terça-feira, 22 de fevereiro de 2005

O cheiro das velhinhas


Vila Sésamo, "Beto e Ênio"

Vamos lá. Esse negócio de blog é fogo.
A gente encasqueta com um assunto e não tem como.
Passei o dia todinho pensando no nariz. Não senti muitos cheiros hoje, apenas dois: de cigarro, numa reunião (como ninguém estava fumando, acho que veio pelo ar condicionado do escritório) e de lasanha, quando cheguei aqui em casa.
Êee Maria... não vou nunca perder esses meus quilos a mais...
Um dos episódios da Vila Sésamo que eu mais gostava era esse aí, da imagem acima: só de lembrar tenho vontade de rir. Era assim: o Beto estava resfriado e precisava espirrar. Estava fazendo um escândalo. O Ênio, querendo ajudar, segurou o lenço para ele. Quando ele conseguiu dar o "atchim" e o outro tirou o lenço, percebeu que estava sem nariz. Eu era meio criança na época, adorava o Ênio e o Beto, e achei aquilo o máximo do engraçado.
Como falei da Silvia no post abaixo, lembrei de uma das grandes sacadas dela. Juntarei aqui cheiros, lembranças, narizes, amigas e contarei uma coisa que ela me disse.
Estávamos passeando pelas pracinhas da vida num final de semana, eu e ela. Ela discorria, empolgada, sobre um assunto que a transtornava na época: a velhice.
- Já sei! - ela deu um pulo - Sabe o que eu acho da velhice?
- Não, Sílvia.
- A velhice tem um cheiro! Isso!
- Hã? Cheiro? - me espantei.
E ela me disse uma coisa que até hoje martela na minha cabeça sobre as velhinhas.
- As velhinhas, sabe as velhinhas? As velhinhas tem cheiro de velhinhas, lúcia! - e ela me explicou - Pensa. As senhoras velhinhas sempre usam uns perfumes velhos. Sabe aqueles frascos de perfume de trinta, quarenta anos atrás, misturados com cheiro de roupa velha com laquê de cabelo? Isso cria um cheiro único, próprio, peculiar. Cheiro de velhinha! - ela declarou, seríssima.
- Cheiro de velhinha é cheiro de... perfume velho com laquê?
- Claro! - sorriu a Silvia - além de tudo, velhinhas sempre tem uma cômoda, uma penteadeira, um lugar só para colocar perfumes. E como são sempre econômicas, não compram perfumes novos! É isso!
De onde ela tirou isso?
Ela continuou, poética.
- Elas, as velhinhas, envelhecem junto com os perfumes, os frascos, os aromas, as essências, as lavandas, lúcia. Tudo fica velho, antigo. Elas jamais vão jogar aquilo fora, pois os cheiros as fazem recordar dos tempos em que elas eram mocinhas. Aquele é o cheiro da memória delas, da história delas. Cheiro de uma juventude que elas já tiveram, andando com as amigas pelas pracinhas. Não acha?
A Silvia tem esse negócio. Às vezes ela não vê as coisas só com os olhos.
Bem, depois desse dia, passei a verificar se o que ela dizia era verdade, e me pus a cheirar algumas senhoras velhinhas. Não é das coisas mais corretas para se fazer, mas a curiosidade foi maior que eu. E ela tinha toda razão. Reparem.
Uau. Que pensamento mais aromático.

Nenhum comentário: