domingo, 27 de agosto de 2006

sábado, 26 de agosto de 2006

frankenstein miguel


Além da idéia ser absolutamente ridícula, o boneco é tosco, velho, mal feito e as mãos de espuma estão totalmente remendadas. É. Óbvio que a gente não pode levar a sério propaganda política...

sexta-feira, 25 de agosto de 2006

uma vida meio torta



Olha como as árvores ficam itálicas quando a gente tira fotos delas num carro em movimento...
E hoje tem crônica novinha na revista paradoXo: Irmãos de leite.
Podem conferir.

quinta-feira, 24 de agosto de 2006

barcos a deriva




Gente, eu nunca saio sem bolsa. Preciso de bolsa. Bom, essa não é a primeira vez que eu falo dela.
Da minha bolsa.
Aliás.
Das bolsas de todas nós.
Se pensarmos bem, nossas bolsas tem dentro muito pouca coisa que se preze. Vejo pela minha. Antes de ontem, como eu ia viajar, resolvi trocar a minha por uma mochila, dessas de colocar nas costas. Despejei o conteúdo na mesa para separar e colocar na mochila só o que fosse necessário. Olhei bem aquilo tudo e avaliei. Olha. Quase nada dali precisaria realmente ser levado para a Bahia numa viagem de trabalho, mas acabei não abrindo mão de nada a não ser uma nota fiscal enorme de uma compra no Pão de Açúcar. O resto todo, cataploft, foi pra mochila e viajou comigo, até um caderninho azul com anotações inúteis e as duas carteiras falsas que eu uso pra enganar os bandidos. Isso fora algumas coisas que, sério, tenho até vergonha de contar. Uma fivela velha, uma pedra da sorte, uma imagem de santo, uma carteirinha com uma folha seca, uma tartaruguinha mínima. Não consigo tirar certas coisas de perto de mim, e, pior, voltei com mais coisas: lencinhos de avião e duas pedras lindas que peguei numa praia paradisíaca.
Eu acho que é uma coisa ancestral, que tem a ver com a idéia de ‘sair’ de casa. Se aventurar no mundo requer coragem, e no nosso inconsciente o mundo exterior é cheio de perigos e ameaças. Acho que é por isso que precisamos de bolsas - para nos armar contra esses perigos. E entendamos aqui que os perigos de hoje não são, certamente, como os das selvas, mas são até piores. Uma mulher que consiga sair de casa com uma identidade num bolso e dinheiro e chave no outro, gente, é uma mulher muito corajosa. Uma mulher que provavelmente não tem medo do seu cabelo descabelar, que não tem medo de andar sem batom, que não tem medo da menstruação chegar desavisadamente, nem das idéias ficarem sem anotação por causa da falta de um caderninho, nem dos lábios ressecarem por falta de lipstics, nem das unhas quebrarem por falta de lixas, nem de não poder pagar alguma coisa por falta de cheques, de cartões de banco. Uma mulher corajosa não precisa de cartão de farmácia, de locadora, de carteirinha de clube, nem de chiclete, nem de uma meia calça sobressalente.
Uma valentona.
Mas não são só as mulheres que precisam de âncoras para viver. Embora não fique muito claro, muitos homens também, por necessidade de aportar em um porto seguro e por ter medo de vagarem à deriva, usam ternos e gravatas. Sim, é ai que está a correspondência da bolsa feminina no mundo masculino. Sempre me pareceu estranho precisarmos de bolsas num mundo onde os homens não precisavam de nada. Mas isso não é verdade.
As gravatas, gente, as gravatas.
Homens precisam de ternos e principalmente de gravatas bem firmes que os amarrem à vida. Acho que as gravatas dos homens são, na verdade (e me perdoem os leitores engravatados), muito mais pesadas, aflitivas, amargas e significativas que as nossas bolsas, que podem ser esquecidas, colocadas de lado, e que, falaverdade, não enforcam ninguém. Podemos ser, depois de séculos de bolsas, mulheres meio tortas, mas nunca enforcadas a cada dia pela própria existência. Um homem que sai e volta para casa amarrado pelo pescoço é, ele mesmo, a sua âncora.
Obvio que eu quero, depois desse post, ser uma mulher-sem-bolsa, mas não sei se consigo. Uma mulher que não precisa se ancorar em lugar algum, uma mulher como uma barco a deriva, é isso que eu queria. Sair sem bolsa, com as duas mãos livres para o que der e vier.
Não sei aonde chego com essa conclusão. Às vezes acho que não é preciso chegar em lugar nenhum.
Aliás, com essa pesada bolsa que eu levo, fica difícil.

segunda-feira, 21 de agosto de 2006

pô mulher, mas vai viajar de novo?


Mas o que eu posso fazer? Amanhã de madrugadão eu vou pra Bahia a trabalho, de novo... E como a Franka não tem laptop, não dá pra postar de dentro do saguão do aeroporto (hahaha, morro de vontade de um dia fazer isso, apesar de me sentir caipira tendo essa vontade). Sempre dou uns bicões nos computadores alheios, mas demoro tanto tempo nesses laptops sem mouse que ou os engenheiros perdem a paciência comigo ou a moça chama o vôo pelo microfone. Uns dedos mancos que eu tenho, vocês não tem idéia.
Aliás, hoje fui no blog da Surfistinha. Nunca tinha ido. Gente, ela não fala de sexo não. Aliás, fala de coisas muito sem graça - e quer saber? Sou muito mais... namastê.
Até amanhã a noite.

como foi o debate das blogueiras da primavera dos livros



Segundo a S., minha amiga, isso não é bem uma foto e sim uma "vaga lembrança"...


