sábado, 31 de março de 2007

melequinhas


Ontem no fim da tarde, num happy hour com alguns amigos blogueiros, cheguei a algumas conclusões sobre umas coisas nojentas. Cheguei nessas conclusões sozinha, pois tenho a ligeira impressão – não me lembro do fim da conversa, fiquei somente com a impressão do meio da conversa – que ninguém concordou comigo. Paciência.
É o seguinte: concluí que dentre as coisas nojentas proibitivas educacionalmente, eu concordo somente com algumas. Acho que algumas coisas nojentas proibitivas educacionalmente não deveriam ser proibitivas pelo simples fato da proibição ser prejudicial a saúde.
Péra.
Será que vocês sabem do que eu estou falando? Provavelmente não, melhor explicar. Coisas nojentas proibitivas educacionalmente são coisas que nós, pais, não deixamos nossos filhos fazerem em casa e que, por causa delas, damos altas broncas nos pobres dos pequenos. São coisas como arrotar, soltar pum, tirar meleca do nariz, se coçar, falar palavrão ou tirar resto de comida do dente. Aprendemos dos nossos pais, do mundo e do livro da Danuza Leão que não podemos fazer essas coisas e damos a maior bronca nos meninos por causa delas. Falamos “que nojo”, “que falta de educação” ou “que desrespeito” e ficamos bravos quando essas regras ancestrais são desrespeitadas.
Ai que está o problema. Ontem eu, que fui a maior respeitadora e polícia das regras das coisas nojentas proibitivas educacionalmente, discordei. Tive um pensamento tipo-genial e re-entendi a educação nojal. Porque pensa, gente. Algumas coisas são realmente nojentas, mas outras, se a gente proibir, são mais nojentas ainda. Resolvi – e confesso que ainda não falei com meus filhos porque eles sumiram esse final de semana – que algumas dessas coisas não serão mais proibidas: tirar sujeira do dente e tirar meleca do nariz. Ora, porque limpeza tem que ser proibida? Coisa mais absurda. É só orientar bem.
Gente, tirar a carninha do meio do dente depois que você comeu é necessário, é ab-so-lu-ta-men-te necessário. Nojento é ficar com a carninha lá, claro, que vai te dar bafo e mal estar, além de te forçar a fazer revoluções linguais absolutamente constrangedoras. Tem que tirar a carninha sim, seja com palitinho, com papelzinho ou com o dedo, embora a minha regra seja que, se for com o dedo, é melhor lavar a mão antes. Quanto a caquinha de nariz, a mesma coisa. Pra que ficar com uma caquinha que não te deixa respirar? Se a caca for enorme o cara pode até morrer, pensa. Putz coisa perigosa. Tem que tirar a caquinha sim, caramba, nojento é ficar com caquinha. Mas e se não tem banheiro nem papel Yes por perto? Como tirar? Com mão limpa, enfia o dedinho e tira. E onde coloca? No guardanapinho, no bolso, na sola do sapato. Feio é colocar embaixo do assento da cadeira, na mesa, na parede. E, claro, completamente proibido é comer. Conclui que o correto é você ser responsável pela sua caquinha. Ora, gente. Guarda e depois se livra.
Bom, os blogueiros fizeram cara feia e me acharam meio nojenta depois que eu declarei isso, mas paciência. Decisão é decisão e eu sou uma mulher de opinião. Já as outras coisas como soltar pum, arrotar e falar palavrão continuarão proibidas na minha casa. Éca, são nojentas e controláveis. Já essas duas, caquinha e carninha, eu liberarei assim que algum filho aparecer e falar comigo nesse final de semana. Resolvido. Boa noite de sábado para todos.

sexta-feira, 30 de março de 2007

olha minha matéria na revista Morar da Folha de São Paulo de hoje


tudo tão branco

Foi nos passeios a pé aqui perto da minha casa que eu observei. Primeiro surgiu uma, depois outra, depois mais outra, a coisa cresceu e hoje meu bairro é composto por um monte de casas branquinhas feito neve. Brancas em tudo: paredes, muros, janelas, persianas e pisos até aonde é possível ver, porque uma das características das casas nevadas é que são verdadeiras prisões de segurança máxima.
Ando pela minha rua e lá estão elas, ofuscando tudo. A coisa começou a acontecer nos bairros mais sofisticados, mas já é possível encontrá-las na versão sobradinho, casa de vila, lojinha de bairro. Não sei explicar a estranha sensação que elas me dão. Sabe aquela coisa legal de reconhecer os vizinhos por um detalhe da construção? Ah, o fulano mora na casa amarela, o sicrano na de trelicinha? Acabou. São tantas as brancas que não dá pra usá-las como referência pra nada, uma vez que são todas... brancas. A identificação passa para a vizinhança. É a casa ao lado da azul. Aquela duas casas depois da verde.
Seria uma questão de assepsia? Meu pai era médico e me lembro de questioná-lo sobre as roupas brancas. Ninguém gosta de ver médico sujo, é anti-higiênico, ele explicou. Isso tem lógica, afinal, médicos cuidam da saúde. Mas uma casa de tijolos seria, por acaso, anti-higiênica? Imaginei depois que essa tendência pudesse ter a ver com o uso do cal da arquitetura colonial, o cal antigo, branco, usado nas casas simples. Mas as casas caiadas da nossa história também eram coloridas justamente para não precisarem ser repintadas, bastava acrescentar pó de pigmento. Ou será que a idéia da brancura veio de alguma tendência internacional, ligada à virtualidade, à pseudo-existência? Não sei. O que vale é que a coisa pegou, e ter casas branquíssimas virou a maior moda na cidade.
Eu já tive uma cozinha toda branca num apartamento que morei. No começo, eu dizia “nossa, que lindo”. Depois, “ai, que inferno!”. A cozinha estava sempre imunda e eu tinha horror de olhar para aquele piso sempre repleto de cisquinhos, farelinhos, sujeirinhas. Foi uma época muito neurótica da minha vida. Me lembro quantas e quantas vezes, nos finais de semana sem empregada, eu mesma pegava a vassoura e o rodo para passar no chão. Hoje o piso da minha cozinha é preto. Chega de ser escrava do branco.
Concluo que não é fácil ter uma casa branca. Casas brancas precisam sempre um exército de manutenção que limpe, varra, escove, pinte, e basta um deslize para a casa virar bege ou cinza encardido. Penso se isso não é, de um modo um pouco torto, um modo de mostrar poder. Ora, sem dúvida alguma os donos de casas brancas tem mais funcionários e mais grana do que os das casas coloridas.
Comentei isso com um amigo. As casas hoje são brancas, mas repare, ele disse, os carros são pretos. É completamente verdade, é a máfia do preto e branco. Em garagens brancas carros pretos dão shows e, claro, isso vale para o resto da casa. A decoração, que custou caríssimo, também reluz. Em casas brancas tapetes ficam deslumbrantes, móveis modernos cintilam, objetos caríssimos faíscam. Que assepsia que nada, casas brancas são o paraíso dos decoradores. A invisibilidade da arquitetura, a pseudo-invisibilidade do poder financeiro, a visibilidade dos ícones da mídia. O branco mostra, exibe, ostenta. É como se arquitetura se inclinasse e deixasse a decoração entrar, referenciando-a.
Há muito poder envolvido nessa história nevada, creio eu. As coisas se completam muito bem nessa máfia gelada do preto e branco, e, brrr, dá o maior frio entender isso.
Frio na barriga.
Lucia Carvalho é arquiteta e autora do blog Frankamente... http://frankamente.blogspot.com
Revista Morar, Folha de São Paulo, 30/03/07

