quarta-feira, 7 de dezembro de 2005

o povo que inventa


(enfim! consegui colocar o carneirinho carneirão!)

Gente. Ontem eu não pretendia escrever uma crônica sobre uma conversa com um taxista. Ia escrever apenas sobre uma frase dita pelo taxista. Para me lembrar dela, escrevi a conversa toda. Mas achei a frase no final, e ela martelou na minha cabeça hoje sem parar.
É a seguinte:
- Cada uma que esse povo inventa...
Isso mesmo. Eu e o taxista paramos no trânsito da avenida dos Bandeirantes ontem à noite, olhamos para uma churrascaria onde acontecia um leilão de ovinos, ele apontou as gaiolas com os dois carneirinhos gordos e pelados, sorriu e me disse essa pérola de frase.
- Cada uma que esse povo inventa.
Olha. É sobre essa frase a crônica de hoje.
- Cada uma que esse povo inventa.
Não sei como ninguém falou sobre essa frase até hoje. É uma das melhores e mais bem humoradas frases do mundo moderno. Impressionante. É uma frase que tem um misto de espanto e graça, é uma frase com um extremo bom humor, dita por quem está de bem com a vida e nem ai com nenhum entendimento mais profundo, seja intelectualmente, politicamente ou socialmente.
- Cada uma que esse povo inventa.
Acho que perdemos a ingenuidade diante da vida. É muito triste não ser inocente tampouco singelo. Sabemos muito, isso nos torna ligeiramente ásperos com os fatos do cotidiano e rígidos e exigentes com nós mesmos.
Eu, por exemplo. Eu olhei aqueles carneirinhos no mesmo momento que ele e não achei graça nenhuma. Na verdade eu fiquei triste ao ver os bichinhos naqueles cubículos, fiquei pensando na gordura artificial daqueles seres disformes, entendi que eles deveriam ser carneirinhos reprodutores, especulei quanto deveria custar um galão de sêmem de carneiro. Olha. E a última coisa que eu pensaria seria na frase: “cada uma que esse povo inventa”.
Acho que o meu chofer de táxi vê o mundo como se fosse um enorme parque de diversões. Acha que na vida as coisas acontecem e, sem mais nem menos alguém inventa uma “coisa” engraçada para ele descobrir. Era exatamente esse o tom da frase. O tom da certeza inabalável de uma força da natureza que chega e se coloca diante dele. Chove, faz sol, as pessoas nascem, morrem e o "povo" inventa umas "coisas" para o chofer de táxi rir. Ele não pensa quem é esse povo e nem que aquilo não tem invenção nenhuma além da propaganda do negócio e uma grande vontade de um investidor de ganhar a maior grana. O povo inventa umas coisas e ele ri. Já eu não rio porque sei demais. Sei que não é isso. Sei que rir não é tão simples. Nós, que sabemos, rimos muito menos.
Muito menos.
Concluo que o chofer de táxi é bem mais feliz que eu. Nas conversas faz terapia, nas ruas ri das loucuras que o povo inventa.
A vida da gente bem que podia ser simples assim. Mas cada uma que esse povo inventa, né?

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