(o pecus ontem falou de empregadas, piscinas e infância no post "severino e nair"e eu lembrei dessa história)
Chamava-se Helena, a empregada. Eu tinha uns 7 anos e minha irmã uns 5. Morávamos num apartamento em Cerqueira César, perto da Paulista e da Consolação. Toda quinta feira meu pai e minha mãe iam ao cinema e nós duas ficávamos em casa com ela.
A Helena era uma negra bonita, grandona, com uma boca enorme. Volta e meia dava enormes gargalhadas. Achava graça em tudo que acontecia, graça no que minha mãe falava, no que a gente falava, nas ordens que minha mãe dava.
Adorávamos a Helena.
A rotina das quintas era sempre a mesma. Jantávamos, a Helena tirava a mesa, lavava a louça e ia ver tv conosco na sala até as 10 horas, quando tínhamos que tomar banho e ir dormir. Meus pais chegariam logo em seguida, lá pelas onze horas.
A Helena sempre tinha sono quando ficava na sala conosco. Falávamos para ela sentar no sofá, mas ela preferia arrastar uma cadeira da sala de jantar, de espaldar duro, e ficava ali ao lado, como se estivesse num trono.
- No sofá eu durmo – ela declarava, bocejando sem parar e coçando os braços.
Aliás, gente com sono coça muito os braços, nunca entendi porquê.
Nesse dia não me lembro da Helena estar com sono. Aliás, acho que a nossa idéia acabou tirando totalmente o sono dela, pois ela ficou animadíssima. Completamente sem juízo, mas animadíssima.
Qualquer adulto que ouvisse aquela idéia de girico de duas crianças, uma de sete e uma de dez anos, mandaria as duas catar coquinho. Qualquer adulto com um mínimo de bom senso perceberia que aquilo não ia dar certo. Mas a Helena achou a maior graça e disse que a idéia era muito boa.
Foi minha irmã que inventou a coisa. Ao invés de tomarmos um banho de banheira, ela sugeriu que tomaríamos um banho de... banheiro.
Seria o seguinte. Taparíamos o ralo da banheira com uma tampinha, o ralo da pia com uma tampinha e o ralo do bidê com uma tampinha. No ralo grande do chão, colocaríamos uma tampa de um pote e seguraríamos com o pé, sentadas no bidê. Embaixo da porta colocaríamos toalhas. Ligaríamos todas as torneiras e assim transformaríamos nosso banheiro em... uma enorme piscina!
Em questão de segundos convencemos a Helena, que, além de dizer que daria certo, sugeriu que colocássemosaté maiôs.
Executamos o plano e ficamos esperando a nossa "piscina" encher. A pia transbordou, o bidê transbordou e a banheira transbordou. A Helena se encarregou de pisar na tampa do ralo grande e o banheiro começou a encher.
Gente do céu, o pior é que a coisa estava dando certo.
Obviamente parte da água começou, sem que nós percebêssemos, a sair por debaixo da porta, através das toalhas. Assim a água escorreu para o corredor, para a sala, para a cozinha, para o hall da sala, para o hall do elevador, para o elevador...
Só sei que quando meus pais chegaram e foram pegar o elevador escorria água pelo poço. Uma cachoeira pingava sobre eles, sobre as portas dos halls. De onde viria aquilo, eles se perguntaram? Jamais imaginariam queseria do apartamento deles.
Já nós estavamos em transe. Aquilo era demais. A casa estava encharcada, mas lá dentro, na “piscina”, estávamos na maior alegria com com a água nas canelas. Minha irmã nadava, eu pulava, a Helena batia palmas. Pena que no meio da farra começamos a ouvir uns berros desesperados.
Levamos uma grande, enormíssima bronca, eu, minha irmã e a Helena, que não foi despedida. Aliás, acho que ela nunca se sentiu arrependida de ter feito aquilo. Ela não entendeu que “encher” o banheiro estava errado – achava que o errado foi não ter conseguido manter a água lá dentro. Me lembro dela ainda encafifada na quinta feira seguinte, coçando os braços na cadeira dura. Porque aquela água saiu por debaixo da porta...?
- Acho que aquela toalha é uma porcaria, sabe? Veíiinha, puída... Devíamos ter colocado uma mais grossa...
Chamava-se Helena, a empregada. Eu tinha uns 7 anos e minha irmã uns 5. Morávamos num apartamento em Cerqueira César, perto da Paulista e da Consolação. Toda quinta feira meu pai e minha mãe iam ao cinema e nós duas ficávamos em casa com ela.
A Helena era uma negra bonita, grandona, com uma boca enorme. Volta e meia dava enormes gargalhadas. Achava graça em tudo que acontecia, graça no que minha mãe falava, no que a gente falava, nas ordens que minha mãe dava.
Adorávamos a Helena.
A rotina das quintas era sempre a mesma. Jantávamos, a Helena tirava a mesa, lavava a louça e ia ver tv conosco na sala até as 10 horas, quando tínhamos que tomar banho e ir dormir. Meus pais chegariam logo em seguida, lá pelas onze horas.
A Helena sempre tinha sono quando ficava na sala conosco. Falávamos para ela sentar no sofá, mas ela preferia arrastar uma cadeira da sala de jantar, de espaldar duro, e ficava ali ao lado, como se estivesse num trono.
- No sofá eu durmo – ela declarava, bocejando sem parar e coçando os braços.
Aliás, gente com sono coça muito os braços, nunca entendi porquê.
Nesse dia não me lembro da Helena estar com sono. Aliás, acho que a nossa idéia acabou tirando totalmente o sono dela, pois ela ficou animadíssima. Completamente sem juízo, mas animadíssima.
Qualquer adulto que ouvisse aquela idéia de girico de duas crianças, uma de sete e uma de dez anos, mandaria as duas catar coquinho. Qualquer adulto com um mínimo de bom senso perceberia que aquilo não ia dar certo. Mas a Helena achou a maior graça e disse que a idéia era muito boa.
Foi minha irmã que inventou a coisa. Ao invés de tomarmos um banho de banheira, ela sugeriu que tomaríamos um banho de... banheiro.
Seria o seguinte. Taparíamos o ralo da banheira com uma tampinha, o ralo da pia com uma tampinha e o ralo do bidê com uma tampinha. No ralo grande do chão, colocaríamos uma tampa de um pote e seguraríamos com o pé, sentadas no bidê. Embaixo da porta colocaríamos toalhas. Ligaríamos todas as torneiras e assim transformaríamos nosso banheiro em... uma enorme piscina!
Em questão de segundos convencemos a Helena, que, além de dizer que daria certo, sugeriu que colocássemosaté maiôs.
Executamos o plano e ficamos esperando a nossa "piscina" encher. A pia transbordou, o bidê transbordou e a banheira transbordou. A Helena se encarregou de pisar na tampa do ralo grande e o banheiro começou a encher.
Gente do céu, o pior é que a coisa estava dando certo.
Obviamente parte da água começou, sem que nós percebêssemos, a sair por debaixo da porta, através das toalhas. Assim a água escorreu para o corredor, para a sala, para a cozinha, para o hall da sala, para o hall do elevador, para o elevador...
Só sei que quando meus pais chegaram e foram pegar o elevador escorria água pelo poço. Uma cachoeira pingava sobre eles, sobre as portas dos halls. De onde viria aquilo, eles se perguntaram? Jamais imaginariam queseria do apartamento deles.
Já nós estavamos em transe. Aquilo era demais. A casa estava encharcada, mas lá dentro, na “piscina”, estávamos na maior alegria com com a água nas canelas. Minha irmã nadava, eu pulava, a Helena batia palmas. Pena que no meio da farra começamos a ouvir uns berros desesperados.
Levamos uma grande, enormíssima bronca, eu, minha irmã e a Helena, que não foi despedida. Aliás, acho que ela nunca se sentiu arrependida de ter feito aquilo. Ela não entendeu que “encher” o banheiro estava errado – achava que o errado foi não ter conseguido manter a água lá dentro. Me lembro dela ainda encafifada na quinta feira seguinte, coçando os braços na cadeira dura. Porque aquela água saiu por debaixo da porta...?
- Acho que aquela toalha é uma porcaria, sabe? Veíiinha, puída... Devíamos ter colocado uma mais grossa...
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