sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

vai caçar



- Se tem uma comida que eu não entendo é essa ai que você falou – interrompeu o C., quando eu contava sobre a minha maravilhosa lasanha de funghi.
- Que comida?
- Esse funghi ai.
- Como assim?
- Não entendo. Acho que a humanidade estava no fim da linha para começar a comer cogumelo. Não sei quem começou, se os japoneses com aqueles shimejis e shitakes, se os italianos com os secos. É uma comida horrível de se pensar. É bolor. Cresce na decomposição, no apodrecimento.
- Mas é gostoso e...
- Gostoso? Tem tanta coisa boa na natureza pra o homem comer, pensa. Carne, peixe, fruta, verdura, cereal, porque foram inventar de comer bem os fungos? Não tinha mais nada? Não é possível. Gente preguiçosa. Vai caçar.
Hahaha.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

meu primeiro sashimi



Os filhos da gente já nascem gostando, mas pra mim foi um desafio. O primeiro sashimi a gente nunca esquece. 
Tem um monte de momentos na vida que são mega importantes, aqueles que a gente vence uma barreira complicada para a gente. O sashimi, o melhor, “comer um peixe crú”, foi pra mim um desses momentos. Me parecia a coisa mais nojenta do mundo, tipo comer uma lesma do meu jardim, daquelas que parecem um bife de fígado. 
Não sei como foi o primeiro sashimi de vocês. O meu desafio era vencer o nojo, o asco, a aflição e fazer uma verdadeira revolução entre minhas papilas gustativas, meu cérebro e minha infantil memória alimentar no momento que coloquei aquele troço na boca. Torci para que meu cérebro vencesse minha aversão e eu conseguisse sair ilesa daquele jantar no japonês com o namorado da época.
Tive nojo? Nossa, e como. Cada mordida que dava vinha cheia de ânsia, o jantar foi uma verdadeira tortura. Foi bom? Não. Achei asqueroso mastigar um monte de peixe cru. Até então só comia “pescadinha a dorè”, mas eu engolia a porcaria e sorria para o cara, como se comer aquilo fosse a coisa mais normal do mundo. Céus , o que a gente não faz por amor, estando apaixonada mesmo. Quantas serão as mulheres que venceram o nojo num japonês da liberdade, como eu?
O segundo foi muitos meses depois, com outro namorado. Coloquei na boca um pedacinho, lotado de wasabi e shoyo pra cobrir tudo, e engoli. Já sabia como fazer para disfarçar a sensação. O terceiro até que foi bom, o quarto prazeiroso, no quinto, gostei. Agora sonho em comer sashimi de atum. Deito e rolo.
Eu entendo muito bem o nojo alheio, mas acredito que na idade adulta a gente tem que vencer isso, nojo é coisa de criancinha. Depois disso, ao longo da vida, comi comidas super esquisitas e adorei, como barriga, testículos e miolos. Acho que posso comer qualquer esquisitice. Sério. Lesma, escorpião, formiga, ou até barata se me garantirem que é limpa e aprovada pelo Ministério da Saúde. Será que um dia vou contar como foi comer meu primeiro besouro grelhado? Éca, que nojo.

rodando na camona


Separação é coisa super complicada, mas no fundo, no fundo, tem algumas coisas legais. Uma delas é que você, depois de anos e anos dividindo uma cama de casal, pode dormir naquela camona sozinha. Claro que tem os dias que você divide com o namorado, mas tem aquelas noites – incríveis noites – que você desfruta daquela maravilha gigantesca so-zi-nha. Ou nem tão sozinha, pois a cama fica tão grande que você acaba repartindo com um monte de objetos, como roupas, óculos, celular, livros, controles remotos, etc. Cabe tudo lá dentro, apesar de, às vezes, a TV mudar de canal quando você se vira, ou sua perna amassar o livro. Porque o legal de uma cama de casal grandona, somente para você, é que você pode dormir girando, como se você fosse um ponteiro de um grande relógio. Notei que aconteceu isso comigo aos poucos. No começo eu dormia como se existisse alguém ao meu lado, retinha e paralela ao criado mudo, sempre como se no relógio-cama fosse sempre meio dia e meia. Aos poucos o meu inconsciente passou a ocupar os espaços vazios conscientes, e até a se lembrar onde estavam os controles, óculos e celular. Hoje em dia estou cada vez mais desprendida nas minhas rotações noturnas, não amasso nem quebro nada, e sinto que chego perto de estar próxima da ocupação total. Durmo, depois de algumas horas já estou em nove e quinze, às vezes em dez pras cinco, outras em cinco pras oito, sempre girando, feliz da vida e sonhando muito. Chegar em seis e meia eu ainda não consegui, mas é questão de tempo. Isso, claro, quando não tem pernilongo. Nesse caso, não tem jeito. Tenho que desmontar o meu relógio de sono e colocar os meus ponteiros para caçar os malditos.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

amassador profissional



Uma vez escrevi aqui no " frankamente..." uma crônica sobre as pessoas que amassam sanduíches. Na época eu não amassava sanduíche, mas depois falar sobre esse assunto sem parar, resolvi amassar, e olha, mudei de ideia: amassar é muito melhor. O sanduíche fica bem mais compacto e com uma espessura mais adequada às dimensões da boca, não precisa abrir tanto e mostrar a goela a cada mordida. Acho que é mais educado, inclusive. As pessoas que não amassam acham o contrário, alegam que colocar a mão na comida não é muito higiênico. Essa é uma controversa daquelas que nunca acaba, a população do mundo estará eternamente separada em duas partes, de um lado os homens que amassam e de outro os que não amassam sanduíches. 
Além disso, para caprichar o ato de amassar, é preciso tirar do saquinho de papel, e com o sanduíche pelado na sua frente, é possível controlar melhor os deslizamentos. Aliás, sanduíche bom é aquele que não desliza. Tenho a maior aflição de sanduíche desmontado, o tomate e alface caindo para fora do pão, o molho escorrendo, o pão molhado. É horrível remontar, a gente nunca consegue um resultado não-melecado. Tento às vezes evitar a maionese, na minha opinião a grande culpada pelos deslizamentos. 
Nesses dias de feriado natal-ano novo, na preguiça de cozinhar, resolvi comer um tostex. Fazia anos que não comia. Achei a tostequeira no fundo da gaveta, e enquanto preparava,notei que o tostex é um... equipamento de amassar sanduíche! E é uma máquina perfeita, um amassador profissional, pois ele sela as bordas e não deixa o queijo nem nada que você colocar dentro, passar para fora. O engraçado foi que usei uma tostequeira de pão de forma para o pão francês, e ela, a tostequeira, nem ai. Deixou o pão quadradinho, como se fosse um pão pullman. Até nisso tostex é bom. Uma invenção de um homem, que, claro, devia amassar sanduíche...