segunda-feira, 12 de setembro de 2005

o carrinho do supermercado III


Para finalizar todos esses pensamentos sobre supermercados e mulheres modernas, só mais uma coisa.
É sobre as embalagens.
As embalagens lindas que nos cativam e pulam dentro dos nossos carrinhos. Eu, assim como a maioria das compradoras de supermercado, não resisto a uma boa embalagem. Sim, os publicitários podem ficar felizes, pois isso funciona.
Além de gostar de boas embalagens, gosto de embalar as coisas. É uma mania que adquiri.
Embalo as coisas, como se elas não pudessem andar... nuas. Acho que isso faz parte da evolução da civilização. Assim como os homens pré-históricos descobriram a nudez e passaram a se cobrir, vivemos num mundo onde os alimentos e as comidas também passaram a se vestir. Jamais levaria um cacho de bananas pelado para o caixa. Assim, vou ao supermercado e embalo todas as frutas e as verduras, todas as carnes para elas não soltarem nem uma gotinha de sangue, os pães, para que eles não se sujem.
Acho que meu inconsciente acha que as frutas, as verduras e as comidas devem estar vestidas. Feito gente. Mas pensa. Depois que passaram a colocar etiquetas em frutas, como se elas fossem produtos fabricados, a coisa mudou de sentido mesmo. As frutas passaram a ter grifes, marcas. Porque não roupas?
Quando era menina, eu morava em São Paulo e meus avós no interior. Todas as férias ficávamos ao menos um mês de férias com eles.
Na casa dos meus avós tinha uma jabuticabeira. A árvore ficava no meio do quintal, era larga, generosa e cheia de galhos. Como ela dava muitos frutos, era uma delicia ficar horas catando e chupando jabuticabas ali em baixo.
Uma das coisas que mais me encantava era lembrar da árvore carregada. Eu sonhava com aquelas frutinhas. Aquilo era o meu sonho de consumo da minha infância. As jabuticabas. Lembrando, acho que eu era encantada pelas embalagens. Lembrar daquelas bolinhas pretas e brilhantes até hoje me dá água na boca, e me recuso terminantemente, desde que cresci e faço minhas próprias compras, a comprar jabuticabas. Tem coisas na vida que não podem ser compradas, ora. São e sempre serão grátis. Imagine pensar em jabuticabas embaladas e com etiqueta. Nunca.
Mas embalagem é tudo hoje em dia. Nós mesmas, as mulheres que vão ao supermercado, nos embalamos. Acho que no fundo, todas também queremos ser escolhidas, pegas e colocadas nos carrinhos do supermercado.
Nos ensinam receitas de como viver melhor, nos mandam acabar com celulite, não comer pizza, fazer um montão de ginástica, tudo para ter um corpo esplêndido, uma imagem bacana, saudável, e comível. Nos vestimos para sermos consumidas, definimos nossos preços, escolhemos nossas prateleiras.
Não é?
É o nosso mundo. Paciência.

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