segunda-feira, 30 de junho de 2008

peri na bateri



Não entendo muito de música. Nunca toquei numa banda. O máximo que faço para me aventurar nesse mundo musical é tocar a única música que sei no violão, tchibum-tchibum (e particularmente toco muito bem). Mas de uns tempos pra cá, tenho assistido e ouvido muito as bandas do Caio, meu cunhado. Tenho reparado também como as coisas funcionam numa banda e como os músicos se relacionam durante a execução de uma música (um dia farei um post a respeito disso). E um dia desses notei que o baterista, o Peri, meu amigo também, tocava um dos tambores com um pano todo amarfanhado em cima.
- Pra que esse pano, Peri?
Ele deu uma explicação. Era pra bateria não atrapalhar os outros instrumentos.
- Senão toco muito alto e eles não gostam. Então coloco o pano de prato.
- Peri, mas que pano mais feio. Você devia caprichar no pano, afinal estou filmando vocês para fazer iutubes e aparece toda hora esse pano ai.
- Acha... feio esse pano?
- Horrível, olha só. Quase uma pano de chão. Você devia usar um pano mais chique.
- Chique? Hahaha. Que tal um lenço indiano?
Não sei, mas acho que o Peri tirou sarro de mim.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

e hoje tem crônica na revista Morar


Para ler é só clicar na imagem. Confiram. Do lado do avesso.

a ginástica da franka


Isso é hilário. Comentei com minha irmã Ângela, quando fui à casa dela nessa semana, que precisava começar a fazer ginástica (e preciso mesmo). Foi quando o meu sobrinho Luiz me chamou para ver o joguinho de video game do The Sims que ele fez da Franka.
- Olha tia, comprei um aparelho de ginástica para a Franka.
Já contei aqui que a Franka do The Sims do Luiz mora no meio de uma praça, numa casa sem paredes (são caras demais para ele comprar para mim) e não dorme direito (claro) por causa disso. Também não come direito, e não tem banheiro. Mas mesmo sem dormir, sem trabalhar e sem comer direito, ela resolve malhar. E meu sobrinho, como um verdadeiro personal-virtual, praticamente obrigou a Franka a se mexer.
- Se ela não ficar com os braços fortes, tia, ela não consegue tocar guitarra. Olha os braços dela, que finos.
Hahaha. Olha que engraçado. Tadinha da Franka, gente. Malhou, malhou e ficou com os braços malhados. Mas sei lá, muito moles pra tocar. Hahaha.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

banheirinho tunado, ar condicionado bombado


Ontem, assim como antes de ontem, estava um frio danado no escritório. O chão é de granilite, friozão, e meus pés congelaram. A M. lembrou, depois de tremermos um dia todo, que o nosso ar condicionado, o que veio com a sala, esfria e esquenta também. Precisávamos somente de pilhas para os controles. E quando cheguei no escritório ontem, parecia que entrava numa sala na... Bahia. Calorzão.
- Olha pra isso! - a M. me disse, sem casaco, sorrindo, suando - comprei pilhas!
Estava um forno lá dentro.
- Que delícia - eu respondi, tirando o casacão.
Trabalhei contente por uma meia hora, até que entrei no meu banheiro. Aquele, do duto, da condensadora, que a M. arruma cada vez mais pra mim. Olha, gente. A M. está "tunando" o meu banheirinho, me disseram. Concordei. Além dos dispensers de sabão, de papel toalha e de papel higiênico, ela colocou um espelho de corpo todo (no fundo) e uma ducha higiênica. Sério mesmo. Tudo em baixo do duto. E tem também o armário das vassouras e rodos, que vamos fazer, para eu não tropeçar nos rodos e pás. Aliás, a M. tá tunando cada vez mais o escritório todo. Acho que essa é uma das especialidades dela. Tunar escritórios. Putis potencial que ela tem.
Bem, entrei no banheirinho e senti uma corrente gelada. Ou seja, todo o frio da sala estava ali. E pior que isso: a condensadora condensava numa potência absurda e meu banheirinho estava, literalmente, alagado. Uma chuvarada.
- M., venha ver.
- Ah, não!
Ela começou a ficar arrasada. Como aquilo acontecia?
Me pareceu óbvio que uma máquina que deve ficar do lado de fora, uma máquina externa, precisa ficar do lado de fora justamente por causa disso - porque molha quando está ligada. E se está do lado de dentro, vai molhar e suar do lado de dentro.
- M., depois falamos com alguém que entende melhor de ar condicionado e condensadoras, mas a vida é assim mesmo - eu conjeturei - não me incomodo de ter o banheiro encharcado nos dias de frio, se é para ter a sala quentinha. Eu realmente não me incomodo. E se pensarmos bem, a única coisa que faltava no meu banheiro era um chuveiro, não acha?

segunda-feira, 23 de junho de 2008

franka, the sims


Aconteceu no sábado, quando eu fui beib´siter (gostaram?) do meu sobrinho Luiz. Ele, todo animado, veio me mostrar
- Tia, fiz uma 'Franka' pra você no The Sim´s.
- Sério? Ual. Que legal, Lú.
Fomos ver na TV da sala.
- Tia Franka, mas tem um problema... A Franka não quer trabalhar! Olha, ela pega o jornal com os empregos e fica brava, gritando que não quer trabalhar, que quer é dormir, que não vai, que não vai mesmo trabalhar.
Olhei o jogo. Era verdade. A Franka (quer é a minha cara, escarrada) resolve que quer ser a maior vagabunda. Reparem como ela pensa só na... cama. Putis preguiçosa. Vergonha que me deu do meu sobrinho. Como assim?

Dai ele me explicou o jogo. Contou que criou a Franka. Disse que como era caro fazer uma casa pra Franka, então ele resolveu que ela dormir numa florestinha, rodeada pelas árvores.
- Qual o problema, tia? Parede é caro, telhado mais ainda. Ela tem tudo, até tv e geladeira.
- Mas ela tá esquisita, Luiz...
- Ah, normal. Ela tem sono e não quer dormir, só isso. Quer só aproveitar, comer batatinha e ver tv.
- Puxa, a Franka não quer trabalhar e não quer dormir cedo? Que Franka é essa, Luiz?
- Não sei, tia! Não é você?


Até que, claro, a Franka despenca. Ploft. Sem trabalhar e dormir durante dias, quer o que? O jogo é e-du-ca-ti-vo. Ela ainda tenta se recuperar, fingir que tudo bem, afinal Franka-mente, mas o estado da moça é deplorável. Gente, será premonição?

sexta-feira, 20 de junho de 2008

CAIO, ALONE...

Olha que legal o meu cunhado CAIO, o marido da minha irmã ÂNGELA, tocando guitarra. A música se chama ALONE TOGETHER. Bom, tenho um outro iutube no meu iutube com toda a banda do Caio tocando a música, mas eu fiz esse iutube só dele, que chamei de "CAIO, ALONE...".

(Na verdade, ele não está tão ALONE assim, uma vez que a cinegrafista, a ÂNGELA, durante o solo dele se distraiu e filmou também o Marcelo, o baixista).

IMPERDÍVEL (por isso as maiúsculas e o negrito). Assistam, é legal e sem tarjas.

Franka e São Frumêncio


Ontem a noite ligou meu amigo Fernando. Como é época de festas juninas, começamos a falar dos dias de cada Santo.
- Fernando, o dia de Santo Antônio não foi ainda.
- Foi sim, na semana passada ou retrasada, lúcia. Agora vem o dia de São João.
- Tem certeza?
- Claro. Tenho um livro de Santos.
- Ual. Pega lá.
Ele volta em segundos.
- Olha aqui. Santo Antônio foi dia 13. Dia 24 é São João.
- Errei então. Sempre dou fora mesmo, paciência. Então vê o Santo do dia do meu aniversário. Dia 27 de outubro.
- Dia 27 de outubro é... São Frumêncio.
- Hã? São o que?
- Fru-mên-cio. Frú-mên-ci-o. Escreve parecido com bala Frumelo.
- Nossa. Eu adoro bala frumelo, acho que tem a ver, Fernando. É um sinal, um acaso, basta a gente pensar um pouco que a gente acha alguma relação entre o Santo, eu e essa bala. É sempre assim. Mas lê ai como é a história do São Frumêncio.
- Putis, é comprida.
- Resume.
- "Apóstolo da Etiópia. Foi discípulo de filósofo e um escravo muito especial. Na volta de uma viagem à Ìndia e a embarcação parou no porto de Adulis, no mar Vermelho, e foi atacada por ladrões etíopes, que saquearam o barco e mataram todos os passageiros e tripulantes. Todos, exceto os amigos adolescentes, Frumêncio e Edésio. Os dois foram salvos por um motivo banal: naquele momento estavam sob uma árvore, entretidos na leitura de um livro". Por ai vai, lúcia. É longa a saga do Frumêncio.
- Pára ai mesmo. "Ou entretidos na leitura de um livro". Ora, podia ser um blog.
- Ou na leitura de um blog. Isso.
- Ou seja, São Frumêncio tem a ver com blog, Fernando.
- Deve ter.
- Tá vendo? Agora só falta achar relação com a bala.
- Não acho que a gente consiga alguma relação do Santo com a bala, lúcia.
- Então deixa. Eu coloco uma bala no post e pronto.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

franka e o passarinho das dez



Confesso. Eu tenho o maior medo desse passarinho das dez da manhã. Olha, parece que tem um cara com soluço escondido no banheiro.

o banheiro da arquiteta lúcia


Aqui no escritório a gente tem dois banheiros. E como somos somente duas aqui, eu e a M., é natural que cada uma dos banheiros pertença a uma de nós. Também me parece natural que a divisão dos banheiros esteja ligada ao posicionamento das mesas, ou seja, o banheiro da M. seria o mais perto da mesa dela e o meu o mais perto da minha mesa. Acontece que o banheiro perto da mesa da M. é bárbaro, tem espelhão redondo, é espaçoso, claro e todo arrumadinho. E o banheiro perto da minha mesa é uma desgraceira: como o dono do imóvel resolveu colocar um ar condicionado split, enfiou a condensadora em cima da privada de um dos banheiros, apoiada em uma prateleira. E para a condensadora respirar, veio o tubo ligado na janela, que perdeu seu vidro. Além disso, a M. resolveu que o meu banheiro é depósito de material de limpeza - tem balde, vassoura e rodo, e ela quer fazer um armário. Além disso, chegaram ontem aqueles negócios de porta papel, porta sabonete e porta toalhinha, que ela comprou pra gente e ela veio me mostrar onde vai fixar.
- M., acha que vai caber?
- Claro que vai. Olha. Colocaremos o toalheiro aqui, a saboneteira ao ladinho dele e o porta papel aqui. Ufa, coube.
- O que não vai caber ai dentro sou eu - avaliei - já entro ai de cabeça abaixada, daqui a pouco terei de entrar agachada e de lado, M.
Era o que me restava nessa altura do campeonato. Um banheiro complicado, onde tenho que fazer xixi embaixo do dutão, na maior ventania, lavar as mãos toda encolhida feito uma corcundinha e afastar as vassouras e rodos e baldes para entrar e sair. Mas não tem problema. Eu não ligo de ter um banheiro complicado. Qualquer coisa, tem muito analista no prédio pra eu desabafar.

terça-feira, 17 de junho de 2008

o grupo de discussão do nosso prédio

Hoje resolvi mudar e fui tomar café da padaria. Reparem como o clima é alegre, animado e feliz. Além disso, temos também aqui no escritório uma linda máquina azul turquesa de café expresso, daqueles de sachezinho. Mas tanto tomar café aqui como na padaria, apesar de serem locais não estressados, não dão assunto nenhum. Portanto, o negócio é voltar para o café Freud.
Semana passada chegou um papel aqui: "caros condôminos, donos ou inquilinos, preencham a ficha abaixo com nome e email e participem do nosso grupo de discussão na internet, o grupo do nosso prédio". Olhei o papel e quase pulei de alegria.
- M., vamos entrar já. Imagine, vamos saber de tudo!
Ela foi reticente, mas consegui convencê-la que somos uma dupla, uma dupla de intrusas felizes e desestressadas.
- Vou colocar o seu email também nesse sensacional grupo de fofocas do prédio - gritei, correndo para entregar na portaria - imagine como devem ser depressivos os emails!
Bom, já estamos na terça e nada. Nenhum e-mail. Que droga.
Gente mais maluca.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

meu esporte predileto

Eu adoro tomatinho cereja. Eu adoro mini cebolinha. Eu adoro azeitona. Mas acho um perigo servir essas três coisas. Porque qualquer uma das três, se bem manuseada por um garfo ou uma faca, é como munição. Pode ser lançada longe e atingir, com um pouco de mira, qualquer pessoa da mesa.
Já lançei as três para longe. A cebolinha, aquelas que ficam no vinagrete, foi a que atingiu maior distância, acertando em cheio a pessoa da minha frente na mesa. Os tomatinhos, acho que por inabilidade minha, sempre são lançados na minha direção e acabam atingindo o meu corpo para depois cair no chão. Sempre fico arrasada, é frustante a gente errar depois de tantos anos de prática, ainda mais porque sei que com eles consigo o maior impulso no arremesso. Com as as azeitonas nunca fui boa, não são minha especialidade, embora eu seja melhor com as verdes do que com as pretinhas - mas mesmo essas não vão além de dez centímetros além do meu prato, um fracasso.
Como agora quase todas as saladas do mundo tem tomatinhos-cereja, estou treinando com afinco para me especializar mais nessa modalidade, pois creio que logo logo ela será inclusa nas olimpíadas. Franka, campeã mundial de arremesso de tomatinho cereja. E tá, eu sei, esse post é mega-bobo, mas não me veio nada mais interessante na cabeça nessa segunda feira.

sábado, 14 de junho de 2008

um a um


A M. não acreditou que o café era depressivo e resolveu fazer uma investigação comigo. Quando íamos descer, outra porta se abriu simultaneamente no hall do nosso andar. Era a vizinha e uma amiga dela. Já descobri, na semana passada, que ela é minha xará de nome e de profissão, mas não tivemos tempo de nos enturmar mais porque bem na hora que me apresentei e começamos a nos conhecer, chegou o elevador. Esse é um dos problemas de trabalhar num prédio: o elevador sempre chega e você tem que parar de falar. As pessoas que trabalham em casa conversam muito mais tranquilas com os vizinhos. Você tem que ser rápido e sucinto se quiser se enturmar perto de um elevador. Ou dentro dele.
Descemos todas juntas, as quatro. Eu, a M., a vizinha e a amiga dela. As duas não deram a menor pelota para a gente, pois estavam numa conversa animada, e se sentaram numa mesinha reservada. A M. e eu fomos para o balcão.
Ao nosso lado uma senhora de cabelos tingidos de loiro e corte modernoso, que logo puxou conversa. Disse que queimou a língua, aiaiai, logo agora que estava entrando na análise. A M. comentou que ela poderia falar coisas "quentes" pro analista e ela deu a maior gargalhada. Notei que ela tinha uma tatuagem de rosa num dos dedos.
- Legal sua tatuagenzinha do dedo - comentei.
Ela arregaçou a manga e mostrou uma tatuajona imensa no braço, uma roseira completa. Quase tirou a roupa.
- Aiaiai. Olha, meu tatuador não é o máximo? - explicou e saiu correndo, abanando a boca, nada depressiva.
- Viu? - desafiou a M. - viu que animada a paciente? Você implicou à toa com o público do nosso café, lúcia.
Bem nessa hora entra uma moça de faixa no cabelo e pede um café bem rápido. A atendente disse que ela tinha que esperar pois tinham quatro na frente, e o da M. é super complicado (pelando, curto, espuminha, leite, numa sequência confusa). Eu e ela sempre pedimos café assim: "um simples e um complicadíssimo, por favor". A moça da faixa falou que então não ia dar, pois tinha que pegar a filha na escola, tinha que correr, tinha muita coisa pra fazer, tinha que estressar muito.
- Benzinho, não é por mal, não fica ofendida mas vou cancelar meu pedido - disse, sacando o celular, esbaforida, saindo feito uma lufada dizendo alouuu alouuuu.
- Hehehe. Empatamos. Um a um - comentei com a M.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

clic, nic, tic,plic

Aqui no térreo do escritório novo tem um café. Um café dentro do prédio, que vende bem, está sempre cheio, pois o prédio é cheio de salinhas e consultórios de psiquiatras e analistas e é um entra e sai doido. Já disse aqui que estou cercada de análises e terapias de todos os tipos.
Ual.
Ontem pela amanhã o café estava o maior baixo-astral. Todo mundo parecia paciente em estado mega-depressivo, mães com filhas-problema, maridos com mulheres despencando, moças em desespero. Até a dona do café estava triste e agoniada. Resolvi que vou começar a andar meia quadra e tomar café na padaria, onde o público é de alternativos mais alegres.
Mas eu, como há anos trabalho em casa e sozinha, me sinto bem no meio de tanta gente, problemática ou não, e sempre tento enturmar. Não sei porque tem me dado essa vontade, talvez eu deva procurar um dos profissionais do prédio para entender. E sempre que estou sozinha naquele café depressivo, olho atentamente para as pessoas para ver com quem vou conversar. Ainda não fiz amigos, mas acho que é uma questão de tempo.
Ontem sentei ao lado de uma moça com cabelos encaracolados e terninho. Não me pareceu paciente, e sim terapeuta. Ela reclamou com a dona do café que a xicrinha dela estava com mancha de batom de alguém. A dona do café pediu mil-desculpas e falou que ia dar um café grátis para ela. Pensei que eu talvez não reclamasse e apenas virasse a xicrinha, uma vez que não quero ser a chata do prédio. Mas ela reclamou, e eu meio que impliquei e desisti de ser amiga dela. Virei pra o outro lado e vi uma senhorinha baixinha e gordinha. Secretária de alguém, pensei. Trazia a correspondência. Ela que se adiantou.
- Que acha que engorda menos? - perguntou, apontando a estufinha de salgados.
Tudo me pareceu inocente. Uns pães de queijo, umas empadas, tortinhas.
- Se você comer só um acho que tanto faz - declarei.
- Não, não, não. Pão de queijo é pior. É feito com uma gordura péssima.
A dona do café mostrou uma empada meio marrom.
- Essa é feita com farinha integral.
- Do que é? - perguntou a mulher.
- Palmito.
- Puxa, gosto das de escarola - ela disse, desanimada.
Chegou meu café e tocou meu telefone. Quando desliguei, procurei a secretária das correspondências. Ela estava sentada na mesinha comendo pão de queijo. O pior. Depois as pessoas não sabem porque ficam depressivas.
Quando entrei no elevador, vi que fui seguida pela moça de terninho. A implicante reclamona da xicrinha do batom. Entramos em silêncio, ela tocou o andar dela, eu o meu. Começei a ouvir um barulhinho. Tic, clic, nic, tic, clic, nic. Olhei ao redor.
- Desculpa - ela disse, rindo.
- Hã?
- É meu pé - ela apontou.
Olhei para baixo. Vestia sandálias.
- Essa sandália faz tanto barulho... é que a sola é solta da palmilhinha. Olha.
Ela passou a mexer os dedos. Clic, tic, nic, plic.
- Viu?
Esqueci a reclamação da xicrinha de batom. A moça de terninho é engraçada, vou tentar ser amiga dela.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

alô alô alô


Em alguns dias os meus finais de tarde são terríveis e confusos. Eu mal consigo acabar de trabalhar e já tenho que sair para levar ou buscar algum filho aqui e ali. A Nani tem aula de inglês num lugar onde ela não pode ir de ônibus, e eu acabo levando e buscando a garota, o Juca me pede para buscá-lo no Clube a noitinha, depois dos treinos dele, o Chico volta e meia me liga do metrô: "ô mãe, pode me pegar aqui?". Nos finais da tarde também tenho minhas amigas de crepúsculo, a Bê, a Fran, a Anna, e tem a minha irmã, a Ângela. Assim, nesses intervalos entre levar-buscar-pegar acabo me encontrando com elas, que também tem que levar-buscar-pegar filhos aqui e ali (o bom de encontrar com mulheres na mesma situação que você é que todo mundo compreende suas maluquices). E ai começa o festival da telefonação dentro do carro. Nossa, como o meu telefone toca nessa hora.
Bem. Estava saindo de casa ontem, estava com fome e peguei um pacotinho de biscoito.
"Vamos, Luciana minha filha".
Ela entra no carro com uma caixinha.
"Que é isso, Nana?".
"Torci o pulso, comprei essa munhequeira, mãe".
Deixo a Nana, pego uma avenida para voltar para casa. O telefone toca, podia ser o Juca, o Chico, a Bê, a Ângela... Atendi rápido, no carro, sem parar de olhar para frente.
- Alô. Alôôô.
Ixi. Atendi a bolacha Clube Social. Joguei a bolacha para o lado, o telefone tocando.
- Alô. Alô.
Hahaha. Atendi a caixa da munhequeira.
Terceira tentativa.
- Alô. Oi Juca.
Engraçado. Mas não tou maluca não. Olha como são parecidos, os três.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

a roupa do guaranazinho


Quando eu era pequena, morava num prédio na Haddock Lobo. O nosso prédio era grande, de esquina, com 3 blocos, cada um com dois apartamentos. Existiam, no térreo, 3 halls de elevadores, todos parecidos, com lustre de cristal e quadros de cavalos e cavaleiros na parede. O nosso hall, o do meu apartamento, foi perdendo aos poucos os cristaiszinhos do lustre, pois os meninos do prédio tiravam um a um. Sempre tive um monte de cristais daquele lustre na minha caixinha de jóias. Os meninos do prédio costumavam presentear as meninas com pedaços daqueles lustres. Era um hábito.
O edifício tinha um salão de festas grande, que dava tanto para os pilotis do prédio quanto para o pátio interno, onde andávamos de bicicleta e patins. Minha mãe fazia os nossos aniversários ali. Era super caprichado. Ontem eu e a Ângela lembramos dessas festas e contamos para o Caio, meu cunhado.
- Sério que vocês davam festinhas naquele salão?
- É - lembrou a Ângela - e a mamãe caprichava pra burro. Tinha toalha decorada, brinde, chapeuzinho, pratinho e copinho decorado, palhaço, lingua de sogra, apito. Tinha até - lembra Lú - roupinha de guaraná caçulinha.
O Caio estranhou.
- Roupinha de guaraná caçulinha?
- É, Caio, não lembra? Nas festinhas as pessoas vestiam o guaraná para colocar na mesa - expliquei.
- Mas pra que vestir o guaranazinho?
- Sei lá, Caio. Pensando bem, não tenho a menor idéia. Acho que era apenas pra não ter um guaraná na mesa decorada.
- Um guaranazinho na mesa era feio? Que engraçado pensar isso.
- E a roupa dele era um vestidinho, que sempre combinava com o canudo - lembrou a Ângela - o guaranazinho ficava muito chique, parecido com a gente, as irmãs-de-vestidinho-do-prédio.

Hahaha. Divertido lembrar da roupa do guaranazinho.

terça-feira, 10 de junho de 2008

como hipnotizar uma galinha


- Franka, está na cara que você não entende nada de galinha.
- E você entende?
- Claro. Tive uma infância cheia de galinhas. Ó. Você faz o seguinte. Primeiro pega uma galinha.
- Eu pego uma galinha?
- É. Presta atenção, Franka, é sério. Pega a galinha, coloca na sua frente numa mesa e senta na frente dela. Olha para ela bem fixo.
- Ela vai me obedecer?
- Vai, se você segurar firme. Lembra que você que manda na galinha.
- Tá.
- Dai você pega a cabeça da galinha com uma mão, gira e coloca embaixo da asa da galinha.
- Qual das asas? Direita ou esquerda?
- Tanto faz, Franka. Coloca a cabeça da galinha embaixo da asa dela e segura assim um tempo. Se conseguir, senta a galinha. Pra ela ficar naquela posição de chocar ovo, sabe? Dai vai contando até dez, bem devagar. Um, dois, três... Até dez.
- Sei.
- Dai, quando você ver que ela não se mexe mais, você tira as mãos dela. Olha, sério. A galinha vai dormir. Como ficou escuro ali, sob a asa, ela acha que é de noite e dorme.
- Sério?
- Sério mesmo. Isso se chama "fazer a galinha dormir".
- Que legal.
- Eu acho até que, se você gente segurar a galinha por um mês, ela dorme um mês. Porque galinha tem um celebrinho de nada e a gente engana galinha super fácil. Qualquer escurinho e a galinha, burra, acredita que tá na hora de dormir.
- Acho que uma galinha morre se dormir um mês.
- Também acho. Dai a brincadeira se chama "matar a galinha". Mas deve ficar podre.
- Acho demais você entender de galinha.
- Coisa da minha infância, Franka.
- E isso é uma metáfora.
- Claro. Daquelas.
- Ahã. Entendi o recado.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

segundona



Agora instaladíssima no escritório novo. Depois de uma longa espera com mesas de plástico e caixas no chão, agora tenho tudo que se precisa ter num escritório e eu venho para cá de manhã. Antes eu apenas descia uma escada e entrava na minha salinha, agora tenho que pegar o carro, atravessar ruas e avenidas, parar o carro, entrar num elevador. É bom sair de casa, mas confesso que depois de dez anos estou estranhando pra burro. Há dez anos eu não encontro tanta gente pela manhã, nunca notei que falava tão poucos "bom dias". A M., que agora trabalha ao meu lado, trouxe um monte de vasos de plantas de folhas gordas. Segundo ela, são plantas de escritório. Ela também trouxe um relógio de passarinhos, e, de meia em meia hora, um deles canta aqui na nossa sala. Aliás, ela montou tudo por aqui: temos potes para bolachas, temos xícaras de chá e café, temos coisas para limpeza. Comentei com ela que meu laptop esquentava a mesa nova e que poderia estragá-la, e ela me mandou colocar um jogo americano embaixo dele. "Temos jogo americano?", perguntei. "Temos, claro", ela respondeu, feliz. Ficou esquisito, parece que eu vou almoçar o computador. Ou melhor. Parece que digito num George Foreman Grill.

sábado, 7 de junho de 2008

réplica do Prata interpretada pela esperta Franka

Ele, o Mário Prata dos Pijamas do Post abaixo, me manda a seguinte explicação por email (não sei porque esses famosos não se dignam a escrever aqui nos comentários dos blogs e dão esse trabalho-cão pra gente, de ficar postando e-mail. Para eles daria na mesma, afinal, digitar é digitar, seja em comentários ou e-mail, pô, Prata.).
franka mente:

vamos aos detalhes. o suposto pijama trata-se - em verdade vos digo - de uma calça de moleton. aliás, americana.
nos pés calçava um elegante "dig", uma espécie de pantufa norueguesa, presente de um
amigo brasileiro que mora em oslo.
portanto, estava nos trinques, com o diria lauro césar muniz.
beijão.
Quando recebi o e-mail dele, liguei pra Ângela.
-Acho que o Prata num gostou do meu post, Ângela.
- Porque, Lú?
- Ele me mandou um e-mail.
- E ele falou o que nesse e-mail?
- Não sei, não abri, Ângela. Tou com medo dele me dar bronca e...
- Abre, Lú. Abre e me liga que eu tou com você. Se ele der te der bronca a gente sustenta aquela teoria que ele não acha mais graça em nadae acaba com ele. Faz a maior fofoca. A gente diz que ele virou um cara sem-graça, e nada pior que caras sem graça.
Abri o e-mail no carro. Ufa. Além do Prata não me dar bronca, ele veio e fez mais gracinha.
Jimais.
E relendo, ahã, Prata.
Entendi. Cqd.
Traduzindo.
Moletom americano e pantufinha norueguesa = pijama e chinelo.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

dentro da viola - (ou as aventuras das irmãs carvalho no festival da mantiqueira - 7)


