domingo, 30 de novembro de 2008

franka atrás do joelho


- Mãe, conta pra meu amigo que você tem um blog.
- Tem, tia?
- Tenho. O meu blog se chama "frankamente", peraí que vou te dar um cartão - falei pra o menino.
- Legal.
- Ela escreve sobre umas coisas do "cotidiano", sabe? E ela tem um apelido que ela mesma se deu. Ela é a "Franka". "Franka" do "frankamente..." - ele fez um gesto com a mão, balançando o polegar e o indicador - entendeu?
- Chico, pára de tirar sarro de mim. Não pode tirar sarro de mãe.
- Não tou tirando sarro, mãe - ele respondeu, obviamente ainda tirando o maior sarro - Sabe, outro dia ela escreveu um post sobre a minha calça "samuel".Você sabe o que é calça "samuel"?
O amigo olhou pra o Chico e arriscou.
- Aquelas calças que tem o bolso atrás do joelho?
Hahaha. Adorei essa explicação.
- Isso - respondi para o menino - Enquanto vocês fazem política estudantil lá na USP, enquanto vocês vão em plenárias e entram em chapas para o DCE, eu escrevo exatamente sobre isso no meu blog. Sobre calças com bolso atrás do joelho. Passo horas discutindo pra que servem aqueles bolsos atrás do joelho.
Se é pra tirar sarro do meu blog, tiro eu mesma.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

tratar mal?



Uma das obras que eu tomo conto (um dos meus trabalhos é administrar obras) é num prédio que tem muito segurança. Gente, não tem nem como explicar aquilo. Eu juro que é segurança demais, eu não me conformo com a quantidade. Tem segurança pra todos os lugares que você olha. Só pra ter idéia, da hora que eu estaciono o carro até a hora que eu entro na obra, eu cumprimento 9 caras. Bom dia nove vezes só pra os seguranças. Tem os da rua, o do quarda chuvinha, o da guarita, o da entrada, o do elevador. É. Em cada hall tem um segurança. Aqueles cubiculinhos de serviço, neles mesmo, tem segurança.
Não vou discutir o porque dessa maluquice, mas ao contrário de me sentir segura, eu me sinto super insegura naquele lugar. Agora, o interessante é que, desde que começei a ir nessa obra, notei que eles não falam comigo. Na verdade, encanei que eles me tratam até meio mal. Ora, eu vou ao menos duas vezes por semana e vejo todos eles toda vez. Já conheço as caras e tal, mas notei uma coisa: segurança é treinado pra não ser "chapa" de ninguém. Segurança não pode ser seu amigo. Ser amigo distrai. Isso é irritante e é o fim da picada, um cara ser treinado pra te tratar mal. Caramba, imagina você ter um trabalho onde não pode rir? E desde então resolvi que ia insistir: a cada vez que eles me tratam mal, eu trato os caras melhor ainda. Isso tem deixado os seguranças confusos pra burro. Eles não sabem se podem rir, se podem responder minhas perguntas. E na sexta feira, ahá! Um deles até deu até uma risada. Foi uma risada muito sutil, muito discreta, mas consegui. Eu sai dali satisfeita. Só espero que não esteja fazendo os moços perderem o emprego.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

o fim da campainha


Eu e a Bê resolvemos ficar conversando na frente da minha casa. Eu tenho uma varandinha que fica na frente da garagem. Era de noite, e o carro, as plantas e o portão atrapalham para ver a rua, mas notamos que um carro estacionou na frente de casa.
- Chegou alguém, Franka.
- É, chegou um carro, Bê.
- Deve ser alguém que veio aqui na sua casa. O seu filho Chico não estava esperando o amigo dele?
- Se for o amigo do Chico de carro vamos ouvir uma porta de carro fechar "blam" e a campainha vai tocar "dimdom". Vamos esperar.
- Não, Franka, a sua campainha não vai tocar.
- Se for o amigo do Chico vai.
- Não vai, Franka, porque hoje em dia as campainhas não tocam mais. As pessoas chegam na casa das outras e simplesmente telefonam. Ninguém mais toca campainha hoje em dia.
- Nossa, Bê, eu não tinha reparado.
Ficamos em silêncio. O carro lá fora parado, com o farol aceso.
- Viu? A campainha não tocou, Franka.
- É. Não tocou mesmo, Bê.
Nisso a porta da minha casa se abre, de dentro pra fora, e o meu filho Chico aparece.
- Tchau mãe, estou saindo. Meu amigo Kiko chegou pra me dar carona.
- Ah. Tchau filho. Juízo.
Olhei pra Bê.
- Franka, a gente mesmo, eu, você, a gente não usa mais campainha. Por exemplo, quando você vai buscar os filhos na casa dos amigos você toca campainha?
- É, Bê, tem razão. Eu não toco. Eu ligo pra o filho e falo "oi cheguei, saia", ou "oi cheguei, desça".
- O celular acabou com a vida da campainha, Franka.
- É verdade, Bê. Estamos vivenciando o fim da campainha. Pobre dimdom. Um som do passado.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

uma tal de calça samuel


- Mãe, já que a gente tá aqui no shopping, podemos comprar uma calça? - falou um dos meus filhos.
Há tempos que não gasto dinheiro com roupa pra eles. Na verdade, acho que as pessoas do mundo hoje tem roupas demais. Um dia achei que eu tinha roupa demais, que o Zé tinha roupa demais, que os meus filhos tinham roupas demais. Todos tínhamos roupas demais e depois ficávamos reclamando que faltava armário aqui em casa. Então há uns anos eu... eu... bem, eu meio que parei de comprar roupa.
- Gente, vamos pensar. Quando as que vocês tem estragarem, a gente compra mais. Vamos somente substituir - eu declarei - A calça rasgou, jogamos fora. O sapato está sem sola e o sapateiro disse que não dá mais pra arrumar? Ai compramos outro. A blusa virou um trapo? Só nesses casos. Não é uma questão de pão-durismo, isso é ser razoável e inteligente. Não adianta nada separar lixo, reciclar tudo e acumular camiseta. Não tem lógica isso. É que, pensem, roupa não apodrece, não embolora em uma semana assim como comida. Se roupa fosse como carne moída, que não dura muito, ninguém tinha tanta. A gente tem roupa que não usa quase nunca. Um exagero.
Acertei os detalhes com todos eles. A Luciana, que é menina, tinha que ter um pouco mais de roupas e acessórios, afinal, é menina. O João, que treina basquete, tinha que ter as roupas normais e os uniformes, tudo em boa quantidade. O Chico, que tá na faculdade de direito, tinha que ter ao menos uma roupa formal para as ocasiões importantes. E o número básico de roupas de cada um tinha que estar de acordo com o processo de lavagem/ secagem e passagem da Maria.
- Então, mãe, e a minha calça? - insistiu um dos meninos - As minhas calças já estão todas meio furadas e rasgadas. Posso comprar outra?
Entramos na loja do vendedor que sempre me cumprimenta com beijo-beijo. Oi, beijo-beijo-lúcia, oi, beijo-beijo-vendedor. Experimenta aqui, experimenta ali, quando meu filho vira pra o vendedor, com a maior cara de pau, e lasca essa:
- Ô moço. Você tem calça Samuel?
Meus filhos são assim. Eles fazem uma gracinha entre eles, riem, riem, e depois tentam com os outros. Os outros não entenderem é a melhor parte. Eles adoram trocar o nome das coisas, sutilmente, e fingir que não sabem o nome certo. Como se fossem uns caipiras-desavisados. Mas eles sabem muuuito bem. E agora existe um modelo de calça que se chama calça Saruel. É um modelo que tem um cavalo lááá em baixo. Parece um saco, mas dizem que é super confortável.
- Calça o quê? - perguntou sem graça o vendedor que beija-beija.
- Calça Samuel, moço.
- Samuel? - disse o moço, confuso.
O outro filho interveio.
- É. Calça Daniel, moço.
- Daniel?
Eu entendi a piadinha na hora, mas resolvi ver até onde aquilo ia.
- Calça Rafael, não tem calça Rafael aqui? Ou é calça Manuel que chama, moço? Sério que não tem? Aquelas, que tá na moda agora?
- Chama Samuel mesmo - insistiu o outro filho - Cal- ça - sa - mu - el, ô moço.
O vendedor deu um risada sem graça. Coitado. O menino pegou uma calça do cabideiro.
- Ah, tem sim. Olhaqui uma calça Samuel!
- Ah! Isso é uma calça Saruel! - o beijoqueiro explicou, aliviado.
- Isso - o meu filho disse, era essa que eu estava pedindo mesmo, uma calça Samuel. Vou experimentar.
- É Saruel que fala... errr... Sa-ru-el, Saruel! - tentou o vendedor, atrapalhado, achando que não tinha boa dicção.
Depois de um tempo, o Zé, que estava em outro lugar, entrou na loja pra encontrar com a gente.
- E ai, já compraram a calça? Tudo resolvido?
- Pai, vou comprar uma calça Samuel - o menino disse, rindo.
- Ual, filho. Que chique! Uma legítima Samuel? Hummm, que moderno...
É. O Zé adora essas piadas também. O vendedor me olhou e coçou a cabeça.
- É... é uma brincadeira de vocês, né? Uma pegadinha, né?
- Mais ou menos... - confessei - bem, e quanto custa essa... legítima Samuel?
- Perai que vou ver... a Samuel custa... custa...
Hahaha. Demorou, mas o cara entrou na piada. E duvido que ele esqueça do novo nome da calça.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

"assenhõas sagevô cin hocus"


Lá vou eu implicar com a ponte aérea de novo. Além dos absurdos dos lanches mequetrefes (happy-hour-tam?), eu juro, não tou velha nem surda mas o sistema de som do aeroporto do Rio é totalmente incompreensível. Colocassem uma senhora gritando que a coisa seria mais eficiente. Tem senhora que grita super bem, que tem voz super nítida. Pois ontem, na volta, não tinha portão de embarque. Tinha chovido pra caramba e os vôos mudaram todos. O saguão de espera da ponte é dentro de um tubo de vidro com teto de vidro, e o moço do chequim mandou aguardar a chamada do portão lá em cima. As televisões cheias de anúncio de celular e mais nada. "Assenhõas sagevôcin oitod atinov ortão zur".
- Hã? Que ela falou? - perguntou a moça do meu lado.
- E eu sei lá?
- Não ouvi - disse um senhor japonês - vocês entenderam?
- Não.
E todo mundo corria pra um portão onde aparecia qualquer pessoa de uniforme. Putis ginástica coletiva. Ficamos nessa lenga por horas. "Pagel desportogol umqualoito enta ã o borq". Que língua era aquela? Português eu falo, eu juro. Surda (ainda) não estou. Imagina um alemão ali. Será que ninguém repara que não dá pra entender nada? Consegui voltar só as sete. Na dúvida se aquele avião vinha pra São Paulo mesmo.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

no cemitério com a minha mãe - II


- Vamos embora desse cemitério, mãe?
- Vamos, pelo amor de Deus, Lúcia. Nossa. Mas antes olha aquele túmulo lá, Lúcia minha fiiilha... É muito pior que o da mulher morta com o marido pelado puxando... Olha que terrenão. Parece a mansão no Morumbi aqui do cemitério.
- Se fosse uma mansão no Morumbi tinha muro, cerca elétrica e câmera de monitoramento, mãe.
Ela ficou um tempo analisando, pensando.
- Olha filha. Túmulo deveria ter ao menos alarme, olha a quantidade de porta de cobre de túmulo que roubaram daqui. Viu como roubam as portas? Viu? Roubam pra vender, ah, esse Serra, viu? Escreve para ele, filha. Escreve, manda email, você é boa nisso. Ele devia colocar alarme aqui nos túmulos.
- Alarme?
- Sei lá. Acho que alarme não adianta nada, aqui só tem morto... Talvez arame farpado...
- Mãe, o alarme ia chamar a central de monitoramento, a empresa de segurança, onde espero que todos estejam vivos.
- Esse túmulo é bem mais exagerado do que o do homem de bunda grande. Olha que horror. É dum homem que morreu e olha, foi a esposa fez esse túmulo exagerado pra ele! Ai como mulher é boba. Ai não me conformo. O marido morre e ela gasta essa fortuna com o morto, devia era pensar no futuro dela, que burra, meu Deus...
Fui ler a lápide. Era pra um tal de Gianini, Giovanni, sei lá, Guiseppe? "Guiseppe meu...", falava a inscrição. E embaixo tinha assinado o nome de uma mulher.
- Olha, desta vez é ela que chora e se arrasta, mãe.
- É. Hahaha. Ela quis imitar o outro. Quis mostrar que amava mais. Bah. Duvido que o Guiseppe fosse lindo assim como essa estátua, com esse corpão, com esses cabelões. Nossa. E quem são esses outros pelados que arrastam o Guiseppe morto?
- Devem ser os anjos da morte, mãe.
- Que anjo da morte o quê... Ai que mulher burra. Isso deve ter custado uma fortuna, eu me pergunto pra quê, gente, pra quê isso? Quanto tempo depois que ela morreu, filha?
- Deixa eu ver, mãe. Quase vinte anos depois, mãe.
- Vinte anos depois e pobre, tenho certeza. Gastar dinheiro com morto. Que idéia. Devia era guardar o dinheiro pra casar de novo. Guiseppe. Bah.