Cheguei no debate das mulheres blogueiras meia hora antes. Fui de metrô, com minha amiga S.. Logo na entrada encontramos a Ivana (Doidivana), a Índigo, a Bebel (a filha da Ivana) e a Andréa del Fuego (a escritora) no corredor. Soubemos que, devido ao sucesso do evento, o local do debate havia sido transferido para um auditório maior. Enquanto eu e a S. seguíamos as debatedoras, percebemos que uma outra moça com cara conhecida se juntou a elas. Mesmo de costas, notei que era a Rosana Herman. Chegamos e sentamos na segunda fileira para não ficar no gargarejo – e depois notamos que o gargarejo da surfistinha, era, obviamente, lotado de homens superinteressados nela. Bom. Enquanto esperávamos o início do debate, notei uma moça loira de cabelo de Farrah Fawcett no canto esquerdo do palco, com dois seguranças troncudões de radinho no ouvido. Era ela, a Bruna Surfistinha. Sei que é uma observação meio idiota, mas um dos seguranças dela usava lentes de contato azul turqueza. “Vai ver que foi exigência dela”, comentou a S., rindo. Tentamos checar, sem sucesso, se o outro segurança também tinha as tais lentes, o que explicaria a observação da S., mas não foi possível chegar muito perto do cara. Depois de pequenas entrevistas com cada uma das palestrantes, um rapaz muito simpático chamado Marcelo Duarte falou que ele era o mediador e iniciou o debate. Aliás, vou fazer outra observação inútil – toda a vez que ouço esse nome – “Duarte” – me lembro do mordomo do Riquinho, fazer o quê. Bom, a primeira a falar foi a Rosana, do Querido leitor, que é simplesmente engraçadíssima, fala pelos cotovelos, associa tudo com tudo e metaforiza tudo de modo absolutamente coerente e caótico. Ela comparou os blogs com pracinhas de interior, onde as pessoas vão para conversar e se encontrar. Contou que tem um fâ-clube, e que eles até fizeram até camisetas do blog dela, que ela achou super caras para comprar. Comentou sobre a sua ansiedade de postar: contou que uma vez fez um post super “mimoso” (ela usou exatamente essa palavra), e logo em seguida, por pura ansiedade, não agüentou esperar os comentários e postou um monte de coisa - o que fez o post mimoso descer e se perder. “É igual a uma mãe-peixe que, quando vê, comeu todos os seus filhinhos!” – ela disse -“é isso que dá uma mãe parir com fome”. Divertida ela. Depois falou a Indigo, que deu um show de interpretação – aliás, não sei o que ela está fazendo na literatura, urge que algum canal de TV a coloque no ar já, aliás de novo, ô Rosana, sou pela contratação i-me-d-ia-ta da Índigo para o programa Pânico. A Índigo contou porque fez seu(s) blog(s) e de onde vieram suas idéias para eles, e num arroubo de espontaneidade – ela estava assim, digamos, bem à vontade – tirou o maior sarro do mediador filho do mordomo do Riquinho, que, segundo ela, tinha feito uma pergunta “meio absurda” para ela, onde ele perguntava o que ela escolheria se tivesse que optar entre os blogs e a literatura. Depois dela veio a Bruna Surfistinha, que explicou devagar e bem explicadinho como começou o seu blog e como ele foi se tornando um blog tão conhecido até chegar aonde chegou. E logo em seguida entrou a Ivana, que surpreendentemente declarou que ouviu o depoimento da Bruna Surfistinha e que se identificou totalmente com ela, pois também fez seu blog um dia a noite porque estava se sentindo muito sozinha, também fez porque queria ser reconhecida como uma pessoa inteligente, que também colocou sua foto, e que também queria ser querida pelos homens. A Ivana é ótima. Mas disse também que para ela blog não é literatura, pois literatura ela faz escondida, dentro do seu escritório, quietinha e remoendo, assando, mexendo e cuidando muito, muito diferente daquilo que coloca no blog, que são coisas rápidas, descartáveis. Foi quando a Rosana interrompeu e disse que ela prefere mil vezes o blog, porque ela tá super acostumada a produzir textos e idéias, eles irem para o ar e puft, fim, e ela ter que começar tudo de novo. Segundo ela, a produção de idéias dela se assemelha a uma pia que se enche e esvazia o tempo todo. Foi quando o Duarte Jr. perguntou quantos acessos cada uma tinha. Gente, que engraçado. A Bruna declarou que depois do livro diminuíram o n* de acessos dela, e que de 50 mil/ dia ela estava com uma média de 25 mil/ dia. Já a Rosana disse que tinha perto disso também, e quando perguntadas, a Ivana e a Índigo tiveram um acesso de riso. A Índigo, na minha opinião, perdeu a chance de dizer, com aquela sua presença de palco, “setenta e três”, o que obviamente tiraria mais boas gargalhadas do público. Depois do debate, foram abertas as perguntas, e no mesmo instante um monte de homens fizeram perguntas para a Bruna, obviamente porque ela é super famosa e gostosa. O Idelber, do Biscoito Fino e a Massa, que eu conheci na sextafeira na Mercearia e que cujo nome pode ser falado de sete modos, com sete entonações distintas (idélber, idelbér, ídelber, idêlbêr, idelbééér, ildelbêlr, irderbér), colocou a questão do blog como nova mídia – ele deixou no ar questão se os blogs podem vir a substituir algumas modalidades de literatura impressa. Daí o debate acabou, pois a sala ia ser usada para outro evento. O filho do mordomo Duarte Jr. pediu que fossemos conversar com elas lá na feira e todos saímos. Foi quando eu conheci o Inagaki, de quem sou super fã mas conversei muito pouco com ele, ô droga, pois fiquei absolutamente confusa com tantos virtuais famosos ao meu redor. Percebi que a Bruna saiu com os seguranças-olhos-azuis, encontrei de novo o Idelber, encontrei com Márcio e Anna, os mais famosos comentaristas, e, depois de uma social rápida, fomos embora. Depois soube que todos eles, Idelber, Inagaki e mais um monte de colegas blogueiros foram para o Canto da Madalena para comemorar o encontro, mas que eu me lembre – snif! Ninguém me chamou. Tá, o 'ÌdÊlbêr' disse que me chamou sim, num comentário aqui do Frankamente, mas eu sou distraída e esqueci. Mas estão todos convidados para o aniversário da Franka, na semana que vem, ainda sem lugar definido. Ah, e a explicação da foto abaixo é simples. Era eu que tinha na bolsa um livro da Surfistinha e um pedido de um amigo para conseguir um autógrafo nele, e como achei um "micão" total ir falar com ela, pedi à Anna um favor. Então foi tudo culpa minha. Bom, foi isso. Expliquei tudo?

hã?

(foto: franka)

Olha. Não vou explicar muito. Aliás, não vou explicar nada. Mas vejam que curioso. Aqui temos um flagrante da Anna, a mais famosa comentarista da blogosfera, na Primavera dos Livros, pegando escondido um autógrafo da... Bruna Surfistinha.

sexta-feira, 18 de agosto de 2006

o dedo do pânico



Segundo um engenheiro que trabalha comigo e que é dono de uma firma de tecnologia da segurança, em muito pouco tempo a identificação das pessoas para acionamento de abertura de portas para controle de entrada e saída será feita, acreditem, pela pressão sanguínea de cada pessoa. Segundo ele, a identificação pela pressão é muito melhor que o uso de digitais ou íris. A digital, inclusive, não é facilmente identificada em crianças e em pessoas idosas. Já a pressão sanguínea é a mesma a vida toda, pode ser facilmente medida e cadastrada pela colocação de um dos dedos em um tubinho na entrada dos locais, e, segundo ele, não há duas pressões no mundo, por isso a importância da coisa. Teremos, então, no futuro, dedos-chave.
– Nossa, isso é incrível. A pressão? – exclamei.
- Bem, por enquanto ainda usamos as digitais – ele me disse quando chegamos na obra – Mas acredite em mim, em dois anos tudo será feito com a pressão.
Bom, durante a visita ele deu uma série de orientações para os eletricistas e para a equipe que estava fazendo a tubulação para o sistema de segurança. Disse para eles não esquecerem de colocar uma tubulação entre o botãozinho da porta (onde teremos o acionamento da entrada de humanos via 'digitais do dedo') com o quadro de força que se interliga com a central de monitoramento do prédio.
- Entenda – ele explicou - é preciso deixar uma ligação com central de segurança do prédio. Assim, caso alguém não cadastrado tente entrar no apartamento ou em caso de arrombamento teremos um aviso lá.
- Entendi.
- E avise ao dono da casa que depois ele terá que cadastrar um 'dedo de pânico'.
- 'Dedo de pânico'?
Ele explicou.
- Assim como existe o botão de pânico nos alarmes comuns, aquele botão escondido que você aciona em caso de perigo extremo, as pessoas cadastram a digital de um dos dedos das mãos como o 'dedo do pânico': se o bandido está com você e te obriga a abrir a porta, você abre com o 'dedo do pânico' e a central é avisada na hora.
- Nossa... – estranhei – Mas pensa... na hora 'h' a gente deve confundir tudo. Imagine estar com um revólver na cabeça e ter que lembrar de um dos dedos?
Foi quando ele me disse, super-super sério.
- Não, não tem erro. Sugerimos sempre para as pessoas cadastrarem como o 'dedo do pânico' o dedo do meio da mão direita. Você sabe o que significa esse dedo, é o dedo do palavrão... – e ele fez o maior gesto feio bem na minha cara - Eu sempre digo aos clientes para pensarem o quanto esse dedo, esse dedo do meio da mão de outro homem, dá pânico... É... – ele ficou olhando o dedo fixamente – Esse é o dedo no pânico mesmo. E juro, as pessoas não esquecem mais.
Hahahahahaha.
Dedo do pânico, alguém já ouviu falar disso?

