quarta-feira, 12 de julho de 2006

o empilhamento máximo





Eu e meu ex-sócio usávamos esse termo, “empilhamento máximo”, para descrever a arrumação que uma faxineira fazia num escritório que tivemos. Ela vinha uma vez por semana, e sempre no dia seguinte era aquele susto.
- Ixi, droga! – ele dizia ao entrar na sala – Esqueci que hoje é dia de 'empilhamento máximo'...
Naquela época ninguém tinha computador e usávamos muuuito papel para trabalhar, tanto para desenhar quanto para fazer anotações, croquis, relatórios, planilhas, etc. A mulher vinha, limpava o escritório, deixava tudo tinindo mas empilhava todos os nossos papéis e projetos numa única e sensacional pilha enorme, que parecia um edifício de dez andares sobre cada mesa. Era desesperador, pois as coisas ficavam perdidas ali para sempre. Demorávamos tanto para achar o que queríamos que acabávamos desistindo. E assim a coisa ia até a semana seguinte, onde a mulher voltava para outra faxina e tudo se repetia. Ela empilhava até onde dava - quando a pilha atingia o nível máximo suportável antes de despencar, ela iniciava a construção de outra pilha, onde tudo se perdia novamente. Assim as nossas mesas eram compostas de diversas pilhas máximas e completamente instáveis.
Naquela época a nossa vida era composta de 'empilhamentos máximos'.
Eu sempre fui intrigada com aquilo, pois embora fossemos incapazes de nos desfazer das pilhas, não usávamos nada que tinha ali. Eram montanhas de nada, de papel acumulado, inútil, estático. De um certo modo eu ainda faço isso – aqui no meu escritório eu estou sempre entulhada de papéis num, digamos, empilhamento médio e disperso, o que dá na mesma, obviamente, uma vez que também não acho nada.
Lembrei disso quando vi a notícia daquela mulher que guardava em casa pilhas e pilhas de lixo. Morro de medo de chegar a aquele ponto. A quantidade de inutilidades que eu junto é absurda. No trabalho, em casa e até dentro do carro. E não são somente as pilhas, o pior para mim são as gavetinhas, minha casa é infestada de gavetinhas cheias de coisas inúteis. E céus, olhando ao redor não estou muito longe da foto do jornal.
Vou aproveitar esse mês de julho para dar uma eliminada nas pilhas. Para, quem sabe, começar outras.
A vida sem coisas máximas não tem muita graça.

Nenhum comentário: