- Outro dia fui levar o Luiz numa festinha. Uma festinha de criança, sabe como é? - Falou a Ângela, a minha irmã.
- Sei, claro.
- Lú, que engraçado. Aquela criançada correndo animada de cá para lá. Aquela coisa incontrolável. Já viu? É uma coisa completamente incontrolável quando crianças de cinco a dez anos começam a correr e gritar feito malucos numa festa. Dá até vontade da gente entrar no meio.
- Já fui em muita festinha, Ângela. E já dei muuuitas festas, minha irmã. Só para você ter idéia, meus filhos, juntos, se eu somar, já fizeram 50 aniversários. Cinquenta, juro. Multipique isso pelo número de festas que eu já fui, já levei e...
Ela interrompeu, rindo.
- Mas a gente, os pais e mães, a gente nem liga, principalmente quando a festa não é nossa e quando nosso filho está no meio dos outros, feliz da vida.
- A gente acha super bom o filho da gente estar enturmado.
- É, mas nessa festa tinha um pai... coitado, Lúcia... Hahaha. Um pai que tinha quebrado o dedão.
- Putis.
- Bom, imagina a cena. As crianças incontroláveis, correndo, por tudo quanto é lado. Até embaixo das cadeiras, das mesas, e o pai naquele estado. Ele em pânico. Totalmente em pânico, e o tempo todo tentando fazer uma coisa: criar um vazio em torno dele. Um nada. Desesperado, o cara.
- Hahaha. Como se fosse possível.
- Ficava de braços abertos, girando de cá para lá: ôôô... ôôô... ôôô... Como se fosse possível criar um vácuo entre ele e os desastres que podiam ocorrer. A possibilidade de alguém tropeçar, pisar ou cair em cima era imensa, enorme. Passou a festa toda assim: ôôô... ôôô... ôôô... Girando feito um louco, olhos esbugalhados, atento a tudo naquela dança absurda. Feito um pião, feito uma galinha tentando fugir. Hahaha.
- Galinha?
- Não tem nada pior do que ir de dedão quebrado em festa de criança. Hahaha. Nada. Um pesadelo total - declarou a Ângela, morrendo de rir.
- Você não ajudou, Ângela?
- Não, Lúcia. Claro que não. Era muito engraçado olhar. Ôôô... ôôô... ôôô... hahahahaha.