quarta-feira, 28 de março de 2007

a moça da conta


Fui almoçar num restaurante com um amigo ontem.
- Deixa a conta comigo hoje - ele fala.
Para disfarçar, abro a bolsa e pego a carteira.
- Já falei que é comigo - ele me diz diante da mocinha garçonete.
Vira-se para ela.
- Vou pagar com cartão de débito, você pode trazer a maquininha?
De uns tempos pra cá virou moda usar essas maquininhas de cartão sem fio. Quase todo mundo paga digitando senhas. Outro dia fiquei horas e horas numa loja para conseguir passar um cheque – me investigaram como se eu fosse do PCC. "A senhora não tem mesmo cartão de débito ou crédito?", perguntaram as vendedoras, pasmas.
Com dinheiro é pior ainda. Tento pagar com notas minhas compras, mas é quase impossível. Parece que você está pagando com moeda de outro pais quando apresenta uma nota de cinqüenta para pagar uma camiseta de, sei lá, 20 reais. As vendedoras me olham como se eu fosse uma grega pagando em dracmas ou uma mulher do Azerbaijão pagando em manats. Ninguém apresenta mais dinheiro. Super esquisito.
A garçonete voltou com uma maquininha mínima, menor que um celular, moderninha e toda acesa. Não sei se é porque a coisa de pagar hoje em dia ficou super complicada mesmo ou se ela era tapada naquela coisa de pagamentos e maquininhas, mas aconteceu uma coisa super confusa. A impressão que eu tenho é que a moça se desconectou da realidade por um tempo e nos levou junto dentro da sua lógica completamente atrapalhada.
Ela pediu o cartão, perguntando “débitôcrédito”. O meu amigo deu o cartão falando "débito" e ela enfiou no buraquinho. Digitou os números e deu pra ele colocar a senha.
- Você colocou o valor errado - ele falou - Eu vou pagar o meu e o dela.
Ela olhou para a máquina e para a conta na mesa.
- Meu senhor, a conta tem um valor total, mas aqui em baixo, olhe – e ela apontou o papelzinho - aqui tem o valor por pessoa.
Olhamos.
- E daí? - ele perguntou - Eu vou pagar tudo.
Ela fez uma cara de sabida.
- Ora, senhor – ela olhava para o meu amigo como se ele fosse muito burro - E daí que aqui tem o valor de cada pessoa, olhe. O senhor é uma pessoa, ela é outra pessoa, então primeiro eu coloquei o valor do senhor.
- Mas... mas e o valor dela? - meu amigo perguntou, confuso – quem é que paga?
Ela deu uma risadinha.
- Ué. Não é o senhor que vai pagar?
- Sou. Então.
- Então o valor dela eu coloco depois que eu colocar o do senhor – ela explicou, já meio brava – uma coisa de cada vez, moço, eu sou uma só.
Eu interrompi.
- Moça, desculpa, mas isso não tem lógica. Ele vai ter que fazer dois pagamentos? Porque não pode fazer um só?
- A conta tem o valor por pessoa, senhora – ela explicou mostrando a conta e me olhando como se eu fosse a maior burra.
Como ela tinha com certeza absoluta do que dizia, parecia que ela tinha total razão.
- Err. Vou ter que fazer dois pagamentos então? - perguntou meu amigo, ainda com a maquininha na mão.
- Sim senhor.
- Ixi, demoramos e a máquina desligou - ele mostrou, dando para ela a máquina apagada.
A moça aproveitou a deixa, pediu um minuto, pegou a máquina e correu para o caixa. Eu e meu amigo começamos a rir.
- Nunca vi isso - ele falou - fazer diversos pagamentos? Mulher mais louca. Acho que foi ver se era isso mesmo.
Ela voltou sorrindo.
- Pronto, liguei de novo. Eu não sabia qual era o botão, essa máquina é um modelo novo.
- Então... então é pra pagar duas vezes mesmo?
Ela colocou as duas mãos na cintura, pose de açucareiro, meio irritada.
- O senhor quer falar com o gerente? Se quiser eu chamo.
- Não, não – ele disse - Dá aqui a máquina.
Ele digitou a senha, pegou o comprovante, ela fez o segundo pagamento, ele digitou de novo devolveu para ela. Esperamos a maquininha imprimir o outro papel. A mocinha fez uma cara de orgulhosa de ter vencido e feito a coisa di-rei-ti-nho. Levantamos para ir embora.
- Vamos?
Quando chegamos na calçada, ele tirou uma coisa do bolso e me olhou.
- Olha o que essa bagunceira me deu junto com o cartão e os comprovantes - ele diz, morrendo de rir e me mostrando a maquininha. Vamos voltar de devolver, quero ver a cara dela, hahaha.

terça-feira, 27 de março de 2007

putz atividade dominical criativa da franka

Importante na vida é ter idéias, seja lá quais elas forem.


Início da atividade.


Domingo a tarde, depois que voltamos da cremação da minha avó, deitei no quintal e fiquei olhando o céu. Achei apropriada a idéia de ficar deitada como minha avó estava dentro do caixão. Tá, tá, sou meio esquisita sim, fazer o quê. Pensei até que é uma pena que os caixões sejam fechados. Que é uma pena que as pessoas sejam enterradas. Que é uma pena que não possam ficar ao ar livre depois de mortas.




Foi quando passou um avião. Moro na rota do aeroporto, passam muitos aviões aqui em cima de mim. Foi quando tive a idéia. Corri, peguei a máquina fotográfica e deitei de novo, esperando o próximo.
Clic.




Não é fácil fotografar aviões em pleno vôo, deitada e com um monte de árvores em volta. É preciso saber o taimim certinho da hora do clic. Nunca tinha feito isso antes. Nunca tinha tirado fotos olhando para cima. Achei uma putz idéia genial e criativa. Pensa bem.





Fiquei mais de uma hora fotografando e me achando a maior pessoa criativa, provavelmente inventora de atividades inúteis, mas ora, tem muita gente que ganha milhões com atividades inúteis. Um dia isso pode até virar moda, comunidade no orkut, notícia de jornal. Tirei mais de vinte fotos de aviões e, devido a minha empolgação eu contagiei o Zé, que veio se juntar e resolveu brincar também. Eu estava muito mais craque que ele, obviamente.




Clic.

Clic.

Clic.

Uma hora enchi, escureceu, os pernilongos resolveram atacar e fomos jantar. Foi genial a experiência. Recomendo a todos.

Fim da atividade.

domingo, 25 de março de 2007

Grande Sonho


Minha avó morreu hoje. Tinha 101 anos. Foi a pessoa que eu conheci que viveu mais tempo. Acho que por causa disso que, quando fui acordada de manhã pela minha prima me contando o ocorrido, levei o maior susto. Não é que uma pessoa que vive 101 anos não possa morrer. O que acontece é que uma pessoa que vive tanto tempo é muito viva. E é esquisito uma pessoa muito viva morrer. Como ela sobrevivia a tudo, estava sempre presente e era minha avó, na minha cabeça ela era viva demais. Tudo acontecia e ela lá, viva, existindo.
Ela existia tanto que, de uns anos para cá, começou a reclamar de existir tanto. Achava um exagero, reclamava, não se conformava. Aprendi muito sobre a velhice com ela. A velhice assolará todos nós, vivos, sejamos o que formos: blogueiros, fumantes, esquisitos, reclamões, preguiçosos, famosos. Ela vem e não há o que fazer. Mexe com o corpo e com a mente. Acho que é ai que nos igualamos aos nossos pais, num tipo de equilíbrio do verbo 'cuidar' e passamos a cuidar deles como fomos cuidados. Minha avó, depois que estava bem velhinha, passou a não saber das coisas que ela sempre soube. Um dia me perguntou a receita do seu famoso bolo de nozes, outro dia me pediu para declamar para ela os poemas de um poeta que ela adorava, que se chamava Batista Cepelos. Como é, vó? E eu vou saber a receita do seu bolo? E como eu vou saber esse poema que a senhora declamava, vó? Já estou velha demais para ter memória, ela disse, agora é com você, concluiu. Sim, e foi ai que eu entendi o que ela estava me dando. Ela estava me dando a sua memória. Assim que funcionam as coisas.
Hoje de manhã contei para o João que a bisavó dele tinha morrido. Ela vai ser enterrada? Não, ela queria ser cremada, respondi. Ele quis saber que tamanho que ficava o corpo de uma pessoa cremada. Como não tenho a mínima idéia, lembrei de uns filmes que assisti e mostrei com a mão o tamanho de uma urna imaginária. E a família divide o pó entre todo mundo?, ele perguntou na maior.
Achei uma idéia excelente, embora eu saiba que minha avó, nesses últimos antes, já teve a sabedoria de se distribuir. Óbvio que eu já tenho um maravilhoso punhado do seu pó, milhões de grãos, que, mesmo sem saber, já jogo pelo vento a cada dia.
Resignação
Batista Cepelos

Este Anjo do Infortúnio, que me guia
Desde o primeiro albor da tenra idade,
E os lírios roxos da melancolia
Desfolha sobre a minha mocidade...

Este, que me acompanha e me vigia,
Sorrindo-me um sorriso de bondade,
E, na dor, que é o meu pão de cada dia,
Me fortalece contra a iniqüidade...

Este, bendito seja, enquanto eu vivo,
A debater-me em trevas horrorosas,
Como um ansioso pássaro cativo!

E que, sobre o meu túmulo, tristonho,
Distenda as asas misericordiosas,
Quando eu sonhar aquele Grande Sonho...

sexta-feira, 23 de março de 2007

pro bebeléu


Voltei a fumar. Não agüentei.
Quem quiser dar bronca dá que eu não vou nem ligar.
Obvio que o dia real da minha volta ao cigarro foi há muito tempo, nem me lembro, no dia que, toda feliz e falante num bar com amigos acendi o primeiro. Não se deve nunca acender esse primeiro, ora bolas. Foi nesse dia que a minha contagem foi pro bebeléu (o beleléu é o lugar para onde vão todas as compulsões e vícios que controlamos até não agüentar mais) e eu dancei. Sempre soube que seria assim, que eu não devia fumar o primeiro, que tinha que agüentar, mas a carne é fraca, a mente mais ainda e com cerveja e amigos a coisa piora.
Voltei. Hehehe.
O que eu acho? Eu, pessoalmente acho super legal, senão obviamente não voltava. Adoro fumar, acho uma delícia. Sei que agora vai voltar aquela coisa chata de ter que fumar escondido, de ter que amargar lugares de não fumantes, de ser discriminada em tudo quanto é canto. Sei que muita gente vai se espantar e dizer “o quêêê? voltou?”, sei que vai ter aquele bolo de amigos falando “ai que burrada, não faz isso, não faz isso...”. Não adianta nada falar, não sei porque as pessoas falam pra gente não fumar, nunca ouvi falar de nenhuma pessoa que ouviu de alguém a ordem “pare de fumar” e disse “pronto, parei”. O que todo fumante tenta fazer, que acho bom, é fumar pouco. Sei lá.
Todos os blogueiros fazem altos posts quando param de fumar, pedem apoio, sei lá o que. Parar de fumar é uma coisa super policamente correta que dá um putz ibope. Eu tou fazendo um post ao contrário, um post politicamente incorreto, revelando uma fraqueza. De bom aqui nesse post somente a idéia do "beleléu".
Mas fazer o que se a tal força de vontade foi pro beleléu?