domingo, 23 de novembro de 2008

no cemitério com a minha mãe


Fui novamente no cemitério com minha mãe para deixar umas florzinhas no túmulo do meu pai, pois na sexta feira foi aniversário dele. Como sempre, nos perdemos no caminho. Sempre nos perdemos no caminho do túmulo dele, pois depois de uma reforma no cemitério o túmulo dele mudou de lugar. Mas chegamos, e, depois da minha mãe e eu rezarmos um pouco e depois dela reclamar mais uma vez da tal mulher que foi enterrada lá sem ela saber, resolvemos voltar. Missão cumprida, eu e ela em paz, no meio dos túmulos, as duas reclamando do estado catastrófico que está o cemitério São Paulo: cheio de arrombamentos, calçadinhas velhas e esburacadas, bueiros que nem existem, uma falta total de manutenção que me fará, sem dúvida, escrever para algum jornal para reclamar quando ela estaca de repente.
- Filha.
- Oi.
- Ai filha, tem umas coisas que não me conformo.
- O que, mãe?
- Olha aquela estátua naquele túmulo. Olha que coisa mais absurda, um homem enorme, pelado, quase derrubando a mulher morta da cama de tanto puxar.
Era verdade. De onde estávamos só víamos a bundona do homem, que, como a estátua estava velha, estava toda descascada. Uma coisa bem... tosca de se olhar.
- Credo, Lúcia. Num cemitério as pessoas deviam ter respeito pelos visitantes.
- Mãe, é uma estátua, uma obra de arte.
- Há. Tá. Tudo tem limite. Tudo tem que ter limite, filha.
- Limite?
- Ora. Quer amar a mulher? Ama. Ficou triste que ela morreu? Fica triste, ora bolas. Quer colocar uma estátua da mulher que você ama morta em cima do túmulo? É esquisito, mas coloca. Mas pra que "se" colocar em cima dela desse modo, e ainda por cima com esse bumbum de fora? Que homem é esse meu santo Deus?
- Quem disse que esse homem é o marido da morta, mãe?
- Ah, Lúcia, e um homem em sã consciência vai colocar outro homem e ainda por cima em cima da mulher que morreu, em cima do túmulo da mulher que morreu? Ah, vá.
- Mãe, mas vai ver que a história não é essa... Aliás, já devem ter morrido, os dois, mãe. O túmulo é antiquíssimo.
- Filha, a história é a que a gente vê. Um homem pelado em cima de uma morta. Ai que horror. Tudo tem limite, tudo tem limite, ô gente mais louca essa.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

