segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

franka, terrorista



Na viagem de férias de natal pra Patagônia com a família, catei um monte de pedras coração. Elas aparecem para mim, acabo pegando. Às vezes olho para o chão, vejo uma e não aguento. No final da viagem eu tinha umas oito, nove pedras, todas lindas, cada uma de um canto. Dos glaciares, dos riozinhos, dos desertos. Jimais.
Na hora de voltar, achei que era muito pesado colocar tudo na minha mala. Resolvi colocar umas na mala do João, que estava mais leve, outras na mala do Zé e sobraram umas 3, as mais lindas, que coloquei na minha mochila de mão. Chegamos no aeroporto de Calafate e fomos embarcar. Coloquei a bolsa e a mochila na esteirinha do detector de metais quando o moço levantou a minha mochila e perguntou de quem era aquilo. "É meu", respondi no meu esquisito espanhol. "A senhora pode vir aqui?", ele pediu. Pulei a cordinha e cheguei perto dele. "Que foi?". Ele e a moça do lado me olharam muito feio. "A senhora tem pedras na mochila?". "Tenho", admiti. "Pode nos mostrar?". Suspirei, abri a mochila e mostrei para eles, dizendo algo como "são só umas pedras mesmo, eu tenho coleção e...". O moço pegou a primeira, olhou desconfiado, pegou a segunda, olhou mais desconfiado ainda e analisou a terceira, certificando-se que eram apenas pedras e me avaliando da cabeça aos pés, como se eu fosse mega suspeita. E sem dó nenhuma, jogou as três na lata de lixo perto dele. Minhas pedras! Tentei argumentar em espanhol, "son só pedras corazon, jo tengo una colecion, moço", mas ele me virou as costas e ignorou. Os filhos e o Zé riram, eu peguei a mochila com a maior cara de sem graça fui pra área de embarque.
Bom, começamos a pensar no assunto, todos juntos. Bom, não pode levar pedra na bagagem de mão. Porque não? Ora, pedra deve ser considerado uma arma. Mas será que alguém em sã consciência já usou uma pedra como arma num avião? Será que alguém já sequestrou um avião com... pedras coração? Já provocou um atentado terrorista com pedras coração? Ora, se a gente pensar bem, pode ser bem perigoso mesmo. Imagina se no meio do vôo dez passageiros se levantam com pedras coração na mão e ameaçam apedrejar os demais passageiros? Nossa. Seria um ataque inusitado, mas de um grau de periculosidade muito alto. Pedra machuca. Mas se a gente avaliar dentro da minha bolsa tinha um monte de coisas tão pesadas e tão "perigosas" como as minhas pedras. Por exemplo, a máquina fotográfica. O iPod. A minha carteira gorda. A escova de cabelo. Ora, imagina se dez passageiros terroristas se levantam no meio do vôo e ameçam jogar máquinas fotográficas super pesadas nos demais passageiros? E na mala do Zé, que tinha o laptop dele? Isso sim é pesado, gente. Imagina se ao invés de máquinas fotográficas, dez passageiros se levantam e ameaçam jogar... laptops? Qual a diferença entre minhas pedras e uns laptops? Os laptops são muito mais perigosos que minhas pedras, gente. Me deu vontade de voltar e argumentar isso com o moço da esteira, mas achei que seria muito complicado explicar essa teoria em espanhol, e me conformei em deixar parte da minha coleção no lixo o aeroporto. Voei triste, pensando no lixo e na minha coleção. De armas.

sábado, 29 de janeiro de 2011

george




Sumi. Fiquei uma semana sem internet por causa da Telefônica. Não vou reclamar. Agora consertou e voltei.
Hoje pensei numa coisa engraçada. Também meio nada a ver, apenas uma observação sobre o meu cotidiano. Putis, gente. Como é legal essa moda de TV na parede, fininha, como se fossem quadros. São demais essas TVs. E são na verdade quadros, com programação de canal e tal. É engraçado porque pra mim isso sempre foi um sonho que eu tinha do futuro e que virou uma verdade agora, no meu futuro. Entende? É que coloquei uma TV na parede do meu quarto no ano passado. E é demais assistir uma TV que vem do nada, do branco da parede, aparentemente sem fio e sem móvel nenhum. Mega coisa dos Jetsons. Essa é Franka, assumindo a sua porção Jane Jetson.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

dona branca com candelabro no hall



Eu vivo em obras. Vivo vendo projetos. Entrando e saindo de ambientes. E outro dia eu tava conversando a minha amiga Luciana H, que também é arquiteta e vive em obras como eu, e a gente lembrou do jogo de Detetive, que a gente jogava quando era criança (ou com as crianças). Muito legal Detetive. Adoro jogos. Foi quando a gente teve a idéia de fazer um novo jogo de Detetive, um jogo de Detetive de uma Obra. Na verdade seria o mesmo jogo, apenas com uma atualização e uma nova cara. Super copiação, como dizem os filhos. Concluimos que o jogo de Detetive é legal, mas é atualmente um jogo do arco da velha. Começamos a pensar nos ambientes atualizados. No jogo velho, tinha hall, sala de estar, salão de festas, escritório, sei lá mais o que. Esses ambientes não existem mais hoje, então pensamos em atualizar para cozinha planejada Kitchens, home theater, sala de almoço, cozinha gourmet, closet, banho sr, banho sra, prataria, galeria. Muito mais moderno e adequado pro nosso mundo. Todos ambientes em construção, claro. Não soubemos bem pra que os ambientes estariam em construção, e não prontos, mas isso não vem ao caso, porque vivemos dentro de construções e a gente que estava inventando o jogo. Dai começamos a pensar nas armas: como se mataria alguém numa obra? Tivemos uma grande discussão e chegamos nas seguintes: trena, estilete, lasca de mármore, compressor, furadeira, marreta e tiro de pino de gesso. Ficamos meio na dúvida em como se matar alguém com um compressor, mas depois pensamos que as possibilidades são inúmeras, como jogar na cabeça, enfiar o aplicador de tinta na boca do infeliz ou até matar a pessoa de cócegas só com o ventinho. Depois os personagens, que não seria mais apenas cores, como a dona Branca, sr. Green, a dona Violeta, etc, se sim o pintor Fulano, o marceneiro Sicrano, o cara do ar condicionado, o empreiteiro, o gesseiro e claro, a arquiteta (nós duas quase brigamos porque nós duas queríamos ser a arquiteta, argumentei que "dona Franka" é parecido do "dona Branka" e ia ficar engraçado, ela discordou).
- Lembra daquela arquiteta que morreu de verdade com a lasca de mármore? - a Lu lembrou - isso acontece mais do que a gente imagina.
- Já tive vontade de matar um gesseiro uma vez que me deu um cano na obra - lembrei.
- Empreiteiro com tiro de pino de gesso no closet - ela falou.
- Pintor com furadeira na cozinha gourmet - sugeri.
- Cara do ar condicionado com compressor no banho sr.
- Mas qual seria o motivo da morte do gesseiro com uma... trena, assim, por exemplo, Lu? - falei pra ela, confusa.
- O jogo nunca explicou isso, dona Franka. Lembra, era só embaralhar e colocar no envelopinho o lugar, a arma, a pessoa.
- É. Deixa pra lá. Mas que numa obra a gente tem motivo pra esganar as pessoas, ah, a gente tem, Lú. A gente sabe muito bem.
- Ô se tem, Franka. Ô se tem.
Hahaha.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

