sexta-feira, 16 de setembro de 2005

tic, tic, tic


Quando temos TV a cabo, a televisão fica ligada num aparelho transmissor da NET, que também funciona com um controle remoto.
Certo dia liguei a TV e o tal controle remoto não funcionou. Estava quebrado. Telefonei para a empresa e eles me deram o prazo de uma semana para virem trocar. Assim passamos a ligar, desligar e mudar o canal da TV apertando os botões do aparelhinho fixo.
Como a TV a cabo tem mais 60 canais, mexer manualmente é horrível. Você tem que passar canal por canal para sair de um filme e chegar numa novela. E não dá para ficar zapeando, o que já é hábito nas nossas vidas.
Bom. Um dia, à noite, fui mudar o canal e... pimba. O botão entrou pra dentro do aparelhinho. Acho que foi de tanto apertar. No lugar dele ficou só o buraquinho.
Droga. Era bem o botão que sobe os canais. Investiguei o equipamento com cuidado, e percebi que não tinha como pescar o negocinho de lá de dentro, pois o buraco do botão era muito pequenininho.
Chacoalhei.
Tic, tic, tic.
Era meu botãozinho. Estava lá.
Liguei para a NET de novo. A moça me disse que era preciso marcar uma nova visita, pois o serviço mudara. Como ela tinha aberto uma ordem de serviço só para a troca do controle remoto, o técnico que viria não poderia arrumar o aparelhinho também.
Mais uma semana. Saco.
Uns dias depois o homem apareceu. Expliquei o problema, mostrei o controle quebrado e o aparelhinho sem botão.
Ele pegou o controle velho e examinou. Abriu a maleta e tirou um outro controle, novinho. Pediu para eu assinar um papel.
A primeira parte foi fácil. Daí ele foi até o aparelhinho transmissor. Olhou, mexeu, desconectou e conectou.
- Está funcionando perfeitamente, senhora – ele declarou.
- Eu sei – respondi – Mas o botão que sobe os canais caiu.
- Sim, o botão caiu – ele reparou, assentindo com a cabeça.
- O senhor poderia recolocar, por favor?
- A senhora guardou o botão? - o homem perguntou, sério.
- Guardei.
- E onde está?
- Aí dentro mesmo – apontei o aparelhinho.
- Dentro do aparelho?
- É – eu mostrei, chacoalhando – Ouça.
- Ouvir o quê?
- O botão!
Ele me olhou, confuso. E ouviu.
Tic, tic, tic.
- Como a senhora sabe que esse barulhinho ai é o botão?
- Eu vi quando ele entrou. O botão.
- E se não for?
Eu suspirei. Ô gente complicada.
- É o botão, moço. Escuta, você não vai abrir o aparelhinho para arrumar? Abre e aí a gente vê se é o botão ou não.
- A senhora não está compreendendo. Eu não vou arrumar. Eu vou trocar o aparelho.
- Mas não precisa trocar, moço, é só recolocar o botão. Veja, está funcionando - eu mostrei, ligando e desligando.
Ele suspirou.
- Olha, moça. Se eu abrir, violarei o lacre e isso não pode. Esses aparelhos são blindados. Só a fábrica que abre.
- Blindados?
Ele virou o aparelho de ponta cabeça e mostrou uns números e umas etiquetas.
- Então, tá, paciência. Troque – suspirei, cansada.
Ele coçou a cabeça, hesitante.
- Mas acontece que eu não posso trocar.
- Por que não?
- Porque para trocar eu preciso levar o aparelho inteiro. E esse aparelho da senhora não está inteiro, pois está sem o botão que sobe os canais.
- Não senhor. O botão está ai dentro. O senhor ouviu o tic.
- Onde? Se a senhora mostrar o botão eu troco.
Eu chacoalhei de novo.
- Aqui. Ouça mais uma vez – eu declarei – Ouça!
- Eu preciso ver o botão, senhora. Ver.
Era desesperador.
- Moço, você pode me dizer, de modo bem objetivo, como fazemos para resolver o problema desse mísero botãozinho?
- A única solução é a senhora comprar outro aparelho.
- Hã? Comprar um novo?
- Sim. Custa 120 reais.
- Tá louco? Cento e vinte reais por um botãozinho?
- Eu não posso fazer nada - ele encerrou.
- Então deixa assim mesmo – resolvi, desanimada.
Isso foi ano passado. Até hoje estou com meu aparelho sem o botão. Sem não, o botão está lá dentro.
Basta chacoalhar.
Tic, tic, tic.

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