quinta-feira, 30 de julho de 2015

pausa para almoço

Adoro seriados, aliás, nesses tempos de Netflix e Now, quem não adora.
Um dos problemas dos seriados é que cada amigo seu está em um momento da história, e não é sempre que você pode comentar a respeito para não estragar o divertimento alheio. Diferente de novelas, que passam todo dia naquele horário, e que quem assiste pode conversar com qualquer pessoa, que ninguém ainda sabe o fim.
Claro que os meus preferidos são os preferidos de todo mundo, nem preciso contar aqui quais são. Mas o problema maior é quando acaba. Você, espectador e viciado, fica completamente sem chão.
- Meu Deus. Socorro. Acabou Breaking Bad. Meu Santo Antônio. É o último episódio do Hannibal. Que? Como vou viver sem as meninas do Orange is the New Black, sem a Piper. Não, não, só tem mais dois Masters of Sex!
Hahaha. Fala a verdade, para os apaixonados, o fim de uma temporada, ou, pior, o fim do seriado é uma perda irreparável e desesperadora. Sei lá. Dói no fundo da alma. É quase como ser abandonada pelo namorado, como perder um cachorro, como levar um fora, perder o emprego ou levarem teu iPhone. Dá aquele puuuta vazio e, na ansiedade de preencher o buraco, você se desespera para achar outro e quase destrói o controle remoto de tanto apertar o treco.
Foi num desses vácuos que comecei a assistir outros, não tão sensacionais mais interessantes de detetives, crimes, serial killers, policiais, investigadores e advogados. E em quase todos esses tem sempre a tal hora do tribunal. Ah, a hora do tribunal, eterna cena que se repete... Aquela salona toda de madeira, o juiz ou a juíza lá no altar, aqueles caixotinhos onde sentam as testemunhas que sempre tem que falar a verdade e somente a verdade, e os advogados zanzando pra lá e pra cá. Mas notei uma coisa engraçada. Na maioria dos seriados que tem tribunal, a cena começa, tem uma ou duas conversas, e pimba, lá vem o juiz, que bate o martelinho e diz:
- Vamos fazer uma pausa para almoço.
Gente do céu, porque essa gente de tribunal almoça tanto? Em todos os episódios que eu vejo, pimba, martelinho, a tal pausa do almoço. Será que na vida real é assim? Será que todo juiz é guloso? Ou será que todo roteirista sabe que cena de tribunal é chata e acaba logo com aquilo?
Hahaha. Fica a dúvida. E pimba.
- E vamos fazer uma pausa para o almoço enquanto não começa outro seriado para eu me apaixonar.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

descabelada

Eu e duas amigas numa viagem de fim de semana na praia. Resolvemos ir almoçar em um restaurante bacaninha, nos arrumávamos para sair. Praia é aquela coisa, o cabelo da gente sempre fica uma gosma, eu tentando desembaraçar o meu. Uma delas pergunta se quero passar um tal produto.
- Que faz esse produto?
- Esse produto dá uma "desorganizada" legal no cabelo.
- Que?
- Uma desorganizada boa, bonita. Uma "bagunçada", entende?
- Não entendi mesmo, mas vamos lá – estranhei, passando o creme exatamente como ela mandou, embaraçando todos fios.
Me olhei no espelho e levei o maior susto. Nunca estive tão descabelada na vida, mas as duas elogiaram tanto que me convenci que com aquela nova imagem eu ia abafar e conquistar mil caras com a tal "bagunçada" nas minhas madeixas. E lá fui eu almoçar com aquela cabeleira alucinada, me sentindo um dos Jackson Five.
Como as coisas mudam, né? Por exemplo, acho muito louco quando vou comprar uma roupa e ela vem rasgada. Quanto às calças que já vem rasgadas nas pernas (ainda bem que ainda não é moda calça rasgada na bunda), até já comprei umas, pois a coisa mais difícil hoje é comprar calça sem rasgo. Mas elas tem um problema chato na hora de vestir, pois minha perna sempre sai pelo furo e não pelo pé, o que aumenta o rasgo cada vez mais. Nos dias de frio, entra o maior vento gelado.
Outro dia vi um colete super bonito, mas além de ter um monte de furos, estava todo desfiado. Olhei a vendedora.
- Tem outro desse? Esse está com defeito.
- Não senhora – ela me olhou como se eu fosse uma caduca – o colete dessa nova coleção é assim mesmo, todos são assim.
Gente, eu penso que se ao invés de 52 anos eu tivesse 12, o susto que minha querida e falecida mãe levaria se eu aparecesse com o cabelo bagunçado do creme da minha amiga, com a calça esfarrapada e com um colete todo desfiado, podre e furado, feito uma mendiga. E pior, me achando linda.
- Para de brincadeira, menina, vá se trocar e se pentear.
Hahaha.

terça-feira, 28 de julho de 2015

não veio ninguém?

Sempre adorei receber gente aqui em casa, seja para fazer jantar, seja para tomar um vinho, seja para as visitas que quiserem cozinharem aqui. Nesses dias de encontros, como moro num bairro tranquilo, uns anos atrás a frente da minha casa ficava cheia de carros, pois aqui é daqueles lugares inacreditáveis e maravilhosos de São Paulo onde sempre tem-vaga. Mas como tudo na vida muda, outro dia dei um jantar e aconteceu uma coisa muito engraçada.
Chegaram dois amigos, um casal. Abri a porta, eles me cumprimentaram.
- Somos os primeiros a chegar?
- Sim – respondi – E ainda bem, pois já tava morrendo de tédio sozinha aqui. Não vieram de carro?
- Não, de taxi. Sabe como é, a lei seca...
Campainha de novo. Uma amiga.
- Ué, Lúcia, fui a primeira?
- Não, já tem gente aqui. Ué. Não veio de carro?
- Claro que não, Lúcia... os comandos, você sabe...
Um tempo depois chega um amigo.
- Ué, não chegou ninguém ainda?
- Claro que chegaram, estão ai o fulano, a namorada, a sicrana... – olho ao redor – Ué, veio de táxi?
- Não, ônibus. Vou é voltar de táxi, sabe como é, esse negócio de beber e dirigir...
E assim foi, um por um, todo mundo chegando sem carro, vendo aquela rua vaziiiia e achando que o minha festinha tinha micado, até que chegou o último convidado. Abro a porta, ele todo animado de bicicleta, capacete e um vinho na mochila. Olha a rua completamente vazia e me pergunta a mesma coisa de todos os outros, crente que meu jantar era um verdadeiro desastre e que ele ia pagar o maior mico sozinho comigo.
- Ué, não chegou ninguém ainda?
Hahaha.
Vamos aprender, então. Gente, um jantar sem dez carros de convidados na porta hoje é mega chique, não é cilada não. E hoje em dia nem é tão sensacional morar num lugar que sempre tem-vaga.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

a senha louca


Pra facilitar pras visitas, sempre escrevo a senha do wifi aqui de casa na lousa da copa. Sempre foram senhas facinhas, tipo uns números, o endereço, ou meu nome, essas coisas. Eu sempre impliquei com senhas complicadas, dessas com números e letras, com hifens, com maiúsculas e minúsculas. 
Bom, no mês passado, do nada, tudo que tinha a ver com a internet começou a ficar zoado aqui. O computador, lento, não abria página nenhuma, e, quando abria, apareciam propagandas em russo, o telefone também, até a netflix travava. Chamei o técnico, ele veio, examinou e deu o diagnóstico: "o roteador foi hackeado". 
Que?
Bom, como eu já tinha tentado de tudo, me entreguei às instruções do cara, mesmo achando isso muito estranho. Ele arrumou o micro, zerou o roteador, finalizou o serviço e me chamou. Foi quando ele me deu um papel com a minha nova... senha. Gente do céu. Não parece senha. Parece um hieróglifo. Um código de barras para pagamento. Letras e números alternados, underlines, uma coisa assustadora. E mais. Tão comprida que tomava a lousa toda.
- Mas eu não quero isso! – argumentei – quero uma senha facinha, por favor, sou contra senhas imensas!
- Quer ser hackeada de novo? É isso? – ele respondeu, rindo de mim.
Bom, que remédio. Realmente agora – sei lá se por causa da senha louca – tudo funciona, e mesmo com vergonha, adesivei aquele monte de símbolos na parede da cozinha, liberando a lousa para escrever o menu, a lista de compras, telefones, sei lá.
Outro dia vieram amigos aqui jantar, e uma amiga minha estranhou.
- Lúcia, o wifi não funciona?
- Funciona, é que mudou a senha.
- Eu já tentei duas vezes colocar a senha – ela me disse apontando a lousa – mas essa senha “ketchup suco guardanapo” não está entrando.
Hahaha.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