o chaveiro do porquinho

Outro dia numa padaria com a Bê eu comprei um chaveiro de porquinho. Como não tinha chaveiro na chave avulsa do escritório, mostrei o chaveirinho para a M. e passamos a usar o porquinho como chaveiro. Bom, nesse dia a M. não estava e eu desci pra tomar um café. Peguei o celular, o cigarro, o chaveiro de porquinho e lá fui eu. O porteiro me deu uma correspondência, e como era muita coisa pra carregar, resolvi colocar o porquinho no bolso. Mas o porquinho é de missanga e amassa, então noitei que era possível colocar o chaveiro do porquinho no passa-cinto da minha calça, pois ele tinha um tipo de clipezinho. Notei que ele ficaria seguro ali e que eu não ia perder a chave. Tomei meu café, subi. Já na frente da nossa sala de novo, fui tirar o chaveiro do passa-cinto pra abrir a porta. Nossa. Entalou total o chaveiro na minha calça. O clipezinho era mínimo, o passa-cinto grossão e além do passa-cinto, o clipezinho tinha a chave. Coloquei o celular e o resto das coisas no chão e passei a lutar com aquilo, pra desprender, entendem? Nada. Impossível. Resolvi, então, abrir a porta com eu grudada na chave, como se eu fosse toda um chaveiro. Mas a tal chave, para trancar e destrancar, tem que dar duas voltas, não uma, e depois da primeira eu já estava super grudada na maçaneta. Coisa mais ridícula, pose mais sem nexo, pensei, lembrando que além disso a porta da minha sala fica numa quina. Dei a primeira volta, respirei fundo, mas para dar a segunda eu tive que, sério, me esmagar completamente na porta, na quina, na fechadura, a barriga esmagada na maçaneta e bufando. Nisso, claro, óóóbvio, uma outra porta se abre e sai um dos meus vizinhos, gente, porque é que quando você paga-mico sempre aparece alguém pra te envergonhar mais ainda? Como eu ia explicar aquilo? A vizinha do cara toda apertada na porta, de costas, gemendo e fazendo estranhos movimentos na ponta dos pés? "Oi-tudo-bom? Tou-meio-confusa-aqui-mas-tou-só-tentando-abrir-a-porta, hahaha...". Ele me olhou estanho quando a porta... clunc. Abriu afinal e eu fui jogada pra dentro junto com ela, quase caindo no chão e pendurada pela chave. Dei tchau sem graça pra o cara, hahaha, consegui, hahaha, tirei a chave da fechadura, fechei a porta. Que vergonha. Bom, a chave ainda estava grudada no chaveiro, no passa-cinto e em mim, e só consegui tirar depois que entrei, fui ao banheiro e tirei a calça. Micos em geral. Mas aprendi. Nunca mais coloco o chaveiro porquinho no passa-cinto. E dãr pra esse post, hahaha.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

não, de novo não


Santo Deus, vai começar outro fim de ano-fim de mundo. Já falei aqui que detesto fins de ano, porque pra mim parece que o mundo vai acabar, mas no final não acaba nada. Mas uma coisa está ficando legal: a cada ano que passa, eu consigo me desvencilhar um pouco dos malditos presentes. Eu simplesmente não entendo porque a gente tem que dar presente no final do ano. Eu não tenho nenhum dinheiro a mais no final do ano porque não sou funcionária. E no final do ano eu tenho que pagar o 13* da Maria e pagar um monte de matrícula adiantada. O que me deixa incrívelmente pobre. E lá vem a pressão dos presentes. Tento, o tempo todo, reduzir os presentes, mas é um inferno. O carteiro, o lixeiro, o entregador de jornal. A família toda, os amigos, os vizinhos. Não é que eu não goste de dar. O problema é que não dá pra dar. E o problema mesmo é que eu não sei pra que é que eu tenho que dar presente. Não é aniversário de ninguém, ora. Todos os anos eu penso em fugir no dia 20 de dezembro e voltar no dia 5 de janeiro. Gente que viaja é sempre desculpada de não dar presente. Se você está no exterior, então, nem se fala: além de não precisar dar presente, ainda falam de você com um orgulho danado. Mas como eu já tive que pagar o 13* e as matrículas, não sobra dinheiro pra viajar. Todo ano isso. Esse ano eu tive uma idéia: "a gente finge que vai viajar e não vai", sugeri à família. "Mas como mãe?" "A gente não atende o telefone e sai de casa escondido, sem ninguém ver". Ninguém topou. Então eu resolvi. Não vou comprar nada e apenas me fingir de boba. Talvez dê certo.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

3 x 4


Coisas que eu não sabia ainda: celular serve para guardar foto dos filhos: antes as pessoas andavam com retratinhos 3 x4 na carteira, agora é pra levar no celular. Tratei de atualizar isso ontem, clicando os meninos e salvando as fotos no gerenciador de arquivos do telefone, ainda que tardiamente. Ainda não entendi, sinceramente, como resolver esse problema das fotos na minha vida moderna. Sempre tive álbuns de tudo: da minha infância, da adolescência, dos filhos, das festas de família, das viagens. Há sete anos que não imprimo uma foto, está tudo no computador. Não é nada palpável, e agora, com a quantidade de arquivos, acredito ser completamente impossível imprimir e selecionar em albuns. E olhar no computador é muito sem graça. Sinto que comi bola esses anos todos. Ô pena. Too late.