Olha como o Prata fica a vontade com a Bruna antes de começar a palestra

A Bruna, gente. A Bruna Lombardi foi convidada para o festival para uma palestra (diálogo de literatura e TV) com o Prata e o Lauro César Muniz. Todo mundo conhece a Bruna da TV, e ela é escritora e teve livros de poemas publicados. O irmão do Zé, meu cunhado, adora a Bruna e os livros dela. Fãzão.
Ela chegou em grande estilo, como chegam em grande estilo as celebridades nos eventos: de última hora, com entrada rápida e causando furor e murmúrios. Ó, ú, ohhh, hummm. Vestia um bonezinho de couro, ainda é linda-de-morrer e estava acompanhada do Ricelli, de capa-ramfrei-bogar, óculos escuros e chapéu. Ele, o Boto.
Figurinha.
A presença da Bruna no festival popularizou a tenda. Ora, para muita gente daquela cidade, infelizmente, um festival de literatura é um festival de um bando de desconhecidos. Como pouca gente conhece os escritores, pouca gente da cidade vai. Mas com a Bruna não. Todo mundo conhece a Bruna Lombardi, e por causa dela a tenda ficou lo-ta-da. Donas de casa. Senhores. Crianças. Um homem, acredito que o dono da padaria da cidade, subiu ao palco e de presente para ela uns doces e pães. E assim o diálogo, que sempre teve como público visitantes interessados em literatura, como eu, ficou cheio de gente que não foi nos outros diálogos.
A Bruna, antes de qualquer coisa, é um ícone. Ela, o bonezinho dela, ela, o Boto de capa e óculos escuros, os dois lindos. Pensa. Antes de qualquer coisa, eles são a imagem deles. Vê-la é como ver a rainha da Inglaterra. Não dá pra fazer julgamento da presença deles ali dizendo que ela "não é escritora" ou coisa semelhante. Óbvio que ela, embora estivesse ali como escritora (meu cunhado, que é intelectualíssimo, fala que ela é muito talentosa, já eu nunca li a Bruna), é uma atriz famosa e chama a atenção. E isso, na minha opinião, foi ótimo. Além disso, ela, conversando com o público é sensacional. Ela fala fácil, simples. Ela é fácil e simples. Os moradores da cidade entendem o que a Bruna fala, e isso é legal, não importa se é pela beleza, se é porque ela é famosa, se é porque chegou em grande estilo. Ela disse frases e trechos que conquistavam qualquer um. Disse que fazer a literatura, para ela, é como colocar um texto que é a sua alma dentro de uma garrafinha e jogar no mar, acreditando que alguém vai pegar a garrafinha, vai ler você e vai te entender. Falou inúmeras vezes que sentia emocionada de estar ali, conversando, quase em rodinha. Até as criancinhas perguntaram coisas para ela.
Olha. Pra mim, a presença da Bruna na composição desse diálogo foi das coisas mais importantes do festival. Escritores em geral ficam sobre plataformas, sempre acima de tudo e de todos, e a idéia da popularização é ótima. Se todos lerem a Bruna, e, por vê-la ao lado do Prata, lerem o Prata, e, por ver o Prata ligado ao Hatoum, lerem o Hatoum, e, ligando o Hatoum ao Mestre Zu (o Nelson Mota chamou o Zuenir Ventura assim), lerem o mestre Zu, o festival terá sentido e vai conseguir levantar a literatura no Brasil. Importante é ler. A Bruna foi o elo, a chave, a ligação. Achei isso super legal. Parabéns à organização do festival. Parabéns ao organizador que colocou o bumbum dele na frente dela nessa foto. Hahaha.


quinta-feira, 5 de junho de 2008

dentro da viola - (ou as aventuras das irmãs carvalho no festival da mantiqueira - 6)

Já que ela me empurrou pro Hatoum, resolvi empurrá-la pra a palestra do Prata, no dia seguinte. O Prata é meu amigo, falei com ele no festival e ele já me publicou diversas vezes, além de me dar a maior força no lado literário. Cara generoso, ele. Mas como eu não sou do tipo que fica pedindo favor pra amigo, peguei senha e entrei na fila pra assistir o Prata. Claro, tava na viola e coisa mais chata é gente que pede favor, eu acho. E com um pouco de esforço, o nosso gargarejo no Prata foi melhor que no Hatoum. Pra que pedir?
Conseguimos a primeira fila, gente.
Aliás, é bem mais legal ser público do que celebridade. Acontece mais coisa. Você percebe mais coisa. Pois gente, eu descobri uma coisa do Prata ali no gargarejo da primeira fila. Ó. Talvez ele fique bravo, mas vou contar.
O Prata tava de pijama em baixo da roupa.
E o Prata tava de chinelo na palestra.
Olha, pode parecer que eu tou criticando o Prata, o meu amigo. Mas na verdade tou elogiando o Prata. Ora. Qual o problema de acordar com frio e vestir a calça comprida em cima da roupa?
Nenhum.
Qual o problema se seu chinelo é mais quentinho que o sapato gelado?
Nenhum.
O Prata é um cara que se importa com o bem estar dele e o resto deixa-pra-lá. Olha que demais. Ele tava tão a vontade que foi de pijama e chinelo. E eu, tão a vontade igual, dédo ele.
E confesso: eu também não tomei banho no sábado porque tava o maior frio.
Putis coisa feia, dona Franka.
Acho que isso é bem pior que ir de pijama-em-baixo e chinelinho na palestra...

quarta-feira, 4 de junho de 2008

dentro da viola - (ou as aventuras das irmãs carvalho no festival da mantiqueira - 5)


Palestra do Hatoum. Eu lá (confesso que não sou uma grande fã de palestra, sempre dormi em missa e nunca consegui na vida ouvir tudo que fala um padre, pronto-confessei), com minha irmã-uva-fã-do-cara, sentadinha no gargarejo. Porque claro que se a gente tava lá, era pra ser gargarejão. O Jorge pegou senha boa pra gente, sabe o Jorge, amigo da minha irmã? Grande Jorge, salve Jorge. Sentamos lá na frente. O Hatoum, todo assediado, dava uma entrevista antes de começar a palestra. A Ângela, querendo entender o homem escritor, faz leitura labial. Já eu, faço uns iutubes. Olha ai em cima. Hahaha.

Olha, a vida da gente tem que ter alguma graça, gente. Nem que seja só pra você, sua irmã e sua mãe. Só isso.

No final da palestra, ela me fez ir pra fila de autógrafos. "Ângela, há necessidade?". "Há!!!". Eu também detesto fila de autógrafo, acho que tou atrapalhando o cara, coitado, tem que ficar só escrevendo a noite toda. Mas ela me pede, "fica comigo, poxa...". Eu fico, aliás, lembro que não tenho mais absolutamente nada para fazer. "Mas autógrafo? Você por acaso tem o livro do cara, Ân?". "Tenho, claro", ela responde, animada. Abre a bolsa e saca um livro. "Trouxe aqui o 'dois irmãos', ô Lú!".

