quinta-feira, 30 de março de 2006

o tamanho das coisas



Outro dia reparei o quanto as coisas podem ser grandes ou pequenas dependendo do modo que a gente resolve olhá-las. A maioria das vezes resolvemos que as coisas ruins devem ser ligeiramente maiores do que são na verdade. Já as coisas felizes a gente tende a encolher um pouco, geralmente de vergonha, outras vezes de medo de falar da felicidade.
Acho que, em geral, as mulheres gostam mais de aumentar a infelicidade que os homens, mas isso não é uma regra. Claro que existem homens sofredores no mundo, mas homens se sentem mais a vontade com a alegria do que mulheres. Eu me lembro de algumas cenas da minha infância, onde minha mãe, minha avó e minhas tias conversavam na cozinha. Elas competiam sofrimentos. A cada vez que uma conseguia uma derrota horrível, as outras se impressionavam, como se aquilo fosse uma glória, um grande mérito. Mudavam o tom de voz, exclamavam. Uma mulher que sofria muito era virtuosa e crescia diante das demais. O mérito era o a dor, e não o prazer. Essa minha memória de cozinha se junta com a memória do bolinho de arroz, onde, de novo, minha mãe, minha avó e minhas tias abriam mão de comer bolinhos de arroz para deixar para os filhos, os pais, o avô. A gente cresce dentro dessas cenas, assistimos o filme, ele fica na memória. A infelicidade tinha lá o seu prazer, seja na conversa da cozinha, seja no bolinho de arroz.
Dizem que as pessoas desejam a felicidade. Olha. Eu não tenho certeza absoluta disso. Ando duvidando de muita coisa. Acho que tem gente que ainda prefere as glórias do sofrimento e que aumenta as coisas tristes por puro prazer.
A felicidade da infelicidade.
Por falar em tamanho, olha a coincidência: uma das pedras coração da minha coleção coube direitinho dentro dessa caixinha de vidro. É incrível como a gente fica feliz quando duas coisas tem o tamanho correto e se encaixam perfeitamente.

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