segunda-feira, 28 de fevereiro de 2005

a desbravadora da NET



Nota para os adoradores do quadradinho dos comentários: acabei de descobrir que temos que ir até o "haloscan" e aprovar a colocação desse novo "it". Caso contrário eles desaparecem como num passe de mágica.
O Edu me falou hoje duas coisas engraçadas. Uma delas foi que ele lembrou que um dia meus filhos viram um telefone de disco e quase cairam para trás: o que era aquilo? Como funcionava? - É um telefone de antigamente - eu expliquei.
A primeira coisa que eles fizeram foi apertar os números dentro das bolinhas. Eles nunca usaram um telefone que não fosse de apertar botões.
- É para girar - expliquei.
Teve até briga para cada um experimentar aquele negócio sensacional.
- Agora eu, pôxa! Também quero!
E pensar que até ontem a gente usava telefone de disco!
A outra observação foi que ele, brincando, disse que eu era a gênia da informática, pois ele acha complicadérrimo colocar essas coisas no blog. Ah. Quem me dera eu pudesse entender um pouco tudo isso por aqui, colocar eu coloco, mas fica tudo meio torto.
Isso me lembrou de um dia, mais ou menos nove anos atrás. Eu tinha um computador pré-histórico no escritório, mas não tinha internet e nem sabia usar o autocad. Nem sei o que eu fazia naquela época com um micro ligado o dia todo sem internet.
Não ter internet, naquela época vá lá, mas autocad eu tinha que aprender. Resolvi que ia dar um jeito nisso sozinha: primeiro aprenderia a usar o cad e depois navagaria pela net. Mas detesto cursos e professores, só recorro a eles em último caso: adoro quando consigo fazer as coisas por conta própria. Nesse dia, decidida, saí dali e fui na FNAC. Comprei alguns livros de Autocad e computação e voltei toda animada para minhas aulas particulares comigo mesma.
Foi quando eu notei uma coisa terrível.
Eu tinha medo de computador.
Eu sei que isso, para as pessoas jovens com menos de vinte anos, é uma asnice total. Mas para nós, os de quarenta ou mais, não é. Muita gente da minha geração tem ou já teve muuuito medo de computador. Tudo depende da geração. Minha mãe, por exemplo, que tem mais de sessenta, tem medo de DVD, de aparelho de som e microondas. Eu não tenho, sempre fui super corajosa com televisores e aparelhos de som, sou a rainha da comida congelada, mas os computadores me deixavam de pernas bambas.
Na época eu tinha escritório com mais três colegas arquitetos, mas só um sabia mais que eu. O santo do Maurício. Como começei a adentrar aquele mundo estranho e perigoso da informática sozinha, cada clicada era cheia de pânico. De medo. De aflição. E cada vez que alguma coisa errada acontecia, eu ficava apavorada e recorria a ele.
- Maurííício! Corre, aimeuDeus, apareceu uma coisa aqui. Socorro, Maurício, que foi que eu fiz?
- Maurííício! Travou tudo, acho que perdi os desenhos todos! - eu falava, sem encostar os dedos no teclado - E agora, o que eu faço? Ajuda?
Era aterrorizante. Eu não tinha só medo. Eu morria de medo do computador. E o Maurício, que era todo quietão e que tinha uma paciência de Jó comigo, ia até a minha mesa e me ajudava, suspirando.
Um dia, sei lá porque, me deu um clic.
Medo?
Que coisa mais ridícula ter medo de computador, pensei. Afinal, eu era uma arquiteta moderna ou um caroço de manga?
- Maurício, eu sou uma anta. Imagina ter medo dessa maquininha de nada - falei para ele, que sempre me respondia com "hã-hãs" - Uma porcaria duma máquina. Não terei mais medo dela, nunca mais. Decidi. Agora ela vai ver quem é mais forte - eu resolvi - vou cada vez mais fundo, vou dar downloads de tudo, e ela que se exploda. Eu que mando aqui, Maurício, você não acha?
- Hã-hã.
Bem, foi uma grande decisão. Decisiva mesmo. A cada instante de pânico eu me lembrava daquilo e ignorava os ares de gênia daquela máquina ridícula. Afinal, eu era humana e eu que mandava ali.
Acho que se não fosse essa decisão que tomei há nove anos eu jamais estaria aqui escrevendo para vocês. Eu não tenho mais medo de computador, viu Edu? Mas não me pergunta como eu consigo fazer as coisas, pois eu não tenho a mais mínima idéia - vou entrando, entrando, desbravando, caindo e levantando e uma hora: pimba.
Dá certo.
- Né, Maurício?
- Hã-hã.

o quadradinho dos comentários



Como se não bastasse passar o final de semana em shopping, percebo que minha ânsia de consumo também passa pelo mundo dos blogs.
Começou com a Márcia, do Namastê, que veio comentar com uma figurinha dela mesma numa janelinha quadradinha. Como ela fazia aquilo? "Foi a Zana, do Montreal Tales, que inventou essa moda", ela me disse "... tem que entrar nesse site aqui: http://www.gravatar.com/". E logo depois apareceu a Zana com uma linda margarida nos comentários dela.
"Também quero", decidi.
Acho que sou a maior maria-vai-com-as-outras e que estou em plena adolescência virtual. Para que uma adulta como eu decide que "precisa muito" ter quadradinho com uma figurinha nos comentários? Isso não é coisa de adolescente? Às vezes eu acho que a gente, que fica esse tempão aqui na frente do micro não bate bem. Olha. Gastei mais de uma hora do meu tempo de trabalho e dois dias para conseguir colocar a bonequinha da franka nos comentários, me inscrevendo num site que não entendi do que se trata e esperando ser "aprovada" para alguma coisa.
Sinceramente, consumo é comigo mesmo.

domingo, 27 de fevereiro de 2005

pesadelo polifônico



Desde o natal que eu não comprava coisas. Cada dia mais eu acho que ir ao shopping é um pesadelo. Se eu não saio de lá exausta, saio irritada, tensa, furiosa. Parece que todas as vendedoras fazem um complô para enlouquecer os clientes. Um horror.
Desta vez foi o problema dos celulares. Os celulares me perseguem, acho. Lá fui eu com os filhos e o Zé para resolver uma questão importantíssima (entenda-se o contrário, óbviamente) de "comunicação familiar". Decidimos que cada um deveria ter um telefone, nem que fosse um modelo simples, para nos falarmos. Somos cinco. Distribuindo os aparelhos existentes que ainda funcionavam, chegamos a conclusão que deveríamos adquirir dois.
Era para comprarmos dois aparelhos básicos, mas é incrível como somos uns bocós. Fomos iludidos pelos vendedores em menos de dez minutos, todos nós. E aí que começou o pesadelo: não basta ter um celular que apenas fala.
A vendedora nos sorria sem se alterar, com sua cara de burra.
- Ora. Mas para que os senhores vão comprar esse modelo de cento e quarenta e nove com uma conta póspaga qualquer, se vocês podem fazer esse plano de setenta reais por mês e comprar esse aparelho de duzentos e noventa e nove com câmera fotográfica, viva voz e sons polifônicos, que é mil vezes melhor?
Ora, para que comprar uma coisa mais simples e mais barata, gente?
Quer saber? Uma coisa que deveria ser resolvida em vinte minutos levou mais de três horas. Juro. O tal celular da promoção teve que vir de outro shopping, o gerente que tinha que aprovar o negócio ia chegar só as seis horas, a moça vendedora teve que mostrar uma lista de números para escolher que causou uma briga entre os filhos, precisávamos de um comprovante de residência e o Zé teve que voltar em casa, minhas pernas doíam, a Nani resmungava e nós nos perdemos um dos outros três vezes naquela shopping.
Bem, pensando bem, os celulares são bem bacanas, iinfelizmente, eu não fiquei com nenhum deles e lá se foi minha chance de ter um celular com máquina.
.
Mas a questão que me encuca é outra. O que, exatamente, nos dá a sensação de enlouquecimento dentro de um shopping? O Zé fala que os shoppings "esbugalham os olhos da gente", pois tem excesso de informações. Ele, que é um pouco míope, sai de lá com dores na vista. Sim, ele tem toda razão. Já eu acho que esse "esbugalhamento", para pessoas com hormônios femininos, vai além do visual. Sou atropelada pelo consumo em todos os sentidos: o maravilhoso mundo das compras me pega pelos olhos, pelos ouvidos, pelo cheiro, pelo paladar, pelo cérebro, pelo corpo.
Shopping. Avemaria.
É como levar uma surra.

sábado, 26 de fevereiro de 2005

tic tac a bordo



- E ai, mãe. Gostou da viagem de navio?
- Horrível, filha.
- Horrível? Como assim, horrível? No telefone você disse que...
- Filha, eu disse que estava bom porque não ia reclamar da viagem durante a viagem, mas agora que eu cheguei eu falo. Foi ho-rrí-vel. Detestei essa coisa de viajar de barco.
- Porque? Não é divertido?
- Tinha gente demais, eram mais de duas mil e quinhentas pessoas num barco, quase não dava para andar. E o serviço era péssimo. Óbvio. Com tanta gente não tinha como.
- Você não foi na piscina? Não tomou sol? Tá branquela!
- No primeiro dia eu tentei. Coloquei o maiô, os óculos, peguei minha sacola e fui. Mas o lugar era tão cheio que eu não tinha onde ficar.
- Não tinha cadeira para sentar?
- Nem cadeira, nem lugar na água, nem lugar em pé, juro. Acho que as pessoas dormem por lá para conseguir uma cadeira espreguiçadeira na área da piscina. Daí eu desisti de piscina. Voltei para a cabine, troquei de roupa e não voltei mais.
- Hum. E você dançou? O cruzeiro se chamava “Dançando a Bordo”, não era?
- Lúcia, não dancei nem uma única vez. Eu e minhas amigas tentamos entrar na festa dos “anos setenta”, por exemplo, mas não conseguimos. Lotação esgotada. Uma delas até levou uma roupa alugada. Foi um desperdício, coitada.
- E as aulas de dança, mãe?
- Precisava se inscrever antes. Tentamos, mas quando chegamos não tinha mais vaga. Aliás, não tinha mais vaga para nada. Dançamos de outro modo.
- E as excursões?
- Também eram todas lotadas. Nem desci em alguns lugares. Para que? Para pegar mais fila?
- E a tua cabine? Era confortável?
- A cabine era boa, mas quando cheguei percebi que a privada estava entupida e a porta não fechava direito.
- E você pediu para arrumar?
- Pedi. A equipe de manutenção veio três dias depois.
- Três dias, mãe? E que banheiro você usou?
- Ah. Os do navio, do corredor. Que eu podia fazer?
- Mas e a comida? A comida era boa, né?
- Nossa, nojenta. Tivemos que até ir reclamar com o maitre. Peixe congelado por dentro, macarrão ao dente-dente-dente – e haja dente para mastigar aquilo –, carne de antes de ontem. Você podia escolher entre as comidas ruins e as péssimas. E os garçons jogavam os pratos me cima da gente. Mal-educados que só eles.
- E suas amigas, também acharam tudo horrível?
- Ah, no final até rimos. Uma delas ficou presa, de baby doll, para fora da cabine. Sabe quanto tempo ela teve que esperar no corredor para abrirem a porta? Uma hora e meia, coitada. Imagina você ficar uma hora, quase pelada no corredor, de baby doll e chinelo? Ainda bem que minha camisolinha era discreta, pensei. Se eu ficasse para fora não ia dar tanto vexame como ela.
- Viche.
- Já o seu Loreto, o único homem da nossa turma, se perdia o dia todo. Afinal, ele tem mais de oitenta anos... Vimos muito pouco o seu Loreto, coitado. Ele estava sempre perdido, rodando, procurando alguém. Nem sei se ele comeu direito.
- E aquelas mulheres que você conheceu, que levaram os próprios dançarinos? Aquelas que rachavam com as amigas o preço da passagem dos dançarinos?
- Nossa, coitadas. Estavam inconsoláveis. Acho que os rapazes se encantaram com o lugar, com aquela gentarada e não quiseram mais saber delas: su-mi-ram. Também, imagina se eles iam ficar dançando com umas velhinhas com tanta mocinha a bordo. Desapareciam o dia todo, deixando as mulheres indignadas.
- Mas mãe... mãe, o que era bom no navio?
- Hum. Acho que só a loja de relógios.
- Hã? Loja de relógios?
- É. Adorei a loja de relógios que tinha lá dentro do navio. Comprei um monte de relógios: dois para você, dois para sua irmã, um para cada neto, um para mim. Olha, até para a Maria eu comprei um relógio.
- Relógio, mãe?
- É. Relógio de pulso. O que é que tem? Vem, vem aqui pegar os seus. Cada relógio bonitinho, filha...

É assim que é minha mãe. Engraçada.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2005

de mãos dadas



Tento sempre levar a vida de maneira fácil, leve, achar graça nas coisas pequenas, ver o grande não tão grande assim. Dizem que a abrangência da mente da gente é enorme, mas a minha própria acho que é meio limitada, porque sempre começo pensando muito a sério algum assunto, mas logo em seguida tenho a maior preguiça e já começo a desistir da seriedade.
Dizem que mulheres em geral são assim, um pouco preguiçosas mentais. Acho isso uma grande bobagem, achar que não existe aprofundamento num pensamento feminino. Tem mulheres que afundam tanto, mas tanto, que encalham dentro da vida delas. Não é? Por isso faço esforço para ser o mais leve possível. Uma mulher leve tem muito menos possibilidades de encalhes, pois pode ser levada pelo vento e planar, descompromissadamente, por aí.
Meu maior medo na adolescência era justamente esse: encalhar e afundar, compacta como uma âncora, direto lá pro fundo da vida. Eu pensava nisso e já me via solteirona, sem saída, enclausurada, sem ar, igual a uma tia-avó minha, que já morreu. Embora eu gostasse dela, nunca quis que minha vida fosse igual à dela. Ela entregou a vida só ao trabalho, provou que era melhor que muitos homens, mas foi a mulher mais solitária desse mundo.
Um dia eu estava na casa dela fazendo uma visita, pois ela estava adoentada. Ela na cama e eu ao lado, conversando.
- Deite aqui ao meu lado, lúcia.
Obedeci e ficamos as duas olhando o teto da casa antiga, cheio de manchas de umidade.
- Lúcia. Quando se tem um marido a gente faz isso? – ela me perguntou, de repente.
- Isso o quê, tia?
- Ficar assim, de mão dada, na cama?
- Sim, claro – respondi – muitas vezes, na cama, no sofá... em todos os lugares, tia.
- Sem falar nada um com o outro? – ela insistiu.
- Umas vezes sim, outras não, tia. Depende.
Ela ficou calada um tempão.
- Acho que isso deve ser bem melhor que aquilo.
- Aquilo o quê, tia?
- Aquilo que casais fazem na cama - e ela explicou melhor, em claro e bom tom – Sexo. Eu falo de sexo, menina. Isso é bem melhor que sexo, não é?
Talvez ela tenha compreendido muita coisa, depois de tantos anos sozinha e tanta falta de amor. Sim, minha tia. Deitar numa cama e poder dar a mão a alguém, sem ter nada para falar ou ouvir e apenas olhar o teto é muito bom. Não sei se é melhor que sexo, como ela quis achar e eu não falei nada para ela não ficar triste, mas é muito, muito bom. E ser mulher é descobrir isso e querer isso, também.
Minha tia morreu dois anos depois, aos noventa e dois anos. Me deixou essa lembrança linda desse dia. Me deixou essa mancha carpinejada no meu teto.

Eu ia falar de uma coisa e falei de outra completamente diferente.Caramba.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2005

Um blog muito lindo


Atenção.
Vou fazer uma propaganda aqui.
É que achei um blog lindo, de um escritor que eu nunca tinha lido nada.
Fabrício Carpinejar.
O mundo me perdoe se ele for muito famoso e eu estiver dando o maior fora.
Eu não sabia, eu não conhecia.
Mas o moço é maravilhoso no que escreve.
Vão lá olhar o que ele escreveu sobre as manchas.
As manchas da vida.
É muito lindo.
Um dia vou ser amiga dele de verdade.
Ah, vou sim.

Apoio total a TOCMF

Acabei de criar um selo para a já famosa campanha anti-tabaco da Sheila.
Vai ficar aqui comigo, já que sou também um blogueira ex-fumante, ou melhor, uma blogueira fumante que está sem fumar há dois anos, dois meses e um dia.
.
Ah, tirei o link do "blônicas". Achei que valia a pena, mas Deusme livre.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2005

rachando o bailarino


- Alô!
- Oi lúcia, filha! Tá ouvindo?
- Mãe? É você?
- Lúcia, filha! Alô! – ela gritou.
Minha mãe sempre berra em interurbano, mesmo quando a ligação está boa. Acho que é coisa do tempo do telefone de manivela. Por exemplo, as vezes ela me atende normal, falando baixinho. Quando eu digo que estou, por exemplo, em outro estado, ela se assusta e passa a gritar feito doida.
- Sou eu, a mamãe! Alô!
- Oi mãe! Onde você está? Porque não me ligou antes?
- No navio, ué! É que eu só liguei o celular agora, aqui na cabine.
- Está se divertindo, mãe?
- Muito, estou adorando, mas é muito estranho. Pensa, mais de três mil pessoas flutuando numa barcaça... uma caixa fechada, imensa...
- Tem gente demais por aí?
- Nossa, precisa ver a piscina. Não fiquei cinco minutos, tive aflição.
- E o que tem mais para fazer, mãe?
- Olha, passeios, almoços, jantares, cinema. E, claro, baile o dia todo. Nunca vi coisa igual.
- Como? Baile?
- É, esse é um cruzeiro chamado “dançando a bordo”, filha.
- E... – eu começei a rir, minha mãe sempre inventa moda – E você tem... dançado nesses bailes, mãe?
- Hahaha, só com as pessoas da nossa turma. Sabe, as senhoras aqui trazem os próprios dançarinos, é a coisa mais chique fazer isso. Hahaha. Da próxima vez eu vou trazer também. Agora que eu já sei como funciona a coisa...
- Hã? Como é?
- Aqui as senhoras trazem os seus dançarinos particulares, filha. Para dançarem sem parar!
- Tipo... personal dancer, mãe?
- Tipo... isso mesmo. É tão engraçado.
- Ave, mãe.
- Mas são poucas as que trazem um, particular. A maioria “racha” o dançarino. Como não podem trazer um exclusivo, só para elas, pois é caro; elas se juntam em duas ou três e dividem. Bem, como ninguém agüenta dançar sem parar com a nossa idade, é uma boa.
- É... uma boa, mãe? - fiquei pasma com a tranquilidade dela.
- Uma boa mesmo. Ué. Se a pessoa gosta de dançar, filha... que é que tem?

