sábado, 8 de outubro de 2005

o feriado



Hoje começa uma espécie de feriado. É a semana do saco cheio, o feriado com o nome mais feio do ano. O mais esquisito é lembrar que bem no meio dessa semana existe o dia de Nossa Senhora Aparecida, uma santa mulher.
Uma santa e um saco cheio, não é estranho?
Mas o nome tem uma explicação. Como é quase final de ano, os alunos estão com ‘saco cheio’ de estudar e o feriado da Santa vem bem a calhar. Por causa disso, muitas escolas dão a semana toda de folga para os alunos descansarem.
O final da tarde de ontem foi o caos. O maior trânsito, aquele corre-corre de gente querendo fugir de São Paulo, aquela zona que precede o marasmo da cidade da semana que vem.
Obviamente que nós não viajaremos. Acho muito estranho ver famílias que não agüentam um fim de semana prolongado e precisam ir para algum canto. Eu sou ao contrário. Adoro ficar em casa sem fazer nada.
Isso vem da minha infância, eu acho. Quando eu era menina e meu pai era vivo, nós nunca viajávamos nos finais de semana ou feriados. Meu pai não gostava. O que hoje é estranho para uma família, para nós era normal. Viajávamos nas férias, para visitar a casa dos avós no interior. E só.
Bom, houve uma época quando, depois de muita insistência da minha mãe, ele comprou um apartamento na praia. Mas ele abominava ir para lá, achava a maior chatice sair do conforto de casa para um lugar estranho, com comida estranha, espaço estranho, cama estranha. “Para que?”, ele perguntava, “está tão bom aqui!”
Minha mãe argumentava. “As meninas, o verão, a praia, ora, Dito! Crianças precisam de férias, diversão, não podem ficar trancadas em São Paulo”. Ele ia, mas ficava no apartamento lendo livros. Praia? Só de longe. Muito calor, a areia incomodava.
Ficamos com o tal apartamento apenas um ano e duas estadias. Minha mãe desistiu, era mais fácil mover uma montanha do que meu pai para a praia nos finais de semana.
Já o meu avô nunca tirou férias na vida. Nasceu, cresceu, virou médico, casou, teve filhos, netos e não me lembro de ouvi-lo reclamando de necessidade de descanso. Aliás, acho que não tirar férias faz bem. As pessoas que tiram férias são sempre tão nervosas...
Sempre me lembro deles antes dos feriados, quando penso que não vou sair daqui. Mas o que me impressiona é que daquele tempo para cá as pessoas cada vez mais se animam de viajar nos feriados. O descanso fora de São Paulo foi muito propagandeado ao longo desses últimos trinta anos pela indústria do turismo e pelos especuladores imobiliários do litoral, da serra e do campo. As pessoas foram convencidas de que, para descansar, precisam viajar. Sofremos uma lavagem cerebral, eu acho. É fácil convencer pessoas de coisas esquisitas, ainda mais quando é colocado muito dinheiro na história.
Por outro lado, conhecer lugares é muito gostoso. Quem não gosta de peregrinar pelo mundo, conhecer países, ver povos e pessoas diferentes? Eu adoro, e as melhores viagens que fiz são assim. Porém, por causa do meu pai e do meu avô, eu sinto a maior culpa nessas viagens. Acho estranho ficar a toa no meio de um monte de gente trabalhando.
O mais maluco é que hoje em dia não basta apenas sair de São Paulo. Você tem que ir e fazer coisas para se desestressar. É uma trabalheira sem fim, essa coisa de descansar. Além de fazer ginástica, andar, comer as comidas certas, fazer os esportes adequados, ter monitores e cumprir as programações turísticas do local, você precisa relaxar. E com tanta programação, viajar cansa pra burro. Depois de uma maratona dessas, é preciso tirar férias para descansar. E como eu quero descansar, nesse feriado eu fico por aqui, decidi.
- Ô mãe... - falou minha filha agora pouco no café da manhã - Sério que a gente vai micar aqui de novo no feriado? Droga.

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