terça-feira, 27 de setembro de 2005

serpentina picotada



Dá muita raiva não pensar e fazer papel de idiota, não dá?
Lembramos ontem, eu e o Zé, de uma história absurda de uma burrada que ele fez anos atrás sem pensar e que o deixou com a maior cara de tacho. Só de lembrar de novo eu tenho vontade de rir. Hahaha. Engraçado.
Era de um dia de copa do mundo. Meu filho mais velho, o Francisco, era nenezinho, e estávamos assistindo os jogos em casa, só nós três. Engraçado primeiro filho. Eu ficava torcendo para ninguém fazer gol para ele não acordar, olha o absurdo. É que a gente morava perto da avenida Paulista, e quando tinha jogo o barulho era um escândalo.
Bom, uma hora o jogo começou a ficar animado. Não podíamos berrar, gritar, mas estávamos torcendo muito.
Aconteceu que o Brasil ganhou. Nem me lembro que jogo que era, mas nós dois saímos dando pulos pela casa. O Zé queria descer e ver a festa lá em baixo, mas com o Kiko nenezinho não dava.
Bom, ele precisava comemorar de algum modo. Resolveu fazer uma chuva de papel picado e jogar pela janela.
- Tem papel?
- Tem o meu papel manteiga, não vou deixar você picar.
Naquela época a gente ainda desenhava projetos à mão.
- Hum. Tem jornal velho?
- O de hoje e o de ontem, Zé. Os outros já foram pro lixo.
- Ah - ele hesitou - Não vou rasgar, não li ainda. Revista velha?
- Joguei tudo fora.
Ele ficou decepcionado.
- Ah, eu queria tanto acordar o Kiko e fazer uma chuva de papel... Ele ia achar tão lindo... Ei... tem papel higiênico?
Eu fui olhar.
- Tem só um rolo sobrando, Zé.
- Vamos jogar desenrolando, como se fosse uma serpentina? Para ficar aquele cordão comprido até lá embaixo?
Acho que ele ficou imaginando o Kiko vendo o papel voando da nossa janela. Pai é assim.
- Deixa eu usar? Ele vai achar lindo, lú!
Ele foi todo animado acordar o Kiko enquanto eu fui buscar o rolo de papel. Ele começou a fazer a maior encenação. Abriu a janela todo animado, eu percebi que ele ia fazer a burrada. Um rolo de papel higiênico é diferente de uma serpentina de carnaval. Na serpentina o papel é mais durinho e o rolo, mais levinho e pequenino. O papel do papel higiênico é fino e pi-co-ta-do, e o rolo, pesadão. Eu tentei avisar, mas ele estava mais animado para explicar para o Kiko o papel voando no céu. Segurei o Kiko no colo, e ele, ao invés de ir desenrolando devagarinho o rolinho, segurou a pontinha do papel higiênico nos dedos, fez uma pose de pai lançador e... zuim!
Tacou o rolo inteiro de papel higiênico pela janela.
Olha. Decepção é pouco. Nós morávamos no décimo sexto andar, e o rolo de papel higiênico (todo) despencou feito uma pedra até o térreo. Olhamos quando ele caiu bem no meio do gramado do prédio, dentro de uma moita. O Zé ficou com uma cara de tacho com o pedacinho de papel higiênico cortado "no picote" na mão.
O Kiko bebê não entendeu patavina e olhava para baixo com curiosidade. Ficou um silêncio geral, como se ele não entendesse o que tinha acontecido, até cairmos na risada.
- Será que é muito vexame eu ir buscar? – ele me perguntou, sem graça.
- Eu acho – respondi, gargalhando de rir - imagina se alguém vê voce sair da moita com um rolo de papel?
- É biodegradável, né? Então esquece...

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