A M. não acreditou que o café era depressivo e resolveu fazer uma investigação comigo. Quando íamos descer, outra porta se abriu simultaneamente no hall do nosso andar. Era a vizinha e uma amiga dela. Já descobri, na semana passada, que ela é minha xará de nome e de profissão, mas não tivemos tempo de nos enturmar mais porque bem na hora que me apresentei e começamos a nos conhecer, chegou o elevador. Esse é um dos problemas de trabalhar num prédio: o elevador sempre chega e você tem que parar de falar. As pessoas que trabalham em casa conversam muito mais tranquilas com os vizinhos. Você tem que ser rápido e sucinto se quiser se enturmar perto de um elevador. Ou dentro dele.
Descemos todas juntas, as quatro. Eu, a M., a vizinha e a amiga dela. As duas não deram a menor pelota para a gente, pois estavam numa conversa animada, e se sentaram numa mesinha reservada. A M. e eu fomos para o balcão.
Ao nosso lado uma senhora de cabelos tingidos de loiro e corte modernoso, que logo puxou conversa. Disse que queimou a língua, aiaiai, logo agora que estava entrando na análise. A M. comentou que ela poderia falar coisas "quentes" pro analista e ela deu a maior gargalhada. Notei que ela tinha uma tatuagem de rosa num dos dedos.
- Legal sua tatuagenzinha do dedo - comentei.
Ela arregaçou a manga e mostrou uma tatuajona imensa no braço, uma roseira completa. Quase tirou a roupa.
- Aiaiai. Olha, meu tatuador não é o máximo? - explicou e saiu correndo, abanando a boca, nada depressiva.
- Viu? - desafiou a M. - viu que animada a paciente? Você implicou à toa com o público do nosso café, lúcia.
Bem nessa hora entra uma moça de faixa no cabelo e pede um café bem rápido. A atendente disse que ela tinha que esperar pois tinham quatro na frente, e o da M. é super complicado (pelando, curto, espuminha, leite, numa sequência confusa). Eu e ela sempre pedimos café assim: "um simples e um complicadíssimo, por favor". A moça da faixa falou que então não ia dar, pois tinha que pegar a filha na escola, tinha que correr, tinha muita coisa pra fazer, tinha que estressar muito.
- Benzinho, não é por mal, não fica ofendida mas vou cancelar meu pedido - disse, sacando o celular, esbaforida, saindo feito uma lufada dizendo alouuu alouuuu.
- Hehehe. Empatamos. Um a um - comentei com a M.
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