sábado, 13 de dezembro de 2014

amiga, amiga, amiga!


A minha companheira de madrugadas insones, a minha querida e amada TV do quarto, snif, quebrou. Falava, mas não tinha imagem. Deu o maior trabalhão pra levar no conserto (tava grudada na parede, nunca mais faço isso), deu a maior canseira pra carregar (descer uma escada com um tv grandona, sem enxergar os degraus dá o maior medo). Depois de uns dias, recebi um telefonema da fulana da assistência técnica.
- Oi dona Lucia, meu nome é Priscila, e o preço do conserto da sua televisão é dois mil e sessenta e nove reais, senhora.
- Como, Priscila?
- Dois mil e sessenta e nove reais – e ela repetiu, pausadamente, porque obviamente era inacreditável - dois, zero, seis, nove reais.
- Hã? Tá maluca, Pri?
- Não sei o que a senhora acha, mas eu acho que não vale a pena arrumar – ela explicou, como se “precisasse” explicar.
- Caraca...
- Nós podemos sucatear para a senhora. Não cobramos nada.
- Ah,que bom, obrigada, Pri...
Isso foi há uns meses, eu estava super sem grana. Parece que foram séculos que fiquei tentando dormir sem minha amiga. Descobri que preciso mais de TV pra adormecer do que de calmante, chazinho, colo ou banho quente. Descobri que me inspiro tentando decifrar os finais dos filmes. Descobri que amo assistir helicópteros de manhã, noticiários de madrugada e colocar no canal OFF para ler. Que os programas dublados de assassinatos do ID são ótimos pra adormecer sem ter que olhar a tela. Percebi que sem a TV, ouço mil pernilongos. Que gosto de dormir com gente falando sozinha. Assumo. Sou dependente de TV.
Não aguentei. Achei essa semana uma promoção ainda com o preço do Black Friday, em 15 meses sem juros, comprei. Instalei, recostei na cama, peguei os controles e clic.
Ô satisfação.
Foi ai que a TV nova me deu o maior susto.
- Bem vindo – ela disse, com voz de TV (!!!) - Você quer se conectar a internet?
Hã? A TV falou comigo?
- Sim!!! – eu respondi bem alto, animada (que idiota), como se ela fosse responder. É moderna, mas nem tanto, né, dona Lúcia? Claro que era pra falar “sim” ou “não” no controle.
Gente do céu, e não é que ela conectou mesmo? Em dois segundos? Juro, não acredito que essa minha nova companheira-substituta, mocinha de tudo, me oferece tudo aquilo, sem cabo nenhum. Tá, sou mega caipira e tou numa alegria total, assistindo Netflix, Iutubes, Telecineplay e entrando na internet. O lance do controle remoto ainda é bem precário, nada smart, você indo de cá pra lá nas letrinhas, mas era querer demais.
Desde então, me enfurnei naquele quarto e não saio mais. Cada um com sua dependência. Eu preciso dessa amiga, ela até conversa comigo, gente! E a voz é tão simpática... Pensei inclusive em dar um apelido pra ela, mas cai na real, não posso ser tão louca de pedra. Hahaha.

papai


Hoje faz quarenta anos que meu pai morreu. Quarenta anos é muito tempo perto do tempo que convivi com ele, e eu procuro incessantemente, até hoje, esticar a lembrança que tenho dele. Tento transformar aqueles 12 anos de convivência em 120, 1200, sei lá, como que pra aumentar a pouca memória que infelizmente tenho.
Aprendi desde cedo que um pai faz muita falta. A gente era uma família às antigas, o meu pai era o provedor, o médico, o marido. Minha mãe era dona de casa, era uma mocinha que lia revistas femininas com dicas tipo “como ser uma boa esposa”, que se desdobrava para cozinhar para ele, que cuidava das “meninas”.
Depois que ele morreu, e que passou aquela fase quando ela só chorava, minha mãe transformou meu pai num tipo de herói. Era engraçado. Minha mãe, que acho que era apaixonada perdidamente por ele, dizia: “seu pai foi o melhor homem do mundo”. Era assim que ela falava sem parar, dia e noite: “nunca teve homem como o teu pai. Nunca. O homem mais inteligente, mais carinhoso, mais atencioso e apaixonado do universo”, ela repetia, deixando eu e minha irmã quase malucas. “Nunca vou achar um homem como ele”, ela se lamentava, “jamais, e olha, duvido que vocês achem”, ela refletia, tagarelando sozinha. Assim, no meu esforço para fazer esse alongamento da memória do meu pai, eu sempre incluo, na minha cabeça, essas frases dela idolatrando o marido.
Pensando aqui hoje nela, e nele, acho bonito isso. Óbvio que eles tinham mil desavenças, eu ouvia as discussões, sempre iniciadas pela minha mãe com aquele jeito meio italiano dela, mas a ausência dele a fez esquecer toda a parte ruim do casamento. Sempre procurei ser igual a ela – as pessoas passam pela nossa vida, e mesmo sem morrerem, elas desaparecem as vezes, ou nos decepcionam, ou nos abandonam. Mas que a gente tem que lembrar, sempre, são só as partes boas, só o que você tirou de positivo da relação, e colocar pedra em cima das mágoas e dos ressentimentos. Porque as pessoas, com 100% de chance, morrem um dia, e as memórias que a gente tem de quem morreu tem que ser só as melhores, esticadas ao máximo.
Falam tanto de qualidade de vida, certo? Eu gosto de pensar também em qualidade de morte. Só lembrar coisa linda, coisa boa, pra eles irem em paz sabendo que nos fizeram bem.

a pobre abelhinha chapada


Nossa, entrou uma abelha aqui agora pouco. Sim, agora, a noite (nunca vi abelhas noturnas) e olha que não estou fazendo um churrasco e nem tomando coca cola.
Ela entrou, zuniu muito alto (até desliguei o Itunes para ver se achava a chata pelo zunido), e se escondeu atrás de uns livros. Daí procurei o SBP gigante que tenho aqui para me proteger dos pernilongos. Droga, cadê a porcaria do SBP? Nada. Alguém deve ter utilizado a minha arma secreta (um SBP gigante é como uma metralhadora, pior, um fuzil em casa) pra alguma guerra com a tribo dos “pernilongos”.
Como não podia perdê-la de vista, desencanei de ir no andar de cima achar meu... revolvinho, digamos. Olhei ao redor e achei o Off, aquele repelente que uso como hidratante todo dia. Que seja, pensei. Olhei a maldita abelha atrás do laptop. Escondida. Sempre me pergunto aqui em casa se os meus laptops são protegidos contra sprays repelentes de mosquito, pois vivo espalhando trezentas mil mini gotas sobre eles nas minhas fúrias contra os pernilongos diários. Talvez seja esse o motivo deles todos ficarem lentos e quebrarem tanto.
Mas daí deu a louca na abelha. Acho que o Off é pouco pra ela, tipo apenas um alucinógeno, e ela pirou total e começou a me atacar. Bzzzzzzz, e vinha pra cima da minha cara. Eu me escondia. Bzzzzzzz. Vinha por trás, no meu pescoço. E eu, mesmo sozinha aqui em casa, comecei a gritar e pedir por ajuda, socorro, help, ai meu Deus do céu,Aaaaaaaa, sai. Fugi do escritório, fechei a porta. Ela ficou presa, pensei, talvez saia pelo pequeno vão da janela que entrou, se for inteligente. Mas desde quando um inseto chapado é inteligente? Resolvi tomar uma água, apenas para dar tempo dela me esquecer. Gente chapada distrai, pensei, como serão os insetos?
Voltei, abri um pequeno vão da porta. Um silêncio enorme. Piorou meu medo. Será que ela está se escondendo para me pegar no flagra? Vai aparecer e me picar pelas costas. Nas pernas. Eu tou de shorts. Céus, juro, nunca mais tento assassinar abelhinhas chapando-as. Juro, pensei, encolhendo as pernas.Off never.
Mas não. Ela estava na minha mesa, bem na minha frente, no maior astral, acho que curtindo o barato do Off. Olha. Foi facinho. Mais duas offadas, ela caiu com a cabeça pro lado. Peguei um papel higiênico no lavabo, catei a bichinha assassina e truuuuuuuuuuum. Matei afogada na privada. Agora tou aqui feliz, me sentindo uma fêmea demoníaca que matou um ser que incomoda, dá medo e pica.
Sabe, contar essa coisa normal, que acontece com qualquer um, me faz me sentir super maldosa. A gente aprende sobre a vida das abelhas, e sabe que elas não precisam matar a gente para viver, então porque matá-las?
Nossa, matei a abelha sem dó. E fiz um post.

alce?


Estava no parque Villa Lobos quando começou a garoar. Olhei pra o céu, achei que era chuvinha, mas de uma hora pra outra caiu um toró absurdo. Sai correndo pro primeiro lugar coberto. Um banheiro que tinha duas entradas, uma de cada lado, homens e mulheres. Meio que por impulso, corri para o das mulheres. E em questão de segundos, vi que não fui só eu que tive essa ideia. Três outras mulheres correram pra lá.
O banheiro tinha uma antesalinha com um bebedouro. Nós quatro nos esprememos ali, e era obvio que ia rolar um papo. Até que uma delas falou a maldita frase.
- Puxa, lá se foi minha chapinha... – disse uma mulher que devia ter a minha idade.
- A minha idem. Mas faz uma hidratação que resolve – disse a outra mulher, que devia ter 10 anos a menos que eu e ela.
- Custa muito caro – a da minha idade disse – Quase 200 reais no meu salão.
- No meu é 120. Posso te dar o endereço.
- Eu faço sozinha – disse a terceira mulher, uma mocinha, jovem, bonita - Eu tenho um produto que eu trouxe lá de fora.
- Sério? Eu pensei nisso, mas não sei qual usar – comentou a da minha idade - Me falaram do Alce. Aquele que tem um bichinho na embalagem. Conhece?
Alce? Bichinho? – pensei. Caramba. Que seria isso?
- Ah, é esse mesmo! Eu fui pra Miami a trabalho, vi num supermercado por 2 dólares cada Alce, comprei a prateleira toda e vendi aqui por 50 reais cada – comentou, exibida, a mocinha de cabelos lindos, mesmo molhados.
- Nossa, sério? Vendeu só por 50 reais cada Alce? – disse a minha idade.
A mocinha estava animada.
- Eu coloco na cabeça e deixo o Alce 3 minutos, lavo e fica assim – explicou, mexendo nos cabelos, que pularam da sua mão, fofos, lindos.
Meu Deus que seria isso? Alce? Colocar um tal de Alce na cabeça por 3 minutos segura a chapinha na chuva? Como é um Alce mesmo? Aquele animal com chifres? O que chifre tem a ver com chapinha?
- Não acredito! – disse a de dez anos a menos que eu e a outra – Em Miami o Alce custa só 2 dólares e vende em supermercado? E pensar que meu marido foi pra Miami no mês passado!
- Você não pediu pra ele? – perguntou a mocinha.
- Não, que burra! E ele me trouxe só esse tênis (ela apontou para um tênis assustador, com design espacial).
- Ei. Você ainda tem algum Alce? – perguntou a da minha idade.
- Não, já vendi tudo – respondeu a mocinha contrabandista e rica com o lucro dos Alces.
- Puxa – disseram as duas, quase juntas – Que pena...
Me senti completamente desinteirada. Que diabos de produto é esse, que todas as mulheres do mundo usam e que eu não tenho a mínima ideia? Será que é algum preparado feito de óleo de chifre de Alce? De pelo de Alce? De carne de um Alce especial criado para madeixas humanas? Que Alce milagroso é esse, que segura as chapinhas quando ficam molhadas?
A chuva deu uma paradinha, resolvi me mandar, destruindo de vez meus cabelos sem Alce.
Intrigadíssima, cheguei em casa e corri pra o google. Hahaha. Não é Alce, é um produto que chama Aussie. E o bichinho é um canguru. Acho que é por causa dele que os cabelos pululam, mesmo na chuva. Bom, se algum dos meus amigos aqui do face for pra Miami nessas férias, podem me trazer um Alce de presente pra eu ir no Villa Lobos e me exibir? Poxa, só custa 2 dólares.

o fundo do poço


Não gosto de escrever coisas tristes. Mas tomei coragem pra contar uma coisa.
É que começou minha tristeza de fim de ano. Basta chegar dezembro que ela aparece, e eu me sinto mal, triste e a maior coitada do universo. Desabafo pra ver se tem alguém que sente o mesmo. Acontece assim, vou lembrando de todas as desgraças da vida, uma a uma (ou as coisas que quero que sejam desgraças, hahaha).
Primeiro eu lembro que sou órfã. Era pequenininha quando meu pai morreu, daí morro de pena de mim. Depois lembro que minha mãe também morreu, e meu dá mais desamparo ainda. Sem mãe, sem pai. Acima de mim, ninguém. Depois lembro que não tenho marido ou namorado. Depois, que tou sem trabalho. Nesse momento, minha cabeça martela: Lúcia, você é uma ór-fã, en-ca-lha-da e de-sem-pre-ga-da. Mas não é suficiente, é preciso piorar mais pra sofrer mais. Meus filhos tão grandes e não precisam mais de mim. Snif. Depois eu penso em dinheiro e no futuro – a gente sempre pensa em dinheiro e no futuro nesses momentos – e me dá o maior medo de ficar uma velha sem grana. E a velhice, será que alguém vai cuidar de mim? A coisa vai se agravando, eu lembro que meu o carro que bateu e que tive que pagar a maior grana, que a televisão que quebrou e que não tenho 13* salário e tenho que pagar o 13* salário da Maria. Dai surge a questão fatídica: será que alguém vai passar o natal comigo? Meu Deus, socorro. Vou lá pra o fundo do poço. Pobre de mim. Ai que depressão.
Bom, em seguida eu sei o que acontece. O processo vai se revertendo. Lembro que tenho 3 filhos. Lindos. Bacanérrimos. Tou reclamando de que. Tenho onde morar. Casa própria. Ótimo. Tou resmungando porquê? Tem a Maria que faz uma comida sensacional. Vou me animando. Tem a minha irmã, que é ótima, amiga, companheira. Estou com saúde. Estou fazendo ginástica. As contas estão pagas. O natal é só uma noite, qualquer coisa fico em casa vendo TV e não vou morrer por isso. Nesse momento, eu me acho uma idiota. E já me alegro de novo.
Eu acho que todo mundo tem um certo prazer em sofrimentos. Quando eles vêm, eu percebo que faço de tudo pra eles serem sempre maior do que são. É que, é sério, é gostoso as vezes reclamar e se fazer de coitada, nem que seja pra você mesmo. Ainda bem que passa. Ainda bem que dezembro é só 1/12 do ano.
Hahaha.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

o banheiro ERRADO da arquiteta lúcia


Outro dia tava conversando com uma amiga e perguntei como era o banho dela.
- Como assim?
Dai eu expliquei.
- Porque mesmo eu sendo arquiteta, eu não consegui fazer certo o meu box. Errei tudo. Na hora do projeto, esqueci que tinha que abrir a porta do lado dos misturadores. Dai todo dia eu tenho que entrar dentro do box e fechar a porta pra abrir a torneira (que tá no lado contrário da porta), e dar um pulo pra trás para não me ensopar. E basta dar uma distraída que fico toda molhada de água gelada.
- Acho que o meu é certo – ela respondeu.
- Vamos supor que aqui é seu box – sugeri, colocando três cadeiras encostadas no meio da sala - Fala onde é a porta, pra onde ela abre, onde estão as torneiras, onde tá seu shampoo e sabonete, e mostra pra mim como você toma banho.
Ela ficou pensando. Arrumou as cadeiras, fingiu que abriu uma porta, mentalizou as torneiras e me olhou.
- Tá pronta? – perguntei.
- Tô.
Ela abriu a porta, ligou as torneiras. Elas estavam do lado certo. Não entrou. Fechou a porta, fingiu que tirou a roupa, jogou longe.
Essa parte da roupa não importava, mas ela fez. Dai foi engraçado. Ela entrou e começou a fazer uma dança esquisita, com a cabeça pra trás, parecia possuída. Bem devagar deu uma volta de trezentos e sessenta graus no chuveiro-cadeira simulação.
- Ahhh.
- Que é isso? Maluca?
- Assim que tomo banho. Dou esse rodopio. Não gosto de molhar a cabeça de cara. Dou essa volta pra só molhar o corpo. Depois que eu decido se lavo a cabeça ou não. Se eu não lavo, tomo o banho todo assim, rodando e olhando pra o teto.
Hahaha. Cada um cada um.

