Clique na imagem para ler a crônica da Franka na revista Morar de hoje da Folha de São Paulo.
sexta-feira, 30 de maio de 2008
quinta-feira, 29 de maio de 2008
irma e hermana carvalho na festa no céu
Quando eu era pequena, me lembro da minha mãe contar a história da Festa no Céu. Era a história engraçada sobre uma festança nas nuvens, onde obviamente que só deveriam ir os animais que voavam. Na história aparece um sapo malandrão que encasqueta de ir também, e, pelo que me lembro, ele bola um plano secreto onde resolve entrar dentro da viola de um dos músicos-urubus para chegar lá. Eu acho que ele fez certo, esse sapo malandro, porque os organizadores da festa, na historinha, ficavam se exibindo muuuito para os animais-sem-asas, dizendo que a festa ia ser bárbara, que ia ter de tudo, etc. O sapo, claro, vai ficando com a maior vontade de ir, coitado.
- Vai ter muita comida.
- Ooobaaa.
- Vai ter muita dança.
- Ooobaaa.
- Vai ter muita música.
- Ooobaaa.
Bem, lembrei dessa história por causa de um festival de literatura que vai acontecer na cidade onde a minha irmã tem sítio, São Francisco Xavier. É nesse final de semana, e eu e ela começamos a ler no site tudo que vai acontecer nesse tal Festival da Mantiqueira.
- Olha, vai ter um monte de escritor - ela me disse.
- Ooobaaa - respondi.
- Olha, o Milton Hatoum vai.
- Ooobaaa.
- Olha, o Nelson Mota vai.
- Ooobaaa.
- Olha, a Ivana Arruda Leite, a tua amiga, Lúcia, vai dar um curso pra professores.
- Ooobaaa.
- Olha, até o Mário Prata vai estar junto com a Bruna Lombardi numa palestra de teledramaturgia.
- Ooobaaa Ângela.
Bom, não vamos fazer nenhum curso e duvido que a gente tenha paciência para ver palestra ou diálogo, mas como tudo nos pareceu extremamente divertido, eu e a Ângela resolvemos ir nesse festival. Eu e ela temos histórias e gostamos de escrever, então vamos entrar numa viola, aparecer por lá e fazer a nossa literatura feito duas irmãs sapas malandronas.
- Ooobaaa.
Só espero que a gente não despenque de lá de cima, como na historinha.
quarta-feira, 28 de maio de 2008
o iutube da escova Oral-B fantasma
Fui na casa da minha irmã e surge a incrível oportunidade de colocar o Luiz, o filho dela, na cama. Isso significa contar histórias a um menino de oito anos. Gente, não aguento. Adoro colocar criança pra dormir, adoro contar histórias e adoro meninos de oito anos. O único problema é que depois das minhas histórias ninguém dorme e a mãe é acionada. As crianças ficam excitadas demais e as mães me perguntam bravas: "Franka, pô, o que você contou pra ele?".
Implorei.
- Ângela, deixa vá.
- Ele tem que dormir, Lúcia, dormir. Escovar os dentes e dooormir.
- Tá, eu faço isso. Deixa?
- Deixo.
Subi. Achei o garoto.
- Luiz, shiu, é a tia Franka. Olha, você vai escovar os dentes, dai eu conto uma história e depois eu que vou te colocar pra dormir.
Ele obedeceu. Acho que achou legal. Entramos no banheiro da casa e ele subiu no banquinho em frente a pia.
- Luiz, cadê a escova de dente do teu pai? Aquela escova fantasma, que anda sozinha? Qual é?
- Aqui, tia.
- Luiz - eu disse animada - vamos colocar no chão?
- Chão? Pra quê, tia?
- Pra eu fazer um iutube. Igual ao post que eu fiz da escova fantasma. Cê viu?
- Vi. Uau. Vamos. mas depois que eu te ajudar no iutube você me conta uma história, tia?
- Conto. Mas escova ai os dentes e me ajuda no iutube antes da tua mãe chegar, rápido. Preciso provar pra todos os meus leitores que a escova do Caio anda sozinha pelo chão do banheiro mesmo.
- Ela anda, tia, eu já vi. Eu ligo ela. Péra.
Ele imediatamente ligou e passou a cantar uma música de terror horrível. Acho que pra dar o clima.
E.
Bem.
Óaió o iutube da escova Oral-B. Pra quem aguentar de medo.
Dai ele deitou e eu contei uma história bárbara. Ó. A minha história era bem melhor que o iutube e tudo mais, mas ele disse que era super, mas super boba.
- Tia, outra, por favor.
Bom, ele não dormiu, e eu, como sempre, acionei a mãe.
terça-feira, 27 de maio de 2008
qual o signo da franka?
No feriado eu fui num almoção de amigos. O almoço era ao ar livre, e, conversa vai, conversa vem, ficou de noite. Alguém olhou pra o céu e notou o monte de estrelas. Lindo. Foi quando um dos convidados fez algum comentário sobre elas e pimba. Caímos no assunto que eu menos entendo: astrologia.
Nunca entendi nada de astros, estrelas, horóscopo e afins. Sempre que surge esse assunto eu me recolho depois de fazer a única gracinha que sempre faço, onde digo que apenas sei comparar as pessoas às imagens do seus signos: gente de balança é equilibrada, gente de leão é brava, gente de aquário não gosta de sair da sua casa e por ai vai. Já falei tanto essa gracinha que acho que ninguém mais acha graça nenhuma.
Mas nesse almoço aconteceu uma coisa engraçada. Um amigo - que assim como todos se gabava que sabia muito de horóscopo - me perguntou meu signo e meu ascendente.
- Adivinha - desafiei.
Ora, se ele entendia ele deveria descobrir. E foi ai que ele começou a errar.
- Áries e Leão.
- Não.
- Gêmeos e Capricórnio?
- Não.
- Então é... hummm... Peixes e Sagitário.
- Não.
Todo mundo começou a dar palpite.
- Aquário e Virgem?
- Leão e Touro?
- Câncer. Câncer e Gêmeos, tá na cara.
Ninguém acertou nem um nem outro. E olha, todos amigos de anos e anos e anos. Um dos convidados me olhou assustado.
- Nossa, conta, Franka.
- Eu não.
Ufa. Alívio. Na verdade, ninguém entende muito de signos, assim como eu. As pessoas são é palpiteiras pra burro. E depois dizem que é a Franka que mente. Fica aqui o desafio. Quem adivinha?
segunda-feira, 26 de maio de 2008
gagá de segunda
Tenho um problema as segundas feiras. Uma amnésia horrível. Nunca sei o que marco para esse dia, principalmente se marcar alguma coisa pela manhã. Tento sempre evitar, mas às vezes não dá. Não sou boa de dar desculpas, e que desculpa se dá para esse tipo de coisa? "Segunda de manhã não posso porque eu esqueço"? Ora, isso não é nada profissional. Anoto em agendas, cadernos, telefone. E mesmo assim esqueço e tenho sempre que sair correndo.
Hoje aconteceu. Marquei uma reunião de manhã. Lembrava vagamente que tinha alguma coisa quando recebi um telefonema de um engenheiro. Atendi devagar.
- Alou...
- Lúcia?
- Tem reunião é? E que horas é essa reunião?
- Dez.
Ufa. Eram oito e meia ainda. Ainda bem que ele me lembrou, pensei. Corri, me arrumei, fui. Cheguei junto com ele na porta do prédio, nos identificamos, subimos e...
Bem, não era as dez. Era às 11 e meia. Eu e o engenheiro nos olhamos.
- Nossa - ele me disse confuso - ... eu tinha certeza que era às dez...
De um certo modo fiquei aliviada. Não sou só eu que sou gagá-de-segunda. Voltei pra cá a tempo de fazer esse post e sair daqui a pouco de novo. Onze e meia.
quarta-feira, 21 de maio de 2008
au vezes au
O Luiz, meu sobrinho, está aprendendo a tabuada. Como ele tem que decorar, toda hora é sabatinado por alguém. Normal. Acho super legal decorar coisas.
- Três vezes sete.
- Quatro vezes cinco.
- Dois vezes nove.
A cada vez que ele respondia, o cachorro dele, o Ringo, latia.
- Acho que ele quer falar a tabuada também - ele disse - vamos lá, Ringo, vamos ver se você sabe a tabuada do "au".
Olhou para o cachorro e falou super sério.
- Au vezes au.
- Au - latiu o Ringo.
- Au vezes au.
- Au.
- E au vezes au?
- Au.
Nossa, me impressionei. O Ringo é super bom de tabuada.
segunda-feira, 19 de maio de 2008
o fantasma da escova de dente
- Lúcia, lembra daquela minha escova de dente que eu disse que tinha um design que parecia com o seu tênis? - lembrou o Caio, meu cunhado, no sábado passado - aquela, que você até fez um post?
- Lembro, claro.
- Pois bem. Vou te contar uma coisa que aconteceu com ela. Olha, eu sempre escovo os dentes no banho, dentro do chuveiro. Depois arremesso a escova dali, de dentro do box, até a pia. Sou ótimo nisso, a escova sempre cai dentro da pia. Catapimba. Direitinho.
- Mas o que tem a escova de dente, Caio? Quebrou?
- Outra coisa, deixa eu contar. Ontem eu fiz exatamente isso. Tomei banho, escovei o dente e arremessei a escova. Mas ao invés dela cair dentro da pia, caiu atrás da torneira. Melhor ainda, pensei, estou me aprimorando. Bom, acabei o banho e sai dali. Depois de um tempo, sua irmã veio falar comigo. Ela estava branca. Parecia morta de medo.
- Nossa, o que houve?
- Ela me disse que ouviu um barulho estranho no banheiro, que entrou lá e que a minha escova de dente modernosa estava andando sozinha pelo chão do banheiro. Eu disse que era impossível, mas fui olhar e era verdade. A escova estava no chão - quando eu sai do banheiro ela estava sobre a pia - e era verdade: ela andava sozinha, como se estivesse... viva.
- Como assim? A escova passeava pelo chão? Feito cobra?
- É. Parecia assombrada, andando, do nada. A sua irmã teve certeza que era uma assombração que estava ali. Me olhou, respirou fundo, entrou no banheiro pé ante pé e passou a falar: "quem está aiiii...? quem é vocêêê...? Quem está mexendo na escova de dente do Caio...? Apareça... apareça seu fantasma...". É que ela tinha cer-te-za que era um fantasma. Claro, né, afinal uma escova de dente andando sozinha pelo chão do banheiro.
- Mas Caio, como assim? Explica o que houve!
Ele riu.
- Bem. É que eu não percebi, mas comprei uma escova elétrica... daquelas que tem pilha dentro, sabe? Nem sabia que isso existia e nem que eram tão iguais às outras. Nunca usei como elétrica, nunca apertei nada, mas acho que quando "lancei" de longe ela ligou. E ligada, como vibra, caiu da pia e passou a... passear pelo banheiro sozinha.
Gente, que absurdo essa história.
- Sua irmã quase teve um enfarte, mas, olha, ela foi super corajosa. Entrou no banheiro disposta mesmo a falar com o fantasma da escova de dente Oral-b.
Hahaha.
doces!
