- Mãe.
- Fala.
- Faz uma brincadeira comigo?
- Agora estou dirigindo o carro, João.
- Quando o carro parar.
- Tá. Como é?
- Você fecha os olhos, conta até três e abre. Daí olha pra frente e vê se tem alguma coisa escrita - ele explicou - E sempre tem. A coisa que mais tem nessa cidade é letra. Não tem um lugar na cidade que não tenha letra.
Para me explicar melhor, começou a brincar sozinho.
- Olhaí, vou fechar o olho. Um, dois, três. Padaria. Um, dois, três. Colégio Objetivo. Um, dois, três. Vivo celular. Um, dois, três. Kalunga. Um, dois, três. Bradesco. Um, dois, três. Proibido estacionar. Viu só, mãe? Letra, letra, letra.
Vi.
Vi e fiz o mesmo quando o carro parou num sinal. Fechei o olho, abri e tentei não ler nada. Tentei achar apenas uma árvore, uma casa, um arbusto, uma montanha. Nada. Só letras, imagens, propagandas.
A nossa cidade virou isso e a cada dia a coisa piora. Não existe mais skyline, o perfil da cidade no horizonte, não existem mais montanhas, rios, parques, não existe sequer horizonte. Antes, quando andávamos por grandes avenidas, podíamos ver de longe os bairros. Quando estávamos num lugar alto, era possível ver o fim da cidade, com suas montanhas e com a Serra da Cantareira.
A nossa cidade virou isso e a cada dia a coisa piora. Não existe mais skyline, o perfil da cidade no horizonte, não existem mais montanhas, rios, parques, não existe sequer horizonte. Antes, quando andávamos por grandes avenidas, podíamos ver de longe os bairros. Quando estávamos num lugar alto, era possível ver o fim da cidade, com suas montanhas e com a Serra da Cantareira.
Hoje andar numa via expressa é o mesmo que ver TV. Imagens, imagens, imagens. Propagandas, figuras, logotipos, fotos imensas. É quase impossível usar como referência o desenho dos edifícios, as ruas ou as praças. Andar pela cidade hoje em dia é uma coisa mais virtual que real. Estamos sempre antes ou depois da Gisele Bunchen ou do Ronaldinho, das propagandas da Claro ou da Vivo, dos outdoors do papel higiênico supermegamasterblaster ou dos bebês assolans.
Essa é a realidade.
Afe.
Outro dia assisti ao filme do festival de Woodstock, aquele, que aconteceu séculos atrás. Tinha alguma coisa estranha nos shows. Depois de um tempo, descobri. Nenhum tipo de propaganda ou patrocínio. Nenhuminha! O show era pelado, olhando não dava nem para acreditar.
É necessário alguém regulamentar esse uso indiscriminado de outdoors em todos os espaços que a gente anda. Não dá para abrirmos portas ou janelas só nos intervalos dos anúncios, gente. Isso é cidade, não uma feira publicitária.
Resolvi fazer só mais uma vez. Um, dois, três...
Afe.
Outro dia assisti ao filme do festival de Woodstock, aquele, que aconteceu séculos atrás. Tinha alguma coisa estranha nos shows. Depois de um tempo, descobri. Nenhum tipo de propaganda ou patrocínio. Nenhuminha! O show era pelado, olhando não dava nem para acreditar.
É necessário alguém regulamentar esse uso indiscriminado de outdoors em todos os espaços que a gente anda. Não dá para abrirmos portas ou janelas só nos intervalos dos anúncios, gente. Isso é cidade, não uma feira publicitária.
Resolvi fazer só mais uma vez. Um, dois, três...
Droga. Óbvio que apareceu mais uma propaganda. Mas não falo de quem era, chega de fazer propaganda dos outros aqui.
Frankamente...
Frankamente...
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