USBs


Detesto cabinhos USB. Quem foi que inventou o formato dele, quem foi que criou essa... pegada dele? Não sei o que acontece comigo, que sempre que vou colocar o cabo USB no “lugar correspondente” (para não falar “buraco USB”, que é um nome indecente), ele entra ao contrário. Sempre. Parece que eu quero colocar errado, pois isso acontece no carregador do celular, no computador, na televisão, nos carros. Talvez seja aquele maldito desenhinho eu não enxergo, talvez porque se você não plugar absolutamente retinho ele não encaixa. Já não bastava o USB, dai inventaram o “mini” USB, o pior de todos. Pra que um negócio tão mínimo? Pra carregar meu fone eu tenho que ligar o abajur, sentar na cama, colocar um óculos, tirar a capinha do celular e começar as com as duzentas tentativas. Dai inventaram o HDMI, grandão, que é mais fácil de enxergar (ou melhor, tatear) mas os meus quebram todos porque os pininhos (pelinhos?) internos são maiores e se entortam. Aliás, esses fios. Ontem a NET não funcionava e eles me mandaram religar da tomada. Não consegui encaixar a tomada comum de três pinos no adaptador e nem o adaptador na tomada, aliás, deliguei sem querer todos os equipamentos e o abajur. Tomada devia ter cor, sempre. Vermelho no vermelho, amarelo no amarelo. Sou só eu que ando sempre perdida com fios?

deu mole...


Não pensei em falar do minhocão, mas o Valtão me cutucou, então vamos lá.
Tá a maior polêmica, demole, não demole. Por mim demole já. E recicla o entulho, e sei lá, faz tijolo e dá grátis pras pessoas que quiserem. Aquilo é um projeto errado, e coisa errada a gente não deixa na cidade. É uma ideia muito maldosa fazer um viaduto passar bem na fuça de um monte de gente. O mesmo que colocar um trilho de trem em cima da minha casa. “Ah, mas precisava passar o trem por ai, não tinha outro jeito”. Tinha. Se vira. Resolve de outro jeito. Me respeita. Sou cidadã. Imagina um hotel que tem uma circulação complicada, e para descomplicar, alguém resolve fazer um corredor que passa pelo meio de todos os quartos e banheiros. “Ah, mas foi um jeito de resolver a circulação do hotel”. Claro que resolveu. Mas atrapalha o sono e a privacidade de todo mundo, e ninguém vai querer ficar nesse hotel mal feito e mal projetado. Imagina que um prédio precisa de um elevador, e colocam esse elevador bem na frente da janela de todas as cozinhas do prédio ao lado, tapando a circulação de ar. “Ah, não tinha outro lugar pra por”. Errado. Não pode. É isso. Só isso. Não pode.
Trabalhei anos e anos em obra, e aprendi uma coisa: não adianta você aceitar uma coisa errada, que aquilo vai te dar a maior dor de cabeça depois. Você arruma uma solução para aceitar o erro, mas aquilo vira uma avalanche de outros problemas.
Imagina que você resolve construir sua casa. Na sala tem uma porta pra copa, digamos. Tá lá no projeto a porta e tem as medidas de onde ela tem que estar. Bom digamos que na sua obra os construtores erram e a porta fica fora do lugar previsto. Ah, tudo bem, não faz diferença, você pensa, e aceita. Dai, por causa disso, não dá pra colocar o interruptor onde consta em projeto. Ah, a gente coloca do outro lado, você resolve, todo pimpão. Dai todo mundo esquece que a porta é de correr. E a porta corre em cima do interruptor, e quando você abre a porta, esconde o interruptor. Você terá, todo vez que entrar na sua copa, fechar a porta (no escuro) e tatear a parede pra acender a luz. Mas isso você só percebe quando o piso está pronto, as paredes masseadas, o forro instalado. Putis e agora, você pensa. Fica aquele problemão, dai você marca uma reunião na obra, vem o arquiteto, o engenheiro, o eletricista, o cara da iluminação, do gesso, do piso, e cada um dá uma solução mais esquisita que o outro pra resolver a porcaria do interruptor da copa, e não tem nenhuma solução boa. Até que você fala “chega”, e resolve que não tem outro jeito a não ser demolir e fazer tudo de novo.
É a mesma coisa. Não adianta acochambrar. Deu mole, agora demole.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