Ela me perguntou se eu gostava de doces. Quem não gosta de doces? E ela me perguntou se podia me dar um "presente". E isso é pergunta que se faça? "Então vou mandar uns doces de presente para você", ela me disse. Essa é minha leitora, essa blogueira como eu, essa menina pra lá de engraçada. Acho que é das coisas que me dá mais felicidade, essa coisa de encontrar alguém que gosta da gente. Olha que delícia que ela me mandou (tratei de tirar fotos antes de qualquer pessoa de casa chegar e atacar). Goiabada cascão de verdade, doce de leite, doce de leite com ameixa. Putis. A única coisa que eu não imaginava é que ela fosse tão atrapalhada, essa uai-sô. Ela foi deixar o presente no escritório, eu dei o endereço direitinho, mas sei lá o que ela aprontou que não deve ter anotado nada. Ela deve ser igualzinha a mim, que acredito mais no destino do que nas anotações. Eu atrasei para chegar no escritório porque fui ajudar meu filho com uns documentos pro exército, e - vai entender porque - ela chegou antes, falou um monte com os porteiros, descobriu outra Lúcia (preciso conhecer essa xará um dia) e queria-que-queria entregar pra ela. Hahaha. Fiquei imaginando o que ela explicou pra outra Lúcia antes de não entregar os doces. "Oi, eu sou a uai-sô, ô franka do frankamente..., como você não me conhece!!?". Quando eu cheguei, os porteiros todos riam da trapalhada que ela fez. O que importa é que os doces chegaram, são deliciosos, e eu e o Zé já engordamos uns bons dois quilos por conta deles. Uai-sô, puxa, obrigadíssima! Eu realmente me emociono de ganhar presentes, eu realmente fico comovida com um carinho tão bonito, a vida só tem sentido por causa desses pequenos atos. E bem, eu também adoro trapalhadas. Hahaha.
sexta-feira, 16 de maio de 2008
leilão de mulheres
Quando eu e a Ângela éramos pequenas, minha mãe nos mandava nas férias para o acampamento dos Pumas, em Campos de Jordão. Eu gostava de lá, apesar de achar esquisito ir para aquele lugar onde as pessoas faziam tantos esportes e tantas atividades. Porque eu não fazia, na minha vida normal de criança, tantos esportes e atividades. Porque na minha vida normal de criança, nas férias, eu não fazia nada além de brincar.
Chegávamos lá e recebíamos aquela "grade" imensa de programações. Aulas, campeonatos, festas, regras. Não sei quem inventou, desde aquela época, que nas férias você, criança, precisa de a-ti-vi-da-de. Brincar não basta?
Mas tudo para contar uma coisa que a Ângela lembrou outro dia. Nesse acampamento haviam diversas festas temáticas, e uma delas era uma festa romana. Acho que era romana, não me lembro bem, podia também ser grega. Não importa. Era à noite, depois do jantar, e tínhamos que ir todos vestidos com lençóis. Biquíni, maiô ou short em baixo e lençol em cima. E nessa festa existia uma coisa horrível, gente, acreditem: um leilão de mulheres. Por "lote". Juro. Verdade verdadeira mesmo. Funcionava do seguinte modo: todos os dias depois do jantar os acampantes, meninos e meninas, ganhavam doces. Você podia escolher entre um punhado de balas, dois bom-bons ou um barra de diamante negro, e esse era o dinheiro que era usado no leilão de mulheres - os doces.
Os meninos, desde que chegavam, eram avisados que deveriam "poupar" os doces para o dia do leilão de mulheres, que era quase no final das férias. Alguns deles, interessados em alguma menina, não comiam nada para poder comprá-las, já outros se juntavam para "comprar" mulheres juntos. "Comprar" significava ter a menina (com o "lote" junto) como sua "escrava" durante a festa toda - porém o máximo que as meninas podiam fazer (o pior é que a gente fazia) era dar refrigerante e comida na boca dos meninos. O que, pensando bem, é absolutamente ridículo.
Aliás, gente do céu o que era aquilo.
Claro que os lotes eram escolhidos pelos monitores, que colocavam, prudentemente, as meninas mais lindas junto das mais feias, organizando os desejos infantis para que nenhuma menina se sentisse mal - o que sempre ficava óbvio para todos nós. Quando eles, os monitores, viam que um certo "lote" não "vendia", eles mesmos arrematavam, o que também era o fim da picada. Além de ser uma situação humilhante - imagine meninas pequenas em "lote" em cima de uma mesa, enverganhadas, e um bando de meninos gritando - era uma festa bem idiota, que nunca entendi como era permitida.
Eu, que não era nem bonita nem feia, sempre ia parar nos lotes médios, arrematada pelos meninos médios, e nunca sofri com essa festa como algumas meninas que chegavam ao quarto aos prantos. Já a Ângela, uma jet-set famosa do acampamento, que sempre ganhava o troféu de "Garota Puma", tinha muitos fãs. Um deles era incondicional. Era um menino meio gordinho, que hoje é músico e que tem uma banda super famosa, que era a-pai-xo-na-do por ela e não escondia isso de ninguém. Fazia qualquer negócio para comprar a minha irmã, acho que ia ao acampamento só para isso, mas era guloso enunca tinha doces suficientes. Um certo ano ele tomou uma atitude: juntou tudo que podia (coitado, morreu de fome) e conseguiu.
Comprou a Ângela.
Claro que os lotes eram escolhidos pelos monitores, que colocavam, prudentemente, as meninas mais lindas junto das mais feias, organizando os desejos infantis para que nenhuma menina se sentisse mal - o que sempre ficava óbvio para todos nós. Quando eles, os monitores, viam que um certo "lote" não "vendia", eles mesmos arrematavam, o que também era o fim da picada. Além de ser uma situação humilhante - imagine meninas pequenas em "lote" em cima de uma mesa, enverganhadas, e um bando de meninos gritando - era uma festa bem idiota, que nunca entendi como era permitida.
Eu, que não era nem bonita nem feia, sempre ia parar nos lotes médios, arrematada pelos meninos médios, e nunca sofri com essa festa como algumas meninas que chegavam ao quarto aos prantos. Já a Ângela, uma jet-set famosa do acampamento, que sempre ganhava o troféu de "Garota Puma", tinha muitos fãs. Um deles era incondicional. Era um menino meio gordinho, que hoje é músico e que tem uma banda super famosa, que era a-pai-xo-na-do por ela e não escondia isso de ninguém. Fazia qualquer negócio para comprar a minha irmã, acho que ia ao acampamento só para isso, mas era guloso enunca tinha doces suficientes. Um certo ano ele tomou uma atitude: juntou tudo que podia (coitado, morreu de fome) e conseguiu.
Comprou a Ângela.
Hahaha.
E ela, a minha irmã, me conta que no mês passado encontrou esse músico famoso sem querer numa festa. Ele veio comprimentá-la e falaram do acampamento. Foi quando ele olhou para ela, piscou e disse bem baixinho:
- Ângela, lembra que eu te comprei um dia?
E ela, a minha irmã, me conta que no mês passado encontrou esse músico famoso sem querer numa festa. Ele veio comprimentá-la e falaram do acampamento. Foi quando ele olhou para ela, piscou e disse bem baixinho:
- Ângela, lembra que eu te comprei um dia?
quinta-feira, 15 de maio de 2008
médico de abacate?
- Que livro é esse, Francisco?
- Um livro sobre abacates. Tudo sobre abacates.
- Você está lendo um livro sobre abacates? - perguntei pra o meu primo quando vi o marcador no meio das páginas.
- Estou.
Acho o máximo perceber os interesses literários dos outros. As esquisitices. Mas ora, se eu adoro livros sobre comportamento de macacos bonobos e já li diversos empolgadíssima, qual o problema do Francisco querer entender os abacates?
Ele passou a me mostrar. O livro era todo ilustrado, com fotos, gráficos e tabelas. Até que surge uma imagem de um bicho. Um inseto enorme, parecido com um besouro.
- Nossa, não cheguei nesse capítulo ainda, olha - ele exclama, animadérrimo - esse deve ser o vilão do abacateiro. O melhor do livro!
- Que bicho horrendo, primo.
- E olha, tem outros bichos... as pragas do abacate. Estou louco para chegar nesse capítulo, deve ser o máximo. O ápice do livro. E veja, acho que vencemos, olha as estatísticas de combate, olha os processos contra as pragas. Homens contra as doenças das frutas.
- Francisco, será que isso é uma profissão? Médico de frutas? Imagino a conversa num congresso de doenças de frutas: "você trabalha com o quê?", e o outro responde: "trabalho com abacates, e você? "Com mangas". Hahaha. Tipo um cardiologista falando com um dermatologista.
- Claro que existem médicos de frutas, Lúcia.
- Bem, mas eles não tem consultório.
- Porque não teriam?
- Abacates não vão à uma consulta!
- Será que não? E se alguém levar? Se você entrar nesse mundo dos abacates, se entrar na literatura do abacate, como eu, e estudar a fundo, tudo é possível.
Hahahahaha. E fechamos o livro e fomos ao teatro, com abacates na cabeça. E seria impossível não postar um abacate aqui depois disso.
quarta-feira, 14 de maio de 2008
as pessoas que amassam sanduíches
Existem alguns tipos de pessoas que amassam sanduíches. Essas pessoas agem assim: recebem o sanduíche do garçom, olham para o sanduíche com apetite, giram o prato e avaliam como executar o ato. Respiram fundo, aprumam-se na cadeira e posicionam a mão (direita, no caso dos destros) sobre o pão, no início sem encostar. Sem olhar para os lados, iniciam o processo e dão um pequeno apertão em cima, prensando todo o conteúdo entre os dois pães que compõe esse alimento. Geralmente o ato é repetido umas três vezes, a segunda sempre a mais forte e definitiva. Às vezes o quarto apertão é necessário para recompor a pilha, que com a pressão das prensas anteriores, se entorta toda (isso acontece muito quando o sanduíche tem maionese ou outro tipo de molho deslizante). Em seguida essas pessoas olham satisfeitas para o alimento, já mais fino e todo amassado, e só ai o seguram com as duas mãos e iniciam a mastigação e a deglutição.
Eu não amasso sanduíche, mas conheço muita gente que amassa. E também conheço gente que implica com gente que amassa e que diz que isso não é coisa de gente asseada. Porque as pessoas que amassam sanduíche usam a mão do jeito que ela estiver, sem lavar. Quer dizer, nunca vi nenhuma dessas pessoas sair da mesa, lavar a mão e voltar pra amassar o sanduíche. E nunca vi nenhuma delas colocar guardanapinho em cima para a mão (que pode estar suja) não ficar em contato direto com o pão. As pessoas que não amassam sanduíches e que implicam (existem as que não amassam e que não implicam também) dizem que é nojento apertar a mão daquele jeito, suja ou limpa, sobre o pão de cima. Amassar ou não amassar sanduíche também não tem a ver com a idade, classe social, raça, família, turma ou escolaridade. O mais curioso é que as pessoas que amassam sanduíches sequer percebem que amassam sanduíches e que isso pode marcá-las para sempre. E sei lá porque isso aqui tá me parecendo um post do Careca.
terça-feira, 13 de maio de 2008
os oclinhos da franka
Falando em tarjas, lembrei de óculos. Ó. Todo mundo da minha idade começa a usar óculos. É batata, como fala minha mãe. Nunca me passou pela cabeça a idéia de não enxergar direito, por isso levei o maior susto quando o mundo passou a ficar meio embaçado. Outro dia, a gente falando desse assunto e rindo, trouxe para a sala o óculos que tenho do meu avô. Herdo umas coisas estranhas que não sei o que fazer com elas, uma delas é esse óculos. O óculos dele tem muito, mas muito grau, e um dos lados é praticamente uma lupa. O meu amigo Paulo colocou e tiramos essa foto, mas ele não conseguia abrir o olho (nota: para mostrar os óculos na foto, tive que fazer outro estilo de tarja, tarja-bolinha, reparem que legal). Eu comentei que tenho medo de ter que usar um desses um dia. Sabe como é família. Essa coisa da gente "puxar" o familiar. "A Franka enxergava bem, mas puxou o avô e agora usa esses oclões".
Ixi, que mêda.
Por enquanto ainda uso apenas oclinhos. Uns de leitura que mandei fazer. Uso, não. Não uso. Um engenheiro da minha idade, que coincidentemente faz anos junto comigo, outro dia me viu tirar o meu oclinhos da bolsa na reunião.
- Lúcia! Não faça isso!
- Hã?
- Aguente firme, como eu! Force a vista, finja que vê tudo! Tente ficar sem óculos o máximo possível, adie esse momento, senão daqui a dez anos você terá grau oito! Oito!