sábado, 15 de novembro de 2008

olha o que é um funcho

Sobre o post anterior, que falava dos funchos do blogueiro Flávio Prada. Lá vou eu, pensei hoje. Google, "funcho", procurar, estou com sorte (adoro usar esse negócio que não entendo muito bem a que veio e que tem no google). Caio num site chamado "as das rainhas do lar" e acho o funcho. Ó ai o funcho do Prada. Isso não é erva doce?. Parecido pra burro. Mas ele disse que comeu isso com uns bifinhos. Como alguém pode comer erva doce com bifinho, santo Deus? Não combina. E será que ele comeu a parte de cima ou a de baixo dessa planta? Será que a planta veio inteira no prato? Será que foi crua ou cozida? Será que o bifinho estava por cima, do lado ou baixo? Separado ou junto? É, concordo com ele. Muito difícil de explicar essa comida das montanhas da Itália. Melhor entender de outro modo, e assim eu tive uma idéia: quando o Flávio Prada vier de novo pra o Brasil, eu vou ali no meu Pão de Açúcar, vou comprar um maço de funcho e uns bifinhos. E vou chamar o Prada aqui em casa e dizer pra ele: Prada, faz. Pronto.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

os finocchio do prada

O Flávio Prada é um blogueiro amigo que mora nas montanhas da Itália. Ano passado ele veio ao Brasil e participou de diversos encontros. O um, o dois, o três. Todos sensacionais, vale a pena conferir. E de repente, agora a pouco, ele aparece no meu Gmail. Agora o Gmail tem esse quadradinho emesseêneco, onde você fala on-line com os Gmeios. A gente começou a maior conversa. O Flávio perguntou o que eu ia jantar, eu disse pra ele que era rosbifi com suflê de chuchu, e perguntei pra ele o que ele tinha comido, porque lá já era meia noite lá. Dai ele disse que não sabia. Não lembrava. Eu achei curioso saber o jantar do Flávio e ele saber o meu, ele lá na Itália e eu aqui em São Paulo, e resolvi fotografar a nossa conversa-gemeia.

Ficou um tempão meio lelé e zumbi lá do outro lado do mundo tentando se lembrar. Pensou, pensou, hesitou e disse que tinha sido "finocchio...". Eu começei a rir. Que seria um finocchio? Resolvi documentar esse momento da nossa conversa também. Afinal, finocchio é o que? Carne, massa, peixe, torta?

Dai ele se lembrou. Não era finocchio. Era "Funcho!!!", ele disse, animado. Fiquei curiosa pra burro pra saber o que era funcho então, que também não tenho a mais mínima idéia, mas ele me disse que tava com muito sono e que não ia me explicar não. Como assim? Eu insisti, falei que ia fazer um post sobre finocchios e funchos pra ele, mas ele me mandou pra Wikipédia, bocejando. Puxa vida, ô Flávio. Dai eu que tive preguiça de ir procurar e resolvi postar sem saber mesmo. Amanhã eu vou atrás. Qualquer informação sobre esse estranho alimento que o Flávio Prada consome será super bem vinda. Hahaha.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

volte luiz, volte

- Alô, oi Lucia.
- Oi, Ângela.
- Tou ligando pra te avisar que o Luizinho disse que não vai mais no seu blog. Ele disse que você só fala de assunto chato e sem graça. Hahaha.
- Sério?
- É, ele abriu, entrou, leu, leu, resmungou e saiu dizendo "ah, a tia Franka não escreve mais de nada legal".
- Poxa, Ângela, mas eu comprei até um monte de Gogos pra ele...
- Na vida real ele gosta de você, mas no blog ele não gosta mais. É, lúcia, é difícil agradar todos os leitores. Você vai ter que fazer alguma coisa.
- Tá, vou tentar. O Luiz é um grande leitor, não posso decepcioná-lo.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

