Sabe aquele "homem do piano"? Aquele que surgiu do nada, todo amarrotado e sujo, que não fala uma palavra e que descobriram que toca piano sem parar?
Ando com a maior raiva dessa história do "homem do piano". Fica todo mundo falando desse homem como se ele fosse o máximo dos máximos. Ele nem toca piano assim tão bem. Li que ele toca alguns clássicos, Beatles e músicas populares, mas que é um pianista normal e não um gênio da música. Pra que tanto escândalo da mídia?
O que ele fez de mais para ficar tão famoso?
Nada. Aliás, fez de menos. Não falou uma palavra desde o dia que apareceu até hoje. Ora, é muito fácil ficar famoso assim.
- Hã? Esse pianista ficou famoso porque não falou nada? – perguntou a Maria, minha empregada, enquanto fazia o almoço - Ah, se for assim, lúcia, eu também posso ficar famosa um dia.
- Pode sim, Maria.
Eu tive vontade de rir. A Maria adora participar de concursos, gincanas e rifas. E, claro, adoraria participar do Big Brother, No Limite e ficar famosa.
- Vamos fazer assim, Maria: eu te levo bem longe daqui e você fica em total silêncio. Não fala nada com ninguém, fica assim... bem muda. Rasga suas roupas e faz uma cara de lelé da cuca. Ai a polícia te acha e você pede um lápis.
- Como eu peço o lápis se eu estou muda?
- Você faz gestos – e eu imitei o gesto de escrever – Daí você pega o lápis e desenha uma panela. Você sabe desenhar uma panela? Se você não souber eu ensino, é fácil.
- Não sei desenhar nada, nem um bonequinho.
- Não importa. Bom, daí eles vão ver a panela e vão te levar para uma cozinha. Você chega lá e começa a cozinhar sem parar, umas comidas ótimas, todas as comidas mais maravilhosas que você sabe fazer. Os croquetes de carne, os risolis, aquele galetinho assado igual ao da semana passada, aquela feijoada, o lombo que você faz no sábado, aquele filé com molho, a tortas de frango, o bobó de camarão, as panquecas, os bolos de chocolate, os biscoitinhos, tudo. Não pára mais de cozinhar. Eles trazem os ingredientes e você cozinha sem parar.
Ela morria de rir, toda sonhadora.
- As pessoas todas vão se espantar. “Nossa, quem é essa mulher misteriosa que cozinha tão bem?”. Vão começar a te chamar de “cozinheira misteriosa”. As pessoas passam a provar a sua comida, e, deslumbradas, querem te levar para ser cozinheira dos melhores restaurantes do mundo. A notícia se espalha aqui e ali, os jornais ficam sabendo de você e vem aquele bando de repórter te entrevistar e te fotografar. Você vai ser “a mulher da panela”. “Quem é essa, quem é essa?”, todo mundo vai perguntar. “É a mulher da panela! A mulher da panela!”, as pessoas todas vão responder, eufóricas. A “mulher da panela” vai ser muito mais importante que o “homem do piano”, Maria. Afinal, você é muito mais simpática que ele e as pessoas adoram as suas comidas, você sabe.
- Acha que eu vou pro Fantástico?
- Ah, claro que vai. Mas não vai poder falar nada. A fama tem seu preço.
- Ah, é mesmo... – ela me olhou, triste – Mas não vou poder nem falar meu nome?
- Não. Não pode falar nada. Senão você descobrir que você é uma fraude.
- Não sei se eu agüento.
- Eu não agüentaria, Maria. Imagina. Ficar sem falar pro resto da vida. Impossível.
- É. Melhor ficar como está. Tem meus filhos. Eles iam ficar muito tristes.
Ela balançou a cabeça, e, conformada, se virou para o fogão para acabar o almoço.
Ando com a maior raiva dessa história do "homem do piano". Fica todo mundo falando desse homem como se ele fosse o máximo dos máximos. Ele nem toca piano assim tão bem. Li que ele toca alguns clássicos, Beatles e músicas populares, mas que é um pianista normal e não um gênio da música. Pra que tanto escândalo da mídia?
O que ele fez de mais para ficar tão famoso?
Nada. Aliás, fez de menos. Não falou uma palavra desde o dia que apareceu até hoje. Ora, é muito fácil ficar famoso assim.
- Hã? Esse pianista ficou famoso porque não falou nada? – perguntou a Maria, minha empregada, enquanto fazia o almoço - Ah, se for assim, lúcia, eu também posso ficar famosa um dia.
- Pode sim, Maria.
Eu tive vontade de rir. A Maria adora participar de concursos, gincanas e rifas. E, claro, adoraria participar do Big Brother, No Limite e ficar famosa.
- Vamos fazer assim, Maria: eu te levo bem longe daqui e você fica em total silêncio. Não fala nada com ninguém, fica assim... bem muda. Rasga suas roupas e faz uma cara de lelé da cuca. Ai a polícia te acha e você pede um lápis.
- Como eu peço o lápis se eu estou muda?
- Você faz gestos – e eu imitei o gesto de escrever – Daí você pega o lápis e desenha uma panela. Você sabe desenhar uma panela? Se você não souber eu ensino, é fácil.
- Não sei desenhar nada, nem um bonequinho.
- Não importa. Bom, daí eles vão ver a panela e vão te levar para uma cozinha. Você chega lá e começa a cozinhar sem parar, umas comidas ótimas, todas as comidas mais maravilhosas que você sabe fazer. Os croquetes de carne, os risolis, aquele galetinho assado igual ao da semana passada, aquela feijoada, o lombo que você faz no sábado, aquele filé com molho, a tortas de frango, o bobó de camarão, as panquecas, os bolos de chocolate, os biscoitinhos, tudo. Não pára mais de cozinhar. Eles trazem os ingredientes e você cozinha sem parar.
Ela morria de rir, toda sonhadora.
- As pessoas todas vão se espantar. “Nossa, quem é essa mulher misteriosa que cozinha tão bem?”. Vão começar a te chamar de “cozinheira misteriosa”. As pessoas passam a provar a sua comida, e, deslumbradas, querem te levar para ser cozinheira dos melhores restaurantes do mundo. A notícia se espalha aqui e ali, os jornais ficam sabendo de você e vem aquele bando de repórter te entrevistar e te fotografar. Você vai ser “a mulher da panela”. “Quem é essa, quem é essa?”, todo mundo vai perguntar. “É a mulher da panela! A mulher da panela!”, as pessoas todas vão responder, eufóricas. A “mulher da panela” vai ser muito mais importante que o “homem do piano”, Maria. Afinal, você é muito mais simpática que ele e as pessoas adoram as suas comidas, você sabe.
- Acha que eu vou pro Fantástico?
- Ah, claro que vai. Mas não vai poder falar nada. A fama tem seu preço.
- Ah, é mesmo... – ela me olhou, triste – Mas não vou poder nem falar meu nome?
- Não. Não pode falar nada. Senão você descobrir que você é uma fraude.
- Não sei se eu agüento.
- Eu não agüentaria, Maria. Imagina. Ficar sem falar pro resto da vida. Impossível.
- É. Melhor ficar como está. Tem meus filhos. Eles iam ficar muito tristes.
Ela balançou a cabeça, e, conformada, se virou para o fogão para acabar o almoço.
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