sábado, 28 de maio de 2005

Sérgio, que é isso?


Minha filha Luciana ia nascer. Eu estava na maternidade, em trabalho de parto. Sentia aquelas dores que vão e vem, suspirava aquela sensação de pânico e paz, e não tirava os olhos daquela barriga gigantesca. Olha, uma barriga de grávida de nove meses, vista da cabeça da mãe, é dez vezes mais impressionante do que a mesma barriga vista de fora do corpo, acreditem. É uma visão inesquecível. Eu devia ter fotografado.
Bom, no meio das dores tive uma contração esquisita. A minha barriga se apertou, apertou, apertou, e, o que antes era uma enorme protuberância para frente, virou uma enorme saliência redonda para o lado. Vixe. Levei um susto. Pra onde ia aquele bebê? Assustada, chamei a obstetriz. Ela examinou, fez um toque e declarou: o bebê não está mais encaixado.
Isso queria dizer: cesárea.
Suspirei.
Nesse instante, a porta se abriu e surgiu uma enfermeira para fazer uma “raspagem”. Eu expliquei.
- Moça, pra quê raspar? Vai ser cesárea.
- Precisa raspar, seja para qualquer parto.
- Mas vai ser cesárea, a moça acabou de falar. Olha, vamos fazer uma coisa. Não me raspe inteira, por favor.
Eu já tinha passado por isso no nascimento do meu primeiro filho. Elas usam gilete, depois é horrível, aquele monte de pelos nascendo, dá aflição, coceira.
A mulher entendeu.
- Quer que tire só os de cima, senhora?
- É. Só os do lugar da cesárea. Pode ser?
Ela achou estranho, balançou a cabeça. Eu tinha certeza que queria aquilo?
- Tenho – respondi, decidida, com minha gigantesca e contraída barriga lateral – Tira só no lugar do corte. O resto deixa como está.
Ela me raspou e eu fui para a sala de parto. Bom, quando estamos bem grávidas, não enxergamos nada daquele pedaço do corpo, pois a barriga tapa tudo. Imagina se eu ia pensar em estética naquela hora crítica e com aquela barriga torta daquele jeito. Não vi e não imaginei como estava. Cheguei na sala e tomei a anestesia, mas o meu médico ainda não tinha chegado. Estavam somente os dois assistentes. Eu estava meio zonza, confusa e emocionada.
Olhei para a cara dos dois rapazes. Uau. Eram dois mocinhos muito bonitões. Que sorte a minha, pensei. Fechei meus olhos e deixei eles me arrumarem na maca, enquanto pensava comigo. “Nossa, fui cair logo na mão destes dois galãs”.
Foi quando comecei a ouvir de longe a conversa.
Voz nº 1 - Falaí, Sérgio. Mais uma cesárea hoje?
Voz nº 2 - Cadê o doutor?
Voz nº 1 - Tá vindo. Vamos preparar.
Voz nº 2 - ...
Voz nº 1 – (voz assustada) Sérgio, que é isso?
Voz nº 2 – (cochichando) Nossa...
Voz nº 1 - (cochichando também) O que fizeram com ela?
Voz nº 2 - Sei lá.
Voz nº 1 - Raspagem esquisita!
Voz nº 2 - (risadinhas) Um horror! Parece...
Voz nº 1 - (mais risadinhas) O quê?
Voz nº 2 – (segurando a risada) Sei lá! Parece um corte moicano, não? Meio punk, olha daqui desse lado, Sérgio!
E os dois, tentando segurar o riso, não agüentaram e caíram na risada, o Sérgio e o outro. Que vergonha. Passar por uma dessas com os dois médicos mais bonitões do hospital era demais. Nem abri os olhos, fingi que estava morta. Não era hora de explicar nada.
Mas foi por pouco tempo. Dali a pouco esqueci completamente do corte moicano (realmente horrível, percebi no dia seguinte) da minha virilha, pois me colocaram nos braços uma menina linda e sem nenhum pêlo pelo corpo, só uma deliciosa penugem macia e brilhante.
E os dois médicos lindos-de-morrer? Nunca mais vi nem quero ver, que pesadelo. E eu devo ter virado a piada do dia do hospital...

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