um dia complicado




Parece título de redação. E eu vou tentar contar o dia de hoje sem reclamar muito pra não ficar chato. O carro quebrou ontem a tardinha, quando cheguei em casa. Ferveu. Acho super engraçado sintoma de carro, como ferveu, afogou, patinou, morreu, porque são sintomas super catástróficos que não causam nunca a morte total do carro. São tipo resfriados do carro. Algo assim. Bom, larguei o carro fervido na garagem e esqueci. Depois eu resolvia. E foi exatamente por causa desse esquecimento que o dia de hoje começou complicado, porque acordei e lembrei do carro fervido. Acordei fervida como o carro, mas o Zé topou trocar de carro e levar pra arrumar e concordei, super agradecida. Desci, e a Maria, que devia ter voltado hoje das férias, não veio. Ferveu? Ou seja, a mesa do café não tinha café da manhã, mas tinha o jantar do dia anterior. Fiz um café e fui olhar os emails, mas o speedy pifou. A internet também ferveu, eu acho. Liguei para a Telefônica, que demorou mais de meia hora pra me atender, dizer que não tinha como consertar na hora e que demorava 24 horas. Resolvi roubar a internet de alguém aqui por perto. No andar de cima de casa sempre pego sinal, no meu escritório não pega. Subi de mala e cuia para o quarto da Naninha, que tá viajando. Me instalei na mesa dela, tentei, conectei, consegui. Fui abrir a janela do quarto, tava escuro, e a persiana de enrolar quebrou. Caiu toda fita pra fora, fervida. Acendi a luz do teto, nada, estava queimada. Achei um abajurzinho com uma luz fraquiiiiinha e trabalhei um pouco no escurinho. Sai pro escritório, mas como choveu muito, não tinha internet. Voltei pra casa, o alarme não parava de disparar, fervendo, e em seguida acabou a luz também aqui. Sem luz o portão da garagem não abre. Tinha uma reunião, não conseguia sair. Voltou a luz, sai, voltei da reunião e fui pro micro. Foi quando o abajurzinho com a luz fraquiiinha ferveu no quarto da minha filha. Breu total. Desci com o micro aqui no meio do quintal, na mesinha de ferro, consegui conectar mas não enxergava o teclado. Estou escrevendo à luz de lanterna, uma lanterna de led que o Zé ganhou no posto Ipiranga que carrega na tomada. Um pouco assustador. Um dia complicado, mas até com post. Ou redação.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

histórias da mamãe



Seu pai um dia saiu com uns amigos para beber. Sabe a turma dele lá de Taquaritinga? Nossa, como eles adoravam se encontrar para beber. Ficavam todos bêbados, mas bêbados mesmo, filha, era muito engraçado. Quase sempre era em casa, você lembra, Lúcia, eu que organizava as reuniões, fazia comidinhas para o alcool não subir muito, mas nesse dia eles combinaram de se encontrar num bar, sei lá. Bom. Parece que nesse dia eles exageraram mesmo na bebida e perderam a hora, e quando sairam para ir embora um deles passou a ter medo da mulher. Dizia que ela ia ficar muito brava dele chegar em casa tarde daquele jeito, que ele tava perdido, que ia ser um escândalo. Foi quando eles passaram de carro perto de uma banca de frutas e tiveram a idéia de comprar uma melancia. A idéia era o amigo do seu pai levar a melancia para casa de presente para a mulher. Dai quando ele chegasse, a mulher ia olhar pra ele e para a melancia, ia ficar brava com ele, mas feliz com a melancia e não ia brigar. Idéia de bêbado, olha que engraçado. Então o amigo do teu pai levou a melancia para casa, não sei, mas parece que foi pior ainda. Imagina, uma melancia, que tem a ver? Quando eu lembro eu morro de rir. Chegar de madrugada bêbado e com uma melancia.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

o juego patagônico



Foi na viagem de férias com a família pra Patagônia que eu achei o "juego". Sabe aquela cidade do lado do monte Fitz Roy, onde o alpinista brasileiro morreu no começo do ano? Foi lá. Aliás, acho que a gente devia estar lá em El Chalten junto com o alpinista. Ainda bem que a gente não inventou de escalar o Fitz Roy.
A cidade é mínima e não tem lá muitas atrações, a não ser andar contra o vento feito um astronauta. Uma hora encontrei uma lojinha de suvenirs, acho que a única da cidade, e entrei para ver o que tinha lá dentro. Arrematei um coletinho com um bordado de monte Fitz Roy (adoro coletinhos) quando vi umas estranhas caixinhas de madeira numa prateleira. "Que es esso?", perguntei no meu espanhol patagônico. A mocinha não deu a mínima e respondeu que era um "juego". Repeti a pergunta, ela veio com a mesma resposta e não explicou mais nada, como se fosse óbvio. Abri a tal caixinha e achei 5 dados e um tipo de copinho retangular e ovalado nas bordas. Como achei aquilo interessante, como estava na Patagônia e como aquilo era um juego, resolvi trazer aquilo pra o Brasil. Custou algo como 12 reais.
Bem. Desde então estou quebrando a cabeça para entender como funciona o tal "juego". Não é possivel que seja apenas um jogo de dados. Analisei o conjunto. Os cinco dadinhos não cabem em fila na caixa semi oval. Se você coloca os dados dentro dela e vira a caixa emborcada, eles sempre eles sempre se empilham.
- Cada hora que a gente vira o copinho, eles montam de um jeito, olha - disse minha amiga Fran - e conforme o tipo da pilha eles parecem uns bichos.
Começamos jogar os dados e nomear os bichos. Dromedário, camelo, cavalo, peixe, taturana, girafa.
- Acho que isso é um oráculo, sugeri.
- Podemos contar os números de cima, ela sugeriu.
- Podemos também definir uma personalidade para cada bicho, sugeri.
- Podemos usar os significados do dado eletrônico para a sequencia de números, ela sugeriu.
Passamos a testar o dado. Me pareceu muito bom. A cada pergunta ele responde de modo inteligente e rápido. Vou me aprimorar mais na leitura e interpretação desse novo juego patagônico. Acho que vai dar samba. Estou animada com meu novo oráculo. Darei notícias. E farei previsões, se tudo der certo.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

a nossa amy


Minha amiga Lu H foi ver o show da Amy. "Uau. Como foi, Lu?" A Lu ficou realmente impressionada com a Amy. Mas a impressão dela não é como as impressões de jornal. A Lu H fez o desenho acima. Ela viu coisas que ninguém viu. "A Amy tem umas pernas finiiiiiiinhas e o corpo dela vai aumentaaaaaando. Ela tem barriga de mulher, sabe a barriguinha? Ela tem. Mas derepente vem um peitãããão, logo em cima. E um cabelo maior que o peito dela. Assim, ó". Nossa, nunca tinha pensando nisso, no corpo da Amy. "E o show, Lu, como foi?", perguntei, confusa. "No show a Amy tava esquiiisita... Parecia entediada, não sei. Só na última música que ela se animou e a voz dela saiu". Esse foi o show da Amy pra quem não viu, gente. Acredito super na Lu H.

sonhando com comida



Entendi o que engorda e emagrece a gente. Por exemplo, essa coisa de comer todos os dias na casa da minha mãe acabou mudando meus hábitos e agora eu tenho mais fome do que tinha antes. Acho que a gente tem uma necessidade diária de alimento, mas a gente pode se condicionar a ter mais ou menos necessidade. Eu tinha uma necessidade de alimento de, digamos, nota 5. Agora, depois que minha mãe faz diversas comidas deliciosas para mim todos os dias à uma hora da tarde, meu corpo gostou e agora quer mais alimento à uma hora da tarde e minha necessidade de alimento nessa hora passou, digamos, para 7. Meu receio é a coisa aumentar e o índice chegar a 12, o que seria um desastre. Ou a 20. Meu Deus. Vou perder todos os jins. Além disso, tem o apetite. Eu nunca tive muito apetite, sempre fui a rainha da recusa. Se eu estava com fome, tinha um pouco de apetite, mas se estava sem fome, não tinha. Mas na semana passada eu estava na Marginal indo pra uma reunião e do nada começei a me lembrar de um jantar que eu comi num restaurante. Nossa, como era boa aquela comida. Aquilo me deu água na boca. Logo em seguida, lembrei de um restaurante que faz um camarão que é uma delícia. E depois lembrei de como gosto de paella e como faz tempo que não como. O carro andando e meu cérebro passou a desfilar uma sucessão de pratos imaginários cheios de sabor. Diante daquele menu mental criado na Marginal, passei a selecionar os preferidos. De repente, me assustei. Perai. Que eu tava fazendo? Pensando em... comida? Eu? Isso nunca foi habitual. Descobri então qual o limite do engordar e não engordar. Pensar em comida quando você não está com fome é um dos indícios. Comentei isso com o Zé, que lembrou de um amigo dele que está fazendo um regime onde come de três em três horas. "Esse regime é um absurdo, Zé", retruquei. "Imagina ter que lembrar de comida de três em três horas". O Zé explicou que o cara come comidas que não engordam de três em três horas. "Esse seu amigo vai virar uma bola quando ele desisitir do regime, porque ele se condicionou a pensar em comida de três em três horas, e dai vai comer coisas que engordam de três em três horas, Zé. Vai ser um desastre, avisa ele logo. A gente tem que pensar no depois". E é exatamente nesse depois que tou pensando. Porque quando a Maria souber de tudo que a minha mãe fez nesse mês pra gente, ela vai querer imitar. Imitar não. Ela vai querer fazer melhor e ganhar da minha mãe. Cozinheira é assim. Eu tou perdida. Acho melhor começar a pagar um spa a prestação.