os barulhinhos da festa de apoio

Sala de espera do médico do convênio. Pra variar, lotadaça, pois sempre tem um monte de gente em "estado de encaixe”, o que demora, pois ele só atende os encaixes depois que atende todo mundo que marcou na hora certa, que também não é atendido exatamente na hora certa. Hahaha. Eu aprendi e agora sempre sou precavida, marco meses antes e coloco mil alarmes no celular pra não esquecer.
Esse médico é engraçado. Nessa última consulta, quando entrei na sala ele me pergunta:
- Como que tá lá fora? Bombando?
- Saindo pelo ladrão, doutor.
- Se festa que bomba é festa boa, sala de espera cheia deve ser bom também.
Pior é que é mesmo. Porque a sala de espera é pequena, a secretária tagarela e engraçada, a tv meio zoada, só metade da sala assiste, e não resta muito a não ser... conversar. E como todo mundo está pertinho, sei lá, parece que se você não entrar na conversa geral vai ser até deselegante, entende? Seria realmente como estar numa festa e ficar num canto, reclamando da vida. Ora, se estamos ali todos na mesma situação, exatamente a de espera, de que adianta reclamar? É um tal de contar o problema, dividir os tratamentos, comparar dosagens. E ser solidário. Quando chega minha vez de entrar, eu sempre falo para todos:
- Gente, vou tentar ir super rápido. Juro.
Nesse dia, no meio do nosso grupo de apoio à espera do médico do convênio (GAEMC), notei que todos nós, sem exceção, tínhamos o celular na mão. Muitos para avisar “ixi vou demorar mais meia hora”, outros lendo uatis, outros olhando o face, outros reclamando pelo celular para pessoas de fora do nosso grupo, já que ali, reclamar não pega bem. E a gente sabe, hoje em dia cada um tem seus próprios barulhinhos de celular, aqueles miados, apitos, campainhas, pips, fiufius, plocts, plimps, trililins de mensagens e notificações, incluindo o que eu acho mais louco: um que fala um tipo de “buowulk!”, bem curtinho. Fora, claro, as ligações, que ali precisam ser totalmente públicas e que geram mais assuntos.
- Ah, era minha esposa, ela quer que eu passe no supermercado quando sair daqui...
- Minha mãe é assim – fala a outra – está idosa, me liga umas dez vezes por dia...
Turururu, boing, pip, trririmmm, buowulk. Assim, nossas conversas ali na GAEMC sempre tem essa estranha música, que sabemos que atualmente estão em todo lugar, nos ônibus, em reuniões, encontros, fila de banco. Os sons de fundo da nossa modernidade, que ali, naquele mini espaço, são tantos e amplificados a tal ponto, que fazem realmente a música da festa bombada da sala de espera do doutor. Hahaha.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

bolsa de estudo

Fui com a minha irmã no shopping. Ela ia viajar, precisava comprar biquíni, shorts, sei lá o que, e uma... bolsa. Resolvemos tudo, naquele entra e sai de loja e provador que é uma provação, e, já mega cansadas, chegamos na loja de bolsas. Ela olhou aqui, ali. 
- Hum, gosto daquela – apontou uma, depois outra – aquela também é super bonita.
- Ângela, não é assim que se escolhe “bolsa” – lá fui eu me meter a dar opinião – bolsa é uma coisa que fica grudada na gente o dia todo. Bolsa só é menos que tatuagem, que dorme com a gente. 
- E daí?
- Daí que bolsa tem que ser confortável, porque é quase ‘parte’ do corpo. Tem que, primeiro, se amoldar às nossas curvas. Se aconchegar na gente. Depois, você tem que pensar que bolsa a gente abre e fecha o dia todo. Tira celular, guarda celular, tira pente, carteira, cartão, coloca de volta. Então bolsa precisa ser fácil de usar. 
- Puxa. Tem razão, Lú.
Fui empolgando. Nem eu nunca tinha pensado nisso e já estava ali me achando pós graduada em bolsismo.
- Depois a gente precisa ver se cabe tudo, e se vai ficar tudo minimamente organizado. Olha essa bolsa ai – apontei pra uma que ela tinha na mão – nesse ziperzinho ai da frente acho que nem cabe seu celular. 
- Vou experimentar – ela concluiu, tentando enfiar o celular no vão, inutilmente – nossa, péssima, não cabe mesmo...
- E mais duas coisas: bolsa não pode ser fácil de roubar, como aconteceu comigo quando levaram meu iPhone (snif), e nem muito pesada, que senão você sempre andará ligeiramente torta.
A minha irmã sacou os recados. E emendou.
- E tem que ter alça grande para poder, se quiser, levar a tiracolo – ela concluiu – para ter duas mãos livres.
Daí foi uma loucura. Entramos no clima total. Ela e eu pegamos literalmente todas as bolsas da loja pra experimentar. Colocávamos celular, carteira, óculos, pente. Fingíamos que estávamos na rua, no carro, no metrô, no caixa do super. Depois passamos a nos assaltar, para ver se era fácil. Hahaha.
Ângela achou “a” bolsa. A perfeita. E melhor, de couro, e vermelha, como ela queria. 
- Ângela, estou pirando aqui. Odeio shopping e meus olhos tão esbugalhados.
- Eu também, vamos fugir?
Saímos correndo, livres daquele pesadelo. Entramos no carro, quando ela remexe na bolsa (a velha).
- Lú. Cadê minha chave?
- Chave?
- Chave do carro. Puta, cadê?
Nada da chave. Ela naquele esforço na bolsa, a sacolaiada caindo.
- Perdi! Vamos na loja de biquíni! Deve ter caído na farmácia!
Desespero. Fomos em tudo quanto é lugar. Nada. Só faltava a fatídica loja de bolsas.
- Ângela. Será que você não enfiou em alguma bolsa daquela loja?
- Não é possível- ela disse – será que eu fiz uma maluquice dessas?
Bem, entramos na loja de bolsas, remexendo em todas, abrindo, verificando cada compartimento, diante das vendedoras pasmas. E, hahaha, a chave do carro dela estava sim numa bolsa. Pior, na vitrine.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

condicionada

Ando com um problema com shampoos. Não é com os produtos, pois tem uns cada vez mais legais. É que, gente, nas últimas vezes que comprei shampoo, não comprei shampoo, e sim condicionador. Parece piada o que ocorreu nesse último mês. Bom, da primeira vez escolhi um tentando entender o rótulo – nossa, como a humanidade atualmente tem tipos de cabelos esquisitos – e, principalmente avaliar se eu queria um produto com jojoba, leite, chocolate, ovo, vitamina, erva, queratina, perolado, com sal, sem sal. Lavar o cabelo hoje em dia é tipo fazer uma dieta de comida, você tem que saber qual a restrição alimentar dos seus... fios. Hahaha.
Escolhi um, pareceu razoável. Na hora do banho, sem óculos, claro, notei, pela gosma na cabeça que aquilo não fazia espuma alguma. Coloquei na prateleira, ao lado do condicionador que eu já tinha. No dia seguinte fui comprar outro, lembrando que o shampoo é o que fica em pé e o condicionador é o de ponta cabeça. Mas incrível, errei de novo. No design da marca que comprei, o condicionador e o shampoos eram em pé. Inacreditável, pensei no banho, já dentro do chuveiro. Coloquei o terceiro condicionador na prateleirinha, me enrolei numa toalha, fui até o banheiro da minha filha e peguei o shampoo dela.
Entrei no banho, coloquei o negócio na cabeça... e era condicionador de novo. Que absurdo, pensei, olhando aqueles quatro, repito, quatro condicionadores quase despencando e nenhum shampoo. Acabei o banho, fui a farmácia e pedi ajuda ao farmacêutico. Melhor assumir que cheguei num ponto que comprar um shampoo está além dos meus conhecimentos.

eu ainda vou ter um de você...

Uma vez, quando meus filhos eram pequenos mas nem tanto, eu tinha que largar o trabalho para buscar um aqui, levar outro ali, fazer rodízio com um monte de mães, pedir favor para outra, era uma confusão infernal. Na época resolvi alguém pra me ajudar. Arrumei um cara meio período, conhecido da minha empregada e que não era caríssimo. Ele contou para os meninos que tinha o apelido de “Urso” pois um dia tinha carregado uma geladeira sozinho. 
Bom. O seu Urso era um senhor simples, já avô, boa chapa e meio caipira. Era um pouco preguiçoso também, foi um custo que ele varresse o quintal e a calçada, além de dirigir e lavar o carro. Quando acabava, ficava lá folgadão na área de serviços lendo jornal e ouvindo rádio, o que me irritava um pouco.
Depois de um mês, ouvi um comentário de um dos filhos.
- Mãe. O seu Urso é meio lelé.
- Porque?
- Mãe, ele fala baixinho com... os carros. Repara quando ele te levar pra algum lugar.
- Fala como, menino? Não entendi.
- É assim. Ele para no farol. Vamos supor que na frente pare um Land Rover, ou qualquer outro super carro. Chapa, sei lá, ZCJ 3385. Dai ele fica olhando, olhando e sussurra: “Landrover ze ce jota três três oito cinco...”, “Landrover ze ce jota três três oito cinco...”.
- Ah, vá, gente. Mentira.
- É nada, mãe! E pior, ele sempre fala uma frase pra finalizar.
- Qual?
- “Landrover ze ce jota três três oito cinco, ah, eu ainda vou ter um de você...”.
Pior é que era verdade. Como ele também me levava aqui e ali, ouvi muitas vezes o seu Urso sussurrar: “Pajero eme ene ce um dois quatro nove, ah, eu ainda vou ter um de você...”, como se fosse um mantra pra dar sorte.
Bom, não deu certo ter esse motorista, foram só uns meses. Não por causa dos sussurros, e sim porque era muito mais complicado tê-lo do que não tê-lo, além de caro.
Mas desde então, sempre que paro num farol, às vezes me lembro do seu Urso e fico repetindo quando vejo um putis carrão na minha frente: “bmw erre esse te quatro um dois um, ah, eu ainda vou ter um de você...”.
Hahaha.

terça-feira, 14 de julho de 2015

corre, pedestre, corre

Notei uma coisa sobre as faixas de pedestres. Não com os motoristas, nem com o fato de que, para eles, uma faixa de pedestres devia ser como um farol piscando. Ora, se ela existe, o motorista deve obrigatoriamente desacelerar e olhar se não vai atropelar ninguém. Pelo que sei, isso é agora norma de trânsito, mas quase nenhum motorista não acostumou ainda a olhar para as linhas brancas no chão. 
Já disse aqui que ando a pé pra burro, e que sou a maluca da mãozinha. Quase sou atropelada todo dia, mas sou valente diante das brecadas, já parei ônibus, van e até caminhão. Já fui também muito xingada, pois tem gente que acha que tamanho de carro é documento.
Volta e meia, andando pelas ruas de São Paulo, tenho ideias para nós, pedestres. Muito se fala das bicicletas, mas e a gente? Por exemplo. Acho que devia existir uma campanha para pedestres andarem com um lenço amarelo ou vermelho bem comprido, ou coisa que o valha, pois as vezes o braço da gente é muito curto para ser visto nas ruas com muitas pistas. Inventei também, mentalmente, a ideia de uma faixa de pedestres móvel, tipo um colchonete daqueles de yoga, que você desenrolaria nos locais onde não existe faixa. Ou talvez a obrigatoriedade do uso de apitos (um objeto em total desuso, que teria muitas vendas e abriria um bom nicho de mercado), aliados aos lenços. É. Uma hora vou conversar com meu vereador sobre isso.
Mas quero comentar sobre os pedestres. Uma coisa que noto sempre que estou ou a pé, ou quando dirijo paro numa faixa. Gente, porque é que todos os pedrestes (literalmente to-dos), correm na faixa? Hahaha. Repara. Você para e o pedestre sai correndo em desabalada carreira, como se você estivesse fazendo um puuuuta favor, tipo “nossa, obrigada, que gentileza, deixa eu ir rápido, deixa eu correr, estou te atrapalhando!!!”. Pra que correr? Aqui do lado de casa tem uma escola, e, na hora que os carros param é uma loucura, mãe, pai, motorista, criança, mala de rodinha... todos correndo que nem loucos, como se o mundo fosse acabar! .
É. Pode demorar um pouco para os motoristas aprenderem a ser gentis. Mas a gente que anda a pé, tem também que parar de achar que atravessar a rua sossegadamente é ganhar esmola.

o vermelhinho do netflix

Se tem uma coisa que eu adoro é ver TV antes de dormir. Séculos atrás, na época da TV aberta ou só NET, acontecia uma coisa meio chata. Por exemplo, eu tava vendo um filme, dormia, o filme acabava, e, paciência, eu perdia e ponto final – perder filmes faz parte do negócio de você gostar de TV para dormir – e em seguida começava um outro, que as vezes era de guerra, ou de terror, e eu acordava mega assustada com o barulho, ou a trilha sonora, ou pior, com tiros de uma guerra assustadora. Quando apareceu o NOW, óóó, quantas e quantas noites acordei com o Rubens Ewald me contando as novidades e fazendo comentários de filmes. Não é que acho a voz dele ruim, não é isso, mas pensar que meu sono toda noite era embalado por um desconhecido, ou melhor, pelo Ewald repetindo as mesmas frases sem parar, fala a verdade, é bem bizarro... Dai, gente, agora tem a Netflix, que nossa, acho sensacional. Acho que quem inventou a Netflix deve ser uma pessoa como eu, que gosta de dormir com TV. Porque, além dela me perguntar depois de um tempo algo como “ei, lúcia, você está assistindo TV ou tá dormindo?” e parar o filme quando eu não respondo, ela (a Netflix), coloca uma linda tela vermeeelha para eu dormir tranquilinha no meu quarto. Genial. Nunca mais tomei sustos de tiros à noite, nada da voz do cara (ufa), e todo dia durmo embalada no meu quarto todo vermelhão, que parece um inferninho. Hahaha. Delícia.