ai, que medo dos elefantes


Nossa. Eu nunca tive medo de ônibus, agora eu tenho. Eu fui trabalhar na Vila Madalena. A Vila Madalena é um lugar em São Paulo com enormes ladeiras e ruas super-estreitas. Eu acho que um dia veio um monte de gente trabalhar na Vila Madalena e claro, apareceram na Vila um monte de ônibus pra levar e trazer as pessoas que foram pra lá. Uns ônibus enormes. É sério, é assustador. Os ônibus são muito maiores que as ruas, e quem guia há mais de vinte anos, como eu, sabe o quanto motorista de ônibus é destemido e o quanto os ônibus correm. Olhaqui. Tenho o maior medo dos ônibus da Vila Madalena, gente. Que eu posso fazer? Eu quase fecho os olhos quando vem um deles na minha direção. Ônibus não faz curva lá muito bem, é só fazer uma maquete com um caneta bic virando num canto de página. Não rola, pode bater mesmo em tudo quanto é lado. Outro dia tive que dar uma ré de mais de meio quarteirão, uma zona na rua, o maior rearranjo. O pior é que eles nem ligam, os motoristas, putis coisa normal pra eles. Um dia, na marginal, fui assolada por uma matilha de caminhões betoneiras tirando um racha. Eu juro, me senti feito um ratinho no meio dos elefantes. Outro dia vi um documentário sobre eles. Os elefantes. Foi no Discovery Chanel. O medo deles é um treco ancestral. O custo de arrumar o arranhado do carro também é.

domingo, 9 de novembro de 2008

franka cozinha


Cansei de todo mundo ficar falando que eu não sei cozinhar. Tudo culpa de uma teoria que inventei um dia: é que eu acho que quando alguém faz um jantar para amigos, esse jantar tem que ter autoria de uma só pessoa. Comida de uma autoria só é muito mais legal do que comida de dupla autoria. Aliás, comida de dupla autoria não tem graça nenhuma. Por exemplo, se a gente aqui em casa convida uns amigos pra comer, ou a comida é minha ou do Zé.
Só que dai aconteceu um troço esquisito. Como o Zé é mais destemido na cozinha que eu, e como também cozinha meio-melhor que eu, há anos que ele faz todos os jantares aqui em casa. E eu, bem, ao longo dos anos eu adquiri a fama daquela "que não cozinha nada". Mas isso não é verdade. É só culpa da Teoria da Única Autoria dos Jantares. Eu sei cozinhar sim e agora decidi que vou mostrar.
Resolvi fazer eu mesma um jantar. Mas depois de anos sem atividade culinária nenhuma eu tinha que tomar cuidado. Não inventar muito, mas ao mesmo tempo fazer uma comida com cara de comida de jantar. Com um tema. Jantar de única autoria sempre tem tema. Venham aqui em casa comer cordeiro. Estou te convidando pra um bobó. Não querem vir comer um cozido? Tem gente que faz até javali. Eu não podia fazer feio, mas de repente me veio a idéia: tacos!
Gente, taco é uma super comida para as pessoas com inatividade culinária temporária. Carne moída é facinho de fazer, picar as coisas é fácil também (queijo é meio chato), e as casquinhas é só esquentar depois da carne pronta (você não tem que controlar forno e boca de fogo junto). E é uma delícia.
Confiem no meu Taco.

sábado, 8 de novembro de 2008

beijo beijo


Eu sempre compro umas roupas pra os meus filhos em uma loja do Shopping. Sou uma compradora em potencial dessa loja, afinal, uma mãe com três filhos rende muito mais do que uma pessoa sozinha ou uma mãe com um ou dois filhos. Os vendedores sabem disso, óbvio, então sou conhecida e eles me tratam super bem. Um deles ficou meu amigo, e, de uns tempos pra cá, ele vem e me cumprimenta até com beijo. Oi Lúcia tudo bem beijo beijo oi Will tudo bem beijo beijo. Acho engraçadado demais dar beijo em vendedor de loja. Porque se é pra ser assim, eu devia dar beijo em garçom também. E eu não dou beijo em garçom nem em maitre. Mas já dei beijo de cumprimento no Toninho, que é dono de um bar em Pinheiros. Tem algumas pessoas que você conhece há anos e nunca dá beijo, tem outras que de repente tem que dar. Eu não entendo mesmo essa regra de cumprimentar com beijo ou sem beijo. Por exemplo, estou trabalhando no prédio novo há mais de seis meses, e nunca dei beijo nos porteiros, nem nos garagistas, nem na Beth do café. Também não dou beijo em ninguém das obras que visito, sejam peões, ou fornecedores, mas dou em alguns engenheiros. Alguns, outros nem pensar. Dou beijo nas empregadas e babás que conheço, dou beijo pra cumprimentar a manicure e a cabelereira. Já no telefone sempre dou fora e falo "tchau, beijo" pra um monte de desconhecidos nada a ver com beijo. Sinceramente não entendo qual é a lógica.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

os ortos e as grafias


Foi hoje o lançamento do livro do Jorge, o melhor amigo da minha irmã Ângela que ficou meu super amigo também. Ele é, como ela, professor, e escreveu um livro infantil muito legal, "Orto e Grafia". Ainda não li, portanto esse não é um post resenha. Na verdade é um post sobre a vernissage do livro, de onde acabei de chegar.
Olha, acho que foi tudo por culpa do nome do livro que me deu essa fixação. Quando o livro foi impresso, acho que cerca de um mês atrás, a Ângela veio aqui em casa com ele pra me mostrar. A Ângela fala muito, eu também, e a gente ficou com aquele livro da mão falando sem parar do Jorge, do livro. Era Orto e Grafia pra cá, Orto e Grafia pra lá, pois esses são os personagens da história, o Orto e a Grafia, um menino e uma menina, o personagem e a personagem.
Bom, cheguei no vernissage do Jorge e não tinha ninguém que eu conhecia. Ninguénzinho, gente. Ai-que-flição. Eu não ia me pendurar no Jorge, afinal o Jorge tinha mais o que fazer, o lugar estava cheio e ele não tinha obrigação ne-nhu-ma de me fazer sala. Eu fiquei lá meio a toa, zanzando, quase gastando com livros, desenturmaaaaadaaa... Sabe gente desenturmada to-tal, que disfarça e vai olhar prateleira com copinho na mão? Hahaha. E lá no meio daquele mooonte de Ortos e Grafias, eu pensei. Porque foi exatamente isso que me veio na cabeça aquela hora. Nossa, quanto Orto e quanta Grafia que eu não conheço, caramba. Gente, será que não vai chegar nenhum Orto conhecido? Nem uma Grafiazinha amiga? Nem um casal Orto-grafia? Bobeira minha (bom, o teste do chiclete do Luis, meu sobrinho, deu que eu sou boba, lembrem-se), mas aquilo não me saia da cabeça.
Foi quando, enfim, aconteceu: chegou uma Grafia conhecida, a Ana. Ufa. E olha que legal, a Ana tinha outra Grafia, uma moça mega simpática chamada Maria, uma produtora. Ufa-ufa, lá estava eu enturmada (enfim) com duas Grafias na vernissage do Jorge. Mas elas se foram, pois tinham compromisso, e eu fiquei lá sem Orto-grafia nenhuma de novo. Zanza pra cá, prá lá, copinho de guaraná na mão (gente desenturmada sempre segura copinho, dá mais segurança), quando de repente, ufa, um Orto. Ar-livrio! Oi Lúcia. Era o Alberto, um músico amigo do meu cunhado Caio. Ficamos conversando, até que começou a chegar um monte, mas um monte mesmo de Ortos e Grafias conhecidos, irmãs, cunhados, sobrinhos, amigos, novos amigos e de repente eu me vi na maior enturmação com um monte de Ortos e Grafias. Olhei ao redor super satisfeita. Não sou desenturmada. Nossa, como conheço Ortos e Grafias.
É, eu sou boba. E vai ser difícil parar de pensar numa situação de desenturmamento sem lembrar do Orto e da Grafia do Jorge. As palavras, gente, afe como as palavras são perigosas. Pegam.
*** Presente de Natal pra crianças? Orto e Grafia, do Jorge. Super presente legal, Franka recomenda.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

coca-cola e carã-bola


- Um guaraná - pediu o João.
- Gelo e laranja? - perguntou o garçom.
- Uma coca light - pediu a Luciana.
- Gelo e limão? - ele lascou.
- Um coca normal - pediu o Chico.
- Gelo e limão? - o garçon lascou mais uma vez.
O Zé interrompeu.
- Não moço, nem laranja nem limão. Eles querem todos os refrigerantes com manga.
Os meninos olharam para ele.
- Manga, pai?
- Ué, que saco isso. Pra que misturar essas malditas frutas no refrigerante? E, se é pra misturar, porque não se pode escolher a fruta? Porque é que pode guaraná com laranja e não pode com manga? Morango? Melão? Gente, sejam mais criativos, vamos.
O João entendeu. Olhou pra o garçom, que não compreendia nada, obviamente, e disse:
- Tá, tá, esquece o guaraná, moço. Quero uma fanta laranja com uva.