terça-feira, 22 de fevereiro de 2005

O cheiro das velhinhas


Vila Sésamo, "Beto e Ênio"

Vamos lá. Esse negócio de blog é fogo.
A gente encasqueta com um assunto e não tem como.
Passei o dia todinho pensando no nariz. Não senti muitos cheiros hoje, apenas dois: de cigarro, numa reunião (como ninguém estava fumando, acho que veio pelo ar condicionado do escritório) e de lasanha, quando cheguei aqui em casa.
Êee Maria... não vou nunca perder esses meus quilos a mais...
Um dos episódios da Vila Sésamo que eu mais gostava era esse aí, da imagem acima: só de lembrar tenho vontade de rir. Era assim: o Beto estava resfriado e precisava espirrar. Estava fazendo um escândalo. O Ênio, querendo ajudar, segurou o lenço para ele. Quando ele conseguiu dar o "atchim" e o outro tirou o lenço, percebeu que estava sem nariz. Eu era meio criança na época, adorava o Ênio e o Beto, e achei aquilo o máximo do engraçado.
Como falei da Silvia no post abaixo, lembrei de uma das grandes sacadas dela. Juntarei aqui cheiros, lembranças, narizes, amigas e contarei uma coisa que ela me disse.
Estávamos passeando pelas pracinhas da vida num final de semana, eu e ela. Ela discorria, empolgada, sobre um assunto que a transtornava na época: a velhice.
- Já sei! - ela deu um pulo - Sabe o que eu acho da velhice?
- Não, Sílvia.
- A velhice tem um cheiro! Isso!
- Hã? Cheiro? - me espantei.
E ela me disse uma coisa que até hoje martela na minha cabeça sobre as velhinhas.
- As velhinhas, sabe as velhinhas? As velhinhas tem cheiro de velhinhas, lúcia! - e ela me explicou - Pensa. As senhoras velhinhas sempre usam uns perfumes velhos. Sabe aqueles frascos de perfume de trinta, quarenta anos atrás, misturados com cheiro de roupa velha com laquê de cabelo? Isso cria um cheiro único, próprio, peculiar. Cheiro de velhinha! - ela declarou, seríssima.
- Cheiro de velhinha é cheiro de... perfume velho com laquê?
- Claro! - sorriu a Silvia - além de tudo, velhinhas sempre tem uma cômoda, uma penteadeira, um lugar só para colocar perfumes. E como são sempre econômicas, não compram perfumes novos! É isso!
De onde ela tirou isso?
Ela continuou, poética.
- Elas, as velhinhas, envelhecem junto com os perfumes, os frascos, os aromas, as essências, as lavandas, lúcia. Tudo fica velho, antigo. Elas jamais vão jogar aquilo fora, pois os cheiros as fazem recordar dos tempos em que elas eram mocinhas. Aquele é o cheiro da memória delas, da história delas. Cheiro de uma juventude que elas já tiveram, andando com as amigas pelas pracinhas. Não acha?
A Silvia tem esse negócio. Às vezes ela não vê as coisas só com os olhos.
Bem, depois desse dia, passei a verificar se o que ela dizia era verdade, e me pus a cheirar algumas senhoras velhinhas. Não é das coisas mais corretas para se fazer, mas a curiosidade foi maior que eu. E ela tinha toda razão. Reparem.
Uau. Que pensamento mais aromático.

o brinde



Gostei da foto e do momento. Só isso. Nada de mais, só a Silvia e eu brindando com vinho. O bacana era a tela de parede inteira ao fundo e o clima da festa. A pintura é do Fabio Miguez. E a foto, do Yudo, que chegou da Holanda.
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Hoje vou bagunçar tudo por aqui. Preciso pintar e reformar umas coisas aqui no escritório. O pedreiro, o Titão, chega daqui a pouco. Sei lá o que será de mim nessas duas próximas semanas - estarei confinada num cantinho qualquer na sala de estar, rodeada pela tv, pelo video game, pelo aspirador de pó e ouvindo o barulho da panela de pressão.
Sabe como é?
Trabalhar em casa tem essas coisas. Esses barulhos e esses cheiros.
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Por falar em cheiro, ando pensando muito em cheiros. A gente não sente mais cheiro, depois que passamos a viver mais e mais dentro das casas e escritórios e nos carros condicionados. Cheiros de podre, de rua, de fumaça e de carniça passam impunes. Cheiros de gente, de suor e bafo idem. Olha que asssunto bom.
Cheiros.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2005

O gancho - I


Bem, me disseram que se eu tiver um desses dai, posso conectá-lo direto no meu micro e poderei, além de usar o ganho, usar o teclado, como se fosse um celular mesmo.
Não confiei muito no site dessa "Clone". Eles escrevem tudo errado. Vi duas coisas absurdas logo de cara: a palavra "frequêntes" escrita com esse acento e a palavra "Av. Rebolsas" escrita assim, com "l" e "s"!
Alguém tem isso???

domingo, 20 de fevereiro de 2005

capitã gancha



Adoro tudo quanto é novidade que aparece em computador. Tem umas coisas que são até bem inúteis, mas sempre experimento para ver como é. Olha. A gente nunca sabe o dia de amanhã. Ninguém dava nada pela internet, olha o que aconteceu.
Também sei que ninguém mais agüenta ouvir minhas milhares de teorias sobre o futuro da telefonia moderna. Acho que já escrevi mais de dez textos sobre o tema mas, sério, preciso dizer só mais uma coisinha.
É sobre o Skype, gente.
Para quem não sabe, Skype é um programa que você baixa no computador e que te permite telefonar para os outros. É mais ou menos igual ao MSN e o ICQ, a diferença é que é bem mais rápido e eficiente, pois só tem som, como o telefone. Sempre uma coisa que faz uma única ação é melhor do que outra que mistura tudo. E o Skype funciona direitinho: igualzinho a um telefone e, o melhor de tudo: É GRÁTIS!
Iêba.
Franka instalou na hora.
A primeira vez que ele tocou eu rodei a acasa toda feito barata tonta para descobrir de onde vinha aquele som de telefone velho. Triiim... Triiim... Triim... Não me toquei que aquele "trim trim" vinha de dentro do meu micro, como se estivesse sido engolido. Me atrapalhei um pouco para atender, me atrapalhei um pouco mais para entender como ficava disponível ou não e ainda mais um pouco para entender a lista telefônica. Mas dali em diante, ô coisa legal.
Só tem um problema, e esse problema que é o motivo desse post.
É o gancho, gente.
O gancho, esse da figura ai de cima. O bom e velho gancho.
Eu simplesmente não consigo falar direito no telefone sem segurar num gancho de telefone. São muitos anos falando no gancho para eu me livrar dele assim, sem mais nem menos. Sou totalmente dependente do gancho do telefone para conversar com naturalidade. Acho que é um tipo de condicionamento cerebral: o meu cérebro ouve o trim – trim, em seguida vem o impulso de pegar o gancho, em seguida vem o impulso de falar alô e conversar.
Mas sem o gancho a voz não vem, as mãos balançam, bobas, o meu olho não sabe para onde olhar, e a mente não se conecta na linha. Eu gaguejo, travo, engasgo. E não me engancho na conversa.
- Eu preciso de um gancho, urgente – pedi a um amigo engenheiro que vende equipamentos telefônicos – Um gancho, daqueles antigos, entende? Com bocal e ouvido, mas com um tipo de cabo USB na ponta. Isso existe?
Ele disse que vai arrumar. Fará umas adaptações. Assim que eu conseguir essa maravilha, ah,... aí sim que eu vou ser a rainha do Skype. A Capitã Gancha do Skype.
Ah, ainda: acabei de inventar outro verbo: escaipar. De hoje em diante, quem é moderno não telefona mais. Escaipa, gente.
Ei. Alguém topa escaipar comigo?

sábado, 19 de fevereiro de 2005

O ALMOÇO


é dos carecas...
(fotos by franka, montagem by JB)

Fui num almoço-delícia na casa de um dos meus personagens, e encontrei velhos e bons amigos.
Percebe-se que muito deles perderam as maravilhosas madeixas da época da faculdade.
Mas... pensando (e olhando) bem, não são lindas as carecas que surgiram abaixo?

presente para a Sheila


Para a Sheila, que mora lá do outro lado do Atlântico, não lê os quadrinhos da Folha de São Paulo e que está mandando o mesmo "amigo" embora da casa dela...
Boa sorte!

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005

o chiclete, a cocada e o mictório



E tem a história da cocada. Tem uma mulher na estrada que liga Ilhéus a Itacaré, a Dona Vani, que faz cocadas ma-ra-vi-lho-sas. O curioso é que ela nem é baiana, é paulista do interior de sp. Foi pra lá há cinco anos e montou um lugar para vender empada e cocada na estrada. As empadas dela são deslumbrantes e as cocadas então, nem se fala.
Toda vez eu trago cocada de lá. E cada vez tenho mais pedidos de cocada. Ontem eu tinha que trazer pra o Zé, pra a Maria, pra a secretária do dono da casa e para os engenheiros que não foram.
- Quero... uma dúzia de sacos de cocada! – pedi, ontem, animada.
Quando olhei tamanhão do pacote, hesitei. Mas... como não trazer aquela delícia? Assim, além das pedras, lá estava eu no aeroporto com um outro sacão, esse cheio de... cocadinhas de fita.
Notem bem. Um saco não podia amassar, o outro nem dava para carregar de tão pesado. Tudo estava meio confuso, eu cansada e imunda, o fiscal da TAM de walkie talkie atrás de mim me bajulando, as moças de cabelo colado me olhando meio torto, eu me achando a maior fotógrafa e tirando foto do homem da Vinci (o Mona - leitor do post anterior).
No meio disso tudo, a Silvia, a decoradora que foi comigo, me olhou, faminta.
- Ei. Vamos comer cocada enquanto o avião não chega?
- Oba, eu topo – falou o marceneiro, animado, me olhando mais faminto ainda – Abre ai o saco de cocada, lúcia! Libera as cocadas para a gente!
Hum, que delícia. Eram sete e meia da noite e a gente estava morrendo de fome.
- Peraí – falei para a decoradora – Deixa eu jogar fora o meu chiclete.
Fui até o lixo. Pensei primeiro em cuspir o chiclete, mas achei muito feio uma mulher dar uma cusparadona em público. Assim, tirei o chiclete da boca com a mão, discretamente, para jogar fora. Acontece que o chiclete grudou no meu dedo e não desgrudava de modo algum. Eu passei a sacudir a mão, meio de leve, sobre o lixo. Mas que droga, não desgrudava. A sala de embarque lotada, cheia de americanos e italianos, e eu lá no meio, tentando me livrar do chicletinho mascado em cima da lata de lixo, na maior dança, sacolejando a mão e o braço. Caramba.
Não consegui mesmo, o negocinho grudava numa mão e depois na outra. Já irritada, tive que (argh!) colocar o dedo dentro da lata de lixo para desgrudar, na frente de todo mundo. Senti os olhares americanos, italianos e da-vincianos descofiados: “... o que essa louca está fazendo esfregando a mão dentro do lixo?”.
Ufa. Enfim consegui descolar o chiclete do dedo. Voltei para a minha cadeira para comer a cocada.
Mas como eu ia abrir a cocada com aquela mão imunda de lata de lixo?
- Ai, Silvia, guentaí que vou no banheiro lavar a mão.
- Vai logo, que estou quase atacando sua sacola.
Eu juro que achei que aquele desenho na porta do banheiro era uma “mulherzinha”. As pernas pareciam uma saia longa... seri lá, acho que estou variando um pouco.... Só sei que entrei correndo no banheiro, liguei a torneira, olhei para o lado e vi.
Três mictórios bem ali, do meu ladinho.
Vazios, ainda bem. Sério, nunca tinha visto um mictório tão de perto.
Céus, entrei no banheiro de homens! Céus, e tinha gente na cabine!
Sai correndo dali sem sequer secar as mãos, sob as risadas de quase todo mundo daquela sala de embarque, que, óbvio, viram tudo.
E enfim, devoramos um pacote enorme de cocada.
Que dia.

O MONA - LEITOR



Fui de novo para a Bahia ontem. É a maior paulera essa coisa de ir e voltar no mesmo dia. Chego despencada.
Existe essa palavra? Paulera?
.
Tirei essa foto na sala de embarque de Ilhéus. Um Mona-Leitor! Engraçado, não? Ficou meio escuro e fora de foco, mas o enquadramento está quase perfeito (isso é o de menos, considerando que tenho que colocar a máquina na resolução mais baixa e que ela está perdendo suas qualidades por causa do excesso de poeira).
.
Agora virou festa achar "pedras coração para a lúcia" lá na Bahia. Acho que ninguém mais trabalha naquela obra, é um tal de pedreiro - empreiteiro - caseiro - eletricista chegarem sorridentes com uns saquinhos de pedras que não acaba mais. E para carregar aquele monte de coração? Tive até que pegar um carrinho no aeroporto.
Haja coração desses baianos.
.
E depois do já famoso "ataque de franka no balcão da TAM" (ver o post lá embaixo), gente do céu, não é que eu fiquei famosa no aeroporto de Ilhéus?
- Vou colocar a senhora num bom lugar hoje! - me falou a moça dos cabelos colados no crânio assim que eu encostei no balcão azul.
- A senhora aqui! Hoje a senhora está mais calma? - perguntou o sr. Waldemar, o fiscal-gerente que levou uns berros naquele dia - Olha dona lúcia, sempre que a senhora tiver um problema me chama. E me avisa quem for da turma da senhora que nós vamos dar um tratamento especial - ele me disse, me cumprimentando com um aperto de mão na pista.
Quase pedi para tirar uma foto com ele.
Olha que idéia! Da próxima vez eu juro que tiro...

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2005

cartão postal



Atenção pessoas: isso é um legítimo cartão postal.
Encontrar um desses é uma raridade nos dias de hoje, pois eles foram quase que totalmente extintos há mais ou menos cinco anos, com o advento do email. Um cartão e um dinossauro, extintônicamente falando, são praticamente a mesma coisa.
Desapareceram do mundo.
Para os que não sabem, um cartão postal é uma forma de comunicação praticamente pré-histórica, onde de um lado temos uma foto ou imagem do lugar onde a pessoa está e do outro lado vem a mensagem da pessoa, ao lado do seu endereço. Sim, os carteiros podem ler os cartões, são cartas abertas, e por isso as pessoas escrevem só coisas "líveis" nos cartões. E, acreditem, acabei de receber um cartão do meu querido amigo e quase primo Francisco Iglesias, que está em Paris.
Óbvio que minha filha veio em cima da correspondência, direto.
- Que qué isso?
Que prazer que dá uma mensagem vir em forma de... objeto, gente. Um cartão, uma carta são reais, táteis. E, se pensarmos bem, por trás de um cartão tem tanta coisa... Tem alguém que comprou o cartão, procurou uma caneta, escreveu, foi até o correio, escolheu um selo, pagou o selo, colou o selo e colocou o cartão na caixa de correio. Não é coisa de gente preguiçosa (como a gente) que nem tira a bunda da cadeira para falar um alô pros amigos. Pensa. O cartão veio ele mesmo de lá do lado de lá do mundo. Tem até as digitais da pessoa, se a gente for investigar.
Obrigada, Francisco, meu caro quase primo e amigo, por gastar esse tempo comigo ( e um dia preciso contar aqui a nossa história, não acha?).
O mundo dá voltas mêsmo.

comidas


cebolinha

Tem uma comida que acabei de comer que eu adoro. É cebolinha, daquelas cebolinhas verdes, sabe?
Gosto de comer aquela cebolinha assim: a gente corta bem pequenininha, passa no azeite, coloca shoyo e deixa ela cozinhar no shoyo. Fica igual uma sopinha.
Adoro comer isso. Sei lá, me dá a impressão de ser uma coisa saudável.
Eu aprendi a entender o meu estômago. Demorei, mas aprendi. O meu estômago, por exemplo, detesta feijão. Não dá, não entra. Não é que eu, lúcia, deteste feijão, na verdade eu gosto muito de feijão, é super gostoso feijão, mas ele fica puto da vida quando coloco feijão lá dentro e me dói muito. Leite idem. Meu estômago odeia leite, vai entender porquê.
Falando em comida, nesse ano resolvi fazer uma coisa. Não que isso tenha virado uma teoria, não é sempre que eu faço isso, só vez ou outra.
É que eu resolvi comer uma, ou no máximo duas coisas ao mesmo tempo. É o seguinte: numa refeição, só como batata assada, por exemplo. No outro, só arroz. Purinho. No outro, só carne. No outro, só acelga, aquelas folhonas. E por assim vai. Isso me fez descobrir coisas muito legais: você sente o gosto real da comida.
Pensa, o arroz. A gente usa arroz para misturar com tudo, mas arroz sozinho é muito bom. Batata então, nem se fala, é ótimo batata. Milho verde é demais. E acelga, então? Uma delicia acelga. Comer acelga dá a mesma sensação de comer cebolinha, mas acho que isso é coisa do meu inconsciente, que aprendeu que verdura é mais saudável que o resto das comidas. Acelga não deve ser mais saudável que mandioca, óbvio, mas eu acredito bem mais na acelga que na mandioca.
Vai entender o subconsciente alimentar das moças doismilianas.
A minha família e a do Zé são o contrário disso. Fomos criados com um monte de travessas na mesa, sempre. Os pratos que aprendemos a comer continham, no mínimo umas 6 coisas, por exemplo: arroz, feijão, batata, bife, ovo, verdura ou salada. Imagina se algum dia na minha infância eu pude comer só feijão? Nunca, era proibidíssimo comer uma coisa só.
Me sinto uma grande transgressora ao comer só cebolinha, como hoje.
Ahaha. Que coisa mais engraçada pensar sobre isso.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2005

galhardeando a web


Olha que engraçado que eu achei nas minhas revistas velhas. Tenho um monte delas. Muuuitas. Um armário cheio. Eram da minha avó, minha mãe ia jogar fora quando ela morreu e eu não deixei.
Imagine jogar fora as revistas da vovó. São revistas "Querida", "Cláudia" e "Vida Doméstica" e "Casa e Jardim". Sei que é uma tranqueirada, juntam pó e cupim, mas são minhas, eu gosto de olhar e folhear e não vou jogar fora coisíssima nenhuma. E, por exemplo, não fosse por elas eu jamais saberia o significado da palavra "galhardamente".
Aliás, gente, essa palavra nem existe no dicionário. Existe o verbo "galhardear", que quer dizer: "apresentar-se com galhardia; brilhar; sobressair" e a palavra "galhardia", que significa "qualidade ou característica do que é galhardo; garbo, elegância; generosidade de alma; magnanimidade; moral forte diante das dificuldades; coragem, bravura".
Ora.
Ainda não cheguei na menopausa. Mas quando ela chegar, a enfrentarei com bravura e galhardia.
E enquanto isso, pelo menos aqui nesse web world, espero estar me galhardeando bem.

a louca da louça



ou a louça da louca


Tem uma coisa que ela adora: lavar louça. Deixar a água escorrer entre os dedos e levar a sujeira, depois colocar tudo arrumadinho. Lado de lá, lado de cá. Sujo e limpo, igual nos encontros e desencontros, no certo e no errado, no bom e no mau, no prazer e no horror. Credo. Tem coisas que não devia pensar.
Tem panelas gordurentas e nojentas, que deixam óleo nas mãos, tem migalhas de pão nos pratos, tem comidas que grudam como cola. Uns são mais fáceis, outros mais difíceis, mas todos têm que ser lavados na mesma água que cai.
Ela precisa acabar o serviço, dizer ponto final, passar a limpo, reescrever. Doem as pernas, enrrugam-se as mãos, acaba-se a água, mas nada se acumula. Come-se a comida, lava-se a louça. É filosofia de dona de casa, mas é boa e alimenta a mente de toda mulher, mesmo aquelas mais modernas e chatas. Mas dane-se as convenções, com isso ela se sente levinha, como se pudesse alcançar o céu e voar.
Voar?
Não.
A água é a âncora que a guarda ali, naquela casa.
Vem muita gente ter com ela, muitos pedidos, chegam, pedem espaço. Ela abre todas as portas, todas as janelas, todas as frestas e vãos. E vem as sementes, que ficam no solo querendo crescer.
Entrem todos, entrem. A casa é sua, está às ordens. Ela aprende a receber, a deixar escorrer, pois esse é o único jeito. Filtrar a água limpa da suja, separar o óleo, as impurezas. Entrem aqui, diz, preciso que entrem. Quero que outros se plantem, preciso de mais sementes, preciso diminuir essa rotina, ela diz para o mundo. Entrem, entrem, ela fala nos finais de semana. Entrem que eu preciso descobrir onde estão todos. Entrem e me salvem desses horríveis finais de semana.
.
Acho que se eu conhecesse essa mulher eu saia correndo, pois ela é completamente maluca.
Escrevi esse texto há cinco anos. Achei hoje e ele me comoveu. Não tenho a menor idéia do que eu queria dizer com isso na época. Mas agora me disse muito.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2005

E o que a vaca tem a ver com isso?


epa!


- Pai.
- Oi.
- Você participou do Movimento Estudantil, não foi?
Era almoço de sábado, a família toda na mesa.
- Sim, filho. Já te contei mil vezes.
- É que agora vão fazer um museu. Acho que vai se chamar "Memória do Movimento Estudantil". Estão recolhendo material, quem tiver pode doar para eles, eu vi na TV.
- Olha que legal – falou o pai, pensativo – Eu tenho muita coisa. Folhetos, fotos, atas de reunião.
- Uau, do demônio, pai – o menino estava todo animado – E, escuta, parece que eles vão abrir os arquivos do DOPS. Você está nos arquivos do DOPS, pai?
- Eu? – o pai ficou um pouco atrapalhado – Bem, não, não sei, pode até ser...
- Como não, pai? Você não era do Movimento Estudantil? Não era até do Partidão?
O pai não queria desapontar o filho, mas não se lembrava de ter sido preso ou fichado.
- Eu era, filho, mas...
A mãe interveio.
- Querido, impossível você não estar nos arquivos do DOPS. Você tinha até codinome naquela época. Eu me lembro muito bem. Era um nome de peixe... qual era mesmo o seu nome de peixe, meu bem?
- Mas pai, você vivia em passeata, carregando faixas, discursando! - exclamou o menino, decepcionado - Já vi um monte de foto sua, você me contou tanta coisa. Eles nunca te pegaram?
- Não, filho – falou o pai, sem graça.
- Querido, sério. Acho um absurdo eles não terem te fichado - declarou a mãe.
- Também acho – falou o filho, decidido.
- Será que a gente não pode reclamar lá nesse museu novo? – ela perguntou, olhando para o marido – Quem sabe, se eu for lá e levar as provas todas, eles não colocam seu nome na lista do DOPS? – ela estava indignada – Imagine. Tinha até codinome, ia em reunião secreta, fugia da polícia e não foi fichado? Absurdo.
- Também acho, mãe. Também acho. Vai mesmo – incentivou o filho, diante do homem que suspirava.

dos baús do betão



... e não é que existe mesmo um grupo chamado TAVARES?
Dá licença, Betão, mas que coisa mais engraçada que você foi desencavar.
O pior é que... olha bem, gente... eles bem que tem um pique de "rapper vovôs", não acham?

domingo, 13 de fevereiro de 2005

Um tal de vovô Tavares


biggie

No carro, saindo de São Paulo, indo para Ibiúna.
- Quem foi Tavares, pai?
- Tavares? Que Tavares?
- Esse rapper. Tavares.
- Rapper? Tavares? Como assim, João? – perguntou o Zé.
O João adora rap. Tem uma montanha de discos, que ouve numa altura ensurdescedora, dançando e pulando. Conhece todos, todas as histórias e músicas.
- Acabei de ler numa placa: Rodovia Rap. Tavares. Não conheço nenhum rapper com esse nome.
- Esse é o nome da estrada, João, seu burro – falou a irmã - Rodovia Raposo Tavares!
- Ah, tá, tá. Achei que era uma homenagem pra um cantor de rap. Assim, mais velho, claro - ele explicou, como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo.

sábado, 12 de fevereiro de 2005

A HISTÓRIA DOS DÍPTICOS


a de blusa branca é a sílvia, a de blusa preta sou eu

Eu gosto dessa foto porque a Silvia e eu estamos na mesma posição que estamos nos desenhos: a imagem dela a esquerda e a minha imagem a direita.

Essa história maluca começou quando eu reencontrei a minha amiga de faculdade, a Sílvia. Um dia descobrimos que éramos ambas mães de três filhos, vizinhas e sócias do mesmo clube. Passamos a nos ver em tudo quanto é canto. Um dia ela me chamou para ir na casa dela a noite.
- Para conversar, lúcia. Mas sem filhos e sem maridos. Vamos?
Fui. Bebemos, conversamos, lavamos a alma. Passamos a nos visitar toda semana. Como fumávamos muito, a Silvia chamava nossos encontros de “chá com fumaça”.
Um dia, de brincadeira, começamos a escrever emails sobre os assuntos conversados durante a noite, para não esquecer. E um dia a Silvia começou a escrever uma história sobre duas mulheres. Achei engraçado e continuei. Eu era uma personagem e ela outra, eu escrevia um capítulo e ela outro. O texto virou um livro, enorme, feito a duas mãos (ou a duas "mães", hahaha!). Livro? Não, é um divertido tratado sobre a sobrevivência feminina no estranho mundo dos casamentos, que ainda é um xerox encadernando (que nunca foi publicado, é isso que quero dizer).
Sabe, a vida de uma mãe, casada e profissional é, muitas vezes, bem sem graça. Tem obrigação demais, tem (obviamente) falta de paixão e falta de namorados, tem muito trabalho por causa dos filhos. Daí para você se tornar uma chata de galocha é um pulinho. Mas descobrimos, através das conversas malucas noite adentro e através da ficção um universo paralelo que nos fazia gargalhar de rir.
Tinha dia que eu acordava no meio da noite, rindo.
A linguagem escrita é muito perigosa, me disse a Silvia, pois vimos coisas que nunca tínhamos visto dentro da gente mesmo. "As palavras faladas voam com o vento", ela concluiu, "mas as palavras escritas grudam na gente feito sanguessuga".
Assim, um dia a história acabou, mas o nosso convívio não.
- E agora, lúcia? – ela me perguntou – Como continuamos? Escrevemos outra novela?
- Bem, Silvia... - respondi, matutando - já falamos tudo que podíamos falar, já escrevemos tudo que podíamos escrever sobre nos mesmas, e agora falta...
Ela pescou a isca na hora.
- Agora falta desenhar, Lúcia! Vamos desenhar juntas?
Olha que maravilha. Depois de anos só trabalhando com projetos e obras, a idéia de sentar e desenhar com uma amiga era o máximo. E não causaria transtorno nenhum nas nossas vidas(olha, claro que isso conta - fazer qualquer coisa em casa com uma amiga não causa nenhum problema de ciumeira com os maridos).
Escolhemos a área de serviço da minha casa, que é enorme e tem um monte de mesas velhas. E ali, no meio dos tanques, das máquinas de lavar, das roupas secando, dos baldes e das vassouras, nos sentamos uma diante da outra.
- Pronto. Desenhamos o quê, Silvia?
- Sei lá! – ela deu de ombros, divertida – Hum, que tal desenhar... “chaves”?
Olha, nem lembro se desenhamos alguma chave. Só sei que pegamos uns papéis grandões em branco, um vidro de tinta preta, pincéis, começamos a tagarelar sem parar e desenhar uma a outra. Eu desenhava a Sílvia, a Sílvia me desenhava. Quando uma acabava a outra também acabava. Era uma “conversa” de desenhos. Acabávamos, numerávamos e pimba, partíamos para outro.
E dá-lhe conversa.
Anotávamos nos desenhos o que falávamos naquela noite. E continuamos fazendo essa coisa por muitos meses, sem entender muito porquê e onde isso ia chegar.
Essa é a história desses desenhos que eu colocarei aqui no blog uma vez ou outra. Os dípticos. São muitos e são sempre dois. As descobertas que fizemos desenhando juntas foram imensas e mágicas.
E eu não sei bem, mas até hoje quando eu pego um lápis ou um pincel eu me lembro da cara da Silvia. Ah, e lembro como era difícil desenhar o cabelo dela.

DÍPTICOS - I


dípticos 1, silvia pela lúcia e lúcia pela sílvia, julho de 2001

Falando em desenhos, aqui vai um desenho de uma série interessante. São desenhos que eu fiz da Sílvia (minha melhor amiga) e que ela fez de mim. Colocamos os pares de desenhos juntos, fotografamos (pois foram feitos ao mesmo tempo) e fizemos um pequeno livro, com os desenhos e os textos que os intercalaram.
Repara numa coisa: o primeiro desenho é meu (e eu desenhei a Sílvia) e o desenho ao lado é dela (e ela me desenhou).
Eu e a Sílvia chamamos isso tudo de "nossos dípticos".
Esse é apenas um. Eles são muitos. Mas como essa história e a explicação dessa invenção (que salvou as nossas vidas, minha e da Silvia) é longa, será contada em partes.
Tic.
Tac.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2005

O MAR - IX


cabo frio - foto de autoria da helô do banana etc.

Ô beleza. Ganhei essa linha do mar da Helô do Banana. Olha que maravilha. Ganhei a foto, veio de brinde uma poesia. Lá vai:
.
"Brigam Espanha e Holanda
pelos direitos do mar.
O mar é das gaivotas
que nele sabem voar
Brigam Espanha e Holanda
pelos diretos do mar.
Brigam Espanha e Holanda
porque não sabem que o mar
é de quem o sabe amar."
.
(Leila Diniz)
.
(foto e texto já foram publicados no Banana tempos atrás, diz a Helô)
.
Bem, ainda sobre a linha do mar. O Paulo me disse ontem que ele sempre desenha a linha do mar, mesmo quando não tem mar. Que ela dá referência para ele.
Ele me disse que gosta dela porque é infinita e atemporal. E que a linhas verticais são finitas e temporais. Hum. É complicado de entender, mas quando você entende tem todo o sentido.
.
E ainda vale lembrar que eu e Renata, do Belas Imagens, inventamos um verbo muito bom. É uma NOVIDADE, blogueiros do Brasil. Atenção!
É o verbo "ofipostiar".
Ofipostiar, guardem bem.Comentar um assunto "off- post".
Significa comentar outro assunto que não é o do post da pessoa, entende?
Não é só um verbo, gente. É estilo de vida de blogueiro.
Eu ofiposteio muito.
.
Eita. Como eu invento moda.

o vidro de nanquim


o aparecimento do vidro de nanquim

Foi aquele sucesso o post anterior, vocês viram? Acho que vou pensar melhor sobre o que fazer quando crescer.
Caramba. Aqui na web, desenho dá mais ibobe que crônica.

Mas eu tenho que falar duma coisa im-pre-ssi-o-nan-te.
Juro, aconteceu.
Eu falei ontem dos vidros de nanquim e ecoline que eu levava na bolsa daqui para lá quando era estudante da FAU, toda saudosa de "tempos que não voltam mais". Escrevi sobre desenhar, sobre pintar, sobre o passado, tralalá, trololó.
Tudo bem, é bom relembrar, mas me deu a impressão que eu estava velha e meio chata.
Bom. No final da tarde, recebi a visita do Paulo, aquele amigo meu que tira fotos dos filmes dentro do cinema e que adora rosas, falei dele uns dias atrás. Como ele é artista plástico, comentei com ele sobre o blog, sobre o post, mostrei para ele o meu desenho e falamos sobre linha do mar (o Paulo NÃO tem computador).
- Ah, nanquim? Bico de pena? - e ele deu risada, abriu a bolsa enorme que ele carrega e me mostrou o vidrinho e as penas, enroladas num pano.
O Paulo carrega um vidro de nanquim na bolsa!
Taí a foto para comprovar.
.
Ufa, ainda bem que o passado e a nostalgia não me pegaram pela perna.
Não estou tão velha: ainda há gente que carrega vidros de nanquim.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2005

O MAR - VIII


carnaval em picinguaba

O desenho é meu sim.
Foi feito uns 20 anos atrás, em Picinguaba, aquela prainha de pescadores, ali, depois de Ubatuba. Tinhamos uma amiga que tinha uma casa ali. Era engraçado, a gente viajava para o meio do mato e levava um monte de lápis, carvão, bico de pena, papel e nanquim. Parava para olhar a paisagem, parava para desenhar, para aquarelar, para rabiscar.
Sempre aparecia algum amigo do lado para conversar enquanto alguém desenhava. Era uma coisa deliciosa. Eu vejo esses desenhos hoje e me lembro de risadas, das conversas.
Uma vez viajei três meses para o Peru e Bolívia com uma parafernália de tintas, pincéis e papéis. Aquilo pesava uma tonelada, pois levei todas as cores de ecoline que eu tinha. Ecoline, sabe ecoline? O vidrinho? Um monte de ecoline na mochila, nas costas. Eu acho que eu não batia bem. Subia montanhas com aquilo. E pintei a viagem inteira, não tirei uma só foto: só desenhos e pinturas, aliás, eu nem tinha máquina fotográfica. Bem. Fui assaltada na viagem de volta, levaram tudo. Hoje tenho a viagem na memória, mais nada.
Mas tudo para falar que acho que descobri a linha do mar desenhando. Sim, foi isso mesmo.
Veja. Lá está ela.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2005

Isso é carnaval?


carro do purgatório da unidos da tijuca

Sério, eu não ia colocar essa imagem aqui. Feia demais, deprê demais, cinza demais. Mas fiquei tão chocada com isso quanto com o carro alegórico.
Olhaí, gente, isso é carnaval?
É alegria?
Divertimento, alegoria?
Oras bolas, os carnavalescos da Unidos da Tijuca que me perdoem, mas esse purgatório deles é puro teatro, e teatro é teatro e carnaval é carnaval. Favor não misturar. Não é estanho ver essa gente imunda e despida, amontoada e sofrendo?
Ave.

O DESTAQUE


no meio do fogo

Ontem, no café da manhã, encontramos essa foto no Estadão.
- Olha pra isso... – me mostrou o Zé, embasbacado.
- É o desfile do Rio – reparei, sem olhar direito.
- Mas olha isso... Que diabos é isso, caramba?
- Um carro alegórico, Zé. Um dos carros alegóricos de alguma escola.
- Mas olha! – ele estava impressionado – Eu nunca me dei conta do tamanho, da luxuosidade e da imponência. Tem fogo saindo por cima, elefantes no chão, cornucópias gigantes. É uma coisa fantástica, de outro mundo, percebe?
- E daí? Todo ano é assim, Zé. Um monte desses.
- Mas hoje que eu reparei numa coisa. Olha de novo.
- Reparou no que?
- Ora, pensa. Um carro alegórico desse tamanho, com essa beleza e com esse luxo, deveria ter aqui no meio... – e ele apontou para a figura do destaque do carro – ... a pessoa mais importante do Brasil, obviamente, lú! O Lula, por exemplo. Era o Presidente do Brasil que deveria estar no meio dessa coisa, no meio do fogo, dos elefantes e das plumas.
- Hã?
- ... e não um desconhecido qualquer. Veja...
E ele me mostrou a foto mais uma vez, apontando para a pessoinha lá no meio.
- Quem é essa pessoa aqui? Vê? Tem alguém aqui, mas nem tem o nome da pessoa no jornal! Quem é esse homem? Quem?
- Zé, mas é para ser assim mesmo! É carnaval!
- É para ser assim como? - e ele começou com suas explicações sociológicas de copa-cozinha - Um povo deveria usar o carnaval para enaltecer os ídolos, os líderes, os mais adorados, ora bolas. Esses homens e mulheres que deveria ser os "destaques" do carnaval. Mas veja que estranho, existe o carro, existe a homenagem, mas não é para ninguém. É a fantasia pela fantasia e mais nada. Volta e meia aparece um ou outro ator de TV, mas cadê o Lula? O Serra? O Gil?
- E você descobriu isso hoje, agora? - eu suspirei. Esse é o Zé.
- Descobri – e ele respondeu, dobrando o jornal e me olhando - Ei. Já ferveu o café?

terça-feira, 8 de fevereiro de 2005

TACOS & MARGUERITAS


dúvidas atrás do vidro de pimenta

Edu (Itamambuca) veio aqui em casa ontem. O Zé resolveu fazer tacos e chamamos alguns amigos. Para combinar, ele se animou e até confeccionou uns drinks: margueritas.
Tacos & margueritas by Zé na segunda feira gorda.
Não consegui tomar a tal de marguerita. Muito forte esse negócio de tequila. Bastou um gole e eu já estava zonza. O Zé disse que não, que não era forte nada, mas depois de umas duas todo mundo estava se divertindo “demais” pro meu gosto. Olha. Quando você é a única que não bebe numa turma que bebe, existe um momento que você nota que as pessoas estão rindo meio sem razão. É como se eles estivessem num mundo paralelo, você fora. É nessa hora que você se desenturma.
Já fazia algum tempo que eu não encontrava o Edu pessoalmente. Falar no blog a gente se fala quase todo dia, mas ao vivo não.
- Não sei não, lúcia – ele me disse, confuso – esse negócio de blog...
- Como assim, Edu? Que tem os blogs?
- Ora. Para quê a gente faz isso? Sei lá se eu vou continuar. Não vejo nenhum sentido.
Crise? Existe isso? Crise de blog? Sim, existe, e o Edu estava bem no meio de uma. Olha a quantidade de coisa que a gente ainda não entende nesse mundo virtual. Uma crise blogger. Essa é boa.
Ele insistia, desanimado.
- Para quê? Me fala, para quê, lúcia? Uma bobagem, não serve para nada. A gente nem conhece as pessoas, fala com desconhecidos. Tsc. Para quê?
Não sou psicóloga virtual, e confusa para dar conselhos. Mas eu me senti na obrigação de defender a coisa.
- Serve pra gente ter assunto, ora - declarei, firme - Um blog serve para a gente ter um assunto por dia, e nada mais que isso, oras.
- Como é?
- Entende, Edu? Um assunto por dia – e eu fui me empolgando muito na minha explicação – acho que blog é exatamente para isso. Para você colocar uma questão por dia para o mundo. Se o “mundo” não ler o teu blog é problema dele, não seu. A sua parte você faz. E... ora, se você não é capaz de ter ao menos um assunto novo por dia, seja ele uma história, um pensamento, uma foto ou uma frase, ah, então Edu, você é um... nada. Um ser medíocre. Quer saber? – Eu me levantei da cadeira e declarei, inflada - E eu me recuso a ser uma “nada”. E francamente, tenho um monte de assuntos todo dia, bons ou ruins! – conclui, achando maravilhosa minha defesa.
Bem, se o Edu vai sair da crise ou não, não sei. Mas eu me convenci completamente, isso que foi maluco.
Um assunto por dia? Ichi. Tou perdida.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2005

um dia na represa


sooooooooombras

Eu e minha filha Nani.
Quando olhei essa foto, pensei: caramba, como é facil crescer. Tudo depende do ponto de vista e da hora da vida.
Bem, já sou arquiteta, já sou praticamente uma cronista e quando crescer mais um pouquinho vou ser dramaturga. E depois de tudo isso, antes de me aposentar, ah, caramba, eu vou ser uma grande fotógrafa.
Olha para essas fotos, que espetáculo.
Acho que eu dou para a coisa.

Agora mesmo, aqui ao lado, o João estava me cutucando e fuxicando.
- Mãe. Mãe. Mãe.
- Pára, Juca.
- Tá, mas assina aqui.
- Tou ocupada.
- Assina.
- Ufa.
Assinei um rabisco sem olhar para o lado. Ele saiu e voltou, e acabou de me deixar um papel.

"Contrato
No dia 7 de fevereiro de 2005 lucia se comprometeu a comprar alguns jogos de videogame ps2 no dia 8 de fevereiro de 2005 assinando esse contrato, caso ela se recuse tomará castigos:
-um mes sem tv e sem ps2
-um dia sem computador
- ou duas semanas trancada no seu quarto sem fazer nada
assinatura de quem fez o contrato
(aqui tem a assinatura dele)
assinatura de quem asseitou (com dois esses)
(a minha assinatura)
fechado
confirmado"

Dancei.

E a linha do mar na represa de Ibiúna, que tal?
(e para completar a foto, o Zé)

o samba do FRANKAMENTE


alalaôôô
Olha que legal que eu ganhei: uma marchinha de 1951, enviada pelo Betão: chama-se a "Marcha do Caracol", que ele intitulou de "Samba do Frankamente".
A quanto tempo não tenho onde morar
Se é chuva apanho chuva
Se é sol apanho sol
Francamente pra viver nessa agonia
eu preferia ter nascido caracol...
Adorei o presente e mais ainda a simplicidade da letra da música. Se pensarmos bem, ter um blog é como ser um caracol: uma casa que levamos para todos os cantos...
Ah, e para ilustrar esse carnaval do Betão, ai vai uma foto do carnaval da Franka-lúcia de 1976, num baile de carnaval de salão do interior de São Paulo. Aquela de uniforme de empregada branco sou eu, ao lado da minha irmã Ângela, de shorts jeans. Hahaha... e olha o naipe da decoração do salão, que mixuruquesa, céus!
Alalaô e viva o caracol!

domingo, 6 de fevereiro de 2005

a alegria azul e delirante do PVP


De-lovely - os amores de Cole Porter

Ontem foi aniversário do Fernandinho, fomos na casa dele à noite. Lá estava o PVP, todo animado, ajudando a organizar a festinha.
- lúcia, assisti um filme maravilhoso - me contou o Paulo - Lindo demais!
- Qual, Paulo?
- "De-lovely". Você já viu?
- Não. Nem sei do que se trata.
- Mas vá ver logo, você vai adorar! - ele me falou, animado, abrindo a mochila e tirando um monte de fotos - Olha isso aqui que máximo.
- Que é isso?
- Ora,ora - falou o Paulo - É o filme que eu estou te falando. De-lovely! Olha.
- Hã? Fotos do filme? - perguntei, olhando as fotos não-digitais na minha mão.
- Ah - e ele sorriu - Mas eu sempre tiro fotos dos filmes que eu gosto. Você não tira? Olha... - e ele me mostrou a foto (ver acima) onde está escrito "alegria delirante" - ... olha esse azul e essa rosa no poste. Não é deslumbrante?
.
Tá vendo? Isso é ser blogueiro na alma, sem precisar de computador.

sábado, 5 de fevereiro de 2005

crônica XXXXVII do "moda almanaque" da uol


crônica moda almanaque XXXXVII

O samba da Gisele

De novo não assisti à todos os desfiles da São Paulo Fashion Week, como os jornalistas de moda daqui do site. É absurdo, errado, fim da picada e tudo mais, afinal sou cronista de um site de moda e esse é o evento mais importante da moda dessa cidade. Nem deveria abrir meu bico para falar nesse assunto.
Mas vou falar só uma impressão. Coisa mínima.
Vi alguns desfiles pela TV, bacanérrimos. Porém me assustei nos dias seguintes com a quantidade de notícias que apareciam nos jornais, revistas e TV. Foi o acontecimento do mês, a SPFW. Fiquei intrigada. Porque esse evento faz tanto sucesso?
Difícil missão, essa de ir a fundo nas raízes antropológicas e sociológicas de um povo e seus hábitos, ainda mais tendo estudado pouco. Mas tive um clic.
Como não pensei nisso antes?
Olha: a SPFW, com esse nome esquisito, americanóide e impronunciável, é o nosso desfile de carnaval. É o sambódromo dos paulistas, gente.
Tudo isso por muitas razões:
Um: paulista gosta de lugar fechado, com ar condicionado. Nas ruas de São Paulo é raro ver alguém “passeando”, à toa. As pessoas sempre estão usando as ruas e calçadas para “ir” ou para “voltar”. Paulistas gostam de ficar dentro de lugares; restaurantes, shoppings, cinemas.
Dois: paulista gosta de andar vestido, ao contrário dos cariocas e baianos, que, acostumados com a praia, o calor e principalmente com o próprio corpo, gostam de ficar meio pelados.
Três: paulista não gosta muito de samba e dança. Todo mundo aqui é mais travadinho. A gente tenta, tem gente que entra até em aula de dança, mas não é a mesma coisa. A coisa não está na alma.
Nesse contexto, aparece a SPFW. Um lugar para ir com convite, com desfiles organizadérrimos, uma passarela toda chic, lugares reservados, modelos bonitas e muitas... (ichi, vão me matar por isso) “fantasias”.
Essa é a quarta razão dessa comparação esdrúxula. As roupas são fantasias sim, gente. Fantasias de grandes estilistas. Olha. Para as pessoas da moda, as roupas desfiladas são “coleções”, mas para nós, mulheres comuns que usam calças jeans com números maiores que 36, “estar na moda” é apenas estar razoavelmente arrumada para circular sem dar vexame. Aquilo tudo é maravilhoso e deslumbrante, mas é tudo... fantasia. Idênticas ou até mais escandalosas do que as fantasias da passarela da Sapucaí. Das mais de duzentas roupas dos desfiles que eu assisti, acho que eu só usaria umas... seis, sete. O resto, só se eu tivesse enlouquecido.
Agora vamos para a quinta razão para provar minha teoria: a Gisele Bunchen. Nessa história, a Gisele é a nossa passista. E quem vai me dizer que aquele modo dela andar não é um tipo moderno de sambinha? A moça dá uma requebrada meio torta e desconjuntada a cada passo, não é? É samba de paulista, ora.
O mais perfeito samba da nossa terra.
Além disso, cada um dos estilistas tem um tema para desenvolver, uma explicação para as alegorias, um cenário, um clima. Tem até a música batucando!
Só acho que a coisa falha um pouco no quesito “animação”, isso é algo que temos que resolver para alcançar os concorrentes. Tirando a Gisele, que ri à toa, as demais modelos são muito bravas e entediadas. Tenho até um amigo que tem medo de modelos. Me confidenciou que tem pavor de pensar naquelas moças esqueléticas, com caras assustadoras, andando rápido na direção dele. “Tão bonitas” - ele fala – “Porque não sorriem nunca?”
Ah, bobagem. Quem se importa com isso, no meio de um desfile de carnaval?

o líder do movimento estudantil


Um dia, há mais de vinte anos, eu vi esse moço cabeludo discursando sobre uma mesa lá na faculdade.
E me casei com ele.
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Bom carnaval pra todos nós.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2005

o VERDADEIRO ataque de franka


o verdadeiro ataque de franka, que não é loira.

E ai vai uma ilustração (feita pela própria autora) do ataque histérico do balcão da TAM exatamente no momento de maior descontrole.
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obs.: (como Franka não é loira e muitos leitores reclamaram, mudei a ilustração anterior para esta aqui, com os cabelos castanhos)

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2005

voando stressada



A coisa mais difícil do mundo é achar graça nas coisas que não tem graça nenhuma. Mas é um exercício mais do que necessário se você pretende viver sem stress.
Me propus a fazer isso há mais ou menos um ano, depois que fui assaltada e fiquei toda traumatizada. Desde então, cada vez que surge uma situação de ódio, raiva, tento pensar num modo de dar risada para poder falar "dane-se".
Ô coisa difícil na hora, ô coisa boa depois. Juro, nunca me arrependi de não me irritar. Mas desta vez não foi culpa minha.
Verdade mesmo.
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É que na volta da Bahia para São Paulo, eu cansada de tudo e acompanhada de dois engenheiros da obra, descubro que a TAM vendeu passagens além do número de assentos. E que nós, mesmo tendo chegado 1 hora antes do vôo, não podíamos voltar: os outros 120 passageiros eram uma turma de uma convenção da Telefônica que foi para Comandatuba e que fizeram check-in no hotel, antes de todo mundo.
Tinham preferência, acho.
- É uma casualidade, senhora - me falou sorrindo a atendente da TAM, de cabelos colados no crânio (como elas fazem aquilo?) - Mas colocaremos os senhores no próximo vôo, amanhã cedinho.
Liguei para a Ana, a secretária do meu cliente, que me compra as passagens.
- Ana, sobramos aqui em Ilhéus. Acho que vamos ter que dormir aqui.
- Quê? Como? - ela berrou - Tá louca? De modo algum, lúcia! Isso é absurdo, a TAM não pode fazer isso! Faça um escândalo, berre, xingue, não deixe de embarcar no seu vôo! - ela me disse, enfática.
Olhei para um lado e para o outro. Lá estavam eles.
Umas 120 pessoas irritantemente felizes, bronzeadas e sorridentes. Eu estava cansada, imunda e com fome. Não seria difícil fazer um escândalo.E... e, bem, a Ana mandou, não foi?
Gente, sabe aquelas mulheres que berram no balcão do check-in, indignadas, histéricas?
Era eu ontem a noite.
A cliente descontrolada e estressada da TAM.
Deusdocéu.
Armei o maior barraco. O mais maluco é que, a cada frase que eu proferia, a coisa ia aumentando, sem nenhum controle. Acho que eu estava até gostando daquilo. Infladona. Enlouquecida. Completamente descontrolada.
Mas não estava dando em nada. Não tinha mesmo lugar para nós no vôo, e eu naquela berração inútil. Veio gerente, veio assistente, veio chefe, veio guardinha, e eu lá, firme e toda escandalosa.
Acho que perto de uma excursão de 120 Telefônicos (todos com a mesma camiseta, amarela e azul), a gente não tava lá com muita moral com a TAM.
Chegou uma hora que aquilo começou a encher o saco. Mais de uma hora berrando e argumentando não há quem aguente. Tive uma súbita vontade de desistir, mas como fazemos para "reverter" um escândalo num check-in? É muito mais complicado des-escandalizar que escandalizar, afinal, o público era enorme.
Coloquei os óculos escuros, disfarçando, e cochichei para o engenheiro.
- Luis, escutaqui. Não aguento mais xingar essas moças e berrar nesse balcão. Tou cansada.
- Putz, eu também. Vamos desistir? - ele propôs.
Topei na hora. Que alívio, gente.
Mas bem nesse instante a gerente se virou para nós, sorrindo. Surgiram uns assentos, sei lá de onde, e podíamos embarcar. Como o vôo estava atrasado, ainda tivemos que passar um tempão com os foliões Telefônicos na sala de embarque e voltar com eles no avião, cantando e rindo.
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Se valeu a pena? Ah, não, nem pensar. Voei estressada e mais cansada ainda.
Quer saber?
Coisa boa é conseguir achar graça dessas coisas que não tem mesmo graça nenhuma.

Os muitos azuis da vida da gente


o coração azul

Falando em cores de "antigamente", e quanto às coisas que tem cores das horas que elas foram alguma coisa para a gente?
Alguém vai tentar me convencer de que essa pedra coração não é azulzinha?
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O mais engraçado é que, ao chegar na Bahia ontem, fui recebida pelo sr. Laércio, o empreiteiro-encarregado da obra, com uma avalanche de pedras-coração de todos os tamanhos e formatos que ele pegou de presente para mim nas horas vagas.
Póde?

terça-feira, 1 de fevereiro de 2005

E QUE SE ABRAM AS CORTINAS!


as misteriosas cortinas do dudi

O seguinte:
Aí vai um post bem enigmático. Não sou a Sheila, mas como sou amiga do QOC e estou acostumada com as doidices dela, vamos lá:
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Já sabemos que os blogs se alinham e que existe a livre associação. Por isso, viva as cortinas, mesmo que elas guardem segredos e que sem elas não possamos mais no esconder. Viva o nosso passado, os módulos lunares e os bondinhos acortinados, que nos permitem tantas lembranças. Viva os nossos amigos virtuais tão queridos, viva os nossos filhos que nos acordam para o mundo de hoje. Viva o Dudi, que me mandou essa maravilhosa foto de uma cortina dele, única, mágica, viva, real e totalmente imaginária, uma cortina quadro, uma cortina para dentro dele, uma cortina enigma para uma pobre arquiteta com alma de dramaturga e cronista como eu. Viva a cor enigmática que ele inventou, uma cor de antigamente, a cor mais velha que eu já vi. Viva o fotógrafo dessa foto, que soube flagrar esse instante de meta arte com um homem colocando a mão dentro da cara do outro: uma arte sobre arte sobre arte sobre a gente, exatamente como fazemos nos blogs. E viva toda essa confusão na minha cabeça, que está me dando a maior vontade de escrever uma nova peça de teatro com cortinas.
Ô coisa maravilhosa. Veja, comecei falando do BBB5 e cheguei na dramaturgia.
Ah, e saibam... hehehe...
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Um dos gigantes do BBB acabou de ser eliminado e amanhã vou pra Bahia de novo, catar mas umas pedrinhas.
Bye!

A PEDRA HAMBURGUESA!


amigos, amigos

Olha que delícia que é ter amigos. A Ana e o Sérgio foram para o Chile, acharam essa pedra maravilhosa em forma de hamburguer lá no alto da montaha de neve e me trouxeram de presente (tem até neve em cima, vê?). É linda, é única! Vou fazer um pedestal especial para colocar na sala, ao lado da máquina da Canabrava.
Aceito sugestões para o apoio da pedra hamburguesa. Que tal um pedestal em forma de garrafinha de Coca-Cola? Ou em forma de Ronald MacDonald?

no escurinho


no escurinho das casas das avós

Falando em cortinas...
Se pararmos para pensar, vivemos o fim da "era das cortinas", gente.
É muito triste, mas é verdade. Nasci em uma casa com cortinas em todas as janelas, e hoje só tenho uma única cortina em casa (que está meio caindo).
A questão que precisa ser levantada não é decorativa. As cortinas, no passado, eram importantes e necessárias pois vedavam a luz, o sol e a claridade. Hoje não mais. Hoje em dia, a claridade, o sol e a luz são símbolos de bem estar e de vida saudável.
No começo do século as coisas eram diferentes. Pessoas chiques e "bem de vida" não ficavam no sol. Tinham casas escuras, fechadas e frescas. Todos os meus avós, nas suas casas no interior, viviam na penumbra: as casas eram fechadas e todas acortinadas. Era sempre o maior breu lá dentro, mas para eles ficar no escurinho era bom, pois era mais agradável, afinal, não havia ar condicionado. E ficar no sol era coisa de trabalhador braçal, de pessoas mais simples.
E olha a maravilha. Ser branquela era o sonho de todas as moças.
Os carros tinham cortina, as casas tinham cortinas, as escolas tinham cortinas. Até o cinema tinha cortina! Panos e panos nas janelas. As casas eram vestidas, com saias e babados.
Há. Imagina a quantidade de ácaros que existia no passado.
...
Lá se vão as cortinas que balançavam ao vento. Mais uma coisa que some devagarinho do mundo, junto com as penteadeiras, as cadeiras de balanço e os armários sem embutir.
E agora, dá-lhe insulfilm, muros, cerca elétricas e janelas blindadas.