quinta-feira, 22 de março de 2007

vírus velho


Na semana passada, meu computador começou a dar problemas. Ficou lento, como se estivesse com preguiça e demorava horas para abrir uma página. Na verdade, a provocação era pior – ele abria as páginas em ondas, bastava abrir o Gmail que tudo se emperrava, bastava tentar entrar no Youtube que tudo desligava, e, aaaaaa!: ele desligava quando eu entrava no meu blog. Naquele mesmo dia o anti-virus começou a apitar no meio da tela. Acho ótimo que existam anti-virus, mas me pergunto porque eles fazem tanto escândalo. Eu, que sou da geração que tem medo de computador (há quinze anos atrás as pessoas perdiam todos os trabalhos sem mais nem menos, não era bolinho não), fico super assustada com esses avisos escandalosos de anti-virus: parece que tudo vai se acabar, explodir, que o micro vai se auto detonar em tantos segundos. Putz pânico exagerado. Um senhor mais idoso poderia até ter um ataque do coração, eu acho. Liguei para o técnico, ele ficou de aparecer.
Um dos filhos apareceu quando ouviu minhas lamentações ao telefone.
- Qual vírus que você pegou, mãe?
Abrimos a janelinha e eu li o nome. Foi uma indignação geral.
- Hahaha! Mãe, não acredito! Você pegou isso? Que vírus mais manjado, só gente muito, mas muito trouxa que pega isso, hahahah.
- Como assim?
- Mãe, esse vírus existe há uns três anos, ninguém mais pega isso. É um vírus-velho, só você mesmo, que é velha pra pegar esse ridículo vírus-velho. Não conta pra ninguém que você vai ser motivo de gozação. Uma velha com antivirus velho pegando virus velho. Hahaha. Que foi que você abriu? O email do viagra ou aquele que você perdeu o CPF? Hahahaha.
- Eu juro que não abri nada, filho, nada!
O técnico passou, olhou, e o micro travando. É o vírus? Ele disse que não sabia. Ora, o virus está preso, acho meio impossível, concluiu. A coisa tava grave, esquisito aquilo para um computador novo, ele disse. Mexeu, mexeu e achou melhor levar embora. Fiquei desesperada, como trabalhar sem micro? O escritório ficou um breu, sem música, sem barulhinhos de MSN, de email, de skype. Pensei em trabalhar em frente a tv, desisti, fiquei rodando pela casa e falando no celular o dia todo. No dia seguinte o computador voltou sem o vírus-velho. Instalamos, eu comecei a trabalhar, o técnico foi embora. Não deu nem dez minutos e pluft. Travou. Saco, que raiva.
No dia seguinte o técnico voltou. Mexeu, mexeu, nada. Eu me defendia: juro que não abri email do viagra, juro. Resolveu levar embora de novo, mas desta vez ele me deixou um micro dele para eu poder me virar. Um computador coringa, era como se eu estivesse num saiber-café, sem nenhum arquivo, sem nenhum email, mas melhor que nada. No dia seguinte ele me liga.
- Lucia, você não acredita.
- Que foi?
- Tudo bem que você pegou um vírus-velho, mas o problema não era esse - o vírus velho poderia ficar lá anos e anos sem te incomodar. O problema veio da sua coleção de pedras coração.
- Como assim?
- Tinha uma pedra coração grudada atrás da CPU.
- Impossível – balancei a cabeça - pedra não gruda.
- Essa sua pedra gruda sim-senhora. Sei lá onde você arrumou, mas é um pedra que tem um putz imã atrás. Isso cria um campo magnético que trava tudo.
Verdade-verdadeira. Ganhei, há uns anos, do Edu do Itamambuca, uma pedra que é um suvenir do muro de Berlim. Ele procurou na loja um caco que tivesse um formato de coração, achou e me deu de presente. E, como todo suvenir que se preza, atrás dele dele um enorme imã. Essa pedra fica na mesa aqui ao lado, junto com as outras. Por algum motivo, caiu e... cataplonc, grudou na CPU. Ou seja, gente, pensa: um caco do muro de Berlim, que viveu anos sendo apenas muro, um dia caiu, foi picotado, virou suvenirzinhos, foi escolhido, comprado, veio na mala do Edu percorrendo continentes para vir... travar o meu computador. Demais, demais. Fala se o destino (das pessoas, da humanidade, dos cacos de muro) não é impressionante. Impressionante e chique, quem no mundo já teve um problema de computador que envolveu um pedaço do Muro de Berlim?
Com o computador funcionando, ontem sai pela casa com a pedra da mão, brandindo contra os meus filhos, exibidérrima. Ora, que vírus-velho o quê. É velho, mas não é vírus.
É muro. E de Berlim!

