(mudei a ilustração, pronto... brigada, Zé, de me livrar das "drogas")
Recebi uma revista de arquitetura que assino. Uma das reportagens tinha um título: “sob medida”.
A reportagem era sobre armários, gabinetes de banheiro, cozinhas, áreas de serviços. Tudo sob medida para você. Usavam as palavras “toque especial”. Falavam em “boas sacadas”. Tudo encaixadinho dentro das paredes, caprichado. Não poderia sobrar nenhum espacinho.
Realmente, olhando as fotos, aquilo parecia muito bom. O resultado final era fantástico. Cada cantinho era bem aproveitado, em cada um daqueles armários cabia muita coisa, não sobrava vãos em prateleiras, sobrava espaço. Eu, pelo menos naquele instante, me convenci e acreditei na teoria que não poderia sobrar nenhum cantinho.
Ai que vontade de ter uma casa como aquela.
Tudo perfeitinho.
Impecável.
Branquinho.
Mas fiquei pensando. Esse excesso de assepssia e brancura tem algo de muito estranho. O que tem de mais sobrar cantinhos na casa da gente? Qual a birra que as pessoas tem com cantinhos? Ah, juntam pó. Ah, espaço inútil, podia colocar alguma coisa ali. Ah, desperdício. Hoje em dia as pessoas odeiam os pobres dos cantinhos. Os casamentos acabam por causa dos cantinhos. As empregadas são despedidas porque não limpam os cantinhos. Os cantinhos são os culpados. Tá vendo? Não foi sob medida, sobrou cantinho, não deu certo.
Será precisamos de tantos armários? Será que temos tantas coisas para guardar? Os cantinhos são as imperfeições da vida, nos mostram os buracos, os vãos, as coisas que não deram certo. Os cantinhos são a perspectiva do futuro, a possibilidade da mudança. Os lugares onde poderemos, um dia, guardar alguma lembrança que ainda não chegou. O lugar onde poderemos nos esconder dos nossos erros. Nossas casas não podem ser tumbas, onde nos enclausuraremos para sempre. Precisamos de cantinhos para respirar.
Eu estou exagerando, né? Eu sempre faço isso. Mas é que essas pequenas coisas tornam a nossa vida muito complicada e nos esquecemos do que é realmente importante.
Podemos deixar os cantinhos ali, meio empoeirados mesmo, e gastar nosso tempo pensando em coisas mais poéticas sobre nossos espaços. Podemos pensar como o sol encontra uma parede da casa, onde a vista de uma janela é mais bonita ou se o espaço está unindo ou desunindo nossas famílias. Isso que é importante, colocar a vida acima da busca da eficiência.
E começar a olhar os cantinhos com outros olhos.
Tudo perfeitinho.
Impecável.
Branquinho.
Mas fiquei pensando. Esse excesso de assepssia e brancura tem algo de muito estranho. O que tem de mais sobrar cantinhos na casa da gente? Qual a birra que as pessoas tem com cantinhos? Ah, juntam pó. Ah, espaço inútil, podia colocar alguma coisa ali. Ah, desperdício. Hoje em dia as pessoas odeiam os pobres dos cantinhos. Os casamentos acabam por causa dos cantinhos. As empregadas são despedidas porque não limpam os cantinhos. Os cantinhos são os culpados. Tá vendo? Não foi sob medida, sobrou cantinho, não deu certo.
Será precisamos de tantos armários? Será que temos tantas coisas para guardar? Os cantinhos são as imperfeições da vida, nos mostram os buracos, os vãos, as coisas que não deram certo. Os cantinhos são a perspectiva do futuro, a possibilidade da mudança. Os lugares onde poderemos, um dia, guardar alguma lembrança que ainda não chegou. O lugar onde poderemos nos esconder dos nossos erros. Nossas casas não podem ser tumbas, onde nos enclausuraremos para sempre. Precisamos de cantinhos para respirar.
Eu estou exagerando, né? Eu sempre faço isso. Mas é que essas pequenas coisas tornam a nossa vida muito complicada e nos esquecemos do que é realmente importante.
Podemos deixar os cantinhos ali, meio empoeirados mesmo, e gastar nosso tempo pensando em coisas mais poéticas sobre nossos espaços. Podemos pensar como o sol encontra uma parede da casa, onde a vista de uma janela é mais bonita ou se o espaço está unindo ou desunindo nossas famílias. Isso que é importante, colocar a vida acima da busca da eficiência.
E começar a olhar os cantinhos com outros olhos.
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