ixi, mantenha distância



É exatamente isso.
E tem crônica na paradoXo, tá?

quinta-feira, 17 de agosto de 2006

franka vai a copacabana


franka e jôka na praia brindando o encontro bloguistico rio& spaulo

Muito legal. Confesso que a cada vez que eu vou conhecer pessoalmente um amigo blogueiro, eu fico ansiosa e ajo como se fosse uma criança e fosse conhecer, sei lá, a Branca de Neve, o Peter Pan ou o Pinóquio em 'pessoa', ou como se fosse uma pré adolescente e encontrasse o David Cassidy, como se fosse jovem e desse de cara com o Caetano Veloso ou como se eu fosse eu mesma hoje e desse de cara com o Robert de Niro.
Aquela ansiedade, sabe qual é?
Aquela excitação, sabe como é?
Foi mais ou menos isso ontem no Rio com o Jôka.
Cada um de nós tem um mundo, um canto, uma história. As nossas histórias não diferem nada das histórias dos personagens que nos acompanham durante a vida, eu falo desses, importantes, que nunca conhecemos, mas que a distância e a ficção que ronda a literatura coloca sempre em outra galáxia. Nós, mortais, eles, imortais. Nós, no mundo real, e eles, num mundo mágico, irreal e inacessível.
Hoje me dia eu vejo as coisas de um modo um pouco diferente, acho que um pouco por causa da Internet e dos blogs. Fazer um blog e se inserir num mundo virtual é, queiramos aceitar ou não, nos transformar em personagens também. Alguns mais descarados, como eu, com codinome e imagens, como essa da boneca ridícula loira e de roupa de couro, outros mais tímidos, sem imagens e sem apelidos, outro mais reais e solares, como o Jôka e seu mundo do Rio de Janeiro. E queiramos ou não, aqui somos personagens. A minha Franka não sou eu, é uma personagem que eu inventei, uma mãe, esposa e arquiteta com suas histórias e seu mundo, e, por mais que o mundo dela se assemelhe ao meu mundo real, para quem está em Natal ou na Itália ou em outra galáxia ela é virtual, como é virtual qualquer literatura.
Quem lê blogs vê esses mundos. Mundos deliciosamente inventados. Sim, porque nem tem porque inventarmos mundos ruins aqui dentro. Falo isso porque outro dia ouvi o Ferreira Gullar dizendo que a vida é uma invenção, e que cabe a nós inventarmos uma vida bem legal pra gente. Eu concordo plenamente com ele. Pra que inventar uma vida chata? De chato bastam os percaços do acaso.
Não sei porque, mas depois de ler, reler, acompanhar e adentrar esses mundos ficcionais, sinto um quê de magia quando entro dentro deles. Sim, eu fiquei super emocionada de conhecer o Jôka, de ser tão bem recebida por ele, dele me ligar de manhãzinha para saber se eu já tinha chegado, de encontrá-lo em frente a casa dele depois do meu trabalho, de irmos à praia, de sentarmos para um “suco” no quiosque em frente ao Copacabana Palace, de andar pelas ruas de Copacabana numa tarde de sol, de dar tchauzinho para a mãe dele, a Gigi P. que me viu da janela (apesar de eu não vê-la direito porque a janela estava meio fechada – segundo o Jôka é para “o gato não pular”), de conversarmos horas até o sol se esconder atrás do prédio da Narcisa, dele me mostrar os personagens da vida dele e de perceber o quanto ele é bacana, bonito e generoso. E de repente, no meio da conversa que não acabava, eu olhei para aquele homem que eu não conhecia até então e pensei que conversávamos como se fossemos amigos de anos.
O máximo isso.
Bem, pensando bem, quem disse que não somos amigos de anos?
Beijo, Jôka.

quarta-feira, 16 de agosto de 2006

voa, franka, voa





vruuuuuuuuum...
Essa semana eu não consigo escrever. Lá vou pra o Rio. E quem sabe eu trombo com o Jôka P. por lá?

terça-feira, 15 de agosto de 2006

catuaba selvagem



Eu, hein?
Conhecida por suas características estimulantes e energéticas. Um produto forte, pioneiro em sua categoria e recolhecido por sua qualidade.
Modo de servir: gelado
Graduação alcoólica: 16,5% vol.

Catuaba Selvagem
Site é retirado da Internet por relacionar bebida ao sexo
A Indústria e Comércio de Bebidas Rodrigues e Silva Ltda retirou o seu site da internet após receber uma notificação extrajudicial do Movimento das Donas de Casa e Consumidores de Minas Gerais. A entidade pediu a retirada do conteúdo de associação do álcool ao sexo. A empresa -- responsável pela produção da bebida "Catuaba Selvagem" -- resolveu atender o pedido.
O movimento quer modificação nas animações e imagens do site que vinculam a bebida ao êxito sexual. Esse conteúdo viola o Código de Auto-Regulamentação Publicitária, que proíbe a associação de bebida alcoólica ao êxito sexual. Segundo o movimento, o ato da empresa é "abusivo" por explorar a superstição popular de que a catuaba seria afrodisíaca. Os textos que se referiam às propriedades afrodisíacas da catuaba também deverão ser retirados, a menos que a empresa possua dados técnicos e científicos que comprovem tais propriedades, conforme exige o art. 36, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor.
A empresa comunicou, nessa semana, a retirada do ar de seu site na Internet. Também informou que desenvolve no momento uma reestruturação de sua página na Web para adequar-se à legislação vigente. O endereço do site é: www.catuabaselvagem.com.br. (Movimento das Donas de Casa e Consumidores de Minas Gerais)

pancetti

(foto luciana h.)


Franka e um engenheiro a là Pancetti. Sim, isso também é trabalho. E sim, foto de celular as vezes fica bárbara.

segunda-feira, 14 de agosto de 2006

o leque e a coceira





Encontrei um amigo que acabou de voltar de uma viagem à China.
“Como foi?”, perguntei.
Ele se pôs a contar. Não queria ir sozinho para um país tão estranho e resolveu achar uma turma.
“Não me pergunta como consegui”, disse, rindo, “mas achei um pessoal que ia para lá. Todos massagistas, professores de terapias chinesas e afins que iam fazer diversos cursos”.
“Massagistas?”, perguntei, “onde você foi arrumar essa gente?”.
“Já falei, não pergunta!”, ele respondeu, sorrindo.
Viajou. Não conhecia muito bem as pessoas e acabou tendo que dormir no mesmo quarto que um japonês. Na primeira noite, às quatro da manhã, acordou com um barulho estranho: roc, roc, rech, roch, roch, rech. Que diabos era aquilo?
Acendeu a luz e olhou para o lado. Era o japonês, deitado no chão, se coçando. O que acontecia, ele estava passando mal? O japonês explicou, sério, que não. Aquilo era uma “ginástica” para a pele. Consistia em se coçar violentamente, no corpo inteiro, para ativar a circulação, e o ideal era que fosse feita todos os dias, às quatro horas da manhã, intensamente. Ele entendia?
Ah, claro, óbvio, ele disse, sonolento. Ali, na frente daquele japonês falando tão sério, naquele país estranho, ele entenderia tudo. Tinha a viagem inteira pela frente, não falava nada de chinês, precisava de companhia. Mas lá dentro teve a maior vontade de rir.
Com o tempo ficou amigo do tal japonês. Foi descobrindo que ele era um bom rapaz, um bom massagista, apesar de ser um homem rude.
“Rude?” – indaguei.
“É, um homem de poucas palavras, sério, mas um ótimo companheiro de quarto, apesar do barulho de ralador pela madrugada afora”.
Disse que quase no final da viagem o japonês apareceu com um embrulho grande, comprido, grosso. Podia ser um guarda chuva, mas era maior, mais volumoso.
É para você, ele disse, sem mais nem menos. Um presente.
Presente? Ele ficou surpreso, esperando uma explicação que não veio.
Abriu, meio encabulado. Não conhecia direito aquele homem. Um presente, digamos, tão grande, não seria um pouco... inadequado? Mas deu de ombros: de um homem rude que se coça madrugada afora ele não deveria ter surpresa nenhuma.
Era um leque. Chinês. Gigante. Imenso, com mais ou menos um metro e meio de altura e pesadíssimo. Quando se abria, levava metade do quarto com ele. Todo enfeitado, dourado e frágil. O meu amigo não entendeu nada. Ficou sem palavras, sem ação, sem sorrisos, com aquele trambolho na mão. O que era aquilo?
“E o que significava?”, eu perguntei.
“Olha”, ele me diz, “até agora eu não entendi. O japonês não explicou nada, eu agradeci muitíssimo, tentei mostrar um agradecimento do tamanho do leque, mas ele não emitiu palavra alguma, nem sequer sorriu. Continuou rude e mudo, se coçando violentamente a cada madrugada. Viajamos mais dez dias, e eu carregando aquele leque imenso de cá para lá até chegar no Brasil. Não consegui comprar presente nenhum para ele, pois como não compreendi a que veio “aquele” presente, fiquei receoso de não comprar um à altura e ele não gostar. Fiquei cheio de de dúvidas. Ele me deu aquilo pois quis se desculpar pelo transtorno da coceira? Ou será que dar leques gigantes é uma tradição milenar oriental entre companheiros de quarto japoneses? Será que ele estava a fim de mim e aquilo era um tipo de cantada? Ou ele apenas quis me agradar? Não sei, não entendi e nem compreendo para que serve um leque tão grande”.
“E você não perguntou nada?”
“Não. Só agradeci novamente quando chegamos aqui. O leque está lá em casa, e, como não sabia o que fazia com ele, resolvi colocar na parede da sala, como um enigma, um mistério. É dourado, enorme, fica me olhando o dia inteiro”.
“E o japonês?”
“Não vi nunca mais. Me deu o cartão dele, trabalha numa casa de massagens perto de casa. Pensei muito, mas resolvi que não vou até lá não. Prefiro um massagista desconhecido, sem leque, sem coceira”.

sábado, 12 de agosto de 2006

avalanche


Provavelmente meu cérebro está igualzinho à pilha de papéis, plantas e pastinhas que foram se juntando no últimos tempos aqui no meu escritório. Agora há pouco me sentei na minha cadeira para escrever e olhei para os lados. Nossa. A confusão é geral, onde quer que se olhe. Uma espaço caótico em qualquer escala. Que vexame, meuDeus, e nada mais feio que desorganição velha (DV) - sim, pois tudo bem que você seja razoavelmente bagunçado (como eu sou) mas as pessoas descobrirem que aquela zona têm mais de... dois anos, por exemplo, é demais. Sabe aquelas pilhas de papel amarelado, aqueles cantinhos cheios de poeira? Aquelas coisas que quando você mexe sai largartixa de trás? Aquilo é muita bandeira e dá vergonha, mesmo você sendo um bagunceirão assumido.
Bem, digamos que vivo um estado caótico de DV por aqui...
Sem crônica. Vou dar um jeito já.

sexta-feira, 11 de agosto de 2006

são joão sem braço



Olha.

Vou falar de um assunto estranho e intrigante. É que apareceu aqui no meu escritório, no mês passado, a troco de nada, um braço de um santo antigo. É isso mesmo, ali em cima está a imagem dele. Um braço. Não me perguntem de onde veio e nem porque apareceu, o tal bracinho surgiu do nada. Olhei, estranhei. Que coisa era aquela? A vida é esquisita mesmo, pensei. Não dei muita bola e guardei junto com as minhas pedras coração.

Foi quando percebi ontem, num post do Pecus sobre a coleção de santos que ele tem, que os santos antigos sempre perdem os braços. Podem ir até lá para ver a quantidade de santo sem braço que existe. E, apesar de não conhecer ninguém que tenha achado algum braço, acho que é uma coisa normal eles surgirem por ai, como por exemplo, aqui no meu escritório.

Hahaha.

Óbviamente que ofereci meu braço à ele, caso ele queira colar em algum dos santos - acho inclusive que ele caberia muito bem num santo alto, de madeira escura - mas antes dele me responder surgiu um comentário hilário do Peri, que me fez ter um acesso de riso, dizendo que eu não deveria colar o braço de novo num santo, e sim começar uma coleção de braços. E concluia o seguinte:

"Lúcia, o santo sem braço (deveria estar sem os dois) pode ser o popular "S. João sem Braço" que deu origem àquela antiga expressão "golpe do João sem Braço", um santo que só sacudia os ombros quando seus devotos pediam um milagre."

Sei que é estranho tudo isso, mas o que na vida não é estranho? E gente, me ajuda: o que eu faço?

E hoje tem crônica na revista paradoXo, que essa semana faz TRÊS anos: Estressnet ou zenternet?

Parabéns!

quinta-feira, 10 de agosto de 2006

'não aceitar'



Essa coisa da comunicação entre os adolescentes é uma maluquice pra mim. Dizem que ter filhos é legal por causa disso, para não estagnarmos e vermos a vida passar diante de nós sem nenhuma mudança. Mas tem coisas increditáveis.
Bom, tudo começou há uns meses atrás, quando o Chico e a Nana, meus dois filhos mais velhos, comentaram comigo que não usam mais e-mail há séculos. Nem abrem o outlook. Segundo os dois, e-mail é coisa de velho, que “aprendeu” a usar computador (disseram isso em tom de deboche) ou de trabalho, ou seja, é coisa de gente que precisa usar aquilo como “documento”. Explicaram que entre eles o os amigos a comunicação virtual se dá através do Orkut ou dos torpedos do celular. O e-mail está em total desuso entre os mais jovens.
Quando me contaram, estranhei. Eu não gosto muito do Orkut, nunca vou lá.
- Muito ruim, gente, Orkut é lerdo - falei.
- Hahaha, mãe, você ainda é do tempo que as páginas do Orkut demoravam para abrir!
Fiquei pensando o porquê daquilo. Sim, é realmente mais interessante mandar um scrap no Orkut, onde todo mundo lê, do que um e-mail, que só o seu interlocutor lê. Adolescente gosta de turma, e ali dentro do orkut tudo funciona em turma. Se você elogia uma amiga, todos vão saber que você acha ela super legal. Se você tem muitos amigos, todos vão saber, se é famoso, engraçado, popular, idem. Aquilo, além de sua página pessoal, é teu espelho. Todo mundo sabe o que acontece ali, me explicaram os meus filhos. E não serão só seus amigos que irão te ver, qualuquer pessoa pode ir até a sua página e se interessar. Assim, é mais moderno e jovem escrapear.
Bom, eu já estava satisfeita com essa estranha explicação quando veio outra bomba ontem. Minha filha perguntou se eu poderia levá-la à uma festa nesse final de semana. O lugar era longe pra burro, eu falei que estava desanimada.
- É que essa menina é uma amiga que não vejo desde o pré primário, mãe. Ela me achou no Orkut e me mandou um 'não aceitar' da festa dela. Não posso faltar.
- Como que é? Ela te convidou ou não?
- Convidou. Me mandou um 'não aceitar' no Orkut.
- Nani, minha querida, não estou entendendo patavina. Ela quer que você vá na festa ou não?
- Quer, já disse! Me convidou!
- Mas porque é que você não vai aceitar? E porque eu tenho que te levar, e...
- Ô mãe, voce é meio burra, né? O que eu não vou aceitar é o testemonial do convite.
- Hã?
- Mãe, você não sabe mesmo como as coisas funcionam. Hahaha. Vou explicar.
- Hã?
- Olha. Quando assunto é público e todo mundo pode ler , a gente manda um scrap e não se fala mais nisso. Quando é particular, ou seja, uma festa, um encontro, um tipo segredo, a gente manda um recado pelo testemonial com uma frase antes: “não aceitar”. Os testemonials do Orkut só aparecem na página se você aceitar o que a pessoa falou. Então a gente “lembra” a pessoa que não é para aceitar. A pessoa fica sabendo do recado e como não aceita, não é uma coisa pública. A gente chama isso de “mandar um não aceitar”. Será que é tããão difícil de entender?
- Não filha, não...

quarta-feira, 9 de agosto de 2006

olha a lua



Lua cheia em São Paulo. Nunca entendi porque ela encolhe tanto nas fotos. Alguém me explica?

Tou indo viajar a trabalho, e ficamos aqui sem crônica hoje pela manhã. E ei, lembrei. Dia 27 desse mês essa Franka aqui fará dois anos de vida. Vale uma comemoração?

terça-feira, 8 de agosto de 2006

peixe morto



Existem diversos métodos "prontos" para brigar com os outros, seja com o marido, sejam com os familiares, os colegas de trabalho, os amigos. O uso desses métodos ao longo da vida nos ensina a aperfeiçoá-los cada vez mais a cada dia, principalmente para nossa própria defesa. Saber brigar é um modo de criar uma casca um pouco mais grossa para suportar convívios complicados. Quando a relação é intensa, como num casamento, sociedade ou família, pode-se chegar a requintes impensáveis de manipulação. As variáveis são muitas, e todas entram no teatro para mudar o rumo da discussão, caso o perigo se aproxime. Tudo depende de quem tem mais armas e sabe usá-las com maior maestria pra agredir e se defender. São silêncios, choros, gestos corporais, olhares, falas em outro tom, gritos altíssimos, atitudes fora do comum. Vale a surpresa, vale o uso da razão ou da emoção na hora certa. Vale saber qual é a hora certa.
Na escrita a coisa muda de figura, mas com tantas relações virtuais que utilizam essa forma de comunicação, estamos sendo obrigados a nos aprimorar. O que antes era apenas berrar em caixa alta aperfeiçoa-se para sutilezas da escrita ou até para o uso da não-escrita. Um e-mail com uma única palavra é muito mais violento que um berro ou um tapa na cara, um texto exageradamente explicativo denota carência e súplica, a não-abordagem do assunto em questão no texto significa indiferença. A escrita, para ter mesmo poder do corpo e da expressão da voz precisa se afinar, e eu sinto que estamos, nesse momento virtual, buscando melhoras – ou, explicando melhor - descobrindo outras formas de diálogo também para a defesa.
A agressão pelas palavras, usada direta ou indiretamente e justamente por estar impressa, tem o poder de se repetir inúmeras vezes. Esse auto-eco que materializa uma briga escrita é, na minha opinião, um dos grandes méritos e grandezas da discordância escrita. As palavras re-lidas engrandecem de forma única a desavença, tornando-a fantásticamente poderosa. Quase perpétua. Diante de um conflito teclado, as formas que as pessoas usam para agredir são diversas. Eu gosto de usar a fórmula das palavras escritas no passado deturpadas. É mais ou menos assim. Pega-se uma frase de um texto que a pessoa te mandou num momento de fragilidade, tristeza ou desespero, tira-se a frase do contexto e envia-se em letras de caixa alta e negrito. Pronto. É um tipo de agressão irrespondível, perfeita. Não há arma que você possa usar contra o que você mesmo falou. É uma tática interessante, e talvez a mais cruel delas. Algo que só é possível nesses tempos de e-mail. Mas não deixa de ser uma tática, um truque para machucar o outro. Um truque que, por estar escrito e materializado, pesa ao ser segurado nas mãos e arde a cada leitura, diferente de um discussão real que pode ser dissipada pelo vento ou até por um fortuito beijo. As palavras furiosas e más, uma vez escritas, passam a existir como um peixe morto, gosmento e gélido nas nossas mãos, que podemos olhar e re-olhar inúmeras vezes, inacreditavelmente, para concluirmos que não sabemos, realmente, o que fazer com aquilo.
Sim, há muito que aprender ainda nessa virtualidade.

segunda-feira, 7 de agosto de 2006

tchibum!




Aconteceu numa reunião de trabalho. Uma obra ia ser iniciada e diversos profissionais foram convocados para uma reunião com os engenheiros para esclarecimentos de dúvidas. O clima era de ar condicionado e cafezinho, com horário marcado para começar e acabar, e no ar havia uma certa formalidade comum a reuniões com diversos profissionais.
Como em toda a reunião desse tipo, volta e meia se ouvia um celular abafado e alguém correndo para um canto para atendê-lo. Hoje em dia as pessoas sabem o quanto é errado deixar celulares ligados em reuniões, e, ou colocam no 'silencioso' e dão espiadinhas fortuitas ou deixam os aparelhos na vibração, o que pontua as reuniões de trabalho com diversos sons similares à roncos de barriga ou, pior, arrotos ou peidos. Obviamente que tais sons são muito, mas muito deselegantes do que os toques, cá entre nós.
Bom, depois de um desses ‘eventos’ causados pelo celular de um dos projetistas, os demais se distraíram um pouco. Foi quando uma das arquitetas comentou.
- Ainda bem que hoje estou sem celular.
- Perdeu? – perguntou um engenheiro japonês.
- Não. Aconteceu uma coisa engraçada – ela disse, sorrindo - Eu estava no banheiro, me arrumando de manhã, coloquei o celular na bancada do banheiro, fui escovar os dentes, secar o cabelo e...
Todo mundo olhou e ela continuou.
- Gente do céu. Quando eu vi, trombei no aparelho e ele catapimba. Tchibum!
Todo mundo continuou olhando e ela finalizou.
- Dentro da privada. Hahaha.
A sala ficou em silêncio total. Ninguém riu, o que a constrangeu um pouco.
- O seu... seu celular caiu dentro da privada? – perguntou a engenheira chefe da construtora, gaguejando.
- Olha que azar...! – ela disse, completamente à vontade com aquele assunto – ... nunca tinha me acontecido isso.
A sala toda ainda se manteve em silêncio. Obviamente que todos, antes de se manifestarem, queriam saber o diria a engenheira-chefe, que era uma das líderes da reunião.
- E... o que você fez? – a engenheira perguntou, cautelosamente.
- Ora, eu peguei... – disse a arquiteta, dando de ombros – ... e enxuguei. Tentei ligar, mas não funcionou. Acho que quebrou. Deixei na assistência técnica.
O silêncio ficou intimidante e constrangedor. Óbviamente que nesse momento o mundo se dividiu em duas partes, principalmente ali, dentro daquela reunião: os que não tinham nojo da moça que pegou o celular de dentro de um vaso sanitário e os que preferiam a morte a estar ao lado dela.
- Peraí um pouco – falou um engenheiro japonês, interrompendo a moça – Quer dizer que você... que você ainda vai usar esse aparelho?
- Óbvio que vou! – falou a arquiteta, estranhando a pergunta.
Foi quando a outra arquiteta, que trabalhava com aquela e que estava ao seu lado, afastou-se com cara de asco.
- Ai, que nojo! Vai colocar perto da boca numa coisa que caiu na privada?
- Mas a privada tava limpinha – ela se defendeu – É a minha privada, gente! Minha, privada de suite!
- Ah, vá, não exagerem – falou um engenheiro mais velho, defendendo a mocinha, quando viu que ela estava acuada.
- Como "exagerar? – falou um dos engenheiros de instalação, pasmo – Não existe privada ‘limpinha’. Privada é coisa muito suja, sempre. Os coliformes... – ele disse, parando exatamente nessa palavra, provavelmente para dar um certo efeito à frase.
- Ei. Você “lavou” o celular? – indagou o engenheiro japonês – com água “limpa” da pia, por exemplo?
- Claro que não! Podia piorar o estrago – ela disse, atrapalhada.
A outra arquiteta, que a cada minuto se afastava mais da colega, arriscou.
- Vai dizer que pra testar você colocou no ouvido? E perto da boca?
- Parem com isso, que coisa! – disse um dos projetistas de drenagem, também defendendo a arquiteta do celular da privada – Olha, o meu celular caiu numa poça d´água da rua e eu uso até hoje. Celular é caro pra jogar no lixo.
- Argh, jura? – perguntou o engenheiro japonês.
- Eu não jogaria fora – disse o engenheiro mais velho, se posicionando no grupo dos não nojentos.
Todos olharam para ele.
- Mas limparia com álcool – ele se defendeu, engolindo em seco – Muito álcool, muito!
- Peraí... – interrompeu o engenheiro de instalações da turma dos nojentos – você disse que deixou na assistência técnica?
- Sim.
- E... – ele falou pausadamente - E você contou a verdade para a pessoa que te atendeu?
Todo mundo olhou para a arquiteta, sem respirar.
- Não... não podia, né? As pessoas teriam nojo do meu celular. Só falei que caiu água nele.
- Céus. Isso é horrível! – disse a engenheira chefe.
- Corretíssimo – falou o moço da drenagem, apoiado pelo projetista do celular na poça – eu também não contei da poça de água para o moço que consertou o meu.
- Mas o celular não ficou fedendo? Você cheirou bem? – perguntou a arquiteta amiga, com cara de ânsia.
A moça suspirou, confusa.
- Vocês acham que eu fiz errado? – ela desabafou, já com outro tom na voz – acham que eu deveria jogar no lixo e comprar outro?
Ouviu-se um murmúrio geral, com diversas conversas paralelas, até que a engenheira chefe, apesar de saber que o grupo não chegara a um consenso sobre o caso do celular na privada, resolveu encerrar aquela chacrinha e retomar os tópicos da reunião, obviamente muito mais sérios e importantes. Depois de um “vamos lá gente que o tempo tá passando”, ela uniu novamente os dois mundos dentro do assunto “obra”.
Sem privadas, sem celulares e sem nojo.
Mas depois que a reunião se acabou e todos se levantaram para se despedir, notou-se que tanto o engenheiro japonês quanto a engenheira chefe respiraram fundo e deram a mão bem de longe para a arquiteta, evitando os beijinhos de tchau.

sexta-feira, 4 de agosto de 2006

a dona marilene e o computador



Ontem liguei para uma empresa para cobrar um orçamento de um serviço. O serralheiro não estava.
- Escuta, quem está falando?
- Aqui é a Marilene, a mãe dele – disse uma voz forte, estridente - Ele não está, quem gostaria?
- Oi, dona Marilene – eu disse para a mulher – Aqui é a Lúcia. É sobre um orçamento.
- Olha meu bem, eu sou mãe dele e também secretária aqui - ela disse, querendo ser simpática - Pode falar comigo. O que eu posso fazer para te ajudar?
Vamos lá, pensei.
- É o seguinte. Eu mandei um email para o Walter com umas medidas, será que a senhora poderia dar uma olhada se esse e-mail chegou? Ele não me respondeu ainda, não me mandou o custo.
Percebi que a voz da mulher hesitou.
- Ai ai ai. E-mail? Medidas? Quando foi?
- Antes de ontem.
A dona Marilene pediu um minuto, mas demorou uns dez. Acho que ficou muito, mas muito confusa com meu pedido.
- Olha - ela declarou - Vou ter que olhar no computador.
Óbvio, pensei. Onde ela queria ver se chegou um ... e-mail?
- Espere que eu vou ter que me virar – ela anunciou, explicando que ela estava olhando para frente e o computador ficava atrás dela.
Achei engraçado.
- Sabe o que é? Você não imagina a loucura que está hoje esse negócio de computador. Estou sobrecarregada de e-mail aqui. Comecei a ficar tão nervosa que até dei as costas para ele.
- Ele?
- O computador do Walter.
Ela explicou. Tem umas mães que são muito engraçadas com essa coisa de tecnologia.
- Foi assim. Abri o computador de manhã e vi que tinha chegado um monte de e-mails. Já me deu aflição. Quando começei a responder plim, chegaram mais três. Fiquei irritada. Nem tinha acabado de escrever o primeiro e entram três, assim sem mais nem menos? Ora. Fui responder o segundo, e plim, chegaram mais dois! Assim não dá, você não acha? Começou a me dar desespero, eu resolvi virar de costas.
Ela deu um longo suspiro.
- O Walter que me perdoe, mas eu não gosto dessa coisa de computador. Prefiro telefone, que a gente fala com uma pessoa de cada vez, sabe? Mas vamos lá. Que dia que foi mesmo que você mandou esse e-mail, meu bem?
Cada uma...
E hoje tem crônica na paradoXO: A solidão do closet

quinta-feira, 3 de agosto de 2006

frio na barriga



"Quem gosta de abismos, tem que ter asas"

Acho que a frase é do Jabor. Se estiver enganada, alguém me corrija.

super emocionada

Acordei hoje de manhã e recebi uma carta um pouco "gordinha".
Abri.
Olhaí.
Uma linda pedra coração enviada pela Viva, que sempre me lê e comenta aqui e que eu nem conheço pessoalmente. Tou super emocionada com o presente, com a atenção e com o bilhetinho: "lúcia, tava catando pedrinhas e conchas na praia, vi essa pedra coração e lembrei de você na hora".
Frankamente obrigada, Viva. É a força dessas pequenas delicadezas que tece os fios mais fortes para nos sustentar.

quarta-feira, 2 de agosto de 2006

família buscapé




Foram os últimos a entrar no avião. A mãe usava um saião jeans até os pés, todo pintado a mão com flores púrpuras, carregava diversas sacolas artesanais, tinha cabelos pintados estilo ruivo-alaranjado e estava acompanhada por dois filhos adolescentes. Um menino, grandão e desajeitado, com a tradicional bermuda-caindo e uma menina com uma blusa toda cheia de fiapos pendurados, segurando um violão com capa jeans também pintada à mão com motivos ‘musicais’. Obviamente o violão era da mãe, uma vez que tinha capa pintada como a saia jeans.
Que família engraçada.
Sentaram-se nas três poltronas ao meu lado, mas até se acomodarem entraram e saíram do espaço mínimo umas... setenta vezes. Ela não sabia o que fazia, pois os maleiros lotaram e não havia lugar para eles colocarem a tralha que carregavam. Chamou a aeromoça. O que faço? A senhora pode tentar um maleiro lá na frente. Ela olhou desanimada para o restante do avião. Lotadaço. Assim, falando sem parar, suspirou e ajeitou tudo em volta dela e dos filhos.
Imagine como ficaram.
Como ela falava muito alto, todo mundo ao redor ficou sabendo que o violão ficaria ao lado da filha “Pati”, na janela, e que as duas sacolas com os presentes - cuidado que quebra - ficariam em baixo dos pés do “Bruninho”. Pô, mãe, ele protestou, e aonde eu coloco a minha mochila? Com ela, a mãe, ficariam a sacolona de couro e a bolsa. Ela repetiu essa distribuição umas três vezes, remexendo as coisas aqui e ali, e sempre falando sem parar. Depois de todos acomodados e entulhados, ela mandou os filhos afivelarem os cintos e olhou ao redor.
Sorriu para mim.
- É a primeira viagem deles, entende?
Eu assenti e fiquei muda. Percebi que ela queria papo, mas não era a hora e nem o lugar. Aliás, morro de receio de iniciar uma conversa num avião e ter que falar (ou ouvir) por duas horas a pessoa.
O problema é que a mulher falava. E falava. E muito. E sem parar. E meio alto. Assim, todo mundo em volta passou a ouvir – e acompanhar – tudo que ocorria naqueles três bancos com ela e com a família. Eram um tipo engraçado de "família buscapé", encabeçados pela mulher de cabelo laranja e voz rouca, que só dava foras. Ela começou explicando para os filhos (tudo errado) como ia funcionar o vôo, quando uma voz disse ao microfone.
“Atenção tripulação, preparar para decolagem”.
- Quem é tripulação, mãe? – perguntou o moleque.
- Ah. Tripulação somos nós, filho – ela respondeu, sabida, fazendo sinal da cruz.
Todo mundo ao redor riu. Decolamos.
E ela estava apenas começando.
Ai, ai, ela disse, feliz. Os filhos deveriam agradecer a tia Rita por ela ter pago as passagens deles todos para eles para São Paulo. E olha. Eles não deveriam dar trabalho para a tia Rita, peloamordeDeus, hein?. A tia Rita trabalhava, não ia poder ficar saindo com eles pra lá e para cá. Que arrrumassem a cama e lavassem a louça que usassem. Puxa. Ainda bem que ela trouxe presente pra Rita e para os outros, ela falou, pegando uma das sacolas embaixo das pernas do Bruninho. Quero a sacola transparente, Bruninho. Colocou no colo e tirou uma série de vasos de flores falsas. Em cada vaso pintado a mão havia uma margarida de papelão e plástico. E em cada miolo de margarida, um carinha desenhada. Um sorridente, um triste, um bravo, um gargalhando, um chorando. Qual você acha melhor para dar para tia Rita, ô Pati? A flor sorridente, mãe. Gosto mais da tristinha. Mãe, melhor dar a flor feliz, não acha. Pati, a tristinha está mais bem acabada. Olhaqui. Foi a última que eu fiz, olha os olhinhos dela, como brilham. Coloquei purpurina, vê? Dá essa então, ô mãe. Pô, filha, que desinteresse. Daqui a pouco tem lanche, ela explicou. Podem abaixar a mesinha. Assim, ó. Se quiserem tem um banheiro ali atrás. Avião tem banheiro, é apertadinho mas tem. Sim, filho, o ouvido entope mesmo. Pati, teu ouvido entupiu também? Iii. Vai entupir. E logo você que tem "otiti". Se entupir a gente pede chiclete. Aeromoça, tem chicleti? Ah, não? Achei que tinha. Pati, na volta a gente lembra de trazer chicleti. Ixi. Tá doendo o ouvido, Pati? Pra que eu fui lembrar? Tivesse ficado calada você não lembrava. Enjôo, Pati? Iii. Olha o lanche. Chegou. Quer lanche, Bruno? Pega, lanche Pati, é grátis, eles dão. Suco ajuda enjôo. Não entendo porque você enjoa, Pati. Você vai ao parque a toda hora, roda e roda naquele barco viking e não tem enjôo, vem aqui no avião, e nem roda e tem enjôo? Não inventa moda, Pati. Aeromoça. Se não tem chicleti, tem protetor de ouvido? A minha filha tem otiti. Ah, não tem? Que pena, achei que tinha. Filha, Pati, não tem. Toma o suco que passa. Ai, eu preciso ir ao banheiro, mas com esse carrinho no meio do caminho, não dá pra passar, né aeromoça? Da próxima vez eu vou antes do carrinho. Pati, melhorou? Pati, se você não quer a barra de cereal dá para o seu irmão. Aeromoça. Escuta, dá para dar mais uma barra de cereal e uma revista para os meus filhos levarem de lembrança? É a primeira viagem deles, a tia que deu as passagens. Obrigada. Ah, agora vou ao banheiro. Ah, ainda não dá. Outro carrinho. Bruno, como assim "o que você vai fazer na casa da tia Rita"? Deixa de ser mal agredecido, que coisa, a tia Rita dá a viagem, você nunca andou de avião e fica reclamando. Gente. Tou preocupada se a Rita vai estar lá mesmo esperando a gente. Pati? Como assim, enjôo? Ai meu deus. Usa o saquinho. Aeromoça. Preciso de mais saquinho, a Pati vomitou. Ela tem otiti, deve ter piorado com o vôo. Não sabia, tem que tomar dramim? Nem passou pela minha cabeça dar dramim, ela vai no barco viking e não enjoa. É a primeira viagemn deles, a tia que deu. Se eu soubesse traria chiclete e dramim, Pati, melhorou? Não? Vai ao banheiro que a agora não tem carrinho. Vai , filha, vai. Ah, dá o violão e as sacolas. Bruno, ajuda, não vê que sua irmã tá vomitando? Como assim, já vai pousar? Agora sentam os dois que é uma hora importante. Vocês não vão esquecer nunca dessa viagem. Como assim Pati, está "detestando"? Foi presente da sua Tia Rita, sua mal agradecida, e depois você quer ir pra Disney, é muito pior e demora mais ainda. Ah, me dá até desgosto de pensar que você falou isso. Deve ser porque você ainda tá doente, essa otiti não sara, que coisa. Agora prestem atenção que vai pousar em vinte minutos. Será que dá para eu ir ao banheiro? Aeromoça!
Foi assim a viagem toda. Ela não parou de falar um minuto, e todos nundo soube de tudo: da otiti da Pati, da tia Rita, dos vômitos, do barco Viking, do chiclete, da primeira viagem, dos vasos tristes. Desci rindo, não é todo mundo que escancara a vida toda assim na nossa frente.
Ô mulher engraçada, gente. Nossa, e eu também falo muito.
Será que algum dia já dei uma dessas?

terça-feira, 1 de agosto de 2006

sem limites




Nesse fim de semana assisti ao filme "Crash – No limite". Não tinha idéia do que se tratava, só sabia do Oscar ganho no lugar do Broakback Mountain.
De novo nada de críticas. A história é composta de um monte de pequenas histórias que se passam em L.A. e que se entrelaçam. É um pouco como aquele filme Short Cuts, do Robert Altman. O filme é bárbaro e não se fala mais nisso. O que quero levantar é uma coisa que pensei depois que assisti ao filme.
O que me chamou a atenção foi a questão complicada da culpa e do julgamento. O filme trabalha com um monte de situações limítrofes: a humilhação, a solidão, o medo, as frustrações do cotidiano, a doença, a criminalidade. Dentro de cada uma dessas questões existem diversas histórias, diversos pontos de vista, diversas consciências. No final do filme, veio a dúvida. Qual dos lados tem mais ou menos razão? A mente humana tem capacidade de criar um monstro com uma coisa mínima. A mente humana pode pegar problemas horríveis e complicados e minimizar ao máximo, dando a eles uma escala razoável, para que não soframos. A mente humana, na minha opinião, tem esse delicioso poder de fazer o que bem entende, e foi sob a ótica desse poder que eu assisti ao filme. E ali, diante de tantas histórias, nem as ações individuais condenáveis me pareceram sem sentido.
Ixi. Isso é terrível, percebem? Posso estar me tornando uma criminosa sem perceber.
Uma das coisas que mais me impressionou na vida foi uma frase que alguém me disse em algum momento e que me fez cair num enorme abismo dentro de mim mesma. Eu sempre fui tímida em encontros sociais. Ia à festas e me mantinha quieta no meio da turma de amigas, no meio dos meus parentes ou ao lado dos amigos e namorados. E assim, calada, eu sempre implicava com uma ou outra pessoa quando não era notada. Vivia falando coisas como “fulana é uma chata, pois passa reto e nem cumprimenta” e coisas do tipo. Pois bem. Não me lembro quem nem onde nem quando, mas alguém em algum lugar e em alguma hora me alertou que, se a pessoa não me cumprimentou, poderia ser porque ela nem me notou, pô. É, é isso. Não que a pessoa quisesse me desprezar, foi isso que eu entendi, talvez ela nem tivesse me notado.
Foi ai que esse pensamento começou a ir além e eu começei a pirar com a idéia. Ora. Poderia ser, inclusive, que essa pessoa tivesse me achado a maior chata, afinal, uma pessoa tão calada como eu é muito mais chata que uma pessoa que não cumprimenta. E foi quando eu entendi que eu, por causa do medo e da vergonha, eu que não fazia, na verdade, esforço nenhum para ser amiga de ninguém. Ou seja. Foi a primeira vez que um pensamento se inverteu completamente na minha cabeça. A culpa daquelas “mulheres chatas” não me cumprimentarem, era, na verdade, totalmente minha. Ora, quem ia querer falar com um pessoa tão sem graça como eu? Parece um pensamento bem idiota, mas foi a primeira vez que eu percebi que se eu quisesse existir, eu precisaria participar da existência, e não ficar apenas assistindo. Foi a primeira vez que eu vi as coisas ao avesso. O avesso da implicância.
De lá pra cá, acho que um pouco por puro medo, eu virei uma pessoa que fala muito. Assim, eu comecei a me conhecer e conhecer os outros também. E assim, juro, passei e a ser cumprimentada.
Engraçado.
Tudo isso para voltar ao filme e concluir que nunca existe apenas uma história que está sendo contada. Quando vemos isso num filme, é fácil de visualizar, mas quando estamos no escuro da noite, sozinhos, escrevendo, sozinhos, matutando, sonhando e querendo, a nossa história infla de tamanho, fica imensa e não vemos as outras.
Por isso que eu tenho horror da solidão. Não a solidão que o destino nos impõe, eu falo da solidão que criamos em volta de nós mesmos para nos proteger. Na verdade, a solidão nos dá uma única resposta. É disso que a devemos ter medo, pois as respostas são sempre muitas.
E a pergunta fica: de quem é a culpa?