domingo, 16 de janeiro de 2011

franka guarda segredo



Foi no ano passado. Estava fazendo uma visita pro meu primo Francisco quando surgiu uma amiga dele, a Míriam. Me dei bem com ela, uma moça engraçada e simpática, cheia de opiniões. Conversa vai conversa vem, começamos a falar de segredos. Não estávamos contando segredos, e sim falando de gente que conta segredos. Expliquei para ela que tinham me chamado de fofoqueira recentemente, que disseram que eu não era confiável para guardar segredos, e que talvez eu não fosse mesmo, porque adoro contar histórias, nunca desperdiço nenhuma. E, claro, os segredos são as melhores histórias. "É uma coisa maior que eu, Míriam", declarei, "e chega uma hora que eu, na empolgação de uma conversa, acabo esquecendo que o assunto era segredo e conto". A Miriam me entendeu na hora. Disse que sabia como era e concluiu que uma pessoa contar segredos pra você é o maior mico, pois às vezes a história é genial e você não pode contar pra ninguém, uma tristeza. "Por isso", ela explicou, "que quando uma pessoa me fala que vai me contar um segredo, que é pra eu guardar o segredo, eu respondo que guardo, mas guardo só por uma semana. Depois disso não garanto", ela concluiu.
Não podia ser mais perfeito o comentário da Míriam. A Míriam é minha ídala, gente. No mesmo instante disse pra ela que ia usar o ensinamento dela e ela concordou. Desde então passei a imitar a Míriam. Para todo mundo que me pedia para guardar segredo, eu arrematava: "claro, eu guardo, mas por uma semana, oquei?". Bom, as pessoas estranhavam e acabavam não me contando nada. Ou até contavam, mas tentavam me coagir para guardar por mais tempo, afinal, eu era ou não amiga delas? Dai começei a ficar dividida. Você "não guardar" um segredo é ou não é uma coisa legal? E já que tenho um programa de rádio, passei a perguntar para os entrevistados "você quarda segredo?", e descobri que quase todo mundo guarda. Se é sério o segredo então, claro que sim. Ora, e lá existe segredo "não sério"? Passei a ter um pouco de crise de consciência. Subitamente achei meio horrível demais uma pessoa não guardar segredo. Não ser confiável. Não, eu não podia ser assim e sair me gabando de ser assim. E nesse começo de ano, pensando nisso, resolvi fazer uma promessa. A promessa foi bem simples: "vou guardar segredo". Desde então tou um pouco aliviada, e, nossa, como as pessoas tem me contado segredo. Por enquanto tou aguentando firme. Ainda não encontrei a Míriam, não contei ainda pra ela. Quando encontrá-la, vou contar. E, claro, pedir pra ela guardar segredo.

