sábado, 17 de dezembro de 2005

a lembrancinha

(caramba, eu adoro essa crônica... e todo ano sei que vai ser a mesma coisa)

Dia de natal, festa de família.
Todas festas de natal de família são meio parecidas. Existe um ritual que todas as famílias respeitam. A ceia, o peru, os doces, a árvore, os presentes.
E é sobre eles que eu queria falar. Os presentes de natal.
Na minha família todos dão presentes uns aos outros. Todo ano é uma trabalheira para comprar aquele montão, mas, como dá vergonha receber e não ter nada para dar, todo mundo presenteia todo mundo.
Chegamos na festa com aquele monte de sacolas. A árvore fica entulhada, o chão fica intransitável, as crianças, curiosas, mexendo nos pacotes. Conversamos. Ceiamos. Sobremesa. E enfim, chega a hora dos presentes.
Aí que começa. A farta distribuição das... "lembrancinhas".
É isso que eu não entendo. Juro. Esse negócio de lembrancinha. Já falei delas aqui outro dia, mas no natal a coisa fica insuportável. Elas se proliferam, e, quando você menos espera, está com dúzias de "lembrancinhas" nas mãos. O problema é que as tais “lembrancinhas” nunca vem sozinhas. Junto delas vem sempre uma pessoa se desculpando e justificando o motivo de te dar uma coisa tão inútil. Não sei, mas parece que lembrancinha não é presente de verdade.
— Olha, é só uma "lembrancinha", hein? Coisa de nada, não repara!
Peraí. Além de dar um presente que não é um presente, e sim uma reles "lembrancinha" de nada, quer dizer que o presenteado não deve nem reparar nela? Nem... olhar para o presente? Escuta, se o presente é mixuruca e se você nem deve gastar teu tempo passando os olhos por ali, porque é que a pessoa te deu?
Eu tenho a maior vontade de responder:
— Ah, é? É coisa de nada mês-mo? Jura?
E, zummm, jogar o presente para trás, como se fosse lixo.
— Fica tranqüilo. Nem reparei.
Esse ritual acontece há anos, repetidamente, em todos as famílias, não é só na minha. Acho que somos todos malucos. Pensa uma coisa. O teu parente faz uma lista de presentes, sai de casa, vai numa loja, enfrenta fila, trânsito, paga estacionamento, escolhe um presente, manda embrulhar, paga, leva até a festa, dá e te avisa:
— Olha, é uma porcaria. Nem olha.
E o pior é que temos que agradecer na escala oposta, exagerando, como se aquele presente fosse o máximo dos máximos. Haja adjetivo para inventar.
— Uma mini caixa de costura de bolsa! Maravilha, adorei, é tão útil, tão gracinha, tão adequada, tão colorida, tão prática, tão artesanal, tão diferente, tão fofa, tão necessária, tão bonitinha...
Acho única frase verdadeira nessas horas é a resposta que a gente dá quando ganha a tal da "lembrancinha".
— Ah, obrigada! Não precisava!
Isso sim é perfeito. Não precisava mesmo. Não é?

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