Eu tenho uma idéia. "Vamos pedir então pro Hatoum escrever assim: 'para as duas irmãs... blá, blá, blá... dois irmãos!', que acha, Ângela? Duas irmãs..., dois irmãos..., entende?".

Gente, pedimos. Hahaha. Olha:


dentro da viola - (ou as aventuras das irmãs carvalho no festival da mantiqueira - 4)

Chegamos na cidade esbaforidas, depois de passar horas atrás do carro-lesma do Hatoum.

- Agora é rapidinho - falou a Ângela - ahhh, não! A rua tá fechada. Aliás, olha, a cidade tá fechada, Lú. Vamos perder o Hatoum!

- É por causa das celebridades - avaliei.

Foi quando vimos um monte de batedores. Aqueles guardinhas de moto que seguem as celebridades, entendem? Um deles veio até nós.

- Posso ajudar?

- Moço, pelo-amor-de-Deus, como vocês fecham as ruas da cidade assim? A gente quer ir na tenda ver o Hatoum. Mas como? Como?

- Senhoras, sigam-me.

E ele colocou a moto na nossa frente e zuppt, foi abrindo caminho.

- Lú, olha, a gente tem um batedor só nosso! Que incrível! Somos super celebridade! Calma, festival, calma Hatoum que Franka e sua irmã-uva já vão chegar!

E ai está. Um batedor mesmo. Podem conferir nesse sensacional iutube.

hora do intervalo da saga das irmãs carvalho na mantiqueira

Onde está WALLY-TOUM?
Atenção, intervalo. Acabei de receber do grande blogueiro Peri essa foto da FAU de duzentos anos atrás. Pra quem não sabe, o Peri estudou na FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP) , assim como eu e o Hatoum. Eu sou mais nova, mas ele e o Hatoum estudaram juntos. O Peri me contou que o apelido do Hatoum era "Manaus". O desafio é: onde está o Hatoum nessa foto? E o Peri?

terça-feira, 3 de junho de 2008

dentro da viola - (ou as aventuras das irmãs carvalho no festival da mantiqueira - 3)


Ângela e Hatoum (depois da palestra, ela me fez entrar numa fila pra pegar até autógrafo dele)

A minha irmã Ângela queria-que-queria ver a palestra do Milton Hatoum. Falava de cinco em cinco minutos que não podia perder, que não podia perder de jeito-nenhum-o-Hatoum. E como tinha a chuva-chuva-chuva, a estrada com lama-lama-lama e o tal treco da senha-senha-senha, tínhamos que ficar atentas ao horário lá no sítio. Foi quando achei um violão do Caio, meu cunhado. Eu só sei tocar uma música no violão, que é "tchibum-tchibum, chalalalalalalala". Essa música custou caríssimo para a minha mãe, se ela fizer as contas do custo das aulas. E para acalmar o ambiente e sossegar a minha irmã, passei a tocar e cantar. Só que adaptei: ao invés de "tchibum-tchibum", eu passei a cantar "ratum-ratum, chalalalalalalala, ratum-ratum, chalalalalalalala". Ficou ge-ni-al. Uma hora eu posto aqui a letra inteira dessa música, que eu fiz em homenagem ao Hatoum. Se alguém preferir, posso também tocar e cantar. É só me arrumar um violão. Mas aviso que tem uma parte super pornográfica, que a gente copiou de um livro dele.
Saímos um tempão antes, mas ela ainda teimava que podia perder o Hatoum. Entramos na estradinha. Tudo ia bem, até que surge subitamente, saindo de uma pousada no meio do caminho, um carro que entra na nossa frente. Céus. Um carro não, uma lesma-de-rodas. Acho que o cara estava a 3 por hora. Devagarziiinho.
- Essa pessoa deve estar indo pro Hatoum - ela disse.
- Ratum-ratum... - eu cantei.
- Pode até ser o Hatoum.
- Uau. Verdade. O carro é de São Paulo.
- Será que o Hatoum anda devagar desse jeito, Lúcia?
- Ele escreve devagar, Ângela.
- E olha, o carro é um Focus. Nossa, o Hatoum tem Focus?
- Será ele mesmo?
- Claro que é ele, Lúcia.
A Ângela é, como eu, super otimista.
- Mas que coisa, Hatoum, aaanda! - ela esbravejava, já irritada - aaanda, homem!
- Claro, o cara não precisa de senha.
- Meu Deus, que cara sem foco esse Hatoum do Focus. Lú, será que é ele mesmo?
- Já sei - eu disse - minha amiga mora no prédio dele. Vou mandar um torpedo pra ela e perguntar: "qual o carro do Hatoum?". Que acha?
Sério, mandei o torpedo. E sério, minha amiga respondeu. Não sei se pega bem falar aqui o carro do Hatoum, mas era da mesma cor e parecido.
- Sua amiga pode ter se enganado, Lú. Mulher nunca entende de marca de carro. É ele sim, estou sentindo uma semelhança no modo dele escrever e dirigir. Aaanda Hatoummm!
Bom, chegamos e, embora tivéssemos tentado seguir o Hatoum, o perdemos de vista. E depois da palestra, quando abriram para as perguntas, eu sugeri a Ângela.
- Ân, vamos ir no microfone e perguntar pro Hatoum "qual é seu carro?".
- Lúcia!
- E cantar para ele, posso?
Ratum-ratum, chalalalalalalala, ratum-ratum, chalalalalalalala...

segunda-feira, 2 de junho de 2008

dentro da viola - (ou as aventuras das irmãs carvalho no festival da mantiqueira - 2)