embacei


Não posso deixar de escrever sobre o objeto que mais me acompanha hoje em dia: os malditos óculos de banca de jornal. Tá, tá e tá, eles fazem mal pra visão, tá, tá e tá, eu sei que tenho que ir no oculista e mandar fazer um certinho, tá, tá, eu já fui no doutor Bolinha, o meu oftalmo, no ano passado, tá, tá, tá e me deixa em paz que os da banca de jornal aqui da esquina da Panamericana são absurdamente mais baratos, eu perco um toda semana e não sou milionária. Vamos combinar, ok?
Embacei há sete anos. Nem sei se existe essa conjugação verbal e se tá certo o que escrevi (*Ângela, minha querida irmã professora de português, me corrija, plis).
Bom, desde então é um inferno. Sem os meus oclinhos de leitura, eu NÃO: 1) digito o CPF direito, 2) digito a senha correta, 3) leio nenhum tipo de cardápio, 4) escrevo em nenhum teclado, 5) consigo ler o que é shampoo e o que é condicionador na hora do banho (acho que por isso que colocaram um deles de ponta cabeça), 6) leio a validade da caixa de ovos, 7) sei se o produto é light ou normal, 8) distingo* as moedas de troco, 9) (importantíssimo) tenho idéia de quem e o que me me escreveram no uatisape e 10) tenhos a mínima idaie do que estrou escfevindbo aqui agoras, por exelo, posi estou sem pculos pra mostrar prs voces oq eu aconyece.
*(Ângela?)
Sabe o código de barras? Fo-da. Uso uma lupa da minha tia avó e um cartãozinho de visita, e vou digitando um a um os numerinhos bem devagar, morrendo de medo de pagar a conta de outra pessoa. O pior é quando eles repetem aquele monte de zero.
Sabe olhar a etiqueta da roupa na loja pra ver o preço e o tamanho? Fo-da, haja roupa a ser trocada a cada compra.
Mas o mais difícil para os embaçados como eu é esse negócio de verificação de site, que a gente tem que copiar as letrinhas para comentar ou para se cadastrar em algum lugar na internet. É o fo-da pior. Eu nunca consigo na primeira, nem com um dos meus 17 oclinhos espalhados pela casa. Erro um monte de vezes, morro de medo de ser bloqueada para sempre, e me recuso a ir pra aquela cadeirinha de rodas. Gente, isso não é verificação de caracteres coisa nenhuma, cadê os caracteres, se estão todos embaralhados? Isso é teste de desembaralho de caracteres, ou melhor, é pior que teste de visão.
Putz. Talvez esteja na hora de recorrer de novo ao doutor Bolinha. Não. Mais barato dar um upgrade lá na banca.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

eu, tsunami humano

Ainda na hidroginástica, a cada dia fico melhor, mas não tá fácil não, ainda mais depois que revolvi ser a melhor da classe. Hahaha. Se você é mesmo da terceira idade eles te dão o maior crédito, mas como ainda não sou, ora bolas, a professora meio que pega no meu pé e acho que pensa: “ahá sua folgada, nem vem que você consegue!”.

Pois agora tenho essa nova e diferente turma, que queira ou não, acabo conhecendo um a um. Sério, a metade não faz nada da hidro, só fica conversando sem parar na água, ou melhor, gritando, pois a professora usa microfone e fica um barulhão no ginásio.

Dai notei o seguinte. Depois de diversos dias agindo como uma perua desembestada e desesperada engolindo água e tentando fazer os exercícios na velocidade da nossa líder (fora da água) descobri que não é nada disso. Não adianta nada se chacoalhar como uma mulher possuída e fazer mais onda que tsunami que o exercício não sai certo. É que como a vida toda a gente faz ginástica no ar, não percebe que na água a lógica é outra. Não adianta lutar com ela, é preciso em-ten-der seu corpo e a água, perceber densidade e a gravidade da água. É quase coisa de astronauta que anda na lua, mas ao contrário. E se você fica estabanada, é quase como fazer ginástica no... lodo. Ou na areia movediça. Acho que é por isso que tem até salva vidas naquela piscina tão rasa. E hoje notei que o corpo da gente, se você ficar calminha e se concentrar, vai pra frente, pra trás, pros lados, sem o pé no chão e sem onda, se você mexer os ombros e o tronco. Ô dança esquisita, eu sou meio disléxica, fiz uma parte da aula de olhos fechados, trombando nos outros, e sério, deu certo.

Por isso a aula de hoje foi foda e estou em mil pedaços. Uma hora quase perguntei para a professora qual era a intenção dela: ela tava treinando a gente para um jogo de pólo aquático? Pra competir no ballet aquático nas olimpíadas de 2016? Como é possível flutar no lugar tanto tempo? Nem golfinho do Seaquarium de Miami consegue tanto.

- Isso é a versão aquática do abdominal – ela simplesmente explicou.


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E ela é fogo, quando ela fala: “agora mão no pé, outra mão no outro pé, flutuando, um dois, um dois, um dois!”, ela olha de lá de cima todas as nossas perninhas, querendo achar um coitado que dá aquela mini-pisadinha no chão, para imediatamente apontar e dizer: “ahá! Peguei no flagra! Sem pé no chão, você ai, e vamos gente, mais três minutos”. Que não são três, são sempre quase cinco minutos intermináveis. Percebo diversas pessoas disfarçando e indo atrás dos outros pra descansar um pouco. E por causa disso resolvi que não pinto nunca mais as unhas do pé de vermelho, beterraba, verde ou de qualquer cor esquisita. Aquilo te denuncia total. Ela vê de longe mais ainda.


Bom, e com um mês de aula, me convidaram para ir na semana que vem no almoço de natal da hidro. Já topei e não perco por nada. Deve dar uma ótima crônica.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

o peso das compras


Tive que repensar toda a logística de abastecimento da minha casa. Durante uns duzentos anos, uma vez por semana eu ia no supermercado, entupia o carro e tava tudo resolvido. Quando não teve mais sacolinha, arrumei umas caixas de plástico, umas sacolas e até um revisteiro e trazia tudo ali.
Mas agora que tou a pé não dá mais pra resolver tudo em um dia. Tenho que ir diversas vezes, com um monte de sacolas retornáveis. Retornável o caramba, não sei as de vocês, mas as minhas quando vão para a casa dos amigos ou parentes não retornam nunca. Acho que é mais uma daquelas coisas que são do mundo, que são socializadas, feito os tuppewares, os isqueiros e canetas bic, que rodam de mão em mão, casa em casa, bolso em bolso.
Bom, primeiro que não dá pra carregar muitas sacolas porque a gente só tem duas mãos. No máximo duas por mão, e olhe lá, o ideal é uma em cada mão, mas como as vezes a gente compra coisa que amassa, melhor garantir. Outra coisa que acontece é que, dependendo do peso, tenho que fazer diversas paradas ao longo dos dois quarteirões e meio. O que não deixa de ser musculação com exercícios aeróbicos, eu penso, resfolegando e sem reclamar.
Desde então, eu faço supermercado pensando sempre no peso das coisas. Quando preciso comprar batata, óleo, cebola, sabão em pó, leite já começo a sofrer antes de sair de casa. Descobri que tem seções super pesadas – a de limpeza é uma delas, pra que fabricam amaciantes tão gigantes? – e outras levíssimas, como a do pão, da bolacha e bolo. E tem os departamentos que te enganam, você acha que não é nada, mas coloca numa sacola manteiga, geléia, requeijão, inseticida, shampoo, suco, shoyo e duas latas de tomate pelado que aquilo vira uma tonelada. Papel higiênico é um problema. Aquela embalagem quadrada é pra carro, não pra sacola. Andar com aquele volume junto de você te faz tropeçar a cada dois passos.
Outro dia vi um negócio incrível. Um cara fazendo super com um carrinho de bebê. No começo achei que ele sufocar o filho, mas não tinha filho nenhum ali.
- Ele já tá grande, não usa mais o carrinho – ele me explicou, enquanto saia todo pirilampo empurrando as rodas enquanto eu sofria com minhas pesadérrimas sacolas.
Pensei em comprar carrinho de feira, acho, apesar dele ser vazado e tirar a privacidade da minha compra, mas já contei como são as calçadas daqui do bairro. Não vai sobrar um ovo.

Como não achei outra solução, fico no vai vem diário, pesando mentalmente cada produto. E dá licença que agora vou comprar suco, salada, café e açúcar.