terça-feira, 20 de março de 2007

bricadeiras e molecagens



Tudo culpa do Flávio. Desde que entrei nesse mundo dos blogs, em 2004, percebo diferentes perfis de blogueiros. Impossível não rodar e fuxicar e dá pra ver que os blogs são espelhos exatos dos seus donos. Uma vez falei que blogs eram casas virtuais, retomo a mesma idéia e acrescento – são a casa e corpo virtual. Uns mais sérios, outros literários, outros cheios de idéias , outros divulgadores, alguns preguiçosos e alguns com muito senso de humor. Esses últimos são, sem dúvida alguma, os meus prediletos.
No meio de uma das milhares de conversas que tivemos com o Flávio no encontro de sábado, essa foi uma das coisas que comentamos. Acredito que muitas e muitas pessoas são como eu: adoram se enfiar nessa corrente internética bloguística apenas para fazer gracinha e dar risada. Tenho aqui a minha lista de blogs favoritos, e a listá está em ordem de... graça. É ridículo confessar isso, mas é essa a verdade, fazer o quê. Fazer humor é muito mais difícil do que falar sério, me disse o Pecus, é preciso ser muito inteligente para fazer rir e mais inteligente ainda para conseguir rir, por isso gostamos de gente com humor. Bom, o Pecus fala e eu acredito. E tomara que seja ele que me falou isso, eu sou bastante desmomoriada às vezes. Passei a me achar a maior gênia desse dia em diante, mesmo com uma pulguinha atrás da orelha me dizendo “dona franka, a senhora não está mais na idade de gastar esse tempão colocando tarja em foto”.
Mas no encontro com o Flávio fomos muito além da brincadeira de escrever. A brincadeira, real e ao vivo, envolvia seguranças, maitres, garçons (uma das idéias dele era se vestir de garçon e nos servir na mesa), as mesas ao redor, um público enorme. Numa certa altura do campeonato, olhei para ele: “Flávio, eu tenho a impressão que a gente é muito criança. Muito, muito, muito, caramba”. Ele concordou. E mesmo assim, crianças, fomos a cozinha convencer os cozinheiros a nos deixar tirar a foto.
Concluo que sou muito criança, que o Flávio é muito criança, e todos nós, que lemos, comentamos, rimos e brincamos de blog somos todos muito crianças. Mas fazer o quê? Esse é nosso recreio, nosso intervalo de trabalho, nosso cafezinho. Não é fácil ter a nossa idade e conseguir arrumar uma hora de brincar permitida (como somos super inteligentes, conseguimos). É um belíssimo disfarce, não acham? E muitas vezes, na ânsia de brincar mais um pouco, eu me vejo atrasando o trabalho, pura molecagem da minha parte, sempre penso depois, resignada e de castigo enquanto todos estão descansando ou passeando. Mas brincar é inevitável. Desde a criação de um codinome, a “franka”, passando pela invenção de posts – que quando consigo que sejam minimamente divertidos fico pra lá de satisfeita ou comentando gracinhas alheias, é tudo pura brincadeira. Não sei como seria a minha vida hoje sem isso. Brincar e poder ser muito criança é mais que diversão, é quase um tipo de alimento.
Resumindo, desde a semana passada que eu estou atrasadérrima no meu trabalho e na minha vida. Contas a pagar, relatórios que não foram feitos, telefonemas acumulados e eu na maior farra brincando com o Flávio e com vocês.
Puta delícia.
Tudo culpa do Flávio, aquele tarjado ali em cima de preto, na primeira foto onde estamos realmente revelando as nossas verdadeiras identidades.

segunda-feira, 19 de março de 2007

I (CORAÇÃO) FLÁVIO

Gente, franka mente... Querem saber a terrível verdade? Nossa, que gafe horrível. Confiram JÁ no blog do Flávio, Lixo Tipo Especial.
Flávio, a nossa tarde foi das mais engraçadas dos últimos tempos.

o segundo encontro dos blogueiros com Flávio Prada em são paulo



Com celebridade é assim: nunca estamos satisfeitos. Depois do sucesso do primeiro encontro dos blogueiros paulistanos com Flávio Prada, do Lixo Tipo Especial, imploramos por um bis e ele nos concedeu um pequeno período no final da tarde de sábado, antes de um outro encontro de blogueiros indianos (é incrível a fama de Flávio junto ao universo virtual) que ele tinha nesse dia (infelizmente nosso selecto grupo não foi convidado para esse evento ragisnish- pô, Sandra! - ficamos arrasados). Sem pestanejar, eu e Jayme enfretamos o temporal e as inundações para chegar ao local combinado - um outro boteco com calçada de Copacabana, visto que o primeiro agradou tanto ao nosso colega. Ansiosos, não podemos negar, chegamos muito tempo antes, encontramos Guga e pusemo-nos todos a esperar por Prada, que, devio a quantidade de compromissos que tinha aqui em São Paulo, demorava a chegar.



Mas valeu a pena, como vocês podem conferir. Gente, é preciso ter fé. Assim conseguimos mais uma oportunidade para nos deliciarmos com a presença de Flávio e suas agradáveis histórias. Reparem mais uma vez na foto como ficamos super amigos - ele fez questão de me abraçar novamente - e notem até a coincidência de estarmos usando a mesma cor de camiseta, eu e ele. A tarde foi muito divertida, apesar da ausência de Pecus (que, ao invés de vir de barquinho veio de bicicleta e não conseguiu chegar), de Carola, do Diário da Carola (que ficou passeando de carrinho de golfe no parque Villa-Lobos) e de Marcia Kawabe, do Namastê (que tenho impressão que foi escondida, reparem numa mulher de regata verde atrás de mim, que suspeita...). Flávio compôs uma música especialmente para Guga - ainda inédita - e me deu um autógrafo. Na foto vemos Guga, Jayme, franka e Flávio.
Emocionante.
Tá, tá. Fui obrigada a me tarjar em outros locais. A foto tirada pelo garçon estava muito escandalosa.
Flávio, obrigada mais uma vez, de um jeitinho lixo tipo especial.

quarta-feira, 14 de março de 2007

o incrível encontro dos blogueiros com Flávio Prada


foto: heitor florence, um não-blogueiro

Conforme prometido, postarei aqui as fotos do sensacional encontro dos famosos Blogueiros de São Paulo com o famoso Blogueiro italiano Flávio Prada, do blog Lixo Tipo Especial, que ocorreu na terça feira, dia 13 de março de 2007. O encontro se deu num pequeno boteco em Pinheiros, escolha de todos os famosos que prezam a discrição, e foi marcado pelo próprio Flávio, que entrou em contato com alguns membros do grupo. Temos, em sentido horário a. (de azul); jayme; pecus bilis; guga, eu, a franka e o flávio. Para não ser necessária a colocação de tarjas, foi sugerido por um dos presentes que todos se auto-tarjassem com as mãos. Mas mesmo assim é possível notar a alegria de Flávio, que abriu um enorme sorriso ao notar que estava ao lado de tão interessantes colegas de ofício.




Uma certa hora Flávio, um blogueiro sempre atento e entusiasmado, pediu a todos nós que nos retirássemos de perto e quis tirar uma foto sozinho, pois contou que está acostumado a ser registrado solitário nos seus encontros e precisava de mais um registro para seu álbum. Assim, sentou-na esquina e nos presenteou com esse maravilhoso sorriso.




Depois de algumas horas de cerveja, Flávio precisou ir ao toalete, e como tinhamos que aproveitar todos os momentos da sua estadia aqui em nossa cidade, resolvemos registrar a sua ida ao banheiro. Assim, prostramo-nos todos ansiosíssimos em frente à porta do reservado à sua espera.


Porém qual não foi a nossa decepção quando vimos a porta se abrir e aparecer, ao invés de Flávio Prada, o nosso já conhecido Pecus Bilis - notem que elegantemente vestido especialmente para a ocasião. Ao fundo podemos notar Guga rapidamente entrando no recinto para saber o que ocorria com Flávio, que poderia estar sendo assediado por fãs dentro de banheiro e talvez precisasse de sua ajuda.



E, para finalizar, registro aqui o meu momento de glória, quando Flávio tirou essa foto abraçado comigo. Vejam como ele está feliz de estar ao meu lado e notem a inveja dos outros blogueiros ao ver como ficamos amigos. Jayme nem quis olhar a cena, Pecus estava praticamente chorando sobre a lapela do terno, Alberto fazia caretas horríveis e Guga disfarçava escrevendo palavrões de baixo calão. De verde, em primeiro plano, vemos Heitor, nosso fotógrafo especialmente contratado para registrar esse grande evento, que, por não ser blogueiro, estava meio boiando.

Obrigada, Flávio. Você é Tipo Especial.

a aparição de branka

foto super analisada por franka depois do horroroso fenômeno da aparição de uma fantasma no frankamente - reparem nas indicações das flechas da direita, que coisa mais impressionante
.
.
Depois de alguns comentários sobre o post do final de semana, reparei que realmente alguma coisa estranha surgiu no frankamente. Resumindo, foi o seguinte: na semana passada fui inocentemente à praça Roseevelt e tirei uma foto do local para colocar no blog. Na foto haviam três homens conversando na rua. Postei, e ninguém* adivinhou onde era (hehehe, nem o Alencastro), bingo pra mim. De repente algum comentário atenta para um vulto atrás dos três homens. Aparentemente parece uma mulher, vejam. Reparem no cabelo, na roupa branca, e, nos pés...
. detalhe da sandália, um dos itens mais assustadores do mistério.
.
.
.
... uma estranha e suspeita sandália branca.
Super esquisito.
Ora, não havia ninguém ali quando tirei a foto, tenho certeza absoluta. Estavam ali somente os três homens, um deles o Ivam e ninguém mais. De onde veio essa mulher? E porque vestida de branco? Quem é que usa, à noite e na praça Roosevelt, uma sandália branca? Seria uma médica? Uma esteticista? Enfermeira? Uma alucinação?
Assim, fui procurar no google "sandálias brancas + praça" e me deparei com isso aqui. O clone da sandália. Reparem como é absolutamente idêntica.
Impressionante. Entrei em pânico, tive arrepios e quase vomitei de pavor.

foto da sandália extraída de um site de noivas
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Só há uma conclusão para esse estranho mistério, gente. A mulher que entrou sem ser chamada na minha foto e no meu blog só pode ser uma fantasma. Uma alma penada. Uma noiva revoltada ou uma enfermeira psicopata? Não sei. É uma mulher branca que, cuidado, pode estar assombrando diversos outros blogs, sabe-se lá porquê.
Branca?
Não.
Branka...

E, em breve aqui, sensacionais fotos do encontro dos blogueiros de São Paulo com o blogueiro italiano Flávio Prada, do Lixo Tipo Especial, que ocorreu ontem em Pinheiros.
Aguardem!

*nota: isso é a maior mentira. Adivinharam sim. A Carola falou quem eram as pessoas e onde elas estavam. Carola, é que eu minto as vezes pra fazer gracinha, paciência. Mas vai dizer que você sabe também quem é a aassombração?

terça-feira, 13 de março de 2007

segunda-feira, 12 de março de 2007

vida de inseto

ivam e franka, em nossa noite de insetos
- Eu não entendo porque é que nós temos que matar esses bichinhos, juro que não entendo...!
Foi exatamente essa frase que disse o Ivam Cabral, meu amigo, na semana passada num bar, se referindo aos insetos em geral, que matamos a torto e a direito. Eu adoro o Ivam porque ele é completamente tagarela, assim como eu, e tem uma quantidade imensa de teorias, também exatamente como eu. Aliás, como ninguém descobriu, é ele, o Ivam, que olha de frente para a câmera na foto ai abaixo, na praça Roosevelt, em frente aos Teatro Sátyros. Pô, gente. E onde eu estou? Ora, estou tirando a foto do Ivam, dãr. Porém o estranho daquela foto - quando postei aquilo não existia - é que durante o final de semana surgiu um estranho vulto atrás dos homens famosos que conversam animadamente. Reparem. É uma mulher de roupa branca e sapato alto. Tenho certeza que ela também não estava lá quando tirei a foto. Obviamente que ela é uma assombração, e estou completamente apavorada. O frankamente está mal assombrado, caramba. Ô saco.
- Porque repara como é a vida e como são os humanos, ô Franka – o Ivam explicou – eu noto que, no mundo, basta um humano ver um insetinho que surge do nada um impulso absurdo de matar o coitadinho. É uma loucura imaginar que temos acometimentos assassinos a cada vez que vemos um inseto. Então em penso: por que, por que temos que matar esses bichinhos? Morro de dó, de pena, não entendo...!
Comecei a rir. O Ivam é muito engraçado falando e ainda por cima chamando insetos nojentos e asquerosos como baratas, traças, taturanas, lesmas e pernilongos de “bichinhos”. Depois de diversos "ai-que-fofo" (não dá para falar outra palavra depois de diminutivos desse tipo), começamos todos a discutir e conclui que eu sou uma assassina assumida. E pior, isso deve ter vindo comigo e ser tão da minha natureza que eu nunca-jamais me fiz essa pergunta , como o Ivam se fez. Então sou uma mulher horrível. Eu mato bichinhos e nem percebo que mato, tampouco noto como sou má. Uma genocida de insetos, uma matadora instintiva, uma homicida perversa, atenção, tomem cuidado comigo. Sou uma verdadeira Tibbles em ação (vejam o segundo post abaixo).
Mas fazer o quê. Como diz minha mãe, é batata, e o Ivam tem toda a razão. Basta eu ver uma formiga que eu esmago, basta sentir um pernilongo voando ao meu lado que eu tenho prazer de matar com as mãos e olhar o sangue e os destroços, basta perceber qualquer estranho inseto no quintal, seja uma abelhinha, seja uma vespinha, seja uma taturaninha que eu, cheia e prazer e salivando, esmigalho, queimo, bato até a morte.
Não tenho dúvidas - e foi isso que opinei junto ao Ivam nesse dia - que os serem humanos tem uma maldade ancestral e natural com os bichinhos. Mas acho que isso faz parte do ciclo natural de vida e existência dos insetos. Acho que nascemos sim com asco e ódio de alguns insetos, e que, assim como um tipo de peixe precisa comer o outro para sobreviver e manter o equilíbrio ali no habitat dele, o equilíbrio do meu quintal, por exemplo, depende de mim e da minha matança.
Concluindo isso, fiquei preocupadíssma com o Ivam. O quintal dele deve ser totalmente desequilibrado, com aquele monte de bichinhos vivos tomando conta de tudo, reinando, um habitat totalmente desestabilizado e caótico. Ora. Se ele não mata daqui a pouco o Ivam perderá o controle e sei lá o que vai acontecer. Céus. Não quero nem pensar. Talvez devêssemos fazer um mutirão para salvar o Ivam.
Vou começar a matar o dobro de bichinhos. Por ele.

