores.
Nos próximos parágrafos estarei praticamente na beira de um abismo entre a literatura digna e séria e a pornografia pura. Mas como é um assunto moderno e contemporâneo, tenho que abordá-lo. Espero que vocês peguem leve nos comentários
É um hábito. Entro no carro, coloco o cinto de segurança. Tiro o celular da bolsa e coloco entre as pernas. Escondo a bolsa.
E vrummm. Lá vou eu.
Outro dia descobri que não sou a única que faz isso. Quase todas minhas amigas carregam o celular no colo ou entre as pernas, principalmente se estão no carro e sozinhas, para não serem roubadas.
Já fui assaltada algumas vezes, tive amigas que tiveram o vidro quebrado e a bolsa arrancada. Uma amiga minha teve o celular puxado da mão enquanto falava. Ficou literalmente falando sozinha. Todo cuidado é pouco.
Assim, há anos que decidi que não há melhor lugar para colocar o celular enquanto você dirige do que entre as pernas. Aquele é um "porta celular" excelente. Se alguém suspeito se aproximar, basta você fechar as pernas. Se o aparelho tocar, você ouve na hora. Se surgir algum perigo, ele está ali, ao seu alcance.
Praticamente dentro de você.
Ichi. Essa foi meio feia. Perdões.
Esse hábito de carregar um celular no meio das pernas é muito esquisito. Primeiro que a gente, mulher, nunca teve nada no meio das pernas. Acostumar-se com “aquilo” ali é bem estranho, confesso. Dirigir de “celular duro” não é bonito nem agradável, mas eu não vejo outra saída. Vê o que gera a violência urbana: uma masculinização das motoristas.
Mas o pior é quando o aparelho toca. Eu não quero entrar em detalhes, mas aquilo é o maior susto. Nas horas que você menos espera, lá vem aquele absurdo turururururururu vindo bem dali. Gente do céu. Que sensação estranha. E o pior é que você acaba dando uma abridinha nas pernas para olhar o visor e saber quem é. “Ah, é o fulano!”. Eu sempre começo a rir, tem algumas pessoas que nem imaginam onde elas estão tocando. E quando você está na marginal, que não pode atender de modo algum? Você dá aquela abridinha básica, olha rapidinho quem é e deixa o coitado lá, naquele lugar tão... íntimo, berrando feito um condenado.
Mais dramático ainda é o caso de alguns celulares, como o meu, que, além de tocar, vibram no primeiro toque. Eu gosto e prefiro que seja assim, sabe bolsa de mulher como é, tem tanta coisa que adquire uma proteção acústica própria. A vibração resolve isso. Eu fico atenta aos tremeliques da minha bolsa, pois já sei que é o telefone. Mas quando estou no trânsito aquele primeiro toque é perigoso. Imagine o pulo que dou, um dia ainda bato o carro por causa desse assanhamento do telefone.
Sério. É uma coisa muito estranha esses hábitos da vida contemporânea.
Achava que era só eu que guardava o celular ali. Mas outro dia descobri que somos muitas, as mulheres das pernas vibratórias. Já achei mais de dez amigas que fazem a mesma coisa. Devemos ser muitas, eu sinto. Todas rindo sozinhas a cada toque.
Meus filhos não gostam. Reclamam.
- É nojento esse seu celular, mãe – eles me falam – Olha onde você leva, que vergonha. Eu não falo nele.
Mas o que eu posso fazer? Onde colocar? Já tentei levar no console, ele escorrega; na caixa do câmbio, ele atrapalha; no porta luvas eu não ouço; no banco do carona, tenho medo que roubem. E lá vai o celular no meio das pernas.
Li no Inagaki que existem 8,5 milhões de celulares no Brasil. Mais celulares que carros. Suponho que deva existir um número gigantesco de mulheres com celulares entre as pernas nos carros. Será que somos muitas? E será que as fotocélulas dos celulares darão, no futuro, alguma interferência nos nossos órgãos internos? Será que isso vale uma pesquisa científica?
A moda pega. Semana passada eu me vi assistindo tv na sala.
Com o controle remoto... no meio das pernas.

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