Tá, totentano. Uso o meu oclinhos só no escuro total, quando eu realmente não vejo nada. Achei que foi uma boa dica, essa dele. Às vezes nem levo na bolsa. Aliás, óculos de gente de quarenta anos é como tuppeware, caneta bic e isqueiro. Sempre tem um por perto pra você usar, quem precisa pega. Outro item solicializado do mundo moderno: os oclinhos de vista cansada.
Outro dia fomos eu, minha irmã e uma amiga a um restaurante. Sentamos na penumbra agradável do local e o garçon veio com os cardápios. As três quase da mesma idade e sem óculos. Se achando lindas e mocinhas. Foi uma cena hilária, que um dia vou falar para a Patricia G. encenar. Os restaurantes de hoje em dia tem mania de fazer uns cardapiões. Porque eles tem que ser tão grandes nunca entendi, uma vez que as letras são mínimas. Bem, cada uma de nós pegou aquela tábua de 50 centímetros e colocou na frente. Silêncio. E como ninguém conseguia ler nada, nós três, ao mesmo tempo, recuamos as cabeças para trás e colocamos os cardapiões para frente, esticando os braços. Pááá. Trombamos, claro. E mesmo assim não vimos nada. Foi aquela abrição de bolsa pra tirar oclinhos.
Quer reconhecer na penumbra de um restaurante uma turma de quarentonas?
Repara nessa hora do cardápio.
Zummm. Pááá.
olha como a moda pega
Tarja é tudo. Esconde os pés de galinha e as olheiras. Ai ó. Não é que eu quero me gambá. Mas todo mundo agora imita as minhas tarjas. Eu juro que eu usava tarja antes do cara que fez esse cartaz usar a tarja. Eu sou uma pessoa super otimista. E acredito no acaso. E depois de achar essa imagem logo de manhã, eu tenho certeza que eu vou ter alguma relação com o Festival de Cannes. Óbvio. As coincidências existem justamente para a gente acreditar nelas. Frankannes logo, logo. Tem que colocar crédito, né? Então lá vai.
Cinema poster artist Pierre Collier has created the poster and visual identity for the 61st Festival de Cannes, inspired by a photograph by David Lynch. The festival will run May 14th through 25th.
segunda-feira, 12 de maio de 2008
grape´s sisters
De novo a nossa prima, aquela prima bonita que contei no post anterior, aquela que eu e a Ângela imitávamos quando éramos meninas. Bom, desde que somos pequenas que ela usa um termo pra falar as coisas. Volta e meia vem e fala assim pra gente: "ai, que uva!". Tudo que é legal, bacana, bonito, simpático, bem feito, gostoso ou interessante, essa prima vem e exclama: "ai, que uva!". Tudo é uva. "Lú, que uva!; Ân, que uva!".
- Lúcia, a nossa prima me ligou ontem. Vai passar aqui sua casa depois do almoço do dia das mães para me dar uma coisa.
- Tudo bem. Legal.
- Ela falou que adorou encontrar a gente naquele outro dia - e ela passou a imitar a prima - "Ân, você e a Lú são umas uvas, adorei passar o sábado com vocês, umas uvas mesmo vocês duas".
- Ângela, a gente ainda é uva?
- Lúcia, sim, a gente ainda é uva.
- Bom. Daqui a pouco seremos tudo uva passa. Tanto tempo que a gente é uva pra essa nossa prima, né? Mas a vantagem de ser uva é essa. Uva passa também é um delícia, pensa bem.
- Ei. Eu não quero ser uva passa não, ô Lúcia. Tá louca?
- É o destino de toda uva, Ângela. O destino!
- É nada, Lúcia. Tá, hoje ainda sou uva. Uma uva madura. Mas no futuro nada de uva passa. Eu, hein? Uva passa nada, eu vou é ser vinho.
- Vinho?
- Claro!
- Hahaha, Ângela. Tem razão. Eu também. E eu vou fazer um post de uva pra gente. Um cacho de Lúcias e Ângelas, uva Lúcia, uva Ângela, uva Lúcia, uva Ângela, uva Lúcia... vou aproveitar que a gente ainda não é uva passa e nem vinho.
- É bobeira, mas faz, Lú.
Ai ó. Irmãs uvas.
sexta-feira, 9 de maio de 2008
o abesedário do caio
O Caio, meu cunhado, marido da Ânjela, além de inventar a Nova-Franca, inventou um novo modo de escrever. Uma nova ortografia, ce, se pegar, vai fasilitar muito a vida da jente. Não cei ce vosês estão percebendo a diferensa dese modo de escrever do modo normal. São diferensas no modo de entender as sílabas, e cuando se pega o jeito, fica fasílimo. Além diso, nesa nova ortografia, algumas letras são eliminadas, pois são inúteis. O "q" é uma letra inútil, uma vez que eziste o "c" e podemos uzar o "c" pra falar "ca-ce-ci-co-cu" com som de "q". Pra falar o "s", se uza o "s" mesmo: "sa-se-si-so-su", e pra falar o "z", "za-ze-zi-zo-zu". Cuanto ao "g" e o "j", a mesma coisa. Cada um com seu som. E nada de "ch", pois temoz o "x". Aliáz, pra que "h", se "h" não tem som de nada? Eu axo ce ese novo abesedário, se pegar, será um suseso. No comeso é um pouco difísil de escrever, mas cuando se pega a prática se percebe ce estamos bobeando ao uzar ese monte de letraz pra falar a mesma coiza ce se fala sem elaz. Algumaz palavraz ficam estranhaz, como brimcedo, aumoso ou ceijo. Axo que esa é daz piorez palavraz: ceijo. Eu dise a ele ce poderíamos também eliminar o "lh" e uzar o "li", maz ainda não concluímoz se isso é nesesário. Se a moda pega, o meu nome será "Lúsia Carvalio".
Imajinem ese diálogozinho bázico:- O ce vose cér fazer oje?
- Cero ir ao sinema.