quarta-feira, 7 de março de 2007

tibbles, o gatinho




Ele entrou no meu escritório rindo sem parar.
- Mãe, entra já no linque que eu vou te dar!
- Hã, filho?
- Uma coisa mega-Deusa, mãe, uma coisa da hora, demais! Vai, entra, lê!
Entrei. Wikipédia, um linque de um passarinho extinto que existia na nova Zelândia. Um tipo de pequenino de cotovia que não voava, só andava, como um pintinho.
- É pegadinha, é? Vocês vivem me zoando, eu sei. Lá vem.
- Mãe, não, é uma coisa impressionante, estou rindo há horas, leia, vá, leia!
Pois então eu li. Era a história da saga da extinção da pobrezinha da cotovia da Ilha de Stephens, que não existe mais por causa de um... gato.
- Um gato? Como assim, filho?
Ele gargalhava.
- Mãe, essa é a graça, esse é um absurdo. Imagine toda uma espécie ser exterminada da face da terra por um único animal, um gatinho de um faroleiro chamado Tibbles! Hahahaha. Pensa que maluco, esse Tibbles é demais, é um genocida, um assassino selvagem, um monstro, um mega-Deus. É o único ser vivo da face da terra que externinou toda uma espécie! E nem foi para comer, foi apenas pelo prazer! Que Mussolini, que Hitler que nada, o pior dos seres da face da terra foi o Tibbles! Olha o que fala o texto “ele era apenas um mas o suficiente para provocar uma hecatombe” - ele não parava de rir - Mãe, o Tibbles, o gatinho do faroleiro, hahaha! E pensar que o gato não é famoso até hoje, coitado!
- Nossa – eu me espantei, lendo de novo o texto. É verdade...
- Mas eu vou dar um jeito nisso. Já fiz uma comunidade no Orkut, você me ajuda da divulgar.
- Uma comunidade para as cotovias da ilha de Stephen?
- Não, dãr, mãe... Para o Tibbles, claro. Mega Deus o Tibbles, mega Deus!

Hahaha. Blog serve também pra isso, não?
E está lá, para quem quiser ver, a comunidade do Tibbles, o genocida: Maior do que qualquer ditador da história do mundo, Tibbles, o único ser no mundo responsável pelo extermínio de uma espécie, é o objeto de adoração ou de discussão dessa comunidade.

terça-feira, 6 de março de 2007

o celular novo do rei




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Não se se vocês já ouviram falar nessa coisa que inventaram. É um toque de celular que só é ouvido por pessoas com menos de 20 anos. Segundo meus filhos, o toque surgiu no final do ano passado, foi arduamente testada durante as aulas das escolas, e foi um sucesso total. Na escola dos meus filhos somente uma professora, de 31 anos, que ouviu o barulho. Deve ser uma moça muito criançona. E segundo todos eles - as crianças e os adolescentes - o som é insuportável. Um zumbido chatérrimo.
- Quer ouvir, mãe? - perguntou um dos meninos.
- Claro.
Ele pegou o celular.
- Vai, coloca o toque de uma vez.
- Mãe, já está tocando.
- Ué. Não tem nada tocando.
Ele começou a rir.
- Mãe, tem sim, você que não ouve. Eu ouço super bem. Ó.
A explicação que as crianças me deram - preciso fazer uma pesquisa mais elaborada a respeito - é que depois dos vinte anos existe uma modificação no cérebro por algum motivo qualquer e depois disso paramos de ouvir uma certa frequência de som. Paramos, simplesmente paramos de ouviraquele som. E é esse o som que toca no celular dos adolescentes. Entendi a explicação, não entendi patavina o motivo. Porque pensa, pra que é que Deus ia inventar de tirar um som de uma pessoa de mais de vinte anos? Não vejo motivo pra isso. Será que não ouvir esse som é necessário para a humanidade sobreviver? E porque? Coisa esquisita.
Uma outra explicação, essa completamente paranóica, é que é tudo mentira. Eles podem estar nos enganando, gente. Eles, os jovens. Será que é possível que todos os adolescentes do mundo se uniram e resolveram zoar os pais e professores em conjunto? Ora, com o advento da internet e do orkut, é bem possível. Penso que talvez o tal toque não exista, que seja um nada, apenas um susto para apavorar os adultos - e dar poder aos adolescentes.
Agora, caso seja verdade a existência desse misterioso som mudo, gente do céu, porque não fazer músicas nesse tom? Ora, minha casa é o caos musical, cada ambiente toca com um tipo de música, todas com alturas ensurdescedoras, eu vivo gritando que não consigo trabalhar com a barulheira. Raps, Hiphops, Rocks, Baladas, televisões e rádios. Sério, se isso fosse possível eu nem faria questão de entender porque Deus me tirou o som. Sério mesmo.