O Jorge. O Jorge é amigo da Ângela, professor como ela e um grande leitor de literatura contemporânea (sabe daquelas pessoas que lêem toda a obra de um fulano? O Jorge já leu tuuudo do Dalton Trevisan, do Zuenir Ventura, do Hatoum e de sei lá mais quem), e claro, ele meu amigo também. Ele participou do concurso para fazer parte de uma das oficinas de literatura do Festival, especial para professores. E o Jorge ganhou e conseguiu uma vaga. Ele tinha direito a estadia, alimentação e viagem. Antes do festival, na semana passada, eu e a Ângela ficamos torcendo por ele, acho que muito mais que ele. Porque o Jorge ganhar era um putis assunto. A gente podia, além de ir nas duas palestras escolhidas pela gente no gargarejo O Hatoum e o do Prata com Bruna e Lauro), bisbilhotar o Jorge. Ficamos lendo a lista dos escolhidos e pensando se ele ia ficar amigo de algum daqueles professores. Lemos nome por nome, avaliando.
- Olha. Tem um professor na turma do Jorge que se chama Margarido. Será que ele vai ficar amigo do professor Margarido?
- Tem até uma professora Josefina, olha.
O Jorge foi antes da gente, e nesse primeiro dia, depois de ver a música da Kátia, fomos atrás dele. A Angela viu um professor com um crachá escrito "concurso", e ele disse que o ônibus deles já ia sair. Corremos até lá atrás do Jorge. Achamos um rapaz da organização na frente do ônibus do Jorge.
- Moço. Estamos atrás de um professor amigo nosso.
- Quem é?
- O Jorge.
- O Jorge? - ele riu - ah, o jorge. Figurinha, hein?
Figurinha? Hã? O nosso Jorge virou figurinha? Que tipo de comentário era aquele?
- Você é guia?
- Guia e babá deles - ele disse - e o Jorge já foi no ônibus anterior.
Babá? Figurinha era aquele moço, chamado Elvis.
No dia seguinte achamos o Jorge. Estava exausto. Muita coisa pra fazer, balada a noite, e ele conta que tinha que acordar cinco e meia pra oficina. Nossa, quase não reconhecemos. Ele tinha ganho um gorro do festival, um cachecol do festival, uma bolsa do vestival, um caderno do festival, cracházão do festival, capa de chuva do festival e até um kit de higiene do festival. Vestia tudo que dava pra vestir dos presentes. Ele era o festival. A Ângela olha pra ele e não aguenta.
- Putis, Jorge que é isso? Figurinha, hein?

dentro da viola - (ou as aventuras das irmãs carvalho no festival da mantiqueira - 1)


Chegamos sexta a noite no sítio da Ângela, que é no mato, mato, mato, e chovia, chovia, chovia. Mas mesmo no mato, mato, mato e na chuva, chuva, chuva, nós duas não aguentamos pra ver o que rolava na cidadezinha. Como eu disse no post anterior, ninguém convidou a gente, mas entramos numa viola e fomos de sapas-malandras pro Festival Literário da Mantiqueira.
Ooobaaa.
- Lúcia, vamos combinar. A gente tá longe da cidade, tá chovendo pacas, a estrada tá toda atolada e nós duas tamos sozinhas - ela ponderou - vamos eleger um escritor pra cada uma e vamos nos comprometer a ir neles. Eu escolho o Hatoum. Pronto, escolhi. Agora você.
Olhei o papeleto.
- Tá, escolho o Prata com a Bruna com o Lauro César Muniz.
- E o resto é lucro, se a gente conseguir ver mais alguém. Olha que maravilha.
Gente, é que o sítio era longe, no mato, mato, mato; chovia, chovia, chovia; tinha lama, lama, lama. Pensando bem, um local perfeito pra sapas. E a Ângela encasquetou mesmo de assistir os caras. As-sis-tir. Levou até caderno e lápis pra anotar. Putis preguiça.
A gente tava curiosa pra ver o que acontecia. Chegamos umas dez e meia da noite na cidade na sexta, tudo meio vazio. Vimos duas tendas brancas na pracinha. Olha. Quer fazer um festival literário? Monta uma tenda branca. Todo festival legal tem tenda branca. Aliás, tudo que é evento tem tenda branca. Tenda é a arquitetura básica dum festival. Tenda vira livraria, tenda vira auditório, tenda vira espaço musical, tenda vira point. Ó. Tenda branca é super chique. Outra particularidade de festival literário é senha. Pra tudo tem que tirar senha uma hora antes e entrar na fila. Menos se você for vip, porque vip entra direto.
Mas sexta chegamos tarde pra burro lá e a única coisa que encontramos foi um fim de show de uma moça chamada Kátia B. Fim mesmo, porque quando entramos o show acabou. Na verdade, nesse dia só tinha mesmo a abertura e o show. Fomos num bar chamado Photosofia, lugar super legal, que é de um amigo da Ângela, pra comer alguma coisa, e encontramos todo mundo que estava na tenda por lá, até a Kátia B e a banda toda da Kátia B.. Isso é outra particularidade de festival literário, essa coisa de encontrar as mesmas pessoas de duas em duas horas. A Ângela, por exemplo, encontrou uma professora amiga dela no show da moça Kátia B, e olha, juro, acho que cumprimentamos aquela moça e o marido umas quarenta e oito vezes naquele festival. A gente não aguentava mais virar a esquina e dar de cara com eles.
Tem uma super vantagem de você ser bem desconhecida e muito sapa nessas horas. Você aproveita mais. Pode cumprimentar todo mundo. Dar fora. Fugir. Beber um monte de vinho e ficar com a boca roxa. Rir de gargalhar. Tomar sopão. E a Ângela e eu, como somos otimistas e desinibidas, obviamente conversamos e cumprimentamos com todo mundo. Também acreditamos que todo mundo tava dando a maior bola pra gente. Falamos até, claro, com a Kátia B.. A Ângela deu a maior esnobada nela. Na verdade, a gente tava se sentindo super detetive.