Estávamos no aniversário de uma amiga, eu e Patrícia, sentadas numas cadeirinhas no jardim, uma amizade súbita. Muito comum entre mulheres essa coisa da amizade súbita. Sabe quando você conhece mais ou menos a pessoa e gosta dela mais pra mais do que pra menos? Além disso, a Patrícia é atriz e super engraçada.
-Meu pai já morreu - contei para ela - morreu quando eu era bem menina. Sabia que ele virou uma creche?
- Creche? - ela perguntou.
- É. Em São Miguel Paulista. Fizeram uma homenagem para ele. Ele era médico e a Emei tem o nome dele agora. É bacana. Super arrumada e tal - expliquei.
- Nossa, e o meu pai também morreu, mas ele virou uma escola. Olha que engraçado. Nossos pais viraram prédios.
- Será que a gente vai ser alguma coisa quando a gente morrer? - pensei alto.
- Eu queria ser uma coisa bem legal. Acho que eu queria ser um salão de beleza. "Salão de beleza Patrícia G.". Legal, né? E você?
A Patrícia é divertida. Eu nunca pensei nisso.
- Eu? Ai. Não sei, Patrícia.
- Que tal um viaduto? - ela sugeriu.
- Um viaduto? "Viaduto Lúcia Carvalho"?
Hahaha.
- É, pensa as pessoas explicando. "Vira na primeira a direira, na segunda a esquerda e você cai direto no Lúcia Carvalho".
- "O" Lúcia Carvalho?
- É, claro. Viaduto é homem. Mas fica super chique, pensa bem.
- Melhor que ponte.
Meu amigo Parangolé, que estava ao lado, resolveu participar.
- E eu?
A Patrícia foi rápida.
- Que tal um açougue? "Casa de carnes Parangolé"?
Ele deu uma risada, satisfeitíssimo.
Homens.
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