segunda-feira, 5 de março de 2007

franka jolie



Foi numa conversa de bar outro dia que surgiu a discussão. Óbvio que ninguém vai concordar comigo, mas paciência. Óbvio também que vão ficar falando que é implicância, que é inveja, que a Franka é louca, blá blá bla.
Mas gente, eu acho a Angelina Jolie meio deformada.
Ô cabeção que tem essa mulher.
Repara bem.
Tá, falam que ela é linda, deslumbrante, sei lá o quê. Eu olho e sinceramente só vejo uma desproporção enorme entre o corpo e a cabeça dela. Comparando, é como se tivéssemos cabeças de tela de computador, e ela, ao invés de ter uma cabeça de 21´ como todo mundo, tivesse uma cabeça de 42´. Tá, seria uma tela linda, mas enorme demais pra o pescocinho. “Franka, a Angelina Jolie é uma mulher mandibular”, me explicou um amigo, defendendo a cabeçuda. “Tem uma boca enorme, maravilhosa”, falou outro. Sei não. Pra mim essa Angelina é uma mulher cabeção. E, para a impressão que eu tenho, fiz essa montagem da Franka Jolie. Mais ou menos isso. Olha como ficou parecido.

sexta-feira, 2 de março de 2007

a bomba da piscina

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Aconteceu com uma amiga minha. Ela fez um projeto de arquitetura de uma casa e no final acabou ajudando a dona da casa a fazer a manutenção da mesma casa. A cada problema que surgia a mulher pedia para o caseiro telefonar para ela, que providenciava o que deveria ser feito. Em obra acontece muito isso, por isso as vezes dizemos que a gente não acaba uma obra, abandonamos.
Nesse dia, o homem ligou de manhã.
- Dona Vânia, acho que tem que comprar areia para o filtro da piscina. Como eu faço?
- Sabe que tipo de areia?
- Não sei não senhora.
- Sabe quanto de areia?
- Não sei não senhora.
Ela conta que ligou para a empresa de piscinas para ver como fazia. O vendedor perguntou a marca da bomba e o modelo. Ela ligou de novo para o caseiro.
- Seu Monteiro – ela pediu – será que o senhor poderia entrar na casa de bombas e verificar a marca e o modelo da bomba para eu saber quanto de areia comprar?
- Vou ver sim senhora.
Ele ligou uns vinte minutos depois.
- Dona Vânia, anotai o nome da bomba.
- Pode falar, seu Monteiro.
- Vou falar as letras, dona Vânia. É dábolhu, a, erre, ene, i, ene de novo e ge.
Ela conta que escreveu no papel w-a-r-n-i-n-g.
Hã?
Warning?
Hahaha. Engraçado.

quinta-feira, 1 de março de 2007

franka recomenda


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Ele entrou na faculdade, já é quase adulto – embora ainda não tenha idade para dirigir – e como todo adolescente, implica muito comigo. Mas nós dois, eu e o meu filho mais velho, o Chico, temos nossos momentos.
Foi no primeiro dia de aula dele. Ele chegou em casa e eu corri atrás para saber como foi. Ficava perguntando como era lá dentro, como eram os amigos, o que ele fez, onde almoçou, com a maior vontade de sugar alguma história. Meus filhos ficam bravos comigo porque eu gosto demais de histórias, mas eu falo para eles que é melhor contar logo, senão eu vou acabar inventando e colocando no blog, o que é muito pior para eles.
- Conta, vai Chico. Como foi?
Ele, suspirou e disse que como o prédio da faculdade é antigo, lá no Largo de São Francisco, e a primeira aula foi uma coisa formal, com os diretores de beca e vestidos a caráter, ele se sentiu na escola de magia e bruxaria de Hogwarts, do Harry Potter. Parecia que eu tinha embarcado na plataforma ooito e meio, mãe. E encerrou o assunto.
Eu queria saber mais. Como assim, beca? Como assim, escola de bruxaria? Sério que o diretor estava vestido feito um bispo? Que cor era a roupa? Como assim?
Acho que eu tava enchendo muito o saco dele.
- Mãe - ele disse, me dando uma dispensada e pegando um chicletinho do bolso - dá licença que agora eu não vou poder mais falar.
- Porque? Só para me provocar?
- Mãe, olha aqui – e ele me mostrou o chiclete.
- Que é que tem o chiclete a ver?
- Vai dizer que você não sabe.
- Sabe o que?
Eu juro que estava boiando. Ele suspirou.
- Mãe, se você não sabe, esse chiclete é o caos. Ele arde muito, muito, o lance é esse. Quando a gente coloca na boca, não dá pra falar por quase dez minutos. A gente fica remoendo, chorando, dançando, gemendo. Então eu tou avisando que vou parar de contar as coisas da faculade porque vou comer o chiclete. Estou guardando desde de manhã. Dá licença.
- Sério? Como é esse sabor?
- Ardido, um tipo de morango ácido, sabe?
- Me dá um?
- Sério, mãe?
- Por favor.
Ele me deu. Chamava-se “kriptonita”. Peguei a bolinha vermelha e coloquei na boca na mesma hora que ele. Mordemos. Nossa, gente. Eu sei que essa história parece ridícula, que o meu filho já é grande, que eu sou maior ainda e ainda por cima mãe dele, mas não resisti a total molecagem. Mordi sem dó, como ele mandou, e, em poucos instantes, a experiência aconteceu. Eu e meu filho quase advogado começamos a nos retorcer, gemer, emitir sons guturais, nossos olhos começaram a lacrimejar, viramos dois carpideiros em plena cerimônia de lamentação, quase caindo no chão e rolando pelo tapete. É uma sensação dúbia, de amor e ódio, de bom e ruim, de prazer pelo excesso. Melhor assumir. É simplesmente de-ma-is, fiquei atônita com a experiência, mas meu filho tem toda razão. Não dá para falar, nem prestar atenção, e muito menos contar uma história com aquilo na boca. Um chiclete de kriptonita voce deve comer em casa, no aconchego do seu lar, com os seus. Ô coisa boa para parar um assunto chato.
E sabiam que chiclete de kriptonita vende em qualquer banca de jornal?
Uau. Será que vicia?