eu ia falar de outra coisa, mas...Eu ia falar de outra coisa completamente diferente hoje, mas logo que acordei dei de cara com essa "maravilha" no Estadão de hoje e fiquei completamente embasbacada.
- lúcia, olha para isso... - me mostrou o Zé - Olha o empreendimento que vão construir na marginal Pinheiros, ali, depois do Morumbi...
Fiquei boquiaberta. Que diabos é isso?
Olha, deveria existir uma lei aqui em São Paulo onde a gente, os moradores da cidade, tivéssemos que opinar e decidíssemos se certos empreendimentos podem ou não ser construídos. Afinal, a gente vai ter que conviver com aquilo direto.
Imagina se, na nossa casa, alguém enfia um mega armário neoclássico no meio da sala, que, além de te atrapalhar, é feio-que-dói. Um pode argumentar "mas tem espaço para guardar coisas dentro dele", um outro pode dizer "ah, caber cabe, dá para conviver", mas é absolutamente incômodo, pelo menos para mim, ser pega de surpresa com um monstro desses no meio do meu caminho.
O projeto é do Júlio Neves. Em baixo, um mega-shopping, em cima, uma mega-academia, mais em cima, um mega-hotel e um monte de apartamentos de altíssimo padrão que custam mais de um milhão e meio de reais cada um. Os da cobertura? Mais de dez milhões.
Que diabos é isso?
Que arquiteto é esse que resolve construir uma cidade inteira dentro de um único edifício? Só falta colocar um colégio Porto Seguro, um hospital Albert Einstein, um laboratório Fleury (sim, essas coisas hoje em dia também precisam ter "griffe", gente), fechar tudo com um enorme muro, colocar uma mega-cobertura de policarbonato, condicionar o ar lá dentro e pronto!
Ninguém mais entra, ninguém mais sai!
Resolve tudo por ali mesmo, aliás, dane-se a cidade, dane-se o resto de São Paulo, dane-se o bairro e tudo mais.
Eu não quero chegar a conclusão nenhuma, mas acho que essa coisa não vai dar certo. Colocar um monte de apartamentos de milionários em cima de um um shopping enorme não funciona, gente! Quem tem muito dinheiro gosta e precisa de isolamento, e isso inclui isolamento físico. Condomínios fechados, edifícios exclusivos, Quintas das Baronesas, refúgios silenciosos sei-lá-onde. Para quem tem grana, hoje a palavra é exclusividade. Cada vez mais o homem de sucesso quer ser único, específico.
Mas olha para isso!
Eu nunca vi um projeto empilhar tanto rico-milionário como esse.
Além do que, é um conflito social muito grande. Colocar esses apartamentos de alto padrão sobre um local cheio de lojas e comércio, sobre um local público como um shopping, num bairro cheio de favelas? Vichi. Parece um prato cheio para aumentar a violência, não parece? Será que vão deixar a população do bairro usar esse shopping? Fica a pergunta.
Bem, taí para quem não mora em SP: e esse é o armário que vão colocar aqui, no meio da minha sala.