terça-feira, 27 de outubro de 2015

53!


Pra mim esse é o dia mais divertido do facebook. Esse monte de gente me dando “parabéns” só porque eu nasci um dia ai, 53 anos atrás. Genial. Levanta super o astral.
Quando acordei hoje, resolvi: “como hoje é meu aniversário, não vou fazer nada chato e passar o dia escrevendo bobagens. Depois de uma certa idade, a gente precisa se dar a uns luxos”. Mas bastou eu descer a escada de manhã que lá veio a voz da Maria:
- Feliz aniversário Lúcia. Olha, falta feijão, arroz, farinha, batata, cebola e sabão em pó. Você precisa ir no supermercado logo senão não tem almoço.
Nunca menti a idade. Todo aniversário lembro que tem diversas pessoas no mundo que nasceram no mesmo ano que eu, e que continuam a crescer também: o Jim Carrey, a Fátima Bernardes, a Jodie Foster, o Tom Cruise e a Demi Moore. Dá o maior alívio. Ah. E sabe quem tem também a minha idade? O Jotalhão, o elefante do Maurício de Souza. Viva o Google.
Também descobri mais inutilidades nas minhas bobas pesquisas, depois de ir ao super, claro, senão a Maria não ia me deixar em paz. 53 é o décimo sexto número primo. É o gato no jogo do bicho. Tem uma música do B52 que é a 53 miles west of venus. 53 é o número de bytes de um pacote de Asynchronous Transfer Mode, segundo o Google Tradutor da Wikipédia, e não tenho ideia do que é isso. Tem um restaurante de comida Portuguesa na Castelo que se chama Rancho 53. Poderia ir lá um dia desses. Também achei o Restaurante Sviatoslav, na Ucrânia, que fica na Rua Franka 53. Provavelmente nunca irei lá dia desses. E tem o Herbie, o famoso Fusca número 53.
Tou mais ou menos igual a esse fusca. Ainda rodando por ai. Parabéns, eu, obrigada, vocês.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

antihorários

Todas as sextas eu e a minha irmã Angie andamos no parque de manhã. Eu já medi e conto pra ela, são sete quilômetros ida e volta do portão aqui. Sempre a mesma volta no parque, dando a volta toda da marginal e passando no melhor bebedouro do parque, a água mais gelada.
- Ângela, aconteceu uma coisa muito louca ontem. Eu acordei de pá virada, super contra a vida, triste pra caralho, dai resolvi andar no parque no nosso mesmo caminho, mas ao contrário. No anti horário, hermana.
- Foi legal?
- Não. Não sei te explicar, Hermana. Fiquei exausta no meio. Parecia que não acabava nunca. Que o caminho era três vezes mais comprido. Olha. Nunca mais.
Olhei pra frente, naquela pista vazia vinha um senhor na nossa direção.
- Angie. Olha discretamente esse cara velhinho e barrigudo que tá vindo.
- Já vi.
- Louco. Todo o dia eu encontro esse homem bem aqui. Ele anda ao contrário, anti horário, igual eu ontem. A gente se cruza todo dia.
- Você cumprimenta ele?
- Não. Lembra o que a mamãe falava? Mulher não cumprimenta homem, responde.
- Ah. Vou cumprimentar ele – ela diz.
- Ô, Angie... – concordo.
A Angie sempre foi mais corajosa que eu.
- Boa tarde!...
- ...
- Angie. É impressão minha ou ele não respondeu?
- Não. Só abriu um olhão. Como se fosse um absurdo alguém falar “boa tarde”. Que homem burro.
A Angie é engraçada. Arrematou.
- Também. O que a gente pode esperar de um homem que faz o caminho três vezes mais longo?

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

o tal do paulo ricardo

No meio da tarde de hoje tocou meu celular.
- Alô.
- Boa tarde dona Lúcia, tem um minuto?
- Diga. Quem é?
- Sou a Talita, aqui da Loja Boticário. Tudo bem?
- Tudo.
- Então, queremos convidar a senhora para um evento da loja no Shopping Villa Lobos.
- Evento?
- Precisamos saber se a senhora confirma a presença.
- Explica, Talita.
- É um evento na loja que acontecerá no dia 13 de outubro, terça feira que vem. Estamos convidando algumas clientes especiais.
- Eu sou “especial”?
- A senhora é.
- Ah que bom. E o que tem nesse evento?
- Teremos a presença do cantor Paulo Ricardo, que irá escolher algumas clientes, tirar uma foto com elas e autografar. E para todas as clientes que forem, será entregue um kit de alguns produtos grátis.
- Não entendi nada, Talita. Quem que vai tirar foto?
- Um fotógrafo, mas a foto será com o cantor Paulo Ricardo.
- Ele vai tirar uma foto comigo?
- Se a senhora for escolhida, vai.
- Quem vai escolher?
- Ele.
- Quantas clientes ele vai escolher?
- Algumas das clientes da loja que forem.
- E as outras?
- Ganham o kit. Umas vão ganhar a foto e o kit, outras, que ele não escolher, só o kit.
- Olha, Talita. Sinceramente?
- Sim, senhora.
- Agradeço muito, mas não vou. Pode me tirar da lista.
- Temos dois horários, as 11:30 e as 13:30. Ele vai estar nos dois.
- Talita, eu nem lembro quem é mesmo esse cantor “Paulo Ricardo”. Pode cantar uma música dele?
- Ele é da sua idade, dona Lúcia.
- Mas e se ele não me escolher?
- A senhora ganha um kit.
- Qual o critério dele para escolher quem ganha o selfie autografado com ele?
- Não sei, senhora. Eu estou apenas convidando.
- Não se deve convidar uma pessoa para arriscar um prêmio e ganhar um prêmio de consolação.
- A senhora acha que não ganha o prêmio?
- Eu não conheço esse Paulo Ricardo que vocês inventaram.
- A senhora vai?
- Não, Talita, óbvio que não. Imagina, menina, como vou ficar baixo astral se o Paulo Ricardo não me escolher pra o selfie autografado dele. Não terá kit que resolva, e jamais entrarei de novo numa loja do Boticário.
- Eu entendo, senhora.
- Então me tira da lista. Eu não vou no dia 13 de outubro, terça feira, esperar o Paulo Ricardo me escolher no meio de um monte de mulheres. Eu acho que esse evento do Boticário, aliás, é muito perigoso, e pode causar um monte suicídios de mulheres da idade dele. Você pode avisá-lo?
- Não, senhora. Eu sou paga apenas para telefonar.
- Tá bom, Talita.
- Posso tirar a senhora da lista?
- Pode. Deve. E manda o Paulo Ricardo pra o espaço.
Hahaha. Confesso que tou super tentada a ir na terça no Shopping só pra olhar de fora da loja esse absurdo. Gente, como a vida é absurda.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

pão e água

Tá cada vez mais complicado fazer um almoço ou jantar com os meus amigos. Assim como não existe mais shampoo para cabelos “normais”, noto que é raríssimo achar uma pessoa que coma comida “normal”, ou como se dizia antigamente, “que coma de tudo”.

Tem os que não comem carne. Tudo bem, é uma escolha, eu como e adoro, mas confesso que me arrepio em pensar em matar um boi inteiro e tirar um bife de dentro dele. Acho que se minha alimentação carnívora dependesse de eu mesma trucidar um animal de carne vermelha para fazer um picadinho, provavelmente nunca comeria. Frango talvez eu matasse – só não sei como – e peixe, bem, já matei, mas nunca limpei. Mas acho que conseguiria.

Mas voltando ao assunto, outro dia fiz a lista dos convidados para um jantar aqui em casa. Olhei a lista, tinha que agradar a todos. Bom, tinha os que não comiam carne ou frango, mas comiam peixe. Tinha os que não comiam bichos sem coluna vertebral, como marisco, ostra e camarão. Tinha os que não comiam carne nenhuma, mas comiam ovo. Mas tinha os sem ovo também, e tinha aqueles que não comem nada cru. E agora apareceram um monte de amigos que não comem derivados de leite, nem um queijinho raladinho e nem um recheio de ricota. Ah, e tinha os que são totalmente contra o glúten, e até um amigo que não consome farinha industrializada nem a pau. Na lista localizei também outro amigo, que sei lá porque, que não come nada que “boia” no prato.

Ou seja, o meu jantar virou uma enorme complicação. Impossível agradar a todos.


Como eu sou daquelas que “come de tudo”, acho que o ideal é fazer ao contrário: cozinhar o que bem entendo, quem quiser que venha. Não sei o que acontece atualmente com a digestão e com os órgãos internos dos meus amigos. Só sei que, se a coisa continuar piorando assim, nos meus próximos jantares servirei pão e água. Os dois sem glúten, claro. 

terça-feira, 6 de outubro de 2015

óvulo

Sai correndo agora pouco para ir no banco depositar um cheque. No meio do caminho meu telefone avisou que chegou um e-mail. Putz, e nessa hora lembrei que esqueci os óculos em casa.
Como ainda enxergo um pouco de longe, coloquei o telefone lá no finzinho dos meus maiores dedos, o máximo possível longe dos meus olhos de Mr. Magoo e consegui decifrar o texto. Era importante, coisa de trabalho, eu não podia deixar de responder. Parei numa sombra, respirei fundo e fui teclando toda esticada, pensando na menor e mais simples resposta. Consegui. Olhei de novo, parecia que tava tudo ok. Mas veio a dúvida, e resolvi explicar numa última frase. Lá fui eu.
“Abraço. Estou sem óculos. Desculpa se escrevi algo errado.”
Quando cheguei aqui, notei que não foi bem isso que mandei.
“Acabou. Estou sem óvulos. Desculpa se escondi meu estado.”
Céus...
Hahaha. Bom, o que não deixa de ser verdade, uma vez que eu e meu cliente nunca abordamos esse delicado assunto.