Chegamos sexta a noite no sítio da Ângela, que é no mato, mato, mato, e chovia, chovia, chovia. Mas mesmo no mato, mato, mato e na chuva, chuva, chuva, nós duas não aguentamos pra ver o que rolava na cidadezinha. Como eu disse no post anterior, ninguém convidou a gente, mas entramos numa viola e fomos de sapas-malandras pro Festival Literário da Mantiqueira.
Ooobaaa.
- Lúcia, vamos combinar. A gente tá longe da cidade, tá chovendo pacas, a estrada tá toda atolada e nós duas tamos sozinhas - ela ponderou - vamos eleger um escritor pra cada uma e vamos nos comprometer a ir neles. Eu escolho o Hatoum. Pronto, escolhi. Agora você.
Olhei o papeleto.
- Tá, escolho o Prata com a Bruna com o Lauro César Muniz.
- E o resto é lucro, se a gente conseguir ver mais alguém. Olha que maravilha.
Gente, é que o sítio era longe, no mato, mato, mato; chovia, chovia, chovia; tinha lama, lama, lama. Pensando bem, um local perfeito pra sapas. E a Ângela encasquetou mesmo de assistir os caras. As-sis-tir. Levou até caderno e lápis pra anotar. Putis preguiça.
A gente tava curiosa pra ver o que acontecia. Chegamos umas dez e meia da noite na cidade na sexta, tudo meio vazio. Vimos duas tendas brancas na pracinha. Olha. Quer fazer um festival literário? Monta uma tenda branca. Todo festival legal tem tenda branca. Aliás, tudo que é evento tem tenda branca. Tenda é a arquitetura básica dum festival. Tenda vira livraria, tenda vira auditório, tenda vira espaço musical, tenda vira point. Ó. Tenda branca é super chique. Outra particularidade de festival literário é senha. Pra tudo tem que tirar senha uma hora antes e entrar na fila. Menos se você for vip, porque vip entra direto.
Mas sexta chegamos tarde pra burro lá e a única coisa que encontramos foi um fim de show de uma moça chamada Kátia B. Fim mesmo, porque quando entramos o show acabou. Na verdade, nesse dia só tinha mesmo a abertura e o show. Fomos num bar chamado Photosofia, lugar super legal, que é de um amigo da Ângela, pra comer alguma coisa, e encontramos todo mundo que estava na tenda por lá, até a Kátia B e a banda toda da Kátia B.. Isso é outra particularidade de festival literário, essa coisa de encontrar as mesmas pessoas de duas em duas horas. A Ângela, por exemplo, encontrou uma professora amiga dela no show da moça Kátia B, e olha, juro, acho que cumprimentamos aquela moça e o marido umas quarenta e oito vezes naquele festival. A gente não aguentava mais virar a esquina e dar de cara com eles.
Tem uma super vantagem de você ser bem desconhecida e muito sapa nessas horas. Você aproveita mais. Pode cumprimentar todo mundo. Dar fora. Fugir. Beber um monte de vinho e ficar com a boca roxa. Rir de gargalhar. Tomar sopão. E a Ângela e eu, como somos otimistas e desinibidas, obviamente conversamos e cumprimentamos com todo mundo. Também acreditamos que todo mundo tava dando a maior bola pra gente. Falamos até, claro, com a Kátia B.. A Ângela deu a maior esnobada nela. Na verdade, a gente tava se sentindo super detetive.
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