segunda-feira, 16 de julho de 2007

liberdade, alforria, emancipação


Gente. Olhem essa geladeira. Não sei se quem não é mãe vai entender o que eu vou falar. Mas essa geladeira nesse estado foi das coisas mais importantes da minha vida. É como ficar presa cerca de dezoito anos e um dia ser solta e poder correr pelas ruas. Estou falando dessa geladeira, ela mesma. Reparem no estado catastrófico dessa geladeira. Numa primeira olhada parece o que? Uma geladeira de solteirão, não acham? Mas saibam, essa geladeira era a geladeira de 3 mães. Isso mesmo, de 3 mães na praia, sem filhos e sem maridos. Eu uma delas. Um monte de garrafas de água, umas folhas de agrião (que não eram nossas), meio suco de laranja, um pote de alguma coisa (acho que uma goiabada, que não era nossa e que foi deixada intacta) e um monte de cerveja. Quem é mãe vai entender o que significa isso.
Pura liberdade.
Desde que nasceu o Chico, meu filho mais velho, que toda a vez que viajo tenho que levar uma montanha de coisas. Com o nascimento dos outros, a coisa só foi piorando. Papinha. Suquinho. Todynho. Biscoito. Gatorade, se alguém passar mal e precisar de soro. Frutas. Comida congelada. Verdura. Coca cola. Pão. Queijo e presunto. Torta. Iogurte. Ovos. Uma geladeira de uma casa de praia, quando a família tem uma mãe, sempre está cheia. Sempre. E se falta comida? Ó, ceus, que desgraça. É um tipo de prisão que a gente vive, esse troço de alimentar os filhos e a família. Até hoje a geladeira da minha casa aqui é entulhada. Coisas saudáveis, coisas para matar a fome, coisas para alimentar. Mas no feriado passado eu fui viajar com duas amigas, as duas mães como eu. Paramos no supermercado antes da viagem e tivemos um acesso de riso. "Vamos levar o que?", perguntei. "Nada, só cerveja e água", disse minha amiga. E pela primeira vez em dezoito anos, me libertei da geladeira cheia. A cada vez que abria essa porta, eu suspirava de prazer. Que delícia isso. Minha libertação. Uma geladeira vazia é demais, fala a verdade.

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