Não é demaiz falar asim? O Caio é um jênio. Axo ce de agora em diante só vou escrever poste asim.
quinta-feira, 8 de maio de 2008
escova assassina
A minha amiga Patrícia tinha uma reunião de manhã cedinho. Uma reunião daquelas importantes, onde ela poderia pegar um putis trabalho legal. Foi dormir cedo, acordou cedo, banhão, roupa escolhida, ela resolve arrumar o cabelo e fazer uma maquiagenzinha. Imagem boa nessas horas conta muito.
A Patrícia diz que tem cabelo crespo. Ela sempre fala assim: sou uma pessoa crespa. Não acho o cabelo dela tããão crespo assim, mas cada um se vê dum jeito e não vou discutir. Segundo ela mesma, chapinha não funciona. A única solução é fazer escova, ela tinha comprado uma escova bárbara, daquelas que rodam sozinhas e que resolvem o problema do cabelo crespo rapidinho.
Depois do banho, parou na frente do espelho e foi à luta. Ligou a escova na tomada e fúúú, zuiiim, fúúú, zuiiim, escovando, escovando, escovando e arrumando o cabelo aos poucos. Quando estava na parte da frente, em cima da testa (para fazer escova ou chapinha nos cabelos é preciso separar o cabelo em partes, é um processo bastante complicado, parecido com uma cirurgia), aconteceu uma coisa péssima. Sabe-se lá o que ela aprontou com a posição da escova que os cabelos, ao invés de se alisarem, embaralharam na escova, embolando por todos os lados. Todos os lados mesmo. E a escova elétrica ficou presa na cabeça dela. Se ela ligasse de novo era pior. Ela tinha que tirar a escova dali e começar de novo.
Tirar?O nó era imenso. Ela tentou, tentou e tentou desenganchar aquilo, mas descobriu que não dava meeesmo. Ó. Eu sei como é escova normal que engancha porque já enganchei, imagine uma escova elétrica, com aquela potência. Depois de muitos minutos tentando mexer a escova de lugar (sem sucesso algum), ela começou a se desesperar. A escova estava rente ao couro cabeludo, era preciso tirar fio por fio.
Fios crespos.
Começou a suar frio. A cada tentativa o troço enganchava mais e mais. Olhou no relógio. Hora de estar pronta, de sair de casa, putis, a reunião. Como ia fazer? Teve a súbita idéia de cortar o cabelo, mas teria que ficar careca ali na frente. Careca! Não. Não dava tempo nem de pedir ajuda para uma cabelereira. E tinha a reunião. Ela se olhava no espelho, desesperada.
Eu, que sou mulher, que faço escova e chapinha (não sou crespa, posso usar chapinha também), sei o que são certos desesperos femininos nessas horas. Um dia inventei de me maquiar na última hora (eu ainda não sei fazer isso), fiz uma burrada horrível nos olhos, fui tirar e aquela tinta preta se espalhou pelo meu rosto todo. No desespero lavei com sabão, shampoo, creme, fiquei toda inchada (e cinza) e tive que sair assim. A Patrícia parou e pensou bem. Ela é bem ponderada. Ou a reunião ou aquele problema. Era uma questão de pri-o-ri-da-de. A reunião, claro. Ela tinha que ser profissional, seja lá o que isso significasse. Pegou o telefone e ligou para o cara da reunião.
"Olá, bom dia. Aqui é a Patrícia. Temos uma reunião daqui a pouco e estou indo para ai. Não vou atrasar nada, mas estou com um problema e espero que você entenda". Ela respirou fundo e continuou, falando super sério, "é que hoje pela manhã eu fui fazer uma escova no cabelo e a escova enganchou no alto da minha cabeça. Não dá tempo de tirar, portanto aviso eu vou à reunião com a escova grudada em mim, tudo bem?".
Se arrumou toda, arrumou o resto dos cabelos, tirou a escova da tomada e foi daquele modo, com a escova grudada, como se fosse um enfeite. Dirigiu até lá, se identificou na portaria do prédio, pegou o elevador, esperou na sala de espera e fez a reunião... com a escova enganchada. Ninguém riu, pelo menos na frente dela (imagine no final da reunião). Conseguiu o trabalho, fez o caminho de volta e passou o resto da manhã tirando fio por fio, salvando seus cabelos (crespos) daquela máquina assassina. Hahaha.
Acho que é por isso que a Patrícia disse que quando morrer quer virar "salão de beleza". "Salão de beleza Patrícia". Eu já falei dela nesse post anterior. Claro. Depois dessa.
Ah, e ela é atriz. Super atriz. Bem que podia encenar isso, né?
quarta-feira, 7 de maio de 2008
a mulher do email errado
Aconteceu com um amigo meu. Ele resolveu dar uma festa de aniversário na casa dele, uma festa pequena, íntima, e mandou um email-convite para diversos amigos. Algumas pessoas responderam por email mesmo, outras telefonaram confirmando que iriam. No meio das respostas, ele vê um email de uma moça que ele não tinha convidado. Estranhou, que era aquilo? Resolveu voltar no email-convite que mandou e checar.
Ixi.
Descobriu que fez uma burrada. Ele se confundiu e convidou uma pessoa que não tinha nada a ver pra festa dele. Sabe quando o computador, sozinho, por livre e espontânea vontade, resolve acabar de escrever um nome? Por exemplo, sabe quando você coloca um "R" e o outlook escreve "Roberto", você coloca um "M", e o outlook escreve "Marcela", mas na verdade você quer mandar um email para um Ricardo e para uma Márcia? A gente tem que tomar muito cuidado com essas gentilezas dos computadores. E foi por causa dessa gentileza que aconteceu isso com o meu amigo: ao invés de convidar a amiga que ele queria, ele convidou uma pessoa que não queria. Ele explicou melhor.
- Não é que não queria convidar essa moça, Lúcia. É que ela é de outra turma, uma pessoa distante de mim, coisa de trabalho, nada a ver com minha festa.
A mulher do email errado respondeu felicíssima com o convite, dizendo que claro, que ela iria na festa dele, nossa, que bacana que ele a convidou.