sábado, 15 de janeiro de 2011

a invasão das formigas



Ixi. A casa tá infestada de formigas. Sei lá. Talvez elas sempre tenham morado aqui em casa, e como a Maria varre todo dia, ninguém vê. Ou não. Vai ver que elas ocuparam o espaço da Maria, achando que a casa não tem mais dono. Ontem, depois de olhar desesperada para a mesa da cozinha, toda preta e em movimento, chamei seu Alcebíades, o dedetizador. Já falei dele aqui, ele leva super a sério a exterminação dos insetos, acho que por isso ele se veste como um astronauta. Me dá uma segurança danada quando ele entra todo equiparado na minha casa. É como se ele dissesse "sim, dona Lúcia, eu acredito em você, isso aqui está um horror, um perigo, sua casa está uma verdadeira catástrofe, se não tomarmos uma atitude urgente as formigas vão tomar conta de tudo e você vai ter que morar na rua, deixe comigo!". Queria muito um roupa daquelas pra mim. Tem dias na vida que a gente precisa muito de proteção. Como se nosso mundo estivesse mesmo invadido. Marquei semana que vem, e seu Alcebíades falou que nesse dia todo mundo tem que sair para não passar mal junto com as formigas. Mas ontem, quando elas tomaram conta dos restos do jantar me impedindo de usar a mesa para tomar café, fiquei furiosa. Um saco ter que recolher pratos e travessas com aquelas coisinhas subindo pela mão, pelo braço. Antes elas comiam só doces, mas agora é tudo: salgado, pão, carne, arroz, macarrão. Foi quando eu olhei o potinho de queijo ralado. Uma montanha de formiga dentro, saco, formiga lá gosta de queijo? E não tem como tirar a formiga do queijo ralado, a formiga e queijo ralado tem o mesmo tamanho, ou seja, o pote estava com o dobro da quantidade. Ô judiação. Resolvi me vingar. Uma vingançazinha de nada. Peguei o pote, enchi um prato com água e coloquei ele em cima. Pronto, ficaram todas presas ali. Hahahá. Presinhas, bem feito. Tirei tudo da mesa, limpei tudo, menos o pote de queijo ralado. Quem sabe elas aprendem e não fazem mais isso. Meu Deus, será que tou lelé? Talvez melhor seja comprar uma roupa de astronauta.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

como virar uma bola em menos de um mês



No começo de janeiro, eu, um pouco sem graça de dar trabalho e sem a Maria em casa, perguntei para minha mãe se a gente podia comer um mês na casa dela. Ao contrário do que eu imaginei, ela se animou toda.
- Pode deixar comigo. O que os meninos comem?
Acho que minha mãe não percebeu que é todo mundo grande, não um bando de netinho com frescura. Desde então me telefona a toda hora no meio do trabalho com as perguntas mais esdrúxulas do mundo.
- Lucia, filha.
- Fala, mãe.
- Os meninos comem carne de panela?
- Hã? Claro né, mãe.
- Comem mesmo?
- Comem, mãe...
- E suflê?
- Comem, mãe....
- E se for de alho poró?
- Sei lá, mãe.
- Ai meu Deus. E agora?
- Mãe, eles comem, pronto. É que, sei lá, mãe, a Maria nunca fez em casa, então não sei, mas qual o problema do suflê de alho poró?
- Vai ver que não comem. E eu fiz hoje. Ai meu Deus. Pra que fui inventar esse alho poró.
- Eu como, mãe. Adoro.
- Vou fazer outra coisa também.
- Mãe, que exagero, não precisa.
- E se eles não comem, filha? Menino tem que alimentar bem. Tem que engordar. Tá todo muito muito magrinho na sua casa.
- Tá mãe, tá. Faz o que você quiser.
Mas o problema da minha mãe é que não importa a idade do neto ou filho, ela passou achar que tem que engordar a gente nesse período. E passou a fazer coisas pra mim, todo dia. Como se eu também tivesse 10 anos de idade. "Olha Lúcia, fiz um quiche pra você. Olha Lúcia, fiz a maionese que você gosta. Vai, come mais um pouco. Perai que vou cortar mais um pedacinho de frango. Pega, vamos, pega mais um pastel. Mais um pouco de abobrinha? Como vai sair da mesa? Não comeu salada ainda, perai que vou buscar um prato limpo. Mas fiquei horas fazendo o nhoque, não vai repetir? Ai meu Deus, perdi a mão pra nhoque. Assei maça para a sobremesa, tem sorvete de creme pra comer junto. Tem pudim na geladeira, pega".
Meu Deus digo eu. Acho que já engordei uns três quilos nesses 14 dias, gente. Tou uma bola. Mãe engorda. Socorro, Maria.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

volta, maria, volta



A Maria saiu de férias por um mês e resolvi não chamar nenhuma substituta. Ora, com uma familiona dessa, cheia de gente, achei que a gente podia distribuir as funções pra todo mundo ajudar, como uma verdadeira família americana. Almoço a gente resolveria na casa da minha mãe, a casa a gente arrumava, pronto. Ora, um mezinho de nada. No começo todo mundo concordou, animadom mas na hora agá a coisa foi mudando. O João disfarçou e falou que quem ia lavar os pratos era um amigo dele, o Júlio, que, segundo ele, adora lavar prato. "Mas como assim, filho?". Ele explicou. "Quando for minha vez de lavar, vou chamar o Júlio, mãe". E também inventaram um outro amigo que ia cozinhar a noite, mas é claro que o Júlio e o amigo-que-cozinha nunca apareceram. Bom. Depois de dois dias a casa começou a ficar um verdadeiro caos. A casa sem Maria passou a sofrer um tipo de avalanche de roupas e louças. Resolvi lavar as roupas, achando que aquela parte era "bico", mas o processo "enfiar na máquina - pendurar - recolher - passar - guardar no armário" é dos mais complicados do trabalho doméstico. Mil vezes a louça, o Júlio que é esperto. Começou a ficar tudo tão bagunçado que passei a nem dar bola para o pó nos móveis e para a montanha de folhas na calçada e quintal. Isso é de menos, pensei. Importante é manter banheiros sem cheiro mal, recolher o cocô da cachorra, não deixar nada apodrecer na geladeira. E é incrível, nada, mas nada mesmo, volta para o lugar. Descobri que se eu deixasse um sabonete no chão da sala, o sabonete iria ficar dias e dias no chão da sala, até eu mesma pegar o sabonete e devolver pra pia. Gente do céu. Isso foi no começo de janeiro e a coisa só piora. Estamos no dia 13 e o Chico ainda não arrumou o quarto dele e nem desarrumou a mala da viagem. A Nana foi esperta, viajou com os amigos e trancou o quarto. Já no quarto do João eu entrei outro dia e vi um monte de roupas "deitadas" no chão. "Filho, se tá sujo coloca no cesto". "Não mãe, tá tudo limpo, coloquei no chão assim esticado pra não amassar", ele disse. "Ah, você ainda vai colocar no armário?", suspirei. Ele me olhou estranhando. "Acha que precisa, mãe? Tá tudo super esticadinho e limpo, vou usar esses dias...". Me rendi e chamei uma passadeira, porque vi que não ia rolar de eu passar a mega montanha de roupas. Pelo sim pelo não, é proibida a entrada de muitas visitas. E estou contando os dias. Socorro, Maria.

óculos para desembaralho

Sabe esse negócio de verificação de sei lá o que, que a gente tem que copiar as letrinhas para comentar ou para se cadastrar? Eu nunca consigo na primeira. Erro sempre um monte de vezes, e morro de medo de ser bloqueada para sempre, feito no banco. E me recuso a ir pra aquela cadeirinha de rodas. Ora. Gente, isso não é verificação de caracteres coisa nenhuma, cadê os caracteres, se estão todos embaralhados? Isso não seria teste de desembaralho de caracteres? E tem razão minha amiga Sílvia Bê, que diz que isso é teste de visão. Pra mim, ai em cima está escrito "supbledg". Mas tentei 3 vezes e não era. Então o que é que tá escrito? Sei lá. Será que tem óculos pra desembaralho de caracteres?