segunda-feira, 12 de outubro de 2015

antihorários

Todas as sextas eu e a minha irmã Angie andamos no parque de manhã. Eu já medi e conto pra ela, são sete quilômetros ida e volta do portão aqui. Sempre a mesma volta no parque, dando a volta toda da marginal e passando no melhor bebedouro do parque, a água mais gelada.
- Ângela, aconteceu uma coisa muito louca ontem. Eu acordei de pá virada, super contra a vida, triste pra caralho, dai resolvi andar no parque no nosso mesmo caminho, mas ao contrário. No anti horário, hermana.
- Foi legal?
- Não. Não sei te explicar, Hermana. Fiquei exausta no meio. Parecia que não acabava nunca. Que o caminho era três vezes mais comprido. Olha. Nunca mais.
Olhei pra frente, naquela pista vazia vinha um senhor na nossa direção.
- Angie. Olha discretamente esse cara velhinho e barrigudo que tá vindo.
- Já vi.
- Louco. Todo o dia eu encontro esse homem bem aqui. Ele anda ao contrário, anti horário, igual eu ontem. A gente se cruza todo dia.
- Você cumprimenta ele?
- Não. Lembra o que a mamãe falava? Mulher não cumprimenta homem, responde.
- Ah. Vou cumprimentar ele – ela diz.
- Ô, Angie... – concordo.
A Angie sempre foi mais corajosa que eu.
- Boa tarde!...
- ...
- Angie. É impressão minha ou ele não respondeu?
- Não. Só abriu um olhão. Como se fosse um absurdo alguém falar “boa tarde”. Que homem burro.
A Angie é engraçada. Arrematou.
- Também. O que a gente pode esperar de um homem que faz o caminho três vezes mais longo?

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