Bem, ele conta que ela foi mesmo. Chegou com uma roupa toda colorida, toda maquiada e produzida, e, claro, não conhecia ninguém. No começo ele ficou preocupado com aquela intrusa ali, no meio dos amigos de verdade dele, e toda vez que olhava para ela lembrava da porcaria do email errado. O erro ali, concretizado.
- Vem cá que vou te mostrar uma coisa - ele disse, me levando para o micro - o pior é que quando eu descarreguei as fotos, só dá ela. Olhaqui, Lúcia.
Era verdade, que engraçado. A mulher do email errado, com a sua roupa espalhafatosa, estava em praticamente todas as fotos. Nossa, olha o estrago que um descuido no computador pode causar.
- E mais. Ela foi a última a ir embora, Lúcia. Disse que adorou.
claro que a gente sabia
"Claro que a gente sabia que era boi e não vaca". "A gente fez de propósito para saber quem iria perceber". "Ficamos monitorando as respostas". "O Guga foi o único inteligente que sacou na hora". "Que pena, ele percebeu, perdeu a graça"."Claro que a gente sabia"
Foram essas as respostas que eu e a Ângela bolamos ontem para disfarçar que erramos feio ontem. Putis fora. Ela me manda a foto de uma vaca, eu posto foto da vaca, eu falo que é vaca, e só de tarde alguém diz que é pra olhar bem, que não é vaca. É boi.
Isso não é post. É explicação. A verdade é que a gente, que mora na cidade, trabalha em computadores e escreve em blogs, a gente não entende nada de vacas e bois. Aliás, a Ângela, quando era uma menininha, viu uma vaca pela primeira vez e achou estranhíssimo aquele animal.
- Olha, é um bicho que tem a mão na barriga.
terça-feira, 6 de maio de 2008
secos e molhados na serra
- E ai, Ângela, como foi o feriado lá no seu sítio em São Francisco Xavier?
- Ótimo. Estou com a pele bárbara. Eu e o Césare, meu amigo, fizemos máscara de lama.
- Fizeram o quê?
- Máscara de lama. Colocamos a lama na pele, uma argila branca ótima, e ficamos parados descansando com ela. Você sabe que eu fiquei fã de fazer máscara pra pele depois que fui na tal esteticista italiana, aquela me fez descer no elevador e pegar o carro no estacionamento de máscara amarela. Faz super bem pra pele esse lance de máscara. A única coisa difícil é falar de biquinho.
- Falar de biquinho?
- É, pra máscara não rachar e cair. Tem que falar assim, de biquinho, sem mexer a boca, e falar pouco. Pra mim e pro Césare é super dificil, você sabe que a gente fala muito. Ah, e assusta as pessoas e crianças. Ah, e animais também. Acho que um cavalo fugiu de perto de gente por causa das nossas máscaras. Foi o que o meu filho falou. Que o cavalo olhou e saiu correndo.
- Um cavalo?
- É, imagina um humano ficar com aquela cara. É meio impressionante de se ver. Ah. E tirei até uma foto de uma vaca que estava igualzinha a gente.
- Uma vaca?
- É, uma vaca. Vaca de máscara. Vou te mandar as fotos pra você embaçar mil vezes, tarjar e colocar no seu blog. Se bem que eu acho que gente de máscara não precisa tarjar.
- Fotos?
- Uma foto minha, uma do Césare e uma da vaca.
- Como que é?
- Lá em São Francisco o lance é fazer máscara, Lúcia. Eu, o Césare, as vacas. Tudo de biquinho, sem falar. Pras vacas é mais fácil, claro.
Hahaha. Minha irmã.
gente, melhor avisar que na foto da vaca não tem fotoshope algum.
(certificado de autenticidade da foto da vaca)
segunda-feira, 5 de maio de 2008
raio é raio
Caiu um raio em frente de casa na semana passada. Eu gritei, pois pareceu que caiu em cima de mim. Os estragos foram super estranhos. Primeiro a campainha pifou de novo. Eu tinha acabado de trocar a campainha e compramos uma daquelas de filminho. Não era assim tão chique, uma vez que o filminho era preto e branco, mas dava pra olhar a cara de quem chegava. Ou ficar olhando a rua, caso você estivesse na cozinha sem fazer nada. O João gosta de falar com as pessoas feito um fantasma, ele estava se divertindo muito com a campainha, mas nem um mês e puft. Pedi pra alguém colocar um bilhetinho na porta de novo "atenção: campainha quebrada". Percebi que as pessoas berravam: "ó de casa". Fui olhar o bilhete, desconfiada, e vi que estava escrito "campainha quebrada: favor gritar". Nossa. Quem fez isso? Coitados dos convidados. Coloquei uma campainha velha pra resolver o problema, agora tenho que arrumar a nova.
Quebrou também o portão da garagem, os carros ficaram para fora. Eles não gritam, azar. O telefone idem. Chamei a telefônica, mas ele ainda está mal, toca duas vezes e desliga. Estourou o modem do speedy e o roteador. Também quebrou o alarme. Não sei nem por onde começar a arrumar esse estrago todo. Raios que partam os raios. Mas ainda tenho coisas que funcionam. Como tenho síndrome de Pollyana desde menina, tento me conformar olhando feliz para a geladeira, para a televisão, para o ventilador, para o meu celular, que estão todos com boa saúde.
parede de rolha, banheiro branco, man cave, mané
Eu recebo uns emails muito engraçados do meu amigo Mané. Vou começar a postar aqui. Hahaha.
"Lúcia,
Vi seu texto (é texto que se diz?) falando do "man cave" e da coleção de tampinhas de garrafa. Não tenho coleção de tampinhas de garrafa, mas tenho... (é verdade, hein !?)... uma coleção de rolhas.
Cambury, reveillon de 2003/04. Lá tem um restaurante que tem uma parede que é um sanduíche de vidros, com um monte de rolhas entre eles. Me encantei com aquilo. Cismei que, um dia, vou ter uma parede (pode ser de um bar) assim na minha casa. Na noite seguinte, reveillon, aquele povo na areia de Cambury para romper o ano, já voltei prá casa com umas 20 ou 30 rolhas.
