Hoje, domingo, acordei pensando em diversas coisas que terei que providenciar essa semana. Uma delas é uma visita à minha dermatologista.
Eu me entrego a esses mandamentos do mundo moderno, afinal a gente não pode brincar com a saúde e tal, mas tem um pouco de exagero. Falaverdade.
Por exemplo, essa coisa de dermatologista. Nós, mulheres doismilianas, vamos demais ao dermatologista, nossas mães e avós nunca foram tanto. Hoje em dia é normal entregarmos nossos corpos para investigação a cada semestre.
Pensa. Você tira a roupa, deita numa maca e lá vem um fulano com uma lupa, procurando pistas, vestígios, olhando pintinha por pintinha, analisando todas as nossas marcas, nossos sulcos, a nossa história, tentando em vão desamassar a nossa embalagem, às vezes já tão usada. E depois dá o veredicto: cremes, bisturi, injeções, jato de ar gelado, gel, nada de sol, chapéu e filtro solar.
Não é estranho?
Fico pensando se eles, os dermatologistas, pensam sobre isso. Parece que nada mais interessa para eles, só teu couro. Nada de carne, nada de miolos, nada de suco, nada de polpa. Será que existem dermatologistas poéticos, que entram dentro da alma? Que sabem porque você se arrepia quando lê um livro? Porque a pele arde quando nos apaixonamos ou porque nos coçamos quando somos enganados? Tudo isso mexe com a pele da gente, doutores. A pele dói. A pele se umidece e seca com as emoções.
E só a pele envelhece, doutor dermatologista. O resto eu acho que apenas amadurece. Envelhecer é uma coisa, amadurecer é outra. Envelhecer a gente envelhece com qualquer idade. Tira uma fruta do pé, ainda pequenina. Tira o alimento dela e vê se ela não se enruga toda, se ela não seca de tristeza, de solidão. Isso é envelhecer. Envelhecer é não ter saída.
Mas enquanto pudermos acreditar que a pele vai além da camada fina de carne sobre nossos ossos, enquanto pudermos nos alimentar dos nossos sonhos e da nossa realidade tão comum, estaremos apenas amadurecendo.
Até ficarmos irresistíveis para sermos comidas.
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