segunda-feira, 9 de maio de 2005

iii... entupiu!


... para não dizer que eu não falei de banheiros (o assunto predileito dos meus leitores) essa semana ...

Poucas coisas deixam a gente tão em pânico como um entupimento de vaso sanitário. A princípio a gente não acredita que possa ter causado aquele estrago. Depois, vem aquela certeza vergonhosa, quando a gente pensa: " morro mas não saio desse banheiro!".
Olha, deve ter gente trancada há anos em banheiros por causa de entupimentos.
Bem, minha família tem diversos casos de entupimento na história familiar. Volta e meia eles acontecem, temos até um esquema de emergência próprio para resolvê-los, que jamais revelarei aqui.
Essa coisa de entupir privada deve acontecer com a família de todo mundo, claro, mas acho que ninguém conta. E por causa deles, dos pactos de silêncio familiares sobre entupimentos, as empresas de material hidráulico não aumentam as bitolas dos canos, o que resolveria a questão das obstruções.
Óbvio.
Algumas vezes o entupimento se dá também fora da nossa casa, em viagens. Eu até poderia desenvolver uma teoria sobre isso, mas não sou fã de assuntos escatológicos. Na verdade, nem sei como estou tendo coragem de escrever sobre isso. Estou quebrando o pacto de silêncio da minha família, eles vão me condenar, com toda a certeza.
Bom, entupimento em hotel é uma desgraça. Você é obrigado a envolver terceiros no problema e expor uma questão íntima, familiar à estranhos. Tivemos um problema desse tipo num hotel em Petrópolis. A coisa ficou bem grave, e eu e o Zé tivemos que descer até a portaria para pedir ajuda. Quando olhamos o rosto do porteiro, percebemos que o rapaz tinha a maior cara de privada–entupida. Tivemos um acesso de riso gigantesco, completamente descontrolado e infantil, e não conseguimos pedir nada.
Que vergonha.
A privada continuou entupida até de noite, quando mudou o porteiro e tivemos coragem de pedir de novo.
Bem, uma das piores vezes aconteceu fora do Brasil, em um hotel americano. Chegamos exaustos no quarto, depois de zanzar o dia todo. O João, meu filho menor, dormiu, mas ninguém tinha jantado. Sugeri que o Zé saísse e fosse comprar alguma coisa para comermos no quarto mesmo. Um lanche, um sanduíche.
Ele chegou cheio de sacolas.
- Lú. Eu trouxe sanduíches para eles e uma sopinha para nós dois. Quentinha. Delícia.
- Sopinha, Zé?
Bom, não era uma “sopinha” e sim um enorme sopão, que vinha num balde. Um verdadeiro sopão americano, com um caldo grosso, pedaçudo. E com uma quantidade que dava para alimentar um batalhão de uns 20 homens, mais ou menos. Tomamos até não agüentar mais, mas mesmo assim sobrou muito. Muito.
- Onde a gente joga fora isso? Não vou deixar aqui, tem um cheiro muito forte – falou o Zé.
Ele foi procurar uma lixeira no corredor do hotel. Não tinha. Eu sugeri que ele fosse até lá embaixo e jogasse num lixo da rua, mas ele ficou zanzando para cá a para lá, sem saber o que fazer, pois estava muito frio lá fora. Um tempo depois, voltou e sentou ao meu lado.
Sem a sopa.
- Zé. Que você fez com a sopa?
- Eu... joguei na privada, mas já foi tudo embora. Fica fria.
Fiquei brava. Que nojenta essa coisa de jogar comida na privada! Onde é que já se viu? Enquanto eu implicava com ele, ouvimos um berro.
- Éééca! Maiê!
Era a minha filha que corria para fora do banheiro. Claro, a sopa voltou. Demos a descarga de novo, nada. Acho que não havia descarga nesse mundo que empurrasse aquela sopa cano abaixo. E a cada vez que aquilo voltava, o cheiro insuportável no quarto aumentava.
Que pesadelo.
Não tinha mais jeito, em poucos minutos a situação do banheiro ficou insustentável. Ligamos para recepção. O Zé, discreto, queria saber se eles podiam “emprestar” um desentupidor.
Veio um funcionário. Chegou, viu a privada, cheirou o recinto e olhou estranho para nós dois. O Zé me cutucou para eu não falar nada da sopa. Aliás, naquele instante desgraça já era tanta que não tinha explicação nenhuma.
O homem justificou que o problema era grande demais e chamou um ajudante. Os dois tentaram resolver a questão com sucessivas descargas e desentupidores comuns, mas inundaram o banheiro, o quarto e o corredor e só pioraram o problema, pois ele pisavam naquele lodo e espalharam a sopa por todo o carpete. Eu tentava salvar as malas e as nossas coisas. Nossos filhos tinham acessos de riso de vergonha, acocorados sobre as camas.
Os homens desistiram. Abanaram a cabeça negativamente, saíram e voltaram com um desentupidor imenso e outros apetrechos.
Minutos.
Horas.
E nada.
Bom, o resultado é que o hotel teve que chamar uma equipe de encanadores de emergência, que vieram numa van especial e nem assim a coisa deu certo. A sopa continuou voltando, e depois de uma reunião técnica, foi resolvido que seria necessário retirar o vaso. Olha o tamanho do desastre. Tivemos assim, que mudar de quarto, bem no meio da madrugada.
Quem não entendeu nada foi o Joãozinho, de manhã. Que quarto estranho era aquele? Porque estávamos ali?
- Foi só mais um entupimento, filho. Só isso.
Ele fez cara de quem entendeu tudo.
- Ah bom. Normal, mãe.

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