Vi seu texto (é texto que se diz?) falando do "man cave" e da coleção de tampinhas de garrafa. Não tenho coleção de tampinhas de garrafa, mas tenho... (é verdade, hein !?)... uma coleção de rolhas.
Cambury, reveillon de 2003/04. Lá tem um restaurante que tem uma parede que é um sanduíche de vidros, com um monte de rolhas entre eles. Me encantei com aquilo. Cismei que, um dia, vou ter uma parede (pode ser de um bar) assim na minha casa. Na noite seguinte, reveillon, aquele povo na areia de Cambury para romper o ano, já voltei prá casa com umas 20 ou 30 rolhas.
Começou uma tempestade às duas da manhã. Eu e P. acordamos cedo e fomos correr na praia. Voltei com umas duzentas, que a maré havia trazido de volta da enxurada. Comecei aí. Voltamos à tarde, quando ainda chovia muito, mais umas cem!
Hoje tenho... pasme... mais que 6.600 (ultima contagem em março). Meu man-cave para tal é metade do maleiro do meu armário embutido : 1,50 x 55 x 60 com um vidro servindo de frente, por onde vou abastecendo.
Hoje tenho... pasme... mais que 6.600 (ultima contagem em março). Meu man-cave para tal é metade do maleiro do meu armário embutido : 1,50 x 55 x 60 com um vidro servindo de frente, por onde vou abastecendo.
Quando vou ter minha parede sanduíche de rolhas? Breve!
Quando tiver também meu "banheiro branco". Que é isso, Mané?
Explico: por coincidências, nos últimos 30 anos, moro em apartamentos dos anos 70, que vêm com aqueles azulejos horrorosos, "decorados", com muitos marrons, ou azuis & beges. Eu sonho com banheiros brancos, com louça branca. Cozinhas brancas. Dia que tiver um dinheirinho sobrando, chamo o Reinaldo e mando "baixar a picareta". Ano que vem não tem faculdade prá pagar. No que sobrar uma graninha, é azulejo novo até no banheiro de empregada ! Tudo branco!
Um beijo.
Mané"
Quando tiver também meu "banheiro branco". Que é isso, Mané?
Explico: por coincidências, nos últimos 30 anos, moro em apartamentos dos anos 70, que vêm com aqueles azulejos horrorosos, "decorados", com muitos marrons, ou azuis & beges. Eu sonho com banheiros brancos, com louça branca. Cozinhas brancas. Dia que tiver um dinheirinho sobrando, chamo o Reinaldo e mando "baixar a picareta". Ano que vem não tem faculdade prá pagar. No que sobrar uma graninha, é azulejo novo até no banheiro de empregada ! Tudo branco!
Um beijo.
Mané"
sexta-feira, 2 de maio de 2008
a bandinha
- Lúcia, eu lembrei de uma coisa.
- Fala, Ângela.
- Da bandinha da nossa escola.
- Nossa, é mesmo. Tinha uma bandinha na nossa escola.
- No dia da pátria a gente dava a volta no quarteirão tocando a bandinha. A escola toda ia, desde os pequenininhos até os maiores.
- É verdade, paravam o trânsito todo na rua Frei Caneca, Ângela.
- Você tocava prato, e eu triângulo. Nunca me conformei com isso, Lúcia. Tocar triângulo era a pior coisa da bandinha.
- Era nada. O pior é tocar côco. Côco nem é instrumento. É côco.
- E você toda exibida lá no prato, Lúcia. Pááá. Pááá. Pááá.
- Era bom nada, o prato era pesado e só entrava de vez em quando. Era pááá... (demorava) pááá... Um tédio tocar prato, Ângela.
- Lembra da música? "Eu te amo meu Brasil, eu te amo..."
- Hahaha.
- A dona Eudóxia fazia a gente tocar o triângulo e fazer um sinal de positivo com o dedão. A gente ia tocando e fazendo positivo. Eu te amo (positivo) meu Brasil (positivo) eu te amo (positivo) meu coração (positivo) é verde (positivo) amarelo (positivo) branco (positivo) azul anil...
- Coisa mais louca, Ângela. Pra que o positivo?
- Acho que era pra marcar o ritmo. Ou não. Vai ver que ela achava que a música combinava com o sinal de positivo. Vai ver que ela queria que a gente mostrasse que amava mesmo o Brasil.
- No prato não dava pra fazer positivo. Pelo menos ninguém me mandou fazer positivo.
- Tá vendo? O prato era melhor. Um instrumento legítimo de banda.
- Era nada. Que tocador de prato famoso você conhece, Ângela?
- Nenhum, negativo. E de triângulo, Lúcia?
- Negativo também. Nenhum.
quinta-feira, 1 de maio de 2008
próxima parada
Hoje lembrei disso o dia todo. Dos trens. Uma das coisas mais emocionantes da minha infância era esperar o trem. Meus avós moravam em Duartina, no interior de São Paulo, e eu passava todas as minhas férias lá. Nos finais de semana, meu pai, meus primos e meus tios chegavam. De trem. A gente ia esperá-los na estação, naquele silêncio de quem tenta captar um barulho de locomotiva vindo do além. A ansiedade nos fazia ouvir trens inexistentes, apitos caluniosos, tremores errados. Mas quando ele chegava de verdade (o trem sempre chegava), com a locomotiva apitando e existindo de verdade, era de pirar de excitação. Lembrei disso hoje, depois que vi um filme no Telecine Cult chamado "Júlia", com a Vanessa Redgrave e a Jane Fonda. Lembrei da sensação de ansiedade de esperar um trem que você sabe que vai aparecer de uma hora para outra numa estação, claro, óbvio, sem dúvida. Não tem porque o trem não aparecer ali, naquela estação que está no caminho dele, na rota dele, no meio do caminho, na passagem. Não tem porque a vida não correr, andar adiante, parar nas estações, pegar passageiros, deixar amigos, pais, maridos, amores, felicidade, puta alegria, puro prazer. É só saber esperar, com a paciência do passado, da memória, que os trens sempre